O golpe semântico da indústria da música

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Por | João Roc

 

Vivemos tempos difíceis na arte. Esta  buscando se redesenhar no olhar contemporâneo de novos artistas. Momento de entressafra entre Escritores, músicos, cineastas, artistas digitais e/ou do gueto, cada um tentando apalpar seu espaço e alguns almejando a reinvenção, enquanto outros, permanecem simplesmente atolados  no jogo comercial. E sua arte (neste caso, sua música)  recém criada, portanto, potencialmente uma novidade, já nasce velha.

 

Falando especificamente na indústria da música. Com o advento da internet, produtores, bandas e todo o tipo de profissionais que trabalham no meio se viram em preocupantes quedas de vendas depois da farra que foi a década de 90. A última década do milênio aqui no Brasil sobretudo, houve, desde seu início, uma verdadeira explosão pop que levantou as vendagens à altos patamares e alavancaram jovens ambiciosos músicos (ambiciosos no sentido estritamente financeiro vamos deixar claro) ao status de grandes artistas tupiniquins. O Pop sempre existiu é óbvio, algumas bandas na década de 80 eram absurdamente comerciais, caricaturadas e sinistramente canalhas. Isso não mudou na década posterior, o que mudou foi o tamanho da coisa.

 

Não só no Brasil mas também no mundo todo, a internet causou grande impacto na forma de distribuição e na relação do artista e seu público. Nascia aí um termo que sintetizava a angústia das gravadoras e a ira de profissionais, a cyberpirataria. Todavia, no Brasil temos um caso bastante curioso. A reinvenção da máquina pop não em sua estrutura sonora, esta há tempos sucateada e banalizada por suas letras sofríveis e sua postura pseudosentimental. Mas uma reinvenção que se dá no campo da semântica.

 

Sim, você pode chamar de Tags, Marcadoras, novo estilos, sub-gêneros, seja lá o for, mas a grande verdade é que a indústria fonográfica conseguiu se manter viva no Brasil nesses últimos anos graças a uma forma de renovar as prateleiras e o gosto do ouvinte lhe entregando, em sua concepção, digamos, sínica, novos gêneros e dentro dele, variantes que se atropelam na sua falta de lógica e conteúdo. Este é o último elemento que vamos encontrar em uma busca profunda.

 

O golpe é sempre o mesmo, para cada discutível estilo, outro semi-estilo acompanhando. Então temos o sertanejo (que na verdade não passa de músicas românticas chupadas de estilos bregas da década de 80) e depois temos, vejam só, o “Sertanejo Universitário”, a princípio um sertanejo mais jovem, mais animado, mas que garante um enxurrada de novos rapazes e duplas que irão fazer a felicidade dos donos de gravadoras. Depois temos o Funk. Com grande incentivo midiático, um pano de fundo social para validar a figura dos novos artistas. Logo depois o “Funk Ostentação” um estilo de letra que lembra muito alguns artistas negros americanos que versam sobre carros de luxo, mulatas gostosas e cordões de ouro. O que lá parece uma reafirmação social, aqui não passa de modinha barata e antagonicamente pobre em sua estrutura sonora. Claro, um sem números de grupos se agregaram ao “novo estilo”

 

No Pará um pequeno movimento underground, uma espécie de “faça você mesmo” do norte do Brasil. Artistas do chamado “TechnoBrega” encontraram na distribuição manual uma forma de retrabalhar sua divulgação para além das rádios ou gravadoras. O resultado foi um intercâmbio entre frentes que poderiam ventilar este trabalha e o faziam e o baixo custo da obra/disco, refletindo em bom lucro para os seus autores. Mas nem mesmo assim se fugiu muito do vazio de inovações que a música pop brasileira tenta disfarçar através da criação dessas ilusões ortográficas. O Techno lá, tem mais a ver como isso vai soar no Marketing, no contato com um público que acredita em uma que algo “moderno” surgiu de um estilo que sempre foi discriminado no país. O tiro foi certeiro, com direito até a uma apaixonada resenha de Nelson Motta no Jornal.

 

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A criação de novas nomenclaturas para enquadrar determinadas variantes não é novidade e muito menos é uma invenção brasileira. Na música eletrônicas, uma pequena mudança de andamento do som já coloca este num estilo diferente se o andamento fosse só alguns BPMs mais acelerados. O rock mesmo possui uma gama de gêneros que moldam em muitos casos a orientação musical de muitos fãs.

 

Mas em se tratando da indústria da música aqui no Brasil, isso foi como achar água no deserto. A invenção de falso estilos, novas variantes que desandam para um mesmo fim explicitamente plagiador, a fabricação de novos artistas a cada temporada, mantendo aquecida as vendas e mostrando a efemeridade de como estas novas celebridades vão e se vão. Tudo é uma forma de fazer a roda da fortuna continuar girando. Entretenimento puro e amoral. A música tratada como mercadoria que vai ser consumida com álcool e outras drogas.  Uma farra de mulheres e homens, quase, desesperados por aquela canção, aquele hit que irá coloca-lós nos holofotes. A sociedade do espetáculo transformando a arte em uma escada para ser pisada e fatiada em Talk Shows. Para a indústria, é tudo novo de novo. A música neste universo puramente capitalista, é só um meio.

Entulho Cósmico

Toda a palavra é um verso e todo o verso é um infinito

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