EU ACREDITO NA RAPAZIADA

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Por | Andrey Tasso

Mapa da violência

Nosso país têm um dos maiores índices de homicídios do mundo e esses dados entre a juventude é alarmante. Os números cresceram vertiginosamente segundos dados da Unesco de 1980 à 2012 e supera em muito o de países em guerra. A percepção que o cidadão comum tem é de que a nossa juventude, como sugerem os dados, os jovens entre 15 e 29 anos, estão completamente perdidos. Outro dado preocupante é da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios onde quase 20% da população na mesma faixa etária não estuda nem trabalha, os chamados “Nem-Nem”. Recentes dados apontam que muitos jovens têm adiado sua entrada no mercado de trabalha a fim de estudar primeiro, se qualificar, prestar concurso público etc. E é neste ponto que as coisas podem ser vista com positividade.

Uma parte de nossos jovens estão morrendo e a outra ainda resiste. Com a quase obrigatoriedade de uma boa qualificação exigida por parte do grande capital coorporativo, criou-se ainda mais dificuldade na busca pela estabilidade e qualidade de vida da população e sua relação com o trabalho. Apesar da grande oferta de emprego no comércio e na construção civil por exemplo, isso não é necessariamente garantias de vida confortável ou de espaço para realização de alguns sonhos que estão fora do orçamento. Pensar na sobrevivência primeiro é o crucial para esses jovens e é objetivo a se pensar, para quem busca uma vida digna em uma sociedade que exclui aquele que por ventura, ouse, trilhar outros caminhos à margem do dinheiro.

Basta entrar em alguma sala de cursinho pré-vestibular ou algum preparatório para concurso público ou olhar com mais atenção para todos jovens prestando o ENEM, para acreditar que forças ainda estão sendo empregadas na construção de um país melhor. O jovem precisa de oportunidade e educação, isso é fato, mas ele quer mais. Quer emprego de qualidade e não ser sufocado pelo lucro, pelos horários abusivos para sua existencialidade, pelo caos de simplesmente se manter vivo fazendo a roda da fortuna funcionar para os senhores encheram ainda mais suas gordas contas bancárias. Será que políticas públicas mais abrangentes não poderiam ser construídas para que o rapaz ou a moça pudesse criar suas bases para além do elementar jogo de deixar tudo para o futuro? Tudo o que? perguntaria o jovem leitor. Sua vida. Sua juventude. Seu tempo para si mesmo. Querer demais?

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Isso também passa pela mentalidade consumista que desde pequenos aprendemos. Por àquela propaganda, dita inocente, que fazia nossa cabeça e obrigava nossos pais a serem os fundamentais saciadores desta fome por tudo que o dinheiro puder comprar. Crianças têm entrado cada vez mais cedo por este labirinto, para alguns inevitável. A construção de uma personalidade inspirada pelo luxo, pela compra, pelo corpo perfeito, pelo carro importado, pela casa naquele bairro chamado de “nobre” tudo isso é ventilado com bastante entusiasmo pela grande mídia, pelo cinema, pelos grandes bufões da política e do empresariado. Enquanto somos ensinados e porque não, obrigados a abrir mão de alguns bons anos de nossas vidas para construir um patrimônio material que obviamente iremos usufruir por alguns anos e deixar para nossos filhos. Há como fugir destas amarras?, só se um grande desprendimento for empregado em prol de uma vida absurdamente longe do capital. Nossa juventude ainda não tem tamanho senso crítico e nem faz parte da nossa cultura, brasileira, latina, a buscar pela utopia, seja ela qual for, então a esperança reside em alguns milhões de jovens com força de vontade para mudar suas próprias vidas, longe dos tentáculos do tráfico, da vida vazia ostentadora e do passional desinteresse pela educação.

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Claro, os dados são extremamente pessimistas, são reais, e um grande banquete para os carniceiros da TV e sua pseudosensibilidade para com o povo. O olhar não deve ser reducionista, deve ser amplo, os índices de criminalidade há tempos ultrapassam o normal, há tempo somos enganados e nos deixamos enganar pela classe política, nós que temos o poder originário apenas no papel mas não de fato, apesar de que, de fato temos este poder, mas tem pouca habilidade em entender como ele funciona.

Entretanto, neste exato momento enquanto há dezenas de jovens usando crack, roubando, esquecidos debaixo dos viadutos, assassinados por serem negros na periferia, há também dezenas estudando, trabalhando e/ou até buscando às ruas para protestar, se qualificando, mesmo com toda uma eventual problemática econômica e porque não, familiar, praticando esportes, ousando sonhar com as artes ou com suas profissões e porque não, contrariando a máxima de serem, preconceituosamente, vistos como frutos do seu meio. O panorama é de uma epidemia de violência e caos mas há pequenas luzes não nos fins dos túneis, mas sim das salas de aulas, no comércio, nas empresas e em todos os lugares.

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O Sublime Segundo Nicolas Godin e Jean-Benoît Dunckel

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Por | Andrey Tasso

Dez anos de um dos melhores trabalhos da dupla francesa, Air. Com produção de Nigel Godrich e considerado um dos melhores álbuns dos anos 00 pela Pitchfork Media.

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Que uma canção tem o poder de subverter o espaço-tempo e nos arremessar tanto no passado, como no futuro ou simplesmente nos tirar da nossa zona de conforto de nossas divagações diárias e, como uma mágica metafísica inacreditável, Nos fazer adentrar pequenos em universos ocultos até então, mas que são prazerosamente desvendados, como uma criança que atravessa um túnel de nuvens perseguindo uma balão misteriosamente íntimo só a si mesma.

Nicolas Godin e Jean-Benoît Dunckel conseguiu tamanha façanha em diversos momentos de sua suave carreira, entretanto, com Talkie Walkie lançado em 2004 eles chegariam perto da perfeição da canção sublime. Com produção de ninguém menos Nigel Godrich (considerado um dos melhores do ramo por gente como Paul MacCartney e Radiohead), o título faz referência ao grande compositor Serge Gainsbourg que compôs "Le Talkie Walkie" lançado na compilação “Du Jazz Dans Le Ravin” de 1997.  O disco, o quarto da discografia dos franceses, obteve apenas singelas manifestações e uma recepção até fria, porém positiva, da crítica da época, mas ao ser redescoberto dez anos depois, podemos sentir suas nuances, seu equilibrado jogo de notas cristalinas, sua atmosfera cheias de esparsas primaveras, sua permutação que envolve nossos ouvidos em algodões metafóricos e como uma cortina, fecha nossos olhos para o mundo exterior ao mesmo tempo em que os descortina para longínquos lugares que jamais havíamos ousado pisar.

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Como em “Vênus” onde um piano faz nossas marcações nas calçadas desacontecidas, íamos para o trabalho ou para algum lugar decididamente confortável?, Onde não teremos que cumprir às metas da semana e sim apenas nos preocuparmos em conhecer os descampados antes de nos deitarmos, mas a noitinha, para olharmos os grandes aglomerados, não do caótico trânsito, mas sim das constelações. Ou como bela “Cherry Blossom Girl” onde novamente o piano e bateria se rendem ao falsete delicado da dupla, que como que declarando um frágil poema de amor, vai preenchendo os espaços até então escuros de nossas saudosistas reverberações de saudades.

Run” pode parecer a princípio exótica na montagem de seus soltos elementos e da repetição da palavra. Neste momento, estamos olhando os transeuntes e suas idas e vindas pelos solavancos, nas vielas úmidas de Paris ou de qualquer lugar do mundo, onde após um período chuvoso, na impetrável passividade dos senhores, na seriedade pálida das senhoras, o inadequado jovem que olha o celular no exato momento que um comboio de pássaros atravessava a esquina formando poéticas formas de dialogar com a vida.

Também poderíamos falar do cintilar sussurrante de “Universal Traveller”, o tom baixo, o diálogo oculto esquecida do casal que procura se entender, a mãe carregando o filho nos colos invisível da barriga, a pressa juvenil do menino que desnecessariamente quer chegar logo ao objetivo, o mudo encontro de silhuetas no lado esquerdo do coletivo, o mundo não para, o clico dos acontecimentos rememora suas memórias, nós, seres pensantes, não conseguimos parar para pensar, uma açucarada ironia de excesso. “Mike Mills” é aquela parada para o café, onde precisamos fechar as contas do mês, onde a beleza está ali e é obvia que está mas não a queremos neste instante, é uma transição calma para  “Surfin On A Rock” onde a dupla desprende-se dos grilhões da elementar previsibilidade e joga-se na estrada desconhecida. O destino nem eles sabem, mas se olhar para trás e perceber o quanto já percorremos pode render um prazer sobre-humano, então, está seguindo de fato nossas doces verdades inconfessáveis é uma segura certeza.

Talkie-Walkie

Com algumas imperfeições, sutis tropeços, como a vida, como tudo, Talkie Walkie é daqueles discos que merecem ser revivido em sua intrínseca harmonia, o intenso piano sendo decodificado em prol do esculpir cada canção rumo ao acabamento múltiplo de um presente atemporal. O final, quase como um sintético circo se desdobrando sobre a fina normalidade do dia-a-dia é a mostra de como uma arte não precisa necessariamente mudar o mundo, basta apenas o convidar para ouvir novas belas (no caso, canções) sendo criadas para embalar a sua rígida jornada. Como um “Walkie-talkie” trazendo boas vibrações para um dia que está a começar.

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