Amor Louco (AL)

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19:55
Fotografia de Rodney Smith


O amor louco não é uma social-democracia, não é um parlamentarismo a dois. As atas de suas reuniões secretas lidam com significados amplos, mas precisos demais para a prosa. Nem isso, nem aquilo - seu Livro de Emblemas treme em suas mãos.
Naturalmente, ele caga para os professores e para a polícia. Mas também despreza os liberais e os ideólogos - não é um quarto limpo e bem iluminado. Um topógrafo embusteiro projetou seus corredores e e seus parques abandonados, criou sua decoração de emboscada feita de tons pretos lustrosos e vermelhos maníacos membranosos.
Cada um de nós possui metade do mapa - como dois potentados renascentistas, definimos uma nova cultura com a nossa excomungada união de corpos, fusão de líquidos - as fronteiras imaginárias da nossa cidade-Estado se borram com o nosso suor.
O anarquismo antológico nunca retornou de sua última viagem de pecas. Conquanto ninguém nos denuncie para o FBI, o Caos não se importa nem um pouco com o futuro da civilização. O amor louco procria apenas por acidente - seu objetivo principal é engolir a Galáxia. Uma conspiração de transmutação.
Seu único interesse pela Família está na possibilidade de incesto (``Amplie o seu Eu'', ``Toda pessoas é um Faraó'') - Ó, mais sincero dos leitores, semelhante meu, meu irmão/irmã - e na masturbação de uma criança ele encontra, oculta (como uma caixa-surpresa japonesa com flores de papel), a imagem do esfarelamento do Estado.
As palavras pertencem àqueles que as usam apenas até alguém as roube de volta. Os surrealistas se desgraçaram ao vender o amor louco para a máquina de sombras do Abstracionismo - a única coisa que procuraram em sua inconsciência foi o poder sobre os outros, e nisso foram seguidores de Sade (que queria ``liberdade'' apenas para que homens brancos e adultos pudessem estripar mulheres e crianças).
O amor louco é saturado de sua própria estética, enche-se até as bordas com a trajetória de seus próprios gestos, vive pelo relógio dos anjos, não é um destino adequado para comissários ou lojistas. Seu ego evapora-se com a mutabilidade do desejo, seu espírito comunal murcha em contato com o egoísmo da obsessão.
O amor louco pede uma sexualidade incomum. O mundo anglo-saxão pós-protestante canaliza toda sua sensualidade reprimida para a publicidade e divide-se entre multidões conflitantes: caretas histéricos versus clones promíscuos e ex-ex-solterios. O AL não quer se alistar no exército de ninguém, não toma partido na Guerra dos Sexos, entedia-se com os argumentos a favor de iguais oportunidades de trabalho (na verdade, recusa-se a trabalhar para ganhar a vida), não reclama, não explica, nunca vota e nunca paga impostos.
O AL gostaria de ver todo bastardo (``filho natural'') chagar ao fim de sua gestão e nascer - o AL vive de aparelhos antientrópicos - o AL adora ser molestado por crianças - o AL é melhor que sensimilla1.3 - o AL leva para onde for sua próprias palmeiras e sua própria lua. O AL admira o tropicalismo, a sabotagem, a break dance, Layla e Majnun1.4, o cheiro de pólvora e de esperma.
O AL é sempre ilegal, não importa se disfarçado de casamento ou de um grupo de escoteiros - sempre embriagados do vinho de suas próprias secreções ou do fumo de suas virtudes polimorfas. Não é a deterioração dos sentidos, mas sim sua apoteose - não é o resultados da liberdade, mas seu pré-requisito. Lux et voluptas.



By Hakim Bey

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O Exasperante

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11:05
Fotografia de Rodney Smith


as almas se movimentam ao redor do infinito,
passeiam pelas extremidades do vomito do mundo,
correm para o longínquo das horas distantes
de si mesmo dentro de si mesmo,
o movimento dos passos em febre pelo impossível,
a solidão de uma criança abandonada
é a solidão dos poetas sem a poesia,
os muros do mundo rasgam-se
ao canto universal dos sonhos,
o vasto campo onde nada nasce
é cama para os desabrigados de si mesmos,
alguns passam todos os segundos de sua existência
a espera do cometa que irá levá-los para a eternidade,
algumas memórias são feitas de quartos escuros
com paredes incomunicáveis,
alguns procuram a porta no invisível,
o mundo dança no poema
dos universos de uma criança,
o claro escuro me tem por louco,
quero que o congresso seja absudizo
para o mundo exterior,
quero que os lixos deixados
nas margens perfeitamente verdes
soterrem os rostos da humanidade
e a sufoquem com sua própria ausência de si mesmo,
passeio à noite pela cidade decadente
para passear pela minha própria decadência,
encontro amigos que estão cientes
que não podem salvar o mundo
mas apenas a si mesmos,
volto para casa com toneladas de distancias nas costas,
carros e rostos viram paisagens abstratas
e a noite é uma tempestade
num deserto flutuantemente fincado no mundo,
ainda restam desejo pelo inadmissível,
crianças turvas com rostos turvos
brincando com cigarros
pelos corredores da praça
não podem se tornar irreparáveis,
a ausência de revolução
dos meus colegas de vinho
sangrando o tempo não pode se tornar irremediável,
quero ser o precipício das horas e não o contrario,
pego restos de poema
que ainda existem em mim e fabrico-me,
depois das lagrimas invulneráveis
os instantes me esperam com gigantes guardas chuvas
para me lavar ate meus sonhos abandonados,
sigo esse horizonte como quem segue um poema
em suas profundidades sublimes onde habita cada um de nós.


By João Leno Lima

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TRANSINQUIETAÇÃO

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09:58
Fotografia de Rodney Smith



alcanço o impossível com minha alma,
ate ela esgota-se de infinitos.
nunca fui mais do que a poça de lama que afunda o mundo,
a memória persiste em dezenas de pequenas gotas de chuva,
meu corpo começa a fabricar pequenas alucinações de cólera,
na praça, meus amigos com bocas enormes
abocanham pequenas formas de universo e
preparam uma bomba dentro do útero da realidade,
persiste minha memória
o raio de luz que atravessa meus tímpanos
ensurdece meus poemas na noite gélida,
persiste minha memória
a palavra nunca dita é a palavra mais decorrente no dialogo,
existe um assombro em cada intervalo de pálpebra,
existe na contra mão de um segundo
um instante de sonho realizado,
por que eu preciso mergulhar no oceano
para ser levado pelas nuvens?
a estrada perdida só esta perdida fora de si mesmo,
destroço o inconsciente.
persiste minha memória
aqui permaneço?
flutuando sobre a pagina a procura da palavra?
a melhor maneira de lutar contra as asas da
inércia inevitável é se vestido de inalcasabilidade,
meus sonhos viram nuvem nesse momento
ha um pequeno universo paralelo
nos olhares mais tristes da manhã e
isso é um grito gritado para dentro.
quantas almas gritam ao mesmo tempo dentro de uma poema?
quantas doses de acido onírico e
cometas são preciso para ser tão racional como meu chefe?
quantos versos precisarei construir
para chegar ao infinito?
fabrico a matéria prima e
os poemas a devoram inesgotavelmente,
depois descubro que na verdade não passei de
uma chuva sobre a pagina em branco
rasguei-a e só.
persiste minha memória.
afundo como uma lança no coração impossível,
desço as paredes do cosmo apenas com minha saliva.
adormeço sobre a calçada do inalcançável
para tremer de frio como a madrugada,
me enrolo no cobertores do acaso
para acreditar nas escolhas mais profundas,

frio na alma e no coração,
certeza absoluta da irrealidade,
preciso alucinar minha sombra para ela fazer sombra
ao meu poema e abrigar meu rosto apagado,
preciso reescrever os versos da minha alma todos os segundos,
navego por oceanos invisíveis
onde só vejo a mim mesmo e nem sempre,
ando pelos desertos da subsconciecia
transsurreal e nada encontro.
procuro seres imaginarias nas
tuas palavras mais verdadeiras,
procuro pequenas mortes no teu silencio,
os versos mais solitários são os versos mais longos,
combato a inconsciência antes de mergulhar
nos arquivos metafísicos de onde trabalho,
planejo evitar minha queda ha mais de um século de segundos
em todos os instantes e sempre fracasso,
quantos fracassos são possíveis a um poeta?
quantas memórias eu preciso juntar para morrer em paz?
quantos amigos preciso possuir para não sentir mais irreal?
de quantos poemas preciso para montar uma arca flutuante
e engravidar Deus por baixo?
ah persiste minha memória
ha muito tempo não leio os poemas de um grande amigo e
juntando com outras ausências forma uma ausência verdadeira,
corro oposto a mim mesmo e paro entre os mundos.
às vezes as palavras esticam pela distancia próxima entre as almas e
elas esticam para alcançar as mãos frágeis do destino,
ah quantas vezes preciso alcançar a mim mesmo
para ter certeza da min ha própria transcendência?



By João Leno Lima

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Fria Inalcansabilidade

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09:50
Fotografia de Rodney Smith


neva sobre a pulsação do mundo.
redemoinho de paranóias que gritam sem ar.
insolúvel soluço que vira nuvem,
ponte entra a minha consciência e a desordem,
fracasso ao encontrar a palavra perfeita,
qual será o melhor momento para iniciar um verso?
me chamam de dramático por
lagrimar sobre os colos do infinito e
sentir quando um olhar é mais dilacerante que
uma lança arremessada pelo acaso,
quero escrever os versos da minha alma
usado tua alma como inspiração,
como eu poderia?
na tarde cheia de amarras eu corro contra o tempo
enquanto meus conhecidos lêem
seus próprios silêncios ao ar livre,
a dança da inexistência é a dança essencial do meu ser,
mesmo assim procuro escavar meus sonhos no
mais profundo âmago do mundo,
mesmo assim declamo poemas
que se dissolvem na boca dos outros,
mesmo assim lanço meu olhar para o horizonte
como se ele fosse entender minha angustia,
mesmo assim sou apenas o cometa que
atravessa o mundo indivisível
como um eco universal de poeta,
às vezes a paixão por existir
transforma meu coração no cérebro da minha alma,
às vezes eu aponto do dedo na minha cara
antes de entrar pela porta de vidro do meu trabalho e
dizer bom dia onde na verdade era para ser um grito ensurdecedor
que quebraria os vidros da manhã calma,
às vezes eu penso que não há nenhum lugar
para eu descansar meu silencio,
essa frieza de neve assola meus cinco sentidos
deixando eles se rastejarem pelos joelhos das horas,
onde será que esta Deus, a não ser dentro de mim mesmo
para eu vomitá-lo assim como todo o lixo do meu corpo
assim me sentirei purificado de mim mesmo e
pronto para beber o vinho tremulo
com meus amigos tridimensionalmente poetas,
ah minha manhã lembra uma
embarcação desconhecida num mar conhecido,
quase sempre quero afundar e afundo
quase nunca não deixo de me afogar
quase jamais fui tão irreal quanto essa embarcação,
quase por alguns instantes
não sofri do delírio simples das coisas simples,
do meu dialogo continuo com as invisibilidades cotidianas...
sempre nasce o inalcançável.


By João Leno Lima

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Tentando o Possível

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10:24

1. Recicle o vidro. Calcula-se que a reciclagem de 1 tonelada de vidro poupa 65% da energia necessária à produção da mesma quantidade. Aproveite as embalagens de vidro para conservar alimento no frigorífico, na geladeira ou no freezer.


2. Uma só pilha contamina o solo durante 50 anos. As pilhas incorporam metais pesados tóxicos.


3. Prefira eletrodomésticos recentes e de qualidade, pois gastam menos energia.


4. Regue as plantas de manhã cedo ou ao cair da noite. Quando o sol está alto e forte, grande parte da água perde-se por evaporação.


5. Uma torneira a pingar significa 190 litros de água por dia que vão pelo cano abaixo.


6. Desligue o fogão elétrico, antes de terminado o cozimento, a placa mantém-se quente por muito tempo.


7. Desligue o ferro um pouco antes de acabar de passar a roupa - ele vai se manter quente durante o tempo necessário para acabar a tarefa.


8. Seja econômico: poupe papel, usando o outro lado para tomar notas ou fazer rascunhos; os pratos e copos de papel são ótimos para piqueniques.


9. Em vez de reciclar, tente preciclar (evitar o consumo de materiais nocivos e o desperdício).


10. Um terço do consumo de papel destina-se a embalagens. E alguns têm um período de uso inferior a 30 segundos. Contribua para a redução do consumo dos recursos naturais.


11. Regule o seu carro e poupará combustível. Use gasolina sem chumbo.


12. Sempre que possível, reduza o uso do carro. Para pequenas distâncias, vá a pé. Partilhe o carro com outras pessoas. Sempre que puder opte pelos transportes coletivos.


13. Prefira lâmpadas fluorescentes compactas para as salas cujo índice de ocupação é maior - são mais eficazes se estiverem acesas durante algumas horas. Embora mais caras, duram mais e gastam um quarto da energia consumida pelas lâmpadas incandescentes. Você vai evitar que meia tonelada de dióxido de carbono seja expelida para a atmosfera.


14. Os transportes públicos consomem 1/13 da energia necessária para transportar o mesmo número de passageiros por carro. Implemente uma política de transportes para os empregados.


15. As fotocopiadoras e as impressoras a laser utilizam cassetes de toner de plástico, que freqüentemente têm de ser substituídas. Contate uma empresa que recicle esse plástico ou que o use novamente.


16. Um estudo desenvolvido pela NASA mostra que as plantas conseguem remover 87% dos elementos tóxicos do ambiente de uma casa no espaço de 24 horas. Distribua plantas profusamente por todas as instalações. Recomenda-se, pelo menos, uma planta de 1,2 a 1,5 metros por cerca de 10 metros quadrados. Escolha espécies de plantas que se dêem bem com pouca luz natural.


17. Instale lâmpadas fluorescentes. Substituir-se uma lâmpada tradicional por uma fluorescente evita o consumo de energia equivalente a cerca de um barril de petróleo ou 317 quilogramas de carvão, que produziria 1 tonelada de dióxido de carbono (o maior gás de estufa) e 6 quilogramas de dióxido de enxofre, que contribui para a chuva ácida. As lâmpadas fluorescentes, além disso, duram em média, 13 vezes mais do que uma lâmpada incandescente. São bons motivos para escolher.


18. Desligue as luzes e os equipamentos (computadores fotocopiadoras, etc.) quando sair do escritório. Está provado que, se durante um ano desligarem-se dez computadores pessoais, à noite e durante os fins-de-semana, vai se poupar em energia o equivalente ao preço do computador. Instale sensores de presença que desliguem as luzes sempre que a sala fique vazia.


19. Antes de decidir comprar equipamentos para o escritório, saiba que as impressoras a jato de tinta usam 99% menos energia que as impressoras a laser, durante a impressão, e 87% menos quando inativas; os computadores portáteis consomem 1% da energia de um computador de escritório. Se for possível, opte por esses equipamentos.


20. Calcula-se que um em cada quatro documentos enviados por FAX são posteriormente fotocopiados porque o original tende a perder visibilidade. Desta forma gasta-se não só o papel de FAX (normalmente não reciclável porque é revestido com produtos químicos que são aquecidos para a impressão) mas também o de fotocópia. Compre um aparelho de fax que use papel normal. Funcionam como fotocopiadoras ou impressoras em papel vulgar.


21. Roupas usadas podem ser dadas a outras pessoas ou a bazares de caridade.


22. Brinquedos velhos, livros e jogos que você não quer mais podem ser aproveitados por outros; portanto, não os jogue fora.


23. Descubra se há locais apropriados para o recolhimento de papel velho. Normalmente, esses locais são organizados pelas autoridades locais ou instituições de caridade.


Reduzir, Reutilizar e Reciclar são as palavras da hora.


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A ARTE DE ROUBAR

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08:38

Para os proprietários de centros comerciais e seus agentes de segurança, eles são uns simples ladrões. Para eles mesmos, são um grupo artístico que intervém na realidade mediante a promoção e aplicação de técnicas de roubo. Chamam-se Yomango. Garotos que garantem não incitar ninguém a encher a geladeira na cara lisa, mas sim dar conteúdo político e artístico a atos dispersos que ocorrem diariamente neste grande centro comercial em que se converteu nossa vida.
Eles estão a caminho de se converterem no inimigo número um dos seguranças de lojas mas, reunidos em uma confortável mesa na varanda do apartamento de um dos membros, Yomango parece mais um foro de debates universitário que um grupo de delinqüentes.
Espírito iconoclasta, formação artística, consciência política e muito senso de humor parecem ser seus pontos de apoio. “Não fazemos apologia do roubo – afirma Jordi, um dos líderes do grupo -, o que fazemos é investigar e divulgar um estado de coisas. Há informações curiosas, como a que oferece uma das grandes marcas de dispositivos de segurança, que diz que 30 por cento dos roubos em supermercados ocorrem por parte dos próprios empregados, uns 24 por cento por parte dos clientes e o resto por distribuidores e perdas. Isto foge do típico malandro ladrão, que parece ser, no final das contas, o que menos rouba”. Eles definem suas ações como uma provocação artística. Sua origem está no desencanto que sentem pela luta anti-globalização, à qual criticam por que para combater problemas no século XXI recorrem a esquemas do XIX. “Yomango surge depois da ressaca das grandes concentrações anti-globalização de Gênova ou Praga – comenta Daniel -. Nos perguntamos o que acontece depois de tudo isto. Mudamos de direção e, em vez de basear nossa estratégia em grandes manifestações, decidimos nos voltar para um resposta cotidiana, uma desobediência civil mais próxima e muito mais prática que ir a uma capital européia na qual te chutem o traseiro. Daí surgiu a idéia do dinheiro grátis, e claro, dinheiro grátis é roubar, “mangar” (1); que é uma prática constante e que muita gente tende a fazer em supermercados. De um ideário tão particular vem o nome do grupo: Yomango.
Estes jovens têm como ponto de conexão sua cumplicidade com o centro okupado Laboratório 3, no bairro madrileno de Lavapiés, ainda ativo hoje mas na expectativa de um iminente despejo. Em seu projeto utilizam iconografia maoísta e a misturam com conhecidos slogans publicitários ou personagens contemporâneos como a atriz Winona Ryder, “mangante” ilustre (e convicta) em lojas de luxo de Beverly Hills. “Alguns de nós vêm da arte política – continua Jordi -, e estamos fartos de inventar coisas e ver que duas semanas depois a publicidade se apropria delas. Desenhamos alguns trajes para ir a uma manifestação para batalhar com a polícia, chamados Pret Art Revolter, e em duas semanas a bienal de Turim nos chamou para mostrá-los em uma passarela. É uma loucura. Dissemos a eles que iríamos apresentar algo nessa linha, mas mais cotidiano, e disseram para irmos em frente, e nos puseram na sede central do recinto. Mas quando se deram conta de que era Yomango o que apresentávamos, nos expulsaram a pontapés. Percebemos que havíamos encontrado algo que nem sequer o mundo da arte, que é um grande deglutidor de diferenças, havia podido engolir”.
Estilo de vida
Eles definem como um dos acertos de Yomango incorporar as técnicas do capitalismo à sua luta, mas evitando sua reciclagem pelas grandes corporações. “O passo seguinte foi criar uma anti-marca, que é Yomango, e depois associa-la a um estilo de vida, como fazem as marcas de verdade. Por que está claro que fumar uma determinada marca de cigarro já não significa apenas isso, mas algo parecido com calvagar numa pradaria”. O estilo de vida Yomango se baseia em descobrir “que qualquer ação política, se você deseja que seja constante, deve ser gozosa, porque o capitalismo já amarga bastante a nossa vida para que tenhamos que amarga-la por nossa conta”. Daí que também tenham apadrinhado a iniciativa da SCCPP, sigla de Sabotage Contra el Capital Pasándoselo Pipa (algo como “Sabotagem Contra o Capital se Divertindo Pacas”).
Nessa linha provocativa, criaram também um manual de cabeceira, O Livro Vermelho de Yomango (El Libro Rojo de Yomango), que reúne suas técnicas de furto artístico. Também criaram uma linha de roupas com bolsos ocultos em que os yomango possam esconder o que roubam em magazines e lojas de departamentos. Para ampliar seu leque de estratégias, o coletivo se reuniu com diversas pessoas para trocar informações. “Apareceu gente de todo tipo, os militantes de sempre, mães na luta contra as drogas, rappers...e depois deixávamos fichas onde podiam contar suas receitas para roubar. Uma de que me recordo com carinho consiste em reutilizar os cinzeiros dos estabelecimentos de fast food para envolver os alarmes dos produtos que se vendem em grandes lojas e evitar que soem na saída. È como uma metáfora: os resíduos de uma corporação servem para sabotar a outra”, conta Jordi. Com estas técnicas de roubo, e algumas maiôs conhecidas, como o truque da grávida, elaboraram O Livro Vermelho de Yomango. O manual, uma ironia do maoísmo, explica detalhadamente algumas das performances levadas a cabo por esses ativistas, como o “Yopito”, que consiste em fazer soar os alarmes das lojas de propósito.
“Esta ação, reciclando os alarmes de loja, quer mostrar até que ponto os grandes centros comerciais são superfícies amigáveis e dispostas ao diálogo com os clientes. Porque se você passa por um caixa e apita o alarme, neste instante o centro comercial se revela um grande dispositivo de isolamento e repressão, e ocorre um monte de coisas interessantíssimas e muito intensas, e, claro, se isso lhe acontece levando um salmão e dois queijos debaixo do casaco, é problema, mas se isso ocorre quando não está levando nada e ainda por cima por sua própria decisão, é muito legal. É uma maneira a mais de conhecer e desfrutar de seu entorno comercial”, ironiza Daniel.
Uma de suas ruidosas intervenções na realidade se deu no natal passado no Carrefour do bairro madrileno de Aluche. Ali eles se dedicaram a repartir entre si um total de até 300 preservativos com alarmes que paralisaram os caixas e deixaram o pessoal da segurança afundados no caos durante algumas horas. Porta-vozes dos agentes de segurança desse supermercado madrileno informam que o assunto está nos tribunais e evitam qualquer outro comentário. Yomango responde: “Sabíamos que isso ia chegar aos tribunais como desobediência civil, como ocorreu no caso da objeção de consciência (2).” Isto, que pode parecer mais próximo da gambiarra que do discurso político sério, chama a atenção de instituições tanto dentro como fora da Espanha.



Reconhecidos


“Tentamos socializar os recursos que o mundo da arte proporciona e o fazemos enfiando a cara e utilizando o dinheiro que nos dão para aumentar a difusão de nosso trabalho. Fomos curadores no MACBA, demos conferências no MIT de Boston, e nos convidam para bienais”. O cineasta underground Manuel Romo fez um documentário em vídeo sobre as atividades do Yomango e uma pré-montagem deste trabalho serviu de aperitivo na exposição Deluxe, que se pode ver em Madri, Miami e Valladolid. “As instituições de arte e as universidades tem de reconhecer que o que propomos faz parte da tradição acadêmica e artística. A arte política desde os anos 60 se envolve no contexto em que nasce. Já não se trata de fazer uma obra representando a guerra, mas dos artistas mergulharem na realidade”.
Mas o que diferencia Yomango é que ele ataca a base do capitalismo, o consumo, pondo em evidência as técnicas de persuasão que as empresas usam para vender seus produtos. “Quando se entra em movimentos políticos, costuma-se ter por alvo o Estado ou as forças e corpos de segurança, mas poucas pessoas se fixam na política das empresas para obter lucros, isto é, se concentrar em supermercados, baratear os empregos, e, definitivamente, gerar uma miséria que permite aplicar o Yomango”. Grupos parecidos, como o coletivo norte-americano Adbusters (http://www.adbusters.org/) também refletem sobre a super-exposição de estímulos comerciais a que nos submetem todo dia. “Não podemos confirmar nada, mas continuaremos em ação”, conclui Jordi.


Fonte: SCCPP – Sabotage Contra el Capital Pasándoselo Pipa (www.sindominio.net/fiambrera/sccpp/).

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SOM INEXPLICITO DO VUNERAVEL

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10:38

Pelo menos cada instante
Foi vivido como se fosse o ultimo.
Fui da poça de lama
Ao interior do tempo-espaço,
Cavei as soturnas nuvens solitárias
E penetrei nos sonhos
construídos com colunas De versos
Entre a persistência intima
E o abandono de si mesmo
Só ha uma reparação,
Sinto-me menos sonhador,
Mais desenfreidamente temporal
Mais atemporalmente melancólico,
Um resto de qualquer coisa
Que sonha infinitos
Destruidor de silêncios
Poente ausente de si mesmo,
Rua vinte de abril
Virando ponte para algum confim
Alem das coisas cotidianas,
Dois pés no centro de destino,
Querer fugir o tempo todo é querer resistir,
Pego o livro de Allen Ginsberg
Que esta ao alcance como metáfora do inalcançável,
No meu tumulo quero
Poemas de Fernando Pessoa em vez de flores
Para eu poder respirar-me,
As lembranças do meu ser impossível às 3 da manhã,
Meu coração enorme
Que já não cabe na minha alma,
O canto do mundo à noite
Aperta minha boca contra suas paredes,
As coisas que eu nunca vou viver
Desmoronam sobre mim,
Eu desmorono sobre mim,
Fazer um poema
É o que ainda me faz respirar
Ah fúnebre crepúsculo dos ausentes,
Quero ser o amante invisível
De todos os infinitos,
Meu rosto não passa
De um amontoado de ilhas solitárias,
De Manaus aos firmamentos do universo
Um mudo olhar
Tossi instantes abandonados,
Esse poema é um fragmento solitário num oceano de instantes,
Inevitavelmente ele corre para o precipício intimo
Onde no vazio já não há mais
Desespero.



By João Leno Lima

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Canto Ausente

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10:09

Enormes colunas se erguem contra minha ausência,
O silencio é um coração gigante asfixiando
Vulneráveis paredes com asas intimas,
Ninguém conseguiu evitar as ausências de si mesmo,
O enorme olhar que ha em cada instante
Sente o cisco da minha lagrima cheia mãos frágeis,
Rabisco oceanos que querem me afogar
Puxando-me pelos braços,
E vou com eles
Como quem volta ao útero
Do seu próprio precipício,
Abrigo-me na palma da mão da vulnerabilidade,
Esmagado ainda respiro trêmulos invernos
Apenas para permanecer
Sem sentido
Apenas para permanecer
Aqui
com todos os sentidos esculpindo
Meu rosto nas paisagens que nunca aconteceram.




By João Leno Lima

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