Cinema e Revolução

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13:11

correspondente do Festival de Cinema de Berlim, J. P. Picaper, ficou atemorizado pelo fato de “em Le Gai Savoir, co-produção da O.R.T.F. e da Rádio-Stuttgart - proibida na França -, Godard ter pronunciado sua admirável auto-crítica ao ponto de projetar seqüências com a tela escura ou mesmo deixando o espectador durante um período quase insuportável de tempo diante de uma tela branca” (Le Monde, 8 de julho de 1969). Sem considerar o que representou mais precisamente “um período quase insuportável de tempo” para este crítico, podemos ver Godard, como sempre seguindo a moda do momento, adotando um estilo destrutivo da mesma maneira tardia, plagiadora e obtusa como todo o restante de sua obra, foi esta negação, expressa no cinema antes dele, que deu início a longas séries de pretenciosas pseudo-inovacões que despertaram tanto entusiasmo entre as audiências estudantis no período anterior(1). O mesmo jornalista informa que Godard, por um dos personagens do seu curta L’Amour, confessa que a “revolução não pode ser colocada em imagens” porque “o cinema é a arte da mentira”. O cinema não tem sido mais “arte da mentira” do que as demais artes, que estão mortas em sua totalidade bem antes de Godard, que nem mesmo pode ser considerado como um artista moderno, quer dizer, ele não foi capaz de revelar qualquer vestígio de originalidade pessoal. Este maoísta mentiroso com seu blefe retorcido tentou despertar admiração para sua brilhante descoberta de um cinema não-cinema, denunciando a espécie de inevitável falsidade na qual ele participou, mas não mais do que tantos outros. Godard foi na realidade imediatamente ultrapassado pela revolta de maio de 1968, que fez com que fosse reconhecido como um espetacular fabricante de uma arte superficial, pseudocritica, cooptativa digna das latas de lixo do passado (veja Le rôle de Godard na Internationale Situationniste #10). Naquele momento a carreira de Godard como cineasta foi essencialmente encerrada, e em várias ocasiões ele foi pessoalmente insultado e ridicularizado por revolucionários que eventualmente cruzavam seu caminho.


O cinema enquanto meio de comunicação revolucionário não é inerentemente mentiroso apenas porque Godard ou Jacopetti o tocaram, basta que seus autores sejam stalinistas para que toda análise política seja condenada pela fraude. Vários novos diretores em vários países estão tentando atualmente utilizar filmes como meio de crítica revolucionária, e alguns deles terão sucesso parcial nesta empreitada. Porém, as limitações tanto em suas concepções estéticas como também em sua compreensão da natureza da presente revolução vão, em nossa opinião, impedir-lhes durante algum tempo de ir até onde é necessário. Nós acreditamos que no momento apenas as posições e métodos situacionistas, conforme formulados por René Viénet em nosso tema anterior (Os Situacionistas e as Novas Formas de Ação Contra a Arte e os Políticos), são adequadas para um uso diretamente revolucionário do cinema — entretanto, as condições políticas e econômicas ainda se apresentam como óbvios obstáculos à realização de tais filmes.



Sabe-se que Eisenstein quis fazer um filme do Capital. Considerando suas concepções formais e submissão política, dificilmente tal filme seria fiel ao texto de Marx. Mas de nossa parte, somos confiantes que podemos fazer melhor. Por exemplo, assim que se possível o próprio Guy Debord fará uma adaptação cinematográfica de A Sociedade do Espetáculo que certamente em nada ficará devendo ao seu livro.


Fonte: Projeto Periferia (www.geocities.com/projetoperiferia/). Continue

TEORIA DA CONSPIRAÇÃO

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13:05

INSTRUÇÕES DE USO PARA O ATIVISTA AMADOR
Gérson(ou Jersson) de Oliveira

1. Não acredite em nada do que lhe dizem. Na real, quase noventa por cento do que você aprendeu até hoje não é verdade. Você sabia que uma laranja é azul? Pois saiba que sim. Mesmo as cores que vemos são pura ilusão. De ótica.


2. Tvs, jornais, meios de comunicação, tudo é programado. Há sempre uma razão para escolherem que informação dar.


3. Se você acha que o que está sendo falado aqui é bobagem, pare agora de ler. Se preferir continuar, é por sua conta e risco...


4. Vamos supor que você já percebeu que vivemos condicionados a todo momento. Nossa programação mental, nossos gostos, nossa crença, ego, diversão, etc.


5.Tudo o que vemos é relativo. A física quântica já provou que a posição de uma partícula pode ser variável e múltipla simultâneamente. Robert Anton Wilson, um dos precursores da conspirologia, afirma que vivemos em “túneis de realidade”.


6.Iniciar programa de descondicionamento? Muito bem, só teclar o enter e pronto. Ok? Simples assim? Não, ninguém aqui está propondo uma nova lavagem cerebral.


7. É agora que entra a teoria da conspiração. Lançando hipóteses e conectando dados nem sempre confiáveis, a conspirologia é uma ferramenta para o ativista justamente por gerar dúvidas. Verdade ou boato, o fato é que conspirações sempre trazem um questionamento polêmico e fértil por trás.


8. Sejam frangos trangênicos do MC Donalds ou a verdade sobre Ovnis, não há como negar que conspirações estão profundamente enraizadas no inconsciente coletivo.


9. Conspirações são armas políticas. Conspirações estavam por trás da Revolução Francesa, do Watergate, e até do Golpe de 64 no Brasil.


10.Especulações éticas ou disseminadoras de memes, o fato é que conspirações não são brincadeira. Nem paranóia. Ou podem ser uma coisa ou outra. Ou ambas.


11. A internet é o lugar por excelência para a disseminação de conspirações. Como os memes, toda conspiração espalha novos memes por aí, na velocidade de um e-mail.


12. A utilidade de uma conspiração? Depende do seu objetivo. Curiosidade? A verdade por trás do Vaticano ou da Rede Globo? Quer começar uma revolução? Desmascarar uma seita? Revelar experimentos científicos proibidos? Conectar o narcotráfico com a indústria do cinema? Amigo, o campo é vasto e os caminhos os mais variados. Mas não avancemos muito, se você chegou até aqui, você não é nenhuma criancinha.


13. Conclusão? Nenhuma. A dúvida é o cerne de toda conspiração. Mas atenção. Não acredite em tudo que lê. Nem mesmo no que está escrito aqui... Continue

POEMA ENTRE O TEMPO E O ESPAÇO

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11:36


a união de intermináveis vazios assola minha alma,
fragilidade que percorre as artérias e sai pela boca consumida,
detritos que rasgam a pança de um confim que cansou de ser imaginário,
ah como é infindável esse deserto
era como se eu percorresse todas as almas solitárias dos poetas
com pés sepultados na minha própria sombra
e descesse pelas paredes de vidros dos sonhos envidraçados,
a fumaça dos carros no caminho para o trabalho me elucina
e me perco na contramão de mim
lambendo o infinito com uma língua cheia de espinhos translúcidos,
vazo pelos pesadelos dos ecos pisoteando
o invisível visivelmente meteórico,
minha lança poética e cotidiana atravessa o coração da aurora
e leva meu sonho ate altas montanhas imaginarias
que flutuam pela calçada do meu sentido,
ah o sexto dos meus cinco sentidos é o primeiro ato
da peça abismal da minha fuga invariável,
preciso respirar.
léguas de memórias afundando.
estendo a mão em neblina que trago de volta a lagrima inerte,
respirar hoje em dia é o penso logo existo da nossa época
tantos silêncios ensurdecedores,
camadas cósmicas desprezadas por passos sintéticos
saídos de bloco de gelo que deslizam nas paradas de ônibus,
pelos portes em forma de farol crepuscular
pelos bancos lotados de fantasmagóricos futuros,
onde minha cabeça rola entre os corredores
e é esmagada pelos talões de cheques
e palavras precisas que perfuram meu cérebro
como parafusos surrealistas atrofiando meu fim sepultado no tempo,
me sinto lagrimejante e fragilmente sonhador,
me sinto a bússola perdida de uma navegador
num mar abstrato insuportavelmente consciente dentro de mim,
para tudo que for suportável
para tudo que me lançar num chão banhado de angústias,
para tudo que descabelar meu universo com outros universos
engolidores do fogo vulcânico que sai da minha pulsação enorme,
para tudo que for ilimitado como as dores na alma e o amor inconsciente e incontrolável,
para tudo que me faz voltar a mim mesmo
abismando minha sombra que como nuvem esfria meu silencio,
para todos os poemas que se fundem na minha saliva
virando mãos que me sufocam quando a insônia
é uma pequena grande tempestade que para por cima da minha noite desolada,
poderia dizer que as horas se derretem mas
na verdade elas acidam meus segundos decompostos
com vômitos inconseqüentes que apenas meu olhar produz nas vaginas da manhã,
evaporando a nuvem que faz minha memória
lembrar de si mesmo por ser diluída em fragmentações,
mesmo que para isso eu tenho que enterrar meus desejos de voar
nos altos de mim mesmo e respirar o ar melancólico das sensações inrenascidas,
vácuo ha um longo vácuo que vaguei insano a mim,
corro mais uma vez
pés-tempo
maos-segundos
corpo-eternidade
alma-infinito de todos os infinitos,
desdenho as formas simétricas
e calabouços falsos da palavra,
desdenho a conjunção dos astros ao meu redor,
desdenho poemas nunca escritos por um medo latejante,
desdenho os poetas que sobem nas cadeiras
deixando seus poemas no chão para que sua voz seja ouvida
nos quatro cantos menos a voz dos seus próprios versos inanimados,
desdenho um punhado de delírios porque a alma é o próprio delírio convexo,
desdenho-me por não sei onipresente mesmo que seja flexível,
desdenho-me por ter sido nada enquanto
que a vida é tudo inrrespondivelmente transcendendo,
ah almas obsoletas desdenho os olhares que só olham suas próprias pegadas,
os balcuciadores de verdades vindas de seus próprios vícios por si mesmo,
minha alma mergulha novamente
nas estradas oceânicas dos anseios febril por espaço e tempo,
trêfego entre auroras e crepúsculos
e jamais encontro o infinito ultimo das sensações humanas,
por isso persisto como a poesia que persiste em reviver
a cada nova leitura e estraçalha o passado onisciente,
persiste em mergulhos e mergulhos imperceptíveis,
por que nenhum grito e nenhum silencio intimo
é tão imperceptível quanto meu infinito único,
nunca entendi o que significa ser realmente poeta
por que a poesia é para ser sentida como a soma
de todos os universos interiores inteiros,
por que ser poeta é esta dentro de todos os universos
e não fazer parte de nenhum
sendo todos ao mesmo tempo,
ser cada letra,
cada verso,
cada palavras
ser cada ser
em minúsculos sentimentos inesgotáveis,
minúsculos eus se proliferando na porta do futuro,
minúsculos corpos burlando as câmaras de segurança do mundo,
minúsculos dedos tocando a íris da desmemoria,
minúsculas libertações dos cadeados momentâneos do meio dia,
minúsculas chuvas despencando na minha pálpebra almatica,
me afogando como quem afoga um fugitivo num mar despedaçado
no lagrimejante dia que contamina o outro e o outro e outro
para desaguar na falta de respiração trasncedente,
pequena morte de cada instante,
pequeno baile fúnebre de nao-eternidade,
a grande utopia da existência humana
é não querer existir existindo
é estar sobrevivente num mundo onde só o existir
é ser poeta e ser poeta é ser a própria utopia e ser livre...
Continue

LAST FLOWERS

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10:29


meu corpo cansado,
refém do infinito da minha alma
Deixa-me inconsolável,
fragilidade de inserto sendo engolido pela memória,
mulheres e homens estão com suas cabeças a baixo da terra
que treme de angustias calmas,
a profundidade é maior quando cai uma lágrima
criando uma enorme onda que afogará o infinito de nós,
sinto um pequeno oceano,
persisto no impossível,
o absoluto é um fracasso nesse instante.
e o instante é uma escavação crepuscular,
segundos perfuram minha inconsciência,
letras de musicas inesgotáveis embalam a boca da noite,
às vezes eu acho que ninguém ao meu redor esta bem...
todos têm uma angustia inesgotável,
todos têm memórias que viram nuvens e atravessam a manhã,
todos os rostos dos meus amigos parecem se
contorcer de submersas infinitudes
como vulcões que rasgam as galáxias e devastam a transcendência,
sinto que meu presente horizonte submerso
é uma carta futurista que se repete,
fui seduzido pelo tempo-espaço mas
não me entreguei completamente,
nossas imagens, nossas almas, nosso infinitos se confundem,
a persistência em respirar se confunde
com a persistência de um poema,
e quando persiste um poema é
quando a alma não desiste de si mesma,
preciso de um poente,
nesse instante preciso de um poente,
preciso de um poente nesse poema,
preciso de um poente nessa manhã monitorada
pelos satélites frios que balbuciam ordens,
preciso de um poente antes de preparar
as portarias milionárias no meu trabalho,
preciso de um poente antes que gesticular sem sentido
na borda do abismo da aurora e
caminhar dentro de um meteoro
rumo ao mar das ausências reprimidas,
não afundo quando mergulho em mim mesmo
eu afundo quando submerjo do meu próprio interior,
uma angustia que vem fora engoela minha lembrança
como um tubarão que almeja engolir o oceano inteiro,
abandonei minha respiração
agora sinto o inalcançável
quero me apaixonar por essas horas solitárias
olhando-a no rosto,
minha febre cotidiana perece um trem a todo o vapor
que percorre os umbigos do vazio
quando eu descarrilo a noite,
vivo dois universos paralelos,
eu e o cotidiano somos parceiros
antes do crepúsculo
e depois somos um com a noite,
fabrico meu mundo sempre...
fabrico a bomba de ventos e nuvem perfeitos,
fabrico meu próprio poente
fabrico meu próprio crepúsculo e auroras
fabrico a eternidade,
fabrico meu ser para ele ser
o sexto dos cinco sentidos do mundo,
fabricos universos inteiros
mas não encontro nenhum deles agora,
então saio de mim,
tomo um ar num confim solitário,
nesses instantes escuros e frios
sinto uma solidão medonha que me abocanha,
amarro meus quatro cantos
nos quatro cantos desse poema e
ele leva-me para longe.


De: João Leno Lima Continue

A máquina planetária do trabalho

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10:22


O nome do monstro que deixamos crescer e que mantém nosso planeta em suas garras é: Máquina Planetária do Trabalho. Se queremos que a nossa espaçonave volte a ser um lugar agradável, temos que desmantelar essa Máquina, consertar os estragos e fazer certos acordos básicos para um novo começo. Então, nossa primeira pergunta deve ser: como faz a Máquina Planetária do Trabalho para nos controlar? Como é organizada? Quais são seus mecanismos e como podem ser destruídos?
A Máquina é planetária: come na África, digere na Ásia e caga na Europa. É planejada e regida por companhias internacionais, sistemas bancários, circuitos de combustível, produtos não-manufaturados e outros bens. Existem montes de ilusões quanto a nações, Estados, blocos, Primeiro, Segundo, Terceiro e Quarto Mundos – mas estas são só subdivisões menores, partes da mesma maquinaria. Claro que diferentes engrenagens exercem pressões, tensões e fricções entre si. A Máquina é feita de suas próprias contradições: operários/capital; capital privado/capital do Estado (capitalismo/socialismo); desenvolvimento/subdesenvolvimento; miséria/desperdício; guerra/paz; mulheres/homens, etc. A Máquina não é uma estrutura homogênea; ela usa suas contradições internas para expandir seu controle e sofisticar seus instrumentos. Diferente dos sistemas fascistas ou teocráticos, ou como no 1984 de Orwell, a Máquina do Trabalho permite um nível "sadio" de resistência, inquietação, provocação e revolta. Ela digere sindicatos, partidos radicais, movimentos de protesto, manifestações e mudanças democráticas de regime. Se a democracia não funciona, ela usa a ditadura. Se a sua legitimidade entra em crise, ela tem prisões, tortura e campos de concentração de reserva. Nenhuma dessas modalidades é essencial para entender a função da Máquina.
O princípio que governa todas as atividades da Máquina é a economia. Mas o que é economia? É uma troca impessoal e indireta de tempo de vida cristalizado. Você gasta seu tempo para produzir uma peça que é usada por alguém que você não conhece para montar uma bugiganga que é comprada por outro desconhecido para fins que você ignora. O circuito dessa sucata de vida é regulado de acordo com o tempo de trabalho que foi investido no material bruto, na sua manufatura e em você. A medida é o dinheiro. Os que produzem e trocam não têm controle sobre seu produto comum, então pode acontecer que trabalhadores revoltados sejam mortos exatamente com os revólveres que ajudaram a produzir. Cada peça de comércio é uma arma contra nós, cada supermercado um arsenal, toda fábrica um campo de batalha. Este é o mecanismo da Máquina do Trabalho: retalhar a sociedade em indivíduos isolados, chantageá-los separadamente com salários ou violência, usar seu tempo de trabalho de acordo com os planos. Economia quer dizer: expansão do controle da Máquina sobre suas partes, tornando essas partes cada vez mais dependentes da própria Máquina.
Todos somos partes da Máquina Planetária do Trabalho – nós somos a Máquina. Representamos a Máquina uns contra os outros. Desenvolvidos ou não, assalariados ou não, autônomos ou empregados, servimos à proposta dela. Onde não há indústria, "produzimos" trabalhadores virtuais e exportamos para zonas industriais. A África produziu escravos para as Américas, a Turquia produz trabalhadores para a Alemanha, o Paquistão para o Kuwait, Ghana para a Nigéria, o Marrocos para a França, o México para os Estados Unidos. Áreas virgens podem ser usadas como cenário para os negócios turísticos internacionais: índios em suas reservas, polinésios, balis, aborígenes. Os que tentam sair da Máquina preenchem as funções de pitorescos marginais (hippies, yogues, etc.). Enquanto a Máquina existir, estaremos dentro dela. Ela destruiu ou mutilou quase todas as sociedades tradicionais ou as levou a desmoralizantes situações defensivas. Se você tenta se retirar para um vale deserto e viver sossegadamente de uma agricultura de subsistência, pode crer que vai ser encontrado por um coletor de impostos, um funcionário do planejamento ou um policial. Com seus tentáculos, a Máquina pode alcançar virtualmente todos os lugares deste planeta em questão de horas. Nem nas partes mais remotas do deserto de Gobi você pode dar uma cagadinha sem ser notado.


Fragemento de Bolo'bolo Continue

Microbunny - Dead Stars

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08:18


De repente somos abduzidos para um mundo distante, cheio de ambientes claro escuros, soturnos, becos frios da nossa mente, espaços umedecidos de subconsciências, como se a viajem já tivesse começado, mas só agora estamos com a consciência disso e pior, não sabemos para onde estamos indo... Dead stars.
Formado por al okada e Tamara Williamson. O Mycrobunny, grupo canadense de downbeat. Lançou em 2002 seu primeiro álbum e logo em seguida lançaria um dos melhores discos da historia da musica eletrônica. O texturizado e cosmicamente genial Dead Stars (2004). disco que tem a personalidade dos grandes álbuns. É orgânico dentro da inogarnicidade eletrônica. Há texturas jazzistas que se misturam a batida breakbets, doses de blues Spaces, cordas se entrelaçando com metais, violinos e trompetes sendo entrecortados por um vocal cosmicamente esquizofrênico. Batidas etéreos sobrevoam a melodia enquanto trompetes distantes passeim pela extremidade de "HONEYTONE" o vocal de Tamara adentra os tempo e espaço sendo conduzido por ásperas texturas de pianos gélidos e beckvocais caindo em abismos próximos de nós. Em "Gamma Hydra IV" sintetizadores alucinados misturam-se a intensa bateria e logo ouvimos ensurdecedoramente metais rasgando a melodia, órgãos engolindo o vocal de Tamara que flutua acima de todo o caos sonoro enquanto somos soterrados por fragmentos jazzy transformados em angustiantes Ambientes cosmicamente perturbadores. "Grey Stars" surge em freqüências paralelas, beats que uivam soprando-nos para sermos conduzidos a outras galerias do nosso cérebro.
Enquanto "Henoch" surge como uma forte e curta tempestade sintética e nos arremessa em "Wishing" um piano, melancolicamente crepuscular, joga nosso ouvidos no espaço intermediário entre a consciência e o tênuo descompasso existencial, o vocal disperso estende seus braços para alcançar nossa inalcansabilidade e tudo se acalma em entorpecimentos mútuos, o piano parafraseia nossos lamentos cheio de universos paralelos e vocais e pianos e pratos que explodem contra a parede da melodia nos levando a "Binbo Furi", batidas constantes se entrelaçam os sintetizadores fugitivos e um piano ao longe vai sendo coberto pelos nevoeiros cheios de uivos de "Season Of Change", estamos alucinados, sons de águas metálicas e ecos repletos de cristais e um vocal entregue a seu espaço interior, abocanha partículas de pianos e metais, criando pequenas colunas que sustentam o texturizado corredor dos nossos sentidos cheios de cavidades de sonhos espaciais mas definhanhos prematuramente, nascedo a alienígena "Silver Stars", notas de pianos abrem as portas e fortes gritos roucamente inoxidados ensurdecem os quatro cantos para então "Blue Stars", surgir das cinzas gravitacionais da melodia. Trêmulos espaços são preenchidos por uma ambiente grave, passionalmente vulcânico, onde o vocal de Tamara destila-se adentrando todos os pedaços de trompetes e sintetizadores e com uma falsa calma vai se esculpindo em desequilibrada fuga desesperadoramente sentida na vocalização final, ela vai desaparecendo aos poucos para surgi num horizonte vertiginoso "Eminiar VII". Ecos mistura-se a scratchs e todos abraçados por alucinantes ruídos andróginos para então "The Drifter" arrasta-nos para alem dos espaços físicos, somos levados para fronteiras entropofagicamente ciborgs, onde uivos são ouvidos a quilômetros como cápsulas acústicas onde gritamos desenfreiadamente sem poder ser-mos ouvidos, a insuportabilidade do silencio nos agredindo em telas que capturam nossos gritos e o arremessa no abismo do esquecimento irreparável.
Então em "Rose-Coloured Glasses" já estamos rendidos, o vocal de Tamara para nos fazer lembrar de nos mesmos, a bareria inicial que puxa a melodia serve como um despetar da sonífera vertigem absoluta, a textura beat racha as câmaras densamente etéras da melodia, soluços de trompetes se transformam em braços nos conduzindo a completa transcendência e pianos deságuam nos deixando sozinhos por alguns segundos. em "Dead Star" ouvimos a madrugada e ecos acoplados em órgãos Hi-Tec e espaçonaves descem pelos campos dos nossos sussurros e ouvimos faíscas imaginarias brotando de todos os lugares, mas a bateria surge grave e algo começa a tremer, esparsos ruídos estilhaçados nevam sobre nossas cabeças e esperamos para sermos embebedados pelo caótico universo de nós, o vocal ainda surge sublime, como se pouco se importasse agora, definha para cima, conversa consigo mesmo, num monologo feito de universos paralelos completos, novamente tudo se espalha, batidas entubadas chocam-se em pura esquizofrenia cosmicamente eletrônica, pianos despencam, o vocal desaparece surgindo abismais ventos despersonalizados e depois dessa tempestade, um piano faz renascer no ambiente a calma noturna das estrelas, baterias voltam a circular pela melodia, já se ouve pequenos esparsos do vocal timidamente que vai crescendo enquanto os segundos são transformados em matemáticos gemidos que logo mais uma vez são sobrepostos por um tempestuoso som inominável que brota do silencio e toma conta de todos os espaços, trompetes se espalham por meio de pianos e a tempestade soterra todas as saídas, somos transportados para desertos e oceanos, galáxias e vulcões, florestas derradeiras e planetas desabitados e lentamente improváveis dedilhados de violões se infiltram trazendo o vocal de volta, para o derradeiro recomeço, deixando com seus mais de 20 minutos, entorpecidos até a alma e desacordados de tudo que somos e onde estamos...Para terminar num expiral de conversas paralelas e raios de luz saindo de nossas cabeças desarticuladas rumo ao infinito espaço interminável.
"Season of Change" retorna em meio ao violão, a melodia minimalista agora tem um vocal masculino e soturnamente belo e é uma faixa curta e quando ainda nem acordamos "Untitled" encerra o album entre diálogos ao fundo de crianças brincando, estranhos ruídos metálicos e arranhões de portas embutidas sendo abertas e estamos de volta, cuspidos e asfixiados, mas, quem somos e onde estivemos? E pra onde vamos depois de visitar as galáxias mais distantes dentro de nós mesmos?

Por: João Leno Lima

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13:49

Hunter - Portishead



Depois de dez anos e três discos no currículo, o grupo inglês de “trip hop” (gênero da musica eletrônica) Portishead, voltou ao estúdio comandada pela voz espacial de Beth Ginbons, para nos entorpecer mais uma vez com um belo álbum. Quando surgiu em 1994 com o seu debut, o já clássico (dummy) um dos gêneros mais marcantes da década passada ainda estava caminhando com o revolucionário Blue Lines (1991) do Massive Attack, o vocal esfumaçado e noir de Ginbons com a densa camada de minimalismo eletrônico, resto de blues space, fragmentos de jazz e doces delírios melancólicos, fez do grupo inglês referencia no criativo gênero, sendo considerado a “mãe’ do fictício movimento. Beth fez incursões solos e nesse hiato se viu espalhado por todos os cantos o sintético sussurro do portis em vários grupos que se seguiram e então em 2008, dez anos após o seu último álbum, um genial show em Nova Yorke, que mistura orquestrações com arranjos eletrônicos, o grupo nos apresenta Third. muitas ramificações ocorreram com o estilo nesse intervalo e o Portishead sentiu isso e redefiniu sua sonoridade, mais orgânico não menos melancólico mais experimental profundamente belo, Third é pura reinvenção e genialidade.

Ninguém disse Que nós nunca encontrariamos um ao outro
ma nova evidência, é o que nos exigimos Nesse mundo
Eu fico de pé na orla de um céu partido
E eu estou desprezando, não sei porque
E se eu devesse cair, você me seguraria?
Você cederia à mim?
Você sabe que eu não perguntaria nada
a esperaria algum momento
Tão confuso Meus pensamentos estão assumindo o controle
Horizontes indesejados em vez de me encararem
Não irão embora
Eu fico de pé na orla
de um céu partido
E eu estou desprezando,
não sei porque
E se eu devesse cair,
você me seguraria?
Você cederia à mim?
Você sabe que eu não perguntaria nada
a vocêApenas esperaria algum momento
Continue

ALGUM IMPOSSIVEL QUE TRANSPASSA

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12:52


ha uma alma mas não ha ninguém.
estou tomado pela absoluta certeza de não saber nada,
não quero toda a infinitude do mundo
só quero toda a infinitude
que caiba no meu coração,
minha boca invisível
abocanha a boca invisível das manhãs
e trocamos salivas de abismos,
quero todas as galáxias
e se não puder quero tudo inesgotável
e se não puder quero desejar sonhar...
fui abandonado pelo tempo-espaço implacável,
me sinto órfão das auroras
acolhido pelas madrugadas crepusculares,
sinto o frágil colo dos precipícios íntimos
e me encolho nos braços
de uma momentânea ausência de solidão irreparável.
e essa tempestade interna que não passa?
e essas noites longas onde caminho pisando em fôlegos?,
e essas inevitabilidades cotidianas?
e essas asas que desaparecem no ar dos meus sentidos...
a ausência interna
é um vácuo onde procuro uma porta,
me sinto as horas
um animal incontrolável
que foge levando meu grito,
lá fora, passeio pelo sussurro das tardes
mas eu ainda me sinto uma criança
com medo chorar no possível,
qualquer lagrima é uma gota de oceano
que tem o mesmo peso da minha alma a noite.
meus rastros tocam as pálpebras
das cordas bambas das pequenas felicidades
e quando parece que nada
absolutamente nada
é capaz de me mover
para fora dos meus pensamentos mais dilaceradores
começo a sentir o impossível através de uma poesia
reencontro-me por segundos
levanto de mim e ando...
eu, o impossível sendo possível em mim mesmo.


De: João Leno Lima Continue
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08:35

Elliott Smith , o Bob Dylan da minha geração, partiu em 2003, deixando marcas profundas de poesia angustiantes na sua voz frágil, em seus discos entorpecidos de melancolia, beleza inexprimivel e noites calmas de lágrimas sinceras, o Sr. Steven Paul Smith, deixa saudades mas será eterno em cada um que conhece sua obra inesquecivell.


Anjos, me respondam, Vocês estarão por perto se a chuva cair? Devo acreditar que Vocês surgirão para serenar a tempestade? Por um tesouro tão formidável assim, palavras nunca serão suficientes. Certamente, se assim for, As promessas são minhas para lhes oferecer. Minhas para oferecer... Aqui, totalmente cedo demais o dia! Desejo que a lua se ponha e mude o amanhã. Eu devia saber que O céu tem seu caminho Cada um com determinadas lembranças próprias. Anjos, tudo podia acontecer Vocês moveriam ambos, a terra e o mar? Anjos, eu podia sentir Todas aquelas nuvens escuras desaparecendo... Igualmente, enquanto eu respiro Vem um anjo para sua guarda. Certamente, se assim for As promessas são minhas para lhes oferecer. Minhas para oferecer...

By Elliot Smith


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Uma Grande Ressaca

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13:25



Viver neste planeta não é tão agradável quanto poderia ser. É óbvio que alguma coisa não deu certo na espaçonave Terra, mas o quê? Talvez um equívoco fundamental quando a natureza (ou quem quer que tenha sido) resolveu pôr em prática a idéia "Ser Humano". Ora. Por que deveria esse animal andar sobre duas pernas e começar a pensar? Mas, enfim, quanto a isso não há muita escolha - temos que aprender a lidar com esse erro da natureza, isto é, nós mesmos. Erros existem para aprendermos com eles.
Em tempos pré-históricos o negócio não parecia tão mau. Durante o Paleolítico, cinqüenta mil anos atrás, éramos muito poucos. Havia comida abundante (caça e vegetais), e sobreviver exigia só um tempinho de trabalho com esforços modestos. Catar raízes, castanhas ou amoras (não esquecer cogumelos) e matar (ou melhor, pegar na arapuca) coelhos, cangurus, peixes, pássaros ou gamos levava duas a três horas por dia. Repartíamos a carne e os vegetais com os outros e passávamos o resto do tempo dormindo, sonhando, tomando banho de mar e de cachoeira, fazendo amor ou contando histórias. Alguns de nós começaram a pintar as paredes das cavernas, a esculpir ossos e troncos, a inventar novas armadilhas e canções.
Perambulávamos pelos campos em bandos de vinte e cinco, mais ou menos, com um mínimo de bagagem e pertences. Preferíamos climas suaves, como o da África, e não havia civilização para expulsar a gente em direção aos desertos, tundras e montanhas. 0 Paleolítico deve ter sido mesmo um bom negócio, a se acreditar nos recentes achados antropológicos. É por isso que ficamos nele por milhares de anos - um período longo e feliz, comparado com os dois séculos do atual pesadelo industrial.
Aí alguém começou a brincar com plantas e sementes e inventou a agricultura. Parecia uma boa idéia: não tínhamos mais que andar procurando vegetais. Mas a vida ficou mais complicada e trabalhosa. Éramos obrigados a ficar no mesmo lugar por vários meses, a guardar sementes para o plantio seguinte, a planejar e executar o trabalho nos campos . E ainda precisávamos defender as roças dos nossos primos nômades, caçadores e coletores que insistiam em que tudo pertencia a todo mundo.
Começaram os conflitos entre fazendeiros, caçadores e pastores. Foi preciso explicar aos outros que havíamos trabalhado para acumular nossas provisões, e eles nem tinham uma palavra para trabalho.
0 planejamento, a reserva de comida, a defesa, as cercas, a necessidade de organização e autodisciplina abriram caminho para organismos sociais especializados como igrejas, comandos, exércitos. Criamos religiões com rituais de fertilidade para nos manter convictos da nossa nova escolha de vida. A tentação de voltar à liberdade de caçadores e coletores deve ter sido uma ameaça constante; e, fosse com patriarcado ou matriarcado, estávamos a caminho da instituição, família e propriedade.
Com o crescimento das antigas civilizações na Mesopotâmia, índia, China e Egito, o equilíbrio entre os humanos e os recursos naturais estava definitivamente arruinado. Programou-se aí o futuro enguiço da espaçonave. Organismos, centralizadores desenvolveram sua própria dinâmica; tornamo-nos vítimas da nossa criação. Em vez de duas horas por dia, trabalhávamos dez ou mais nos campos ou nas construções dos faraós e césares. Morríamos nas guerras deles, éramos deportados como escravos quando eles resolviam, e quem tentasse voltar à liberdade anterior era torturado, mutilado, morto.
Com o início da industrialização as coisas não melhoraram. Para esmagar as rebeliões na lavoura e a crescente independência dos artesãos nas cidades, introduziu-se o sistema de fábricas. Em vez de capatazes e chicotes, usavam máquinas. Elas comandavam nosso ritmo de ação, punindo automaticamente com acidentes, mantendo-nos sob controle em vastos galpões. Mais uma vez progresso significava trabalho e mais trabalho, em condições ainda mais assassinas. A sociedade inteira, em todo o planeta, estava voltada para uma enorme Máquina do Trabalho. E essa Máquina do Trabalho era ao mesmo tempo uma Máquina da Guerra para qualquer um - de dentro ou de fora - que ousasse se opor. A guerra se tornou industrial, como o trabalho; aliás, paz e trabalho nunca foram compatíveis. Não se pode aceitar a destruição pelo trabalho e evitar que a mesma máquina mate os outros; não se pode recusar a própria liberdade sem ameaçar a liberdade alheia. A Guerra se tornou tão absoluta quanto o Trabalho.
A nova Máquina do Trabalho criou grandes Ilusões sobre um futuro melhor. Afinal, se o presente era tão miserável, o futuro só podia ser melhor. Até mesmo as organizações de trabalhadores se convenceram de que a industrialização estabeleceria bases para uma sociedade mais livre, com mais tempo disponível, mais prazeres. Utopistas, socialistas e comunistas acreditaram na indústria. Marx pensou que com essa ajuda os humanos poderiam caçar, fazer poesia, gozar a vida novamente. (Pra que tanta volta?) Lenin e Stalin, Castro e Mao e todos os outros pediram Mais Sacrifício para construir a nova sociedade. Mas mesmo o socialismo não passava de um novo truque da Máquina do Trabalho, estendendo seu poder às áreas onde o capital privado não chegaria. Á Máquina do Trabalho não importa ser manejada por multinacionais ou por burocracias de Estado, seu objetivo é sempre o mesmo: roubar nosso tempo para produzir aço.
A Máquina do Trabalho e da Guerra arruinou definitivamente nossa espaçonave e seu futuro natural: os móveis (selvas, bosques, lagos, mares) estão em farrapos; nossos amiguinhos (baleias, tartarugas, tigres, águias) foram exterminados ou ameaçados; o ar (fumaça, chuva ácida, resíduos industriais) é fedorento e perdeu todo o sentido de equilíbrio; as reservas (combustíveis fósseis, carvão, metais) vão se esgotando; e está em preparo (holocausto nuclear) a completa autodestruição. Não somos capazes nem de alimentar todos os passageiros desta nave avariada. Ficamos tão nervosos e irritáveis que estamos prontos para os piores tipos de guerra: nacionalistas, raciais ou religiosas. Para muitos de nós, o holocausto nuclear não é mais uma ameaça, mas a bem-vinda libertação do medo, do tédio, da opressão e da escravidão.
Três mil anos de civilização e duzentos de acelerado progresso industrial deixaram a gente com uma enorme ressaca. A tal da economia se tornou um objetivo em si mesma, e está quase nos engolindo. Este hotel aterroriza seus hóspedes. Mesmo a gente sendo hóspede e hoteleiro ao mesmo tempo.
Fragmento do livro "Bolo'bolo" do autor p.m.
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MESMICE

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13:13


O dinheiro do século XXI é um caos -- enquanto a ideologia do século XX era meramente uma entropia⁴. . Tanto o pensamento burguês quanto o anti-burguês propuseram um único mundo – unificado, em sua consciência, pela ciência -- mas somente o dinheiro, por si só, efetivará realmente este mundo.

O dinheiro não é migratório, pois o nômade se move de lugar em lugar, enquanto o dinheiro se move de tempo em tempo, obliterando o espaço. O dinheiro não é um rizoma e sim um caos, uma inter-dimensionalidade, inorgânico mas reprodutivo [infinita bifurcação regressiva] - a sexualidade dos mortos

O "Capital", então, deve ser considerado um "atrator estranho". Talvez a própria matemática desse dinheiro ("fora de controle") já possa ser rastreada através de redes esotéricas tais como a SWIFT⁵, a internet privada para bancos e casas de investimento, na qual um trilhão de dólares ao dia se diverte no ciberespaço (dos quais menos de 5% se referem mesmo que oblíquamente à produção de algo).

O mundo uno pode lidar com o "caos", mas ele reduz toda verdadeira complexidade a mesmice & segregação. Mesmo a consciência "adentra a representação"; a experiência vivida que exige presença precisa ser negada na medida em que ameaça constituir outro mundo para além do confinamento. Em um paraíso de imagens perdura apenas o pós-vida da tela, o portal estelar gnóstico, a cápsula da transubstanciação. Infinitamente o mesmo dentro de uma infinidade de confinamentos; infinitamente conectado e ainda assim infinitamente só. Imensurável identidade do desejo, imensurável distância da realização.



By Hakim Bey
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JIHAD

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13:03

• Quando dois se preparam para jantar ou duelar juntos, um terceiro aparece - tertium guid, parasita, testemunha, profeta, escapista. M.Serres, Hermes.

Cinco anos atrás ainda era possível ocupar uma terceira posição no mundo, uma que não fosse a recusa ou a astúcia, um reino fora da dialética - ou mesmo um espaço de retirada -, o desaparecimento como vontade de poder.

Há cinco anos ainda era possível ocupar uma terceira posição no mundo, uma que não fosse a de recusa nem a de astúcia, um reino fora da dialética - até mesmo um espaço de retirada -; o desaparecimento como vontade de poder.

Mas agora há somente um único mundo - o triunfante "fim da história", fim da insuportável dor da imaginação - na verdade uma apoteose de Darwinismo Social cibernético. O dinheiro coroa a si mesmo como lei da Natureza e demanda absoluta liberdade. Completamente espiritualizado, livre de seu corpo desgastado (mera produção), circulando rumo à infinitude & instantaneidade em uma numisfera² gnóstica muito acima da Terra, somente o dinheiro, por si só, definirá a consciência. O século 20 terminou há cinco anos atrás; este é o milênio. Onde não há um segundo, onde não há oposição, não pode haver um terceiro, não pode haver o “nenhum dos dois”. Então a escolha permanece: -- ou aceitamos a nós mesmos como os "últimos humanos", ou então aceitamos nós mesmos como a oposição (escolha entre automonotonia e autonomia.) Todas as posições de retirada precisam ser reconsideradas de um ponto de vista baseado em novas demandas estratégicas. Em um certo sentido, estamos encurralados. Como os ideólogos dos velhos tempos diriam, nossa situação é "objetivamente pré-revolucionária" de novo. Para além da zona autônoma temporária³, para além da insurreição, existe a revolução necessária - a "jihad".


By Hakim Bey Continue

Vespertine

1
11:42
Na arte, a tematização do amor é universal e atemporal, é delicado e exercício fadado ao fracasso, sintetizar um dos principais sentimentos do ser humano e quando se consegue poetizar e transformar em arte o tema deve certamente ser aplaudido. A Islandesa Bjork, nascida em um pais gélido onde há poucos horas de luz do sol e de onde já surgiram grandes bandas nos trazendo sons glaciais e sublimes como os Sigur Rós, é dona de uma das vozes mais excêntricas e espaciais da musica moderna e discos repletos de experimentações eletrônicas e lúdicas que caracterizam a década passada. Com Debut (1993) ela faria sua estréia solo depois de comandar uma banda de Pop - art. na década de 80, seu primeiro disco no século XXI é sua grande obra de arte e um disco que marca novas camadas na sua musica (arte). Vespertine (2001) que já figura entre os grandes discos dessa década e para muitos o melhor trabalho de Bjork. Foi Produzido ainda em torno de sua gravidez e depois de bem sucedidas investida no cinema, trilha sonora de filmes e um grande e um ultimo disco de estúdio, o Homogenic (1997),o álbum Emerge com subsutilezas eletrônicas aonde a voz de Bjork vai se espalhando pelos espaços vazios, logo outras vozes entram se misturando a uma pequena orquestra enquanto somos convidados a ir para um lugar escondido em Hidden Place, Bjork expõe seus desejos que vão se derretendo pelo embiente inorgânico onde sua voz busca o consolo no lugar mais denso e profundo de si mesmo. Cocon chega em pequenos fragmentos esparsos de ruídos percusivamente eletrônicos e Bjork Sussurrando dentro de um casulo intimo onde aqui já dentro do lugar escondido, desliza na espontaneidade de seus sentimentos e desliza pelos espaços flutuantes em doces camadas de felicidade, abrigando-se na certeza atemporalmente tenua da consolação do amor. A etérea It's Not Up To You, traz o móbile dialogando com uma Bjork que beira a melancolia e com um vocal impecável gesticula-se para encontrar a perfeição, sua infinitude pode rachar-se e tudo pode ruir mas longe do desespero Bjork propõe que nós nos debrucemos sobre o que mais nos atormenta e encontremos mesmo na extremidade caótica dos sentimentos um sentido de beleza e luz interior. Vocais engelicais penetram no espaço gravitacional dos nossos sentidos de onde surgem baterias eletrônicas que tremem de leves profundidades e Bjork e uma dos seus melhores registros vocais destila sua narrativa sensitiva pelos nossos ouvidos entregues, por que o amor às vezes é uma luta contra nós mesmos? Por que nos desgastamos demais apenas para satisfazer o orgulhoso jogo da indiferença e da solidão? Undo, implodi em grandiosas reverbaçoes vocais e Bjork nos entrega Pagan Poetry, pianos espaciais e baixos vindos dos subterrâneos dos desejos nos soterra em rendição mutua, Bjork pedala pelos oceanos dos nossos sonhos mais sinceros, enrosca-se pelo humano desejo de seguir e encontrar-se, desvendando nossos "códigos secretos" e nos gira para elém de nós mesmos mais ainda dentro de nós como ela mesma diz "lírios pretos girando totalmente maduros" suas vozes (as varias vozes de Bjork e de nós agora) se entranha nas profundezas e fere nossas barreiras e muros abstratos nos deixando nus e sem auto defesas, talvez assim, derradeiramente possamos nos entregar a poesia cantada por ela que é o amor. Frosti é um belo instrumental cheios de sinos e que vão surgindo e sumindo dentro da madrugada e então ouvimos passos lentos por caminhos tenuos que é a Aurora surgindo para nos levar "rumo ao sublime" Bjork Atira-se para longe de qualquer prisão ou qualquer tragédia intima e almeja nos levar para o infinito, sua voz é engolida para ecos cheios do destino e pelas faíscas de esperança que reluz em cada um de nós. An Echo A Stain surge num tempestuoso eco distante vozes quase sintéticas que gira dentro em si mesma, etéreas camadas preenchem o ambiente na mais eletrônica do álbum e também a mais sombria, aqui Bjork quase irreconhecível diz estar caindo livremente por completo e um sintético monologo surge em Sun In My Mouth, Bjork depois de um momento dispersa e entorpecida por sua própria infinitude almeja pegar o sol pela boca e "soltar-se viva no ar de olhos fechados" a esperança estala-se e agora assim como os poetas, Bjork espalha-se pela musica entre cordas e harpas desvanecidas, corpos e almas musicas e poesias mistérios do corpo e da alma sendo desbravados e engolidos em seu completo e Absoluto sonho sobre-humanos nessa obra de arte inspirada na poesia de E. E CUMMINGS. Uma bateria eletrônica misturada a sintetizadores e ventos futuristas permeia Heirloom, "eu tenho um sonho constante" a transcendência fragmenta Bjork pelos espaços e pelos corações humanos, sua voz alcança um alto grau profético e arrebatador em meio a luzes sendo engolidas e o calor dos sonhos sendo alcançados e sentidos, sua musica com uma forte personalidade eletrônica passeia pela orgânica melodia apaixonante e Harm of Will vem surgindo lenta e delicada, Bjork fala que os desejos às vezes ferem, mas ferem de uma forma que marcam para sempre nossa existência, e moldam como somos e quem somos a partir dali, muitos dessas feridas vem através do amor, mas não podemos nos desequilibrar por completo, seguimos, nos tornamos trovadores dos sentimentos essenciais que todos devem sentir. Em capela Bjork atravessa-nos, metaforizando sobre mãos que se amam e nos convida, não mais para ir para um lugar escondido como no inicio do disco, mas agora para nós unirmos na eternidade de alguma noite perfeita; Unison vai deslizando sem amarras no inorganicamente mundo sonoro de bjork que contrasta com as vulcânicas camadas existências de seus versos e Vespertine assim como as obras de arte vai nos consumindo e consumando e alvorecemos pelos vastos campos nos unindo a nós mesmo a ela a poesia a musica a arte as almas ao amor a tudo que nos completa alimentando nosso ser único com a perfeição do sentir a absoluta existência.




Por: João Leno Lima Continue
0
08:17

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Só há um desejo nesse momento,
O de mergulhar,
Atravessando os grandes desertos
Da minha pequena alma eu disparo,
Encontro a mim mesmo na borda,
O ambiente frio é minha lagrima,
Trago nas mãos o inalcançável,
Perdi no caminho o absoluto,
Através das palavras perdi a fé na humanidade,
Através das palavras eu a encontro desolado,
Aquele silencio interior ao anoitecer,
Aquele instante onde geme o destino,
Planejo chorar daqui a algumas horas,
Quando voltarei a ser eu mesmo sempre?
Quando me recuperarei dos acasos...
O mundo da voltar entorno de mim,
Mas eu só acreditarei quando ouvir o seu silencio,
E só acreditarei em mim quando meu silencio
Se manifestar alem dele mesmo,
Algumas memórias atravessam meu coração
Outrora indizível,
Levando ele para o fundo
Das pequenas frechas dos uivos desacordados,
Para ser oceânico
Pretendo tocar nos lábios dos oceanos,
Esses versos são os frascos que achei no impossível,
E na tarde que não pode ser evitada
Vou ao teu encontro
Como um crepúsculo que se mistura a noite
E a consola de ser ela mesma,
Nascendo na madrugada as horas silenciosas
Onde me abrigo no fundo de mim mesmo. Continue
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07:39

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ha uma alma mas não ha ninguém.
estou tomado pela absoluta certeza de não saber nada,
não quero toda a infinitude do mundo
só quero toda a infinitude
que caiba no meu coração,
minha boca invisível
abocanha a boca invisível das manhãs
e trocamos salivas de abismos,
quero todas as galáxias
e se não puder quero tudo inesgotável
e se não puder quero desejar sonhar...
fui abandonado pelo tempo-espaço implacável,
me sinto órfão das auroras
acolhido pelas madrugadas crepusculares,
sinto o frágil colo dos precipícios íntimos
e me encolho nos braços
de uma momentânea ausência de solidão irreparável.
e essa tempestade interna que não passa?
e essas noites longas onde caminho pisando em fôlegos?,
e essas inevitabilidades cotidianas?
e essas asas que desaparecem no ar dos meus sentidos...
a ausência interna
é um vácuo onde procuro uma porta,
me sinto as horas
um animal incontrolável
que foge levando meu grito,
lá fora, passeio pelo sussurro das tardes
mas eu ainda me sinto uma criança
com medo chorar no possível,
qualquer lagrima é uma gota de oceano
que tem o mesmo peso da minha alma a noite.
meus rastros tocam as pálpebras
das cordas bambas das pequenas felicidades
e quando parece que nada
absolutamente nada
é capaz de me mover
para fora dos meus pensamentos mais dilaceradores
começo a sentir o impossível através de uma poesia
reencontro-me por segundos
levanto de mim e ando...
eu, o impossível sendo possível em mim mesmo. Continue

REPARAÇÃO

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08:08

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Eu, cansado de lagrimas irreversíveis, permaneço, O mundo em sua linguagem rouca dos oceanos olha-me, Atravesso como se fosse nuvem o silencio irremediável, Pequenas profundidades ao meu redor, Sublimes escolhas sinceras, Margens de piedosos instantes, O mundo é um trem inevitável E eu dentro dele Permaneço sentado nos fundo claro-escuro dos sussurros, O verso mais fiel a si mesmo é o verso irretocável, Estou cansado de costurar os segundos, Não consigo conter o sangramento do meu tempo-espaço, Finalmente eu, longe do centro da rua solitária a si, Finalmente eu, distante de todas as mãos calorosas, Finalmente eu, a quilômetros do chamado pelo nome, Alguns poemas afundam minha cabeça, Outros passam despercebidos como as auroras que falham, Na mais profunda noite meu sentidos Esperam os passos do infinito, Interrogações se esculpem por mim E como numa febre Eu deliro de infinitas duvidas que já são mundos por si só, Odeio o mar por não estar nele, afogando-me, Odeio o deserto por não estar nele, perdido, Odeio-me, por estar aqui, Frente a frente com o poema sem estar nele, Estou do outro lado, sou o poema, Sou as pernas das vogais e os braços da consoante E meu corpo é o corpo de um verso E minha alma existe quando existe a poesia, Eu, cansado de lagrimas irreversíveis, permaneço, O solitário crepúsculo é um sonho desfeito, Cartas sendo escritas, mas jamais lidas É um sonho abandonado, Musicas empoeiradas pela memória Mas jamais revisitados são sonhos inacabados, É desnecessário dizer que ainda há o grito? Que ainda há os passos por caminhos inesgotáveis? Que ainda há um resto de rosto voluntariamente verdadeiro? A mão no rosto do poeta encima do seu poema que caminha É um horizonte inabalável, Aquele soluço que vira lagrima E que mancha as palavras É uma tarde que permanece cinza, Às vezes o mundo ao redor é um espectro, Às vezes eu sou o espectro que assusta o mundo, Apenas o meu mundo, E na hora que surgir Na eternidade perdida Em algum canto do universo O irrepreensível sentido para existência, Quero existir e não apenas permanecer.

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08:05

O mar sempre foi motivo de fascínio entre poetas e artistas em geral da literatura a pintura a fotografia e na musica ele sempre foi motivo de inspiração e mistério profundos para todos nós e nos lembrando disso Adriana Calcanhoto nos entrega o que já é desde de já um profundo mergulho no seu oceano intimo onde descemos para sentir melhor nossa próprio profundida, Maré (2008) faz parte uma espécie de trilogia conceitual que iniciou-se com Maritmo (1998), e é o oitavo disco da gaúcha que adotou o rio de Janeiro para viver e foi ele que deu a paissagem alem dos versos de Dorival Caymmi, Arnaldo Antunes Ferreira Gullar e Caetano Veloso, para o que ja é um dos melhores albuns lançados por ela e pela MPB nos ultimos anos.
Uma bateria eletrônica e um violão bossa nova abre de forma magistral o disco, o moderno e pos-moderno no mesmo ambiente na mesma linguagam ou como diz a própria adriana “ ou será so linguagem?” e vamos nos familiarizando com as imagens ensopadas de memorias e afogadas num cotidiano disfarçadamente desconhecido, Violinos e uma Adriana impecavel mergulha mais ainda para a primeira obra prima do disco "Seu Pensamento" classica musica tipicamente de adriana, um violão ondulante que toma conta da melodia e a poetisa vagando pelas infinitudes do Horizonte tentando alcançar nossos pensamentos mais inalcansaveis uma melodia irresistivel se esculpe entre a vocalização e temos a sensanção de uma leve flutuação em nossos proprios pensamentos inabalaveis para entao Adriana apresnetar "Tres" mais uma vez o violão, agora tenso, tremulo, uma especia de "dança da solidao" é base bossa nova para uma adriana determinada a escancarar seus mais profundos medos e encontrar um lugar dentro desse oceano para a reivenção de si mesma.o mundo como diz adriana "se resumia a tedio e pó", o aspero embiente nesse samba cinza faz um longo percusso e adriana asfixiada canta confusa pelos litorais de si masma. PortoAlegre, musica onde a Adriana Homenageia sua cidade natal é uma musica que distoa ate entao do disco e ainda trz Marisa Monte como dueto, musica lembrando os trabalhos de Adriana no projeto "Adriana Partimpim "(2004), onde temas mais voltado para o publico infantial era interpretados pela cantora. agora sim o disco retorna aoo trilhos em "Mulher sem Razão" um violão que poderia estar em qualquer disco do Djavan e metais criam a cama para Adriana radiofonicaaqui, adriana com muita razão diz "sonhar só nao é nada é uma festa na prisao" e desagua em "Teu nome mais Secreto" mais uma formidavel musica com a assinatura de Adriana, um violão que se impoe nada em oceanos e nós com sede para consumir nossos mais angustiantes sonhos nos deixamos levar por esse rio de sensaçoes de uma das melhores melodias do disco. para entao um violão em dissonantes e noturnas entonaçoes ouvir adriana entre lamurias sussurantes em "sem saida" uma bela vocalização atravessa nossos sentidos e quando ja perto de nossa rendição a jazzistica "Para Lá" nos consome alem de nós mesmo em mais uma grande obra prima do disco, adriana em registro vocal perfeito delimita seu territorio sonora e estilistico e nos entrega uma perola para nos embebedar irreversivelmente. o violão volta a tona em "Um dia Desses" lembrando aqui a Adriana de Trabalhos anteriores mais ainda assim mantendo o nivel do disco e temos aqui uma melodia apaixonante dentro da sua simplicidade irretocavel. antes de nos aforgamos completamente, maré ainda reserva a sua grande obra prima, "Onde Andaras" um timbre de violão oceanicamente poetico abre o corredor de aguas dispersas e infinitas para adriana clamar em vocal magnifico o melhor verso do album "na esperança tavez que o acaso num mero discaso me leve a você" enquanto vagamos por ruas puidas de memorias e nafrugamos pelas marges invisiveis e silenciosos onde nos abrigaremos em nós para seguir por nossos proprio oceanos distantes e dispersos em nossos cotidianos velozes nos tornanos mare. o disco curto e profundamente tenuo infiltra-se derradeiramente por nós em"sargaço Mar" com letra de Dorival Caymmi e violão de Gilberto Gil Adriana e nós afundamos num crepuscular sentido de todos os sentidos, com um olhar em frente ao mar caminhamos ate ele para sermos consumidos e arrebentados alem de nossos sonhos inaufragaveis.somos o mar quando somos nós mesmos. Continue
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09:14

Num mundo dominado pelas massificações que desabam sobre nossas almas afundando nossa essência verdadeiramente imprescindível ciente que sem ela apenas sobreviveremos para uma vida vazia de sonhos e liberdades interiores e nasceremos para uma vida cujo único sentido ainda não alcançamos.
Amnesic (2001), quinto trabalho dos britânicos do Radiohead e quarto disco conceitual da discografia gira em torno mais uma vez do homem, criando a utopia como salvação perante a verdade vigente absoluta.
Depois de duas obras primas que marcaram a década de noventa (Ok Computer e Kid A) a banda comandada por Thom Yorke assina as respostas às reflexões que os dois álbuns anteriores trouxeram.
Sob a batuta do engenheiro de som Nigel Grodich, uma pequena orquestra comandada pelo multi-instrumentista da banda Jonny Greenwood e o lendário trompetista jazzy Humphrey Lyttelton, com a influencia da musica eletrônica experimental de vanguarda e do jazz clássico da década de 40, evocando os ecos da arte-conceitual contemporânea, minimalismo conceitual e expressionismo abstrato e releituras do Krautrock, e inspirações Yorkianas nos artistas da Warp (selo independente de musica eletrônica experimental) para nos entorpecer com nossos próprios sentidos ultras sonoros.
A banda assina um dos mais melancólicos e sombrios discos da sua geração e já um dos melhores e ao mesmo tempo controversos discos desse século XXI.
Se nos discos anteriores a reflexão girava em torno do homem contemporâneo e seu afastamento existencial de si mesmo para assim nascer um homem - maquina, ciente que não pode sonhar e sim sobreviver, ciente que não poder ser ele mesmo e sim ser apenas parte dele e parte nulo.
Aqui Thom Yorke escreve seu sonho maior, o de voltar a sua essência para o qual o homem se vendeu e achar ali um lugar de liberdade onírica e racional que abrirá uma fenda no destino e novos caminhos se ergueirão em meio à soterrada carga de ideologias que vivemos no mundo moderno.
Sufocado por sua própria condição de ser humano, centro do paradoxo do mundo pos-moderno,
York abre o disco em estado de alerta com Packt Like Sardines In A Crushed Box, clama que nossas vidas estão passando num piscar de olhos e não estamos percebendo e afunda mais nossas esperanças quando afirma que quando começar-mos a perceber será tarde demais. Camadas minimalistas de texturas beats se misturam à voz sufocada de Thom Yorke numa esquizofrenia quase kafkaniana “empacotado como uma sardinha esmagada numa lata dentro de uma caixa” dialogo com um Yorke com medo e deslizando em si mesmo em meio à construção da textura entrecortada, vozes de sussurros gélido que desce pelas teias vicerais de um ambiente frio e cheio de ecos vestidos de navalhas que cortam nosso interior. Como barcos navegando para os sonhos mais distantes além da vida Yorke nos entrega Pyramid Song “canção pirâmide” balada jazz num piano descompassado, aqui o visionário joga-se num “rio de olhos negros” e conduz nossas promessas de salvação de uma vida deliberadamente confusa e maravilhosa, não há nada a temer nem a duvidar é o que Yorke nos diz enquanto vai seu barco existencial vai sendo sulgado para dentro da sua subconsciência despertando ela de seu gás do sono feito de senso comum e ideologias-camisas de força em meio a pianos mágicos que se destoam em meio a vozes sussurrantes e tremulas de delírios onde massas cinzentas de eteras camadas de uivos oceânico nos arremessam em Pulk/Pull Revolving Doors “portas giratórias” onde portas desafiadoras pelo qual só conhecemos no mais profundo âmago da nossa consciência são adentradas por um Yorke entubado por uma voz mecânica que paira no ar e desliza pelo seu rosto varando sua boca carcomida de inalcansabilidade, a voz sintética e confusa porem destemida no seu percurso fugitivo entre portas que se fundem num sonho inesgotável então sua alma é transportada para um deserto intimo em You And Whose Army? “Você e que Exercito?” um Yorke distante canta entorpecido por pesadelos futuristas, onde ele acredita que logo chegará o tempo que todos os exércitos que batalham contra o mais íntimo da humanidade irão ruir, o poeta, visionário dos tempos modernos profetiza que logo a maquina conhecerá sua ruína e enquanto eles sugam a força existencial da vida humana Yorke em seu sonho de retorno a si mesmo planeja outra fuga metafisicamente ciente de onde quer ir e numa noite gloriosa um cavalo fantasma o levará para dentro si, Yorke pede que nos aproximemos dele e subamos nesse veiculo soluçante que tem a força do infinito humano. Mergulhado em hipnotizantes guitarras cósmicas vestidas de sentidos que vagueia pelas artérias abstratas do comodismo caótico es que chega I Might Be Wrong “eu posso estar errado” um timbre nervoso da guitarra de Ed’O Brien rasga o silencio surgindo um Yorke futurista, pedindo uma abertura acima ou uma fuga por baixo, mergulha nas cachoeiras flutuantes da sua memória a fim de encontrar de novo os bons tempos, outra fuga, pelos tubos de ventilação do seu destino em meio às densas camadas da sua voz que passeia pela constante repetição da guitarra e baterias eletrônicas que entrecortam o ambiente urbano e perturbador, enquanto ecos sintéticos o perseguem pelos corredores do seu próprio medo de fracassar em si mesmo. Yorke acredita na fuga e pede para não olharmos para trás em Knives Out “facas para fora”, é uma sinfonia de guitarras e vilões dialogando dentro dos nossos cinco sentidos, não podemos desistir agora de nosso plano de vôo, Yorke pede que sejamos fortes perante as tempestades, a constante bateria e labirintos dedilhados por Jonny Greenwood misturam nossas percepções sensoriais enquanto Yorke áspero metaforiza sobre ratos e seres humanos se confundindo no soturno alvorecer dos tempos atuais e em certo momento ambos devem ser engolidos e esmagados no ápice labiríntico e angustiado da poesia Yorkiana. Congelado por um desespero translúcido ele percorre as teias sonoras do seu próprio orgulho fugitivo e destila sua matéria viva de impossível pelos vastos campos do futuro, Como num vento da manhã que leva pelas estradas mais seguras e percorre os túneis das palavras não ditas, Yorke nos apresentar Morning Bell “sino da manhã” em sua outra versão (essa música esta no disco anterior mas com camadas mais eletrônicas) cordas e violinos abraçam um Yorke lagrimejante e inconsolável um Yorke que quer corta-se ao meio, arrastar-se pelo próprio sangue e enroscar-se em sua sombra numa aurora que passou a ser noite. e nessa fragilidade cotidiana de alguma manhã qualquer ele ouve o Dollars And Cents “dólares e centavos” com um silencioso ruído ensurdecedor da maquina vestida de refúgio materialista para sua alma cansada e fraca, que o tenta seduzir pelos caminhos mais razoáveis, um contrabaixo circular de Colin Greenwood e pratos constantes da bateria de Phill metaforiza a monotonia cotidiana, enquanto teias éteras causam um ambiente esquizofrênico e alucinado que conduz Yorke a vertiginosa confusão de pensamentos e angustias, os dólares e centavos (personagem criado por Yorke na sua translucidez critica) afirma que ele terá uma vida magnífica e segura mas Yorke espatifa-se e se desespera, a maquina pede que ele tenha calma se não ela rachará sua alma pequena uma guitarra desliza pelas bordas da musica deixando desolado o cenário cheio de rachaduras e vidraçadas nisso surge uma guitarra gélida explorando um canto desolador na instrumental Hunting Bers “levando a caça" alguns timbres graves e um ar de devastação interior no meio de um deserto transcendente permeia para nos arremessar em Like Spinning Plates “como pratos girando” aranhões de vinis giram ao contrario a melodia improvável que vai conduzindo um Yorke impessoal, áspero, escalando sua própria mente como se tivesse explorando o mundo submerso dos sentidos, incapaz de responder as respostas que o levam ate aqui, um fugitivo querendo encontrar a si mesmo num verdadeiro sentido da própria existencialidade, sua mente caminha acima das nuvens e seus pés se sepultam abaixo da terra e a musica nos envolve para uma distancia inimaginável de nos mesmo e então somos transportados para um ultimo suspiro, baseado num complexo jazz espacial em A Life Glasshouse “vida numa casa de vidro” com letra de Jonny Greewood traz um Yorke melancólico pelos arredores de si mesmo e soterrado pelos trompetes de Humphrey Lyttelton e clarinetes que vagam por nossas artérias do desejo de alcançar-se desejando ir ate o fundo de si num mergulho nas próprias respostas que encontrou pelo caminho, pelo próprio infinito da sua própria infinitude, querendo que a humanidade volta a si mesma, recuperar-se do vazio dos caminhos percorridos na atual celebração do homem contemporâneo como resposta as alienações que engolem com todo a força os nossos sentidos, Yorke parece acreditar na humanidade desacreditando nela mas não em si mesmo e cria sua utopia poético-existencial como ode-manisfeto a tudo que nos torna menos humano e mais maquina, apenas sobreviventes e passageiros de um mundo globalizado tantos nos aspectos culturais como alienadores, vomitando o ser humano numa grade existencial que aos poucos vai encolhendo e sufocando nossos pensamentos mais essenciais para dá lugar a um ser humano vazio de idéias e sonhos que morrem dentro de si mais que vive e morre apenas para alimentar seu frágil desejo de existir por existir.assim como num “musical dos anos 30” encerra-se esse percurso radiohediano por nossas mentes entregues a nós mesmos.
Em Amnesiac, só acreditando na utópica volta as suas raízes essenciais o ser humano voltará a sim mesmo e descobrirá o verdadeiro sentido para sua existência, é preciso acreditar nas utopias do impossível talvez por que em nós mesmo somos impossíveis sendo possíveis, portanto sonhadores eternos da essencia humana. No disco mais esquizofrenicamente esperançoso e viciante do Radiohead, um sopro curto que às vezes parece insuportável, aqui a banda se desconstroi, tornando-se em muitos momentos irreconhecível suas principais características, nos arremessando em ambientes asfixiantes de nós mesmo onde a melodia eletronicamente conceitual enrosca-se pelos tentáculos das camadas da própria natureza orgânica do ser humano causando sensações de oceanos, ventos metálicos vindos da nossa própria mente, horizontes sussurrantes, noites longas e rios que cortam nossos corpos e sombras nos perdendo nas próprias camadas de nossos delírios cotidianos. num emblemático inicio de século que pode representar para a humanidade, um reinicio de existencialidade? Com Amnesiac a música é presenteada com a relevância que transborda questionamentos, perguntas e respostas que transpiram e absorvem nossa certeza e duvidas essências para a libertação de nossos sentidos, usando o próprio passado da musica como ponte para o futuro.Amnesiac é moderno, confuso, belo, áspero, frio, emocional, arrebatador, textualizado e texturizado na própria essência da arte; a de nos enriquecer com sua inesgotável plenitude.
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Breve Eternidade

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11:35

me fragmento pelo espaço a procura da cura de mim mesmo.
ilusão que vaga pelas artérias das noites inconsoláveis.
folha solta que passei pela borda do absoluto
antes de ele sangrar de invisibilidades passageiras.
redemoinho de pensamento que pousa no silencio.
pesa sobre mim os segundos calmos cheios de asas.
minha memória rasga-se de fragilidade disfarçada.
atravesso mil oceanos para encontrar a mim mesmo
só depois percebe que atravessei apenas
um terço da minha própria lagrima,
o mundo samba na minha cabeça e o infinito
abraça meu coração com um calor vulcânico de transcendência,
trazendo-me de volta depois da embriagante viagem
dentro dos olhos que vagam lentamente pelas paredes das horas,
nem homem ou mulher conhece a si mesmo em sua infinitude poética?
quantas almas precisam de espelhos para saber que realmente existem:?
nada alem de tristezas nessa manhã cinza.
quanto infinitos são possíveis num só instante?
apenas quero repousar minha cabeça sobre minha própria sombra e
alcançar nuvens consoláveis,
o silencio do mundo me ensurdece,
o silencio da minha própria alma me ensurdece.
estou surdo de infinitos.
sou um fragmento de imperfeição
que desce pelos braços do destino,
minha essência poética reside numa casa de vidro,
sou aquele horizonte quer alcançar-se,
aquele poente que jamais quer deixar de ser poente,
a palavra dita mas jamais ouvida é minha alma a noite,
o verso escrito mas jamais lido
é minha alma pela manhã
uma construção de labirintos que pesa sobre minha pálpebra
cansada de destinos e acasos formando internos crepúsculos.
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15:01

Em 2007 completou dez anos o que considero uma das maiores obras de arte do século XX. E um dos melhores discos conceitual do rock em todos os tempos e vou dizer por que.
O disco Ok Computer (1997) dos ingleses do Radiohead.
Formado por cinco amigos, (Thom Yorke letra, vocal e Piano, Jonny Greenwood, Guitarra e sintetizadores e cordas, Colin Greenwood, Baixo, Ed O’ Brain, Guitarra e Shill Selwey baterista). Na cidade de Orfoxd (interior da Inglaterra), o grupo subverteu o britpop, (movimento de rock pop inglês versão anos noventa onde letras bobas, poses e holofotes eram mais importantes que a essência da musica na arte),
Com o engenheiro de som Nigel Godrich e o artista plástico Stanley Donwood em um estúdio no meio do nada no interior de Londres, a banda rompe com a estética clássica do britpop, e assina uma obra atemporal que entraria para a história do rock como um dos últimos grandes momentos dele no século. Com influência que vão de Dj Shadow e Krzstof Penderecki (compositor erudito polonês). Passando por inspirações do “Krautrock” (movimento musical anarco-progressivo alemão),
Como Faust e Can ao Jazz de Charles Minguas e Jon Coltrane,
O pós-punk soturno de Joy Division e referências literárias que vão de George Orwell e seu livro febril e político (1984), Thomas Pynchon e seu manifesto da “contracultura” (O Arco-íris da gravidade) e influências do futurismo urbano nos escritos de Philip K. Dick. A banda de Thom Yorke faz um raio X da sua geração anos 90 e o século XX como pano de fundo, a virada tecnológico, as perspectivas para o Homem contemporâneo e suas contradições nos aspectos existenciais como base.
Ok computer metaforiza sobre a idéia do computador; capaz de executar tarefas tão ou mais complexas do que homem, armazenar milhares de informações e trabalhá-la em vários níveis de problemas ao mesmo tempo e com uma precisão racional e matematicamente perfeita, mas incapaz de sentir, incapaz de amar, incapaz de chorar ou sorrir e nesse sentido o quanto temos de máquina ou quanto de humanos? Essa ambigüidade é trabalhada tendo como fio condutor a voz quase sintética, mas ao mesmo tempo teatral e lúdica de Thom Yorke. Temas como a possibilidade da morte trazendo para a vida uma nova chance e inspiração (a faixa Airbag), aonde Yorke conduzido pela “maquina” carro metaforizado que conduz Yorke sem rumo, sofre um acidente, mas ele sobrevive graças a um “Airbag”. Então ele passa a acredita que assim sua missão é salvar o universo. Yorke ironiza o homem sobrevivente e sufocado por seu materialismo psíquico que persiste em anular a si mesmo para assim dá lugar a um homem pragmático que não pode sentir a própria existência; onde sua essência está submersa em teias capitalistas e massificações do senso comum, mas esse homem para Yorke, chora internamente uma dor de sua própria inexistência, em (Paranoid Android) ele é um “andróide paranóico”.
Em (Subterranean Homesick Alien) “nostálgico alien subterrâneo”, alienígenas observam a terra e as relações humanas, Yorke reprimido, almeja ser levado pelos alies para o espaço e encontrar assim um mundo melhor. Para ele os homens estão prestes a tornar-se um alienígena dentro do seu próprio mundo, reprimido para sonhar e voltar a sua essência, o Homem só pode ser ele mesmo nos subterreneos mundos da sua subconsciência. Sufocado pelo comodismo e pela falta de perspectiva que assola sua geração pré-milenio, deixando o fim do século inseguro e tenebroso, um século marcado por duas guerras e pequenas outras; Guerra fria, nazismo, fascismo, ditaduras e contradições religiosas e éticas formaram a teias do século mais assustador da historia, o século da bomba atômica e da perpetuação filosófica do capitalismo.
Sufocado Yorke canta em (Exit Music) “música de saída”, planejando uma fuga para algum lugar nenhum enquanto ouve a máquina sussurrar no seu ouvido que isso não passa de um delírio sufocado.
Em (Let Down) desapontado consigo mesmo e com o mundo Yorke vaga pelas ruas, pelos transportes que o levam por caminhos solitários, como andar em círculos dentro de si mesmo numa das músicas mais melancólicas do álbum, Yorke sonha em ter asas, mas histérico e inútil ele se deixa vencer.
Em Karma Police, (referencia a “policia do pensamento” do livro 1984), metáfora da condição alienadora da sociedade moderna. O “Karma Police” (ideologia capitalista como modelo de pensamento). Escraviza “excluindo” da sociedade, qualquer um que queira andar fora da ordem, qualquer um que queira contrariar o “normal”. onde a palavra revolução virou moeda, onde a arte virou apenas um mero produto na prateleira, onde a utopia é apenas uma palavra que soa risonha e hipócrita, onde qualquer pensamento fora do “normal” é um mero pensamento fora do normal e se ele persistir será devorado pelos tentáculos do senso comum e da ordem absoluta, no final Yorke grita: “ufa! Por minuto eu me perdi” e perde-se em si mesmo, mas as sirenes do Karma Police o engole completamente.


Essa ordem é confessada pela voz totalmente robótica de (fitter happier) “Mais ajustado e mais feliz”.
Nela Yorke ouve as “dicas” da máquina para uma vida melhor e mais feliz, o que você precisa fazer para se adequar ao mundo moderno, agora sem revolução e desarmado você é manipulado mais facilmente e mais sutilmente. Levando-nos a caminhos distantes; a voz de Thom espragueja sobre questões políticas em (Eletioneering) “fazendo propagando política”. Onde para Yorke há um abismo entre política e ser humano conflitantemente real, O ser com sua idéia revolucionarias de estado e sociedade é minoria, governado pela maquina capitalismo só resta ao individuo lutar pela liberdade do seu próprio pensamento e o manter coerente enquanto procura encontra sentido para o mundo.
Mas um medo de se perder de vista toma conta em (Climbing Up The Walls) “subindo pelas paredes” Yorke sobe pelas paredes do seu próprio medo e desespero e se sentindo observado e perseguido, Yorke procura coerência em suas atitudes e sente um medo quase infantil de estar sozinho em meio a seus próprios fantasmas. a máquina veio para confundi-lo e fraquejá-lo.
Em (No Surprises) “sem alarmes e sem supresas”. Um piano quase de ninar faz a base para um Yorke disperso, distante de si mesmo, cansado das atitudes humanas, desgastado dessa luta interna, enquanto a sociedade apenas caminha sem alarmes, para seu próprio fim, para o esgotamento absoluto dos recursos naturais, para a degradação completa da natureza isso, sem alarmes e sem supresas.
Mas em (Lucky) “afortunado” Thom diz esta com sorte, sente que pode amar e ter um dia glorioso, seus pensamentos estão mais claros, observa a humanidade de cima, flutuando em seus sonhos, acredita que seu rumo pode mudar na musica mais cheia de esperança de um álbum escuro e áspero, com a virada tecnológica, a revolução da informática na ultima década a humanidade vem perdendo aos poucos seu espaço de trabalho e o que foi um marco na revolução industrial agora na sociedade “pós-moderna” é feitiço virando contra o próprio feiticeiro (o homem) agora é refém de seu próprio ideal materialista, aumento do desemprego, empregos alternativos, desequilíbrio social, desigualdade, é o preço capitalista, que já não vê ninguém em sua frente para detê-lo então Yorke despenca, afirma que o “chefe do estado o chama pelo nome” clama para tirá-lo do acidente aéreo, afirma que já esta na extremidade de si, síntese de uma sociedade que se viu no século XX a beira de sua extinção, a beira de um colapso político, mas que recuperando suas formas viu na década de 90 uma grande ressaca de idéias e esperança, uma década marcada por um otimismo automático, pelo movimento elétrico dos passos, pelos blocos econômicos causando em paises em desenvolvimento uma ilusão de modernidade e uma pobreza disfarçada para o bem da globalização, pela arte-objeto, efetivação da mulher no mercado de trabalho e consequentemente uma fusão com o homem no papel de maquina de fabricar dinheiro, o homem turista do seu próprio mundo sobrevive asfixiado e asfixiando,
Em (The Turist) a derradeira faixa de Ok Computer, Yorke clama que o homem vá devagar, que ele pare e pense o que significou o século XX, o que significa a própria existência dele, o que ele esta fazendo para si mesmo e o mundo, terminando Ok Computer de forma melancólica e confessional num clamor poético inalcançável, numa musica cheia de espaço vazio, quase um blues sintético, que vai morrendo aos poucos enquanto Yorke canta: “Homem devagar aí, devagar aí...”.
Ok Computer torna-se uma dos últimos sopros de arte do rock no século XX, Por ter a relevância de transformar elementos tão universais e íntimos e sintetizá-los e textualizá-los em seu discurso. Por ser uma copia fiel do seu tempo. Por captar os elementos que tornaram esse fim de século tão instigante tão escuro para as ações e o ser. Pela fusão pós-moderna de rock espacial com ambientes progressivos e música eletrônica experimental renovando assim o movimento (o rock) com originalidade e relevância, por ser tão espelho da própria humanidade na voz nos ambientes urbanos sufocantes e arrebatadores comandados por Yorke & cia. Levando o homem a questionar-se:
qual o futuro da humanidade?
E qual minha própria relevância em tudo isso?
A arte prova mais uma vez que sua relevância não se limita ao seu próprio eixo e sim que ela se expande em todos os níveis e em todos nós; que ela pode transcrever a realidade e ser um documento histórico do seu tempo e ter papel decisivo nas reflexões sobre os principais problemas e questões humanas, por mais estranho e inacessível que possa parecer, a arte, ainda prevalecerá como um das características mais significantes da essência humana.
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