From the Basement | os porões sonoros de nigel godrich

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Por | João Roc

O inglês Nigel Godrich é um engenheiro de som que estudou na SAE - Escola de Engenharia de Áudio - de Londres. Com a oportunidade de trabalhar ao lado do lendário John Leckie, no histórico, Abbey Road Studios, ajudou a produzir o segundo álbum do Radiohead, em 1995, e todos os discos dos ingleses até os dias de hoje. Além de colocar sua marca em álbuns pontuais de grupos do calibre de um R.E.M, dos franceses do Air, Metric e artistas icônicos como Paul McCartney por exemplo.

 

Godrich também é musico, em 2010, lançou um álbum com a banda Ultraísta, onde compôs, arranjou e produziu o belo trabalho. Mas, além de um grande legado na discografia de figuras importantes de sua geração, Nigel reformulou o conceito de apresentação aos moldes da internet, modernizando a ideia de performances acústicas no seu pontual The From The Basement.

 

Em 2006, convidou Dilly Gent, James Chads, John Woollcombe para produzir uma série que captasse as bandas em seu real –visceralidade -Sem plateias, sem intervenções de Mcs ou apresentadores engravatados com piadas de bolso para codificar os sentimentos do ouvinte/telespectador/usuário. O fluxo do programa seria determinado pelo próprio artista, sua arte ali, sendo executada sem cortes, sem oportunidade de maquiar qualquer tipo de realidade.  O local escolhido foi o Maida Studios, um aglomerado de estúdios da BBC que estava prestes há completar cem anos. Algumas apresentações também foram no Berkeley Street Studio, em Los Angeles.

 

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From The Basement é um documento visual fantástico e talvez tenha sido esta a intenção de Nigel. Trazer às bandas para um território seu, quase como um ensaio catártico, fechado, claustrofóbico na criação, no afunilamento de sua obra exposta para câmeras em HD e depois canibalizada para um público sedento. Detalhes de mãos, passos, acordes verossímeis, baquetas e palhetas sob a ótica do detalhe, da íntima execução e recriação da obra. Rosto, gestos, sensações e guitarras acústicas sendo tocada em sua intrínseca conversa silenciosa, no suor criativo do autor. De The White Stripes à Kieran Hebden (Four Tet), as escatológicas performances de Thom Yorke e seu Radiohead às confissões sublimes de Pj Harvey ou Back. Das guitarradas nervosas de um Queens Of The Stone Age aos messiânicos rifs do Sonic Youth, desaguando em Jam Session dos Red Hot Chilli Peppers e poéticas reverberações de Damien Rice ou Fleet Foxes.  .

 

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Mas do que a efemeridade que alcança o universo das produções de hoje, o trabalho visual e o resultado definitivamente ímpar de Godrich garante uma atemporalida sonora - para além do disco- para além dos concertos ao vivo ou participações em programas.  Temos a oportunidade, de mesmo detrás das lentes do monitor ou da TV, nos conectarmos com um lado mais palpável, sem amarras, quase como se, por uma obra do destino, pudéssemos participar das sessões de gravação destes artistas. Como ouvintes e como cúmplices e confidenciássemos sua genialidade, através desta profunda experiência sensorial, para as próximas gerações.

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