Cinema e Revolução

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13:11

correspondente do Festival de Cinema de Berlim, J. P. Picaper, ficou atemorizado pelo fato de “em Le Gai Savoir, co-produção da O.R.T.F. e da Rádio-Stuttgart - proibida na França -, Godard ter pronunciado sua admirável auto-crítica ao ponto de projetar seqüências com a tela escura ou mesmo deixando o espectador durante um período quase insuportável de tempo diante de uma tela branca” (Le Monde, 8 de julho de 1969). Sem considerar o que representou mais precisamente “um período quase insuportável de tempo” para este crítico, podemos ver Godard, como sempre seguindo a moda do momento, adotando um estilo destrutivo da mesma maneira tardia, plagiadora e obtusa como todo o restante de sua obra, foi esta negação, expressa no cinema antes dele, que deu início a longas séries de pretenciosas pseudo-inovacões que despertaram tanto entusiasmo entre as audiências estudantis no período anterior(1). O mesmo jornalista informa que Godard, por um dos personagens do seu curta L’Amour, confessa que a “revolução não pode ser colocada em imagens” porque “o cinema é a arte da mentira”. O cinema não tem sido mais “arte da mentira” do que as demais artes, que estão mortas em sua totalidade bem antes de Godard, que nem mesmo pode ser considerado como um artista moderno, quer dizer, ele não foi capaz de revelar qualquer vestígio de originalidade pessoal. Este maoísta mentiroso com seu blefe retorcido tentou despertar admiração para sua brilhante descoberta de um cinema não-cinema, denunciando a espécie de inevitável falsidade na qual ele participou, mas não mais do que tantos outros. Godard foi na realidade imediatamente ultrapassado pela revolta de maio de 1968, que fez com que fosse reconhecido como um espetacular fabricante de uma arte superficial, pseudocritica, cooptativa digna das latas de lixo do passado (veja Le rôle de Godard na Internationale Situationniste #10). Naquele momento a carreira de Godard como cineasta foi essencialmente encerrada, e em várias ocasiões ele foi pessoalmente insultado e ridicularizado por revolucionários que eventualmente cruzavam seu caminho.


O cinema enquanto meio de comunicação revolucionário não é inerentemente mentiroso apenas porque Godard ou Jacopetti o tocaram, basta que seus autores sejam stalinistas para que toda análise política seja condenada pela fraude. Vários novos diretores em vários países estão tentando atualmente utilizar filmes como meio de crítica revolucionária, e alguns deles terão sucesso parcial nesta empreitada. Porém, as limitações tanto em suas concepções estéticas como também em sua compreensão da natureza da presente revolução vão, em nossa opinião, impedir-lhes durante algum tempo de ir até onde é necessário. Nós acreditamos que no momento apenas as posições e métodos situacionistas, conforme formulados por René Viénet em nosso tema anterior (Os Situacionistas e as Novas Formas de Ação Contra a Arte e os Políticos), são adequadas para um uso diretamente revolucionário do cinema — entretanto, as condições políticas e econômicas ainda se apresentam como óbvios obstáculos à realização de tais filmes.



Sabe-se que Eisenstein quis fazer um filme do Capital. Considerando suas concepções formais e submissão política, dificilmente tal filme seria fiel ao texto de Marx. Mas de nossa parte, somos confiantes que podemos fazer melhor. Por exemplo, assim que se possível o próprio Guy Debord fará uma adaptação cinematográfica de A Sociedade do Espetáculo que certamente em nada ficará devendo ao seu livro.


Fonte: Projeto Periferia (www.geocities.com/projetoperiferia/).

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TEORIA DA CONSPIRAÇÃO

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13:05

INSTRUÇÕES DE USO PARA O ATIVISTA AMADOR
Gérson(ou Jersson) de Oliveira

1. Não acredite em nada do que lhe dizem. Na real, quase noventa por cento do que você aprendeu até hoje não é verdade. Você sabia que uma laranja é azul? Pois saiba que sim. Mesmo as cores que vemos são pura ilusão. De ótica.


2. Tvs, jornais, meios de comunicação, tudo é programado. Há sempre uma razão para escolherem que informação dar.


3. Se você acha que o que está sendo falado aqui é bobagem, pare agora de ler. Se preferir continuar, é por sua conta e risco...


4. Vamos supor que você já percebeu que vivemos condicionados a todo momento. Nossa programação mental, nossos gostos, nossa crença, ego, diversão, etc.


5.Tudo o que vemos é relativo. A física quântica já provou que a posição de uma partícula pode ser variável e múltipla simultâneamente. Robert Anton Wilson, um dos precursores da conspirologia, afirma que vivemos em “túneis de realidade”.


6.Iniciar programa de descondicionamento? Muito bem, só teclar o enter e pronto. Ok? Simples assim? Não, ninguém aqui está propondo uma nova lavagem cerebral.


7. É agora que entra a teoria da conspiração. Lançando hipóteses e conectando dados nem sempre confiáveis, a conspirologia é uma ferramenta para o ativista justamente por gerar dúvidas. Verdade ou boato, o fato é que conspirações sempre trazem um questionamento polêmico e fértil por trás.


8. Sejam frangos trangênicos do MC Donalds ou a verdade sobre Ovnis, não há como negar que conspirações estão profundamente enraizadas no inconsciente coletivo.


9. Conspirações são armas políticas. Conspirações estavam por trás da Revolução Francesa, do Watergate, e até do Golpe de 64 no Brasil.


10.Especulações éticas ou disseminadoras de memes, o fato é que conspirações não são brincadeira. Nem paranóia. Ou podem ser uma coisa ou outra. Ou ambas.


11. A internet é o lugar por excelência para a disseminação de conspirações. Como os memes, toda conspiração espalha novos memes por aí, na velocidade de um e-mail.


12. A utilidade de uma conspiração? Depende do seu objetivo. Curiosidade? A verdade por trás do Vaticano ou da Rede Globo? Quer começar uma revolução? Desmascarar uma seita? Revelar experimentos científicos proibidos? Conectar o narcotráfico com a indústria do cinema? Amigo, o campo é vasto e os caminhos os mais variados. Mas não avancemos muito, se você chegou até aqui, você não é nenhuma criancinha.


13. Conclusão? Nenhuma. A dúvida é o cerne de toda conspiração. Mas atenção. Não acredite em tudo que lê. Nem mesmo no que está escrito aqui...

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POEMA ENTRE O TEMPO E O ESPAÇO

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11:36


a união de intermináveis vazios assola minha alma,
fragilidade que percorre as artérias e sai pela boca consumida,
detritos que rasgam a pança de um confim que cansou de ser imaginário,
ah como é infindável esse deserto
era como se eu percorresse todas as almas solitárias dos poetas
com pés sepultados na minha própria sombra
e descesse pelas paredes de vidros dos sonhos envidraçados,
a fumaça dos carros no caminho para o trabalho me elucina
e me perco na contramão de mim
lambendo o infinito com uma língua cheia de espinhos translúcidos,
vazo pelos pesadelos dos ecos pisoteando
o invisível visivelmente meteórico,
minha lança poética e cotidiana atravessa o coração da aurora
e leva meu sonho ate altas montanhas imaginarias
que flutuam pela calçada do meu sentido,
ah o sexto dos meus cinco sentidos é o primeiro ato
da peça abismal da minha fuga invariável,
preciso respirar.
léguas de memórias afundando.
estendo a mão em neblina que trago de volta a lagrima inerte,
respirar hoje em dia é o penso logo existo da nossa época
tantos silêncios ensurdecedores,
camadas cósmicas desprezadas por passos sintéticos
saídos de bloco de gelo que deslizam nas paradas de ônibus,
pelos portes em forma de farol crepuscular
pelos bancos lotados de fantasmagóricos futuros,
onde minha cabeça rola entre os corredores
e é esmagada pelos talões de cheques
e palavras precisas que perfuram meu cérebro
como parafusos surrealistas atrofiando meu fim sepultado no tempo,
me sinto lagrimejante e fragilmente sonhador,
me sinto a bússola perdida de uma navegador
num mar abstrato insuportavelmente consciente dentro de mim,
para tudo que for suportável
para tudo que me lançar num chão banhado de angústias,
para tudo que descabelar meu universo com outros universos
engolidores do fogo vulcânico que sai da minha pulsação enorme,
para tudo que for ilimitado como as dores na alma e o amor inconsciente e incontrolável,
para tudo que me faz voltar a mim mesmo
abismando minha sombra que como nuvem esfria meu silencio,
para todos os poemas que se fundem na minha saliva
virando mãos que me sufocam quando a insônia
é uma pequena grande tempestade que para por cima da minha noite desolada,
poderia dizer que as horas se derretem mas
na verdade elas acidam meus segundos decompostos
com vômitos inconseqüentes que apenas meu olhar produz nas vaginas da manhã,
evaporando a nuvem que faz minha memória
lembrar de si mesmo por ser diluída em fragmentações,
mesmo que para isso eu tenho que enterrar meus desejos de voar
nos altos de mim mesmo e respirar o ar melancólico das sensações inrenascidas,
vácuo ha um longo vácuo que vaguei insano a mim,
corro mais uma vez
pés-tempo
maos-segundos
corpo-eternidade
alma-infinito de todos os infinitos,
desdenho as formas simétricas
e calabouços falsos da palavra,
desdenho a conjunção dos astros ao meu redor,
desdenho poemas nunca escritos por um medo latejante,
desdenho os poetas que sobem nas cadeiras
deixando seus poemas no chão para que sua voz seja ouvida
nos quatro cantos menos a voz dos seus próprios versos inanimados,
desdenho um punhado de delírios porque a alma é o próprio delírio convexo,
desdenho-me por não sei onipresente mesmo que seja flexível,
desdenho-me por ter sido nada enquanto
que a vida é tudo inrrespondivelmente transcendendo,
ah almas obsoletas desdenho os olhares que só olham suas próprias pegadas,
os balcuciadores de verdades vindas de seus próprios vícios por si mesmo,
minha alma mergulha novamente
nas estradas oceânicas dos anseios febril por espaço e tempo,
trêfego entre auroras e crepúsculos
e jamais encontro o infinito ultimo das sensações humanas,
por isso persisto como a poesia que persiste em reviver
a cada nova leitura e estraçalha o passado onisciente,
persiste em mergulhos e mergulhos imperceptíveis,
por que nenhum grito e nenhum silencio intimo
é tão imperceptível quanto meu infinito único,
nunca entendi o que significa ser realmente poeta
por que a poesia é para ser sentida como a soma
de todos os universos interiores inteiros,
por que ser poeta é esta dentro de todos os universos
e não fazer parte de nenhum
sendo todos ao mesmo tempo,
ser cada letra,
cada verso,
cada palavras
ser cada ser
em minúsculos sentimentos inesgotáveis,
minúsculos eus se proliferando na porta do futuro,
minúsculos corpos burlando as câmaras de segurança do mundo,
minúsculos dedos tocando a íris da desmemoria,
minúsculas libertações dos cadeados momentâneos do meio dia,
minúsculas chuvas despencando na minha pálpebra almatica,
me afogando como quem afoga um fugitivo num mar despedaçado
no lagrimejante dia que contamina o outro e o outro e outro
para desaguar na falta de respiração trasncedente,
pequena morte de cada instante,
pequeno baile fúnebre de nao-eternidade,
a grande utopia da existência humana
é não querer existir existindo
é estar sobrevivente num mundo onde só o existir
é ser poeta e ser poeta é ser a própria utopia e ser livre...

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LAST FLOWERS

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10:29


meu corpo cansado,
refém do infinito da minha alma
Deixa-me inconsolável,
fragilidade de inserto sendo engolido pela memória,
mulheres e homens estão com suas cabeças a baixo da terra
que treme de angustias calmas,
a profundidade é maior quando cai uma lágrima
criando uma enorme onda que afogará o infinito de nós,
sinto um pequeno oceano,
persisto no impossível,
o absoluto é um fracasso nesse instante.
e o instante é uma escavação crepuscular,
segundos perfuram minha inconsciência,
letras de musicas inesgotáveis embalam a boca da noite,
às vezes eu acho que ninguém ao meu redor esta bem...
todos têm uma angustia inesgotável,
todos têm memórias que viram nuvens e atravessam a manhã,
todos os rostos dos meus amigos parecem se
contorcer de submersas infinitudes
como vulcões que rasgam as galáxias e devastam a transcendência,
sinto que meu presente horizonte submerso
é uma carta futurista que se repete,
fui seduzido pelo tempo-espaço mas
não me entreguei completamente,
nossas imagens, nossas almas, nosso infinitos se confundem,
a persistência em respirar se confunde
com a persistência de um poema,
e quando persiste um poema é
quando a alma não desiste de si mesma,
preciso de um poente,
nesse instante preciso de um poente,
preciso de um poente nesse poema,
preciso de um poente nessa manhã monitorada
pelos satélites frios que balbuciam ordens,
preciso de um poente antes de preparar
as portarias milionárias no meu trabalho,
preciso de um poente antes que gesticular sem sentido
na borda do abismo da aurora e
caminhar dentro de um meteoro
rumo ao mar das ausências reprimidas,
não afundo quando mergulho em mim mesmo
eu afundo quando submerjo do meu próprio interior,
uma angustia que vem fora engoela minha lembrança
como um tubarão que almeja engolir o oceano inteiro,
abandonei minha respiração
agora sinto o inalcançável
quero me apaixonar por essas horas solitárias
olhando-a no rosto,
minha febre cotidiana perece um trem a todo o vapor
que percorre os umbigos do vazio
quando eu descarrilo a noite,
vivo dois universos paralelos,
eu e o cotidiano somos parceiros
antes do crepúsculo
e depois somos um com a noite,
fabrico meu mundo sempre...
fabrico a bomba de ventos e nuvem perfeitos,
fabrico meu próprio poente
fabrico meu próprio crepúsculo e auroras
fabrico a eternidade,
fabrico meu ser para ele ser
o sexto dos cinco sentidos do mundo,
fabricos universos inteiros
mas não encontro nenhum deles agora,
então saio de mim,
tomo um ar num confim solitário,
nesses instantes escuros e frios
sinto uma solidão medonha que me abocanha,
amarro meus quatro cantos
nos quatro cantos desse poema e
ele leva-me para longe.


De: João Leno Lima

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A máquina planetária do trabalho

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10:22


O nome do monstro que deixamos crescer e que mantém nosso planeta em suas garras é: Máquina Planetária do Trabalho. Se queremos que a nossa espaçonave volte a ser um lugar agradável, temos que desmantelar essa Máquina, consertar os estragos e fazer certos acordos básicos para um novo começo. Então, nossa primeira pergunta deve ser: como faz a Máquina Planetária do Trabalho para nos controlar? Como é organizada? Quais são seus mecanismos e como podem ser destruídos?
A Máquina é planetária: come na África, digere na Ásia e caga na Europa. É planejada e regida por companhias internacionais, sistemas bancários, circuitos de combustível, produtos não-manufaturados e outros bens. Existem montes de ilusões quanto a nações, Estados, blocos, Primeiro, Segundo, Terceiro e Quarto Mundos – mas estas são só subdivisões menores, partes da mesma maquinaria. Claro que diferentes engrenagens exercem pressões, tensões e fricções entre si. A Máquina é feita de suas próprias contradições: operários/capital; capital privado/capital do Estado (capitalismo/socialismo); desenvolvimento/subdesenvolvimento; miséria/desperdício; guerra/paz; mulheres/homens, etc. A Máquina não é uma estrutura homogênea; ela usa suas contradições internas para expandir seu controle e sofisticar seus instrumentos. Diferente dos sistemas fascistas ou teocráticos, ou como no 1984 de Orwell, a Máquina do Trabalho permite um nível "sadio" de resistência, inquietação, provocação e revolta. Ela digere sindicatos, partidos radicais, movimentos de protesto, manifestações e mudanças democráticas de regime. Se a democracia não funciona, ela usa a ditadura. Se a sua legitimidade entra em crise, ela tem prisões, tortura e campos de concentração de reserva. Nenhuma dessas modalidades é essencial para entender a função da Máquina.
O princípio que governa todas as atividades da Máquina é a economia. Mas o que é economia? É uma troca impessoal e indireta de tempo de vida cristalizado. Você gasta seu tempo para produzir uma peça que é usada por alguém que você não conhece para montar uma bugiganga que é comprada por outro desconhecido para fins que você ignora. O circuito dessa sucata de vida é regulado de acordo com o tempo de trabalho que foi investido no material bruto, na sua manufatura e em você. A medida é o dinheiro. Os que produzem e trocam não têm controle sobre seu produto comum, então pode acontecer que trabalhadores revoltados sejam mortos exatamente com os revólveres que ajudaram a produzir. Cada peça de comércio é uma arma contra nós, cada supermercado um arsenal, toda fábrica um campo de batalha. Este é o mecanismo da Máquina do Trabalho: retalhar a sociedade em indivíduos isolados, chantageá-los separadamente com salários ou violência, usar seu tempo de trabalho de acordo com os planos. Economia quer dizer: expansão do controle da Máquina sobre suas partes, tornando essas partes cada vez mais dependentes da própria Máquina.
Todos somos partes da Máquina Planetária do Trabalho – nós somos a Máquina. Representamos a Máquina uns contra os outros. Desenvolvidos ou não, assalariados ou não, autônomos ou empregados, servimos à proposta dela. Onde não há indústria, "produzimos" trabalhadores virtuais e exportamos para zonas industriais. A África produziu escravos para as Américas, a Turquia produz trabalhadores para a Alemanha, o Paquistão para o Kuwait, Ghana para a Nigéria, o Marrocos para a França, o México para os Estados Unidos. Áreas virgens podem ser usadas como cenário para os negócios turísticos internacionais: índios em suas reservas, polinésios, balis, aborígenes. Os que tentam sair da Máquina preenchem as funções de pitorescos marginais (hippies, yogues, etc.). Enquanto a Máquina existir, estaremos dentro dela. Ela destruiu ou mutilou quase todas as sociedades tradicionais ou as levou a desmoralizantes situações defensivas. Se você tenta se retirar para um vale deserto e viver sossegadamente de uma agricultura de subsistência, pode crer que vai ser encontrado por um coletor de impostos, um funcionário do planejamento ou um policial. Com seus tentáculos, a Máquina pode alcançar virtualmente todos os lugares deste planeta em questão de horas. Nem nas partes mais remotas do deserto de Gobi você pode dar uma cagadinha sem ser notado.


Fragemento de Bolo'bolo

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Microbunny - Dead Stars

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08:18


De repente somos abduzidos para um mundo distante, cheio de ambientes claro escuros, soturnos, becos frios da nossa mente, espaços umedecidos de subconsciências, como se a viajem já tivesse começado, mas só agora estamos com a consciência disso e pior, não sabemos para onde estamos indo... Dead stars.
Formado por al okada e Tamara Williamson. O Mycrobunny, grupo canadense de downbeat. Lançou em 2002 seu primeiro álbum e logo em seguida lançaria um dos melhores discos da historia da musica eletrônica. O texturizado e cosmicamente genial Dead Stars (2004). disco que tem a personalidade dos grandes álbuns. É orgânico dentro da inogarnicidade eletrônica. Há texturas jazzistas que se misturam a batida breakbets, doses de blues Spaces, cordas se entrelaçando com metais, violinos e trompetes sendo entrecortados por um vocal cosmicamente esquizofrênico. Batidas etéreos sobrevoam a melodia enquanto trompetes distantes passeim pela extremidade de "HONEYTONE" o vocal de Tamara adentra os tempo e espaço sendo conduzido por ásperas texturas de pianos gélidos e beckvocais caindo em abismos próximos de nós. Em "Gamma Hydra IV" sintetizadores alucinados misturam-se a intensa bateria e logo ouvimos ensurdecedoramente metais rasgando a melodia, órgãos engolindo o vocal de Tamara que flutua acima de todo o caos sonoro enquanto somos soterrados por fragmentos jazzy transformados em angustiantes Ambientes cosmicamente perturbadores. "Grey Stars" surge em freqüências paralelas, beats que uivam soprando-nos para sermos conduzidos a outras galerias do nosso cérebro.
Enquanto "Henoch" surge como uma forte e curta tempestade sintética e nos arremessa em "Wishing" um piano, melancolicamente crepuscular, joga nosso ouvidos no espaço intermediário entre a consciência e o tênuo descompasso existencial, o vocal disperso estende seus braços para alcançar nossa inalcansabilidade e tudo se acalma em entorpecimentos mútuos, o piano parafraseia nossos lamentos cheio de universos paralelos e vocais e pianos e pratos que explodem contra a parede da melodia nos levando a "Binbo Furi", batidas constantes se entrelaçam os sintetizadores fugitivos e um piano ao longe vai sendo coberto pelos nevoeiros cheios de uivos de "Season Of Change", estamos alucinados, sons de águas metálicas e ecos repletos de cristais e um vocal entregue a seu espaço interior, abocanha partículas de pianos e metais, criando pequenas colunas que sustentam o texturizado corredor dos nossos sentidos cheios de cavidades de sonhos espaciais mas definhanhos prematuramente, nascedo a alienígena "Silver Stars", notas de pianos abrem as portas e fortes gritos roucamente inoxidados ensurdecem os quatro cantos para então "Blue Stars", surgir das cinzas gravitacionais da melodia. Trêmulos espaços são preenchidos por uma ambiente grave, passionalmente vulcânico, onde o vocal de Tamara destila-se adentrando todos os pedaços de trompetes e sintetizadores e com uma falsa calma vai se esculpindo em desequilibrada fuga desesperadoramente sentida na vocalização final, ela vai desaparecendo aos poucos para surgi num horizonte vertiginoso "Eminiar VII". Ecos mistura-se a scratchs e todos abraçados por alucinantes ruídos andróginos para então "The Drifter" arrasta-nos para alem dos espaços físicos, somos levados para fronteiras entropofagicamente ciborgs, onde uivos são ouvidos a quilômetros como cápsulas acústicas onde gritamos desenfreiadamente sem poder ser-mos ouvidos, a insuportabilidade do silencio nos agredindo em telas que capturam nossos gritos e o arremessa no abismo do esquecimento irreparável.
Então em "Rose-Coloured Glasses" já estamos rendidos, o vocal de Tamara para nos fazer lembrar de nos mesmos, a bareria inicial que puxa a melodia serve como um despetar da sonífera vertigem absoluta, a textura beat racha as câmaras densamente etéras da melodia, soluços de trompetes se transformam em braços nos conduzindo a completa transcendência e pianos deságuam nos deixando sozinhos por alguns segundos. em "Dead Star" ouvimos a madrugada e ecos acoplados em órgãos Hi-Tec e espaçonaves descem pelos campos dos nossos sussurros e ouvimos faíscas imaginarias brotando de todos os lugares, mas a bateria surge grave e algo começa a tremer, esparsos ruídos estilhaçados nevam sobre nossas cabeças e esperamos para sermos embebedados pelo caótico universo de nós, o vocal ainda surge sublime, como se pouco se importasse agora, definha para cima, conversa consigo mesmo, num monologo feito de universos paralelos completos, novamente tudo se espalha, batidas entubadas chocam-se em pura esquizofrenia cosmicamente eletrônica, pianos despencam, o vocal desaparece surgindo abismais ventos despersonalizados e depois dessa tempestade, um piano faz renascer no ambiente a calma noturna das estrelas, baterias voltam a circular pela melodia, já se ouve pequenos esparsos do vocal timidamente que vai crescendo enquanto os segundos são transformados em matemáticos gemidos que logo mais uma vez são sobrepostos por um tempestuoso som inominável que brota do silencio e toma conta de todos os espaços, trompetes se espalham por meio de pianos e a tempestade soterra todas as saídas, somos transportados para desertos e oceanos, galáxias e vulcões, florestas derradeiras e planetas desabitados e lentamente improváveis dedilhados de violões se infiltram trazendo o vocal de volta, para o derradeiro recomeço, deixando com seus mais de 20 minutos, entorpecidos até a alma e desacordados de tudo que somos e onde estamos...Para terminar num expiral de conversas paralelas e raios de luz saindo de nossas cabeças desarticuladas rumo ao infinito espaço interminável.
"Season of Change" retorna em meio ao violão, a melodia minimalista agora tem um vocal masculino e soturnamente belo e é uma faixa curta e quando ainda nem acordamos "Untitled" encerra o album entre diálogos ao fundo de crianças brincando, estranhos ruídos metálicos e arranhões de portas embutidas sendo abertas e estamos de volta, cuspidos e asfixiados, mas, quem somos e onde estivemos? E pra onde vamos depois de visitar as galáxias mais distantes dentro de nós mesmos?

Por: João Leno Lima

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13:49

Hunter - Portishead



Depois de dez anos e três discos no currículo, o grupo inglês de “trip hop” (gênero da musica eletrônica) Portishead, voltou ao estúdio comandada pela voz espacial de Beth Ginbons, para nos entorpecer mais uma vez com um belo álbum. Quando surgiu em 1994 com o seu debut, o já clássico (dummy) um dos gêneros mais marcantes da década passada ainda estava caminhando com o revolucionário Blue Lines (1991) do Massive Attack, o vocal esfumaçado e noir de Ginbons com a densa camada de minimalismo eletrônico, resto de blues space, fragmentos de jazz e doces delírios melancólicos, fez do grupo inglês referencia no criativo gênero, sendo considerado a “mãe’ do fictício movimento. Beth fez incursões solos e nesse hiato se viu espalhado por todos os cantos o sintético sussurro do portis em vários grupos que se seguiram e então em 2008, dez anos após o seu último álbum, um genial show em Nova Yorke, que mistura orquestrações com arranjos eletrônicos, o grupo nos apresenta Third. muitas ramificações ocorreram com o estilo nesse intervalo e o Portishead sentiu isso e redefiniu sua sonoridade, mais orgânico não menos melancólico mais experimental profundamente belo, Third é pura reinvenção e genialidade.

Ninguém disse Que nós nunca encontrariamos um ao outro
ma nova evidência, é o que nos exigimos Nesse mundo
Eu fico de pé na orla de um céu partido
E eu estou desprezando, não sei porque
E se eu devesse cair, você me seguraria?
Você cederia à mim?
Você sabe que eu não perguntaria nada
a esperaria algum momento
Tão confuso Meus pensamentos estão assumindo o controle
Horizontes indesejados em vez de me encararem
Não irão embora
Eu fico de pé na orla
de um céu partido
E eu estou desprezando,
não sei porque
E se eu devesse cair,
você me seguraria?
Você cederia à mim?
Você sabe que eu não perguntaria nada
a vocêApenas esperaria algum momento

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ALGUM IMPOSSIVEL QUE TRANSPASSA

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12:52


ha uma alma mas não ha ninguém.
estou tomado pela absoluta certeza de não saber nada,
não quero toda a infinitude do mundo
só quero toda a infinitude
que caiba no meu coração,
minha boca invisível
abocanha a boca invisível das manhãs
e trocamos salivas de abismos,
quero todas as galáxias
e se não puder quero tudo inesgotável
e se não puder quero desejar sonhar...
fui abandonado pelo tempo-espaço implacável,
me sinto órfão das auroras
acolhido pelas madrugadas crepusculares,
sinto o frágil colo dos precipícios íntimos
e me encolho nos braços
de uma momentânea ausência de solidão irreparável.
e essa tempestade interna que não passa?
e essas noites longas onde caminho pisando em fôlegos?,
e essas inevitabilidades cotidianas?
e essas asas que desaparecem no ar dos meus sentidos...
a ausência interna
é um vácuo onde procuro uma porta,
me sinto as horas
um animal incontrolável
que foge levando meu grito,
lá fora, passeio pelo sussurro das tardes
mas eu ainda me sinto uma criança
com medo chorar no possível,
qualquer lagrima é uma gota de oceano
que tem o mesmo peso da minha alma a noite.
meus rastros tocam as pálpebras
das cordas bambas das pequenas felicidades
e quando parece que nada
absolutamente nada
é capaz de me mover
para fora dos meus pensamentos mais dilaceradores
começo a sentir o impossível através de uma poesia
reencontro-me por segundos
levanto de mim e ando...
eu, o impossível sendo possível em mim mesmo.


De: João Leno Lima

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08:35

Elliott Smith , o Bob Dylan da minha geração, partiu em 2003, deixando marcas profundas de poesia angustiantes na sua voz frágil, em seus discos entorpecidos de melancolia, beleza inexprimivel e noites calmas de lágrimas sinceras, o Sr. Steven Paul Smith, deixa saudades mas será eterno em cada um que conhece sua obra inesquecivell.


Anjos, me respondam, Vocês estarão por perto se a chuva cair? Devo acreditar que Vocês surgirão para serenar a tempestade? Por um tesouro tão formidável assim, palavras nunca serão suficientes. Certamente, se assim for, As promessas são minhas para lhes oferecer. Minhas para oferecer... Aqui, totalmente cedo demais o dia! Desejo que a lua se ponha e mude o amanhã. Eu devia saber que O céu tem seu caminho Cada um com determinadas lembranças próprias. Anjos, tudo podia acontecer Vocês moveriam ambos, a terra e o mar? Anjos, eu podia sentir Todas aquelas nuvens escuras desaparecendo... Igualmente, enquanto eu respiro Vem um anjo para sua guarda. Certamente, se assim for As promessas são minhas para lhes oferecer. Minhas para oferecer...

By Elliot Smith


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Uma Grande Ressaca

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13:25



Viver neste planeta não é tão agradável quanto poderia ser. É óbvio que alguma coisa não deu certo na espaçonave Terra, mas o quê? Talvez um equívoco fundamental quando a natureza (ou quem quer que tenha sido) resolveu pôr em prática a idéia "Ser Humano". Ora. Por que deveria esse animal andar sobre duas pernas e começar a pensar? Mas, enfim, quanto a isso não há muita escolha - temos que aprender a lidar com esse erro da natureza, isto é, nós mesmos. Erros existem para aprendermos com eles.
Em tempos pré-históricos o negócio não parecia tão mau. Durante o Paleolítico, cinqüenta mil anos atrás, éramos muito poucos. Havia comida abundante (caça e vegetais), e sobreviver exigia só um tempinho de trabalho com esforços modestos. Catar raízes, castanhas ou amoras (não esquecer cogumelos) e matar (ou melhor, pegar na arapuca) coelhos, cangurus, peixes, pássaros ou gamos levava duas a três horas por dia. Repartíamos a carne e os vegetais com os outros e passávamos o resto do tempo dormindo, sonhando, tomando banho de mar e de cachoeira, fazendo amor ou contando histórias. Alguns de nós começaram a pintar as paredes das cavernas, a esculpir ossos e troncos, a inventar novas armadilhas e canções.
Perambulávamos pelos campos em bandos de vinte e cinco, mais ou menos, com um mínimo de bagagem e pertences. Preferíamos climas suaves, como o da África, e não havia civilização para expulsar a gente em direção aos desertos, tundras e montanhas. 0 Paleolítico deve ter sido mesmo um bom negócio, a se acreditar nos recentes achados antropológicos. É por isso que ficamos nele por milhares de anos - um período longo e feliz, comparado com os dois séculos do atual pesadelo industrial.
Aí alguém começou a brincar com plantas e sementes e inventou a agricultura. Parecia uma boa idéia: não tínhamos mais que andar procurando vegetais. Mas a vida ficou mais complicada e trabalhosa. Éramos obrigados a ficar no mesmo lugar por vários meses, a guardar sementes para o plantio seguinte, a planejar e executar o trabalho nos campos . E ainda precisávamos defender as roças dos nossos primos nômades, caçadores e coletores que insistiam em que tudo pertencia a todo mundo.
Começaram os conflitos entre fazendeiros, caçadores e pastores. Foi preciso explicar aos outros que havíamos trabalhado para acumular nossas provisões, e eles nem tinham uma palavra para trabalho.
0 planejamento, a reserva de comida, a defesa, as cercas, a necessidade de organização e autodisciplina abriram caminho para organismos sociais especializados como igrejas, comandos, exércitos. Criamos religiões com rituais de fertilidade para nos manter convictos da nossa nova escolha de vida. A tentação de voltar à liberdade de caçadores e coletores deve ter sido uma ameaça constante; e, fosse com patriarcado ou matriarcado, estávamos a caminho da instituição, família e propriedade.
Com o crescimento das antigas civilizações na Mesopotâmia, índia, China e Egito, o equilíbrio entre os humanos e os recursos naturais estava definitivamente arruinado. Programou-se aí o futuro enguiço da espaçonave. Organismos, centralizadores desenvolveram sua própria dinâmica; tornamo-nos vítimas da nossa criação. Em vez de duas horas por dia, trabalhávamos dez ou mais nos campos ou nas construções dos faraós e césares. Morríamos nas guerras deles, éramos deportados como escravos quando eles resolviam, e quem tentasse voltar à liberdade anterior era torturado, mutilado, morto.
Com o início da industrialização as coisas não melhoraram. Para esmagar as rebeliões na lavoura e a crescente independência dos artesãos nas cidades, introduziu-se o sistema de fábricas. Em vez de capatazes e chicotes, usavam máquinas. Elas comandavam nosso ritmo de ação, punindo automaticamente com acidentes, mantendo-nos sob controle em vastos galpões. Mais uma vez progresso significava trabalho e mais trabalho, em condições ainda mais assassinas. A sociedade inteira, em todo o planeta, estava voltada para uma enorme Máquina do Trabalho. E essa Máquina do Trabalho era ao mesmo tempo uma Máquina da Guerra para qualquer um - de dentro ou de fora - que ousasse se opor. A guerra se tornou industrial, como o trabalho; aliás, paz e trabalho nunca foram compatíveis. Não se pode aceitar a destruição pelo trabalho e evitar que a mesma máquina mate os outros; não se pode recusar a própria liberdade sem ameaçar a liberdade alheia. A Guerra se tornou tão absoluta quanto o Trabalho.
A nova Máquina do Trabalho criou grandes Ilusões sobre um futuro melhor. Afinal, se o presente era tão miserável, o futuro só podia ser melhor. Até mesmo as organizações de trabalhadores se convenceram de que a industrialização estabeleceria bases para uma sociedade mais livre, com mais tempo disponível, mais prazeres. Utopistas, socialistas e comunistas acreditaram na indústria. Marx pensou que com essa ajuda os humanos poderiam caçar, fazer poesia, gozar a vida novamente. (Pra que tanta volta?) Lenin e Stalin, Castro e Mao e todos os outros pediram Mais Sacrifício para construir a nova sociedade. Mas mesmo o socialismo não passava de um novo truque da Máquina do Trabalho, estendendo seu poder às áreas onde o capital privado não chegaria. Á Máquina do Trabalho não importa ser manejada por multinacionais ou por burocracias de Estado, seu objetivo é sempre o mesmo: roubar nosso tempo para produzir aço.
A Máquina do Trabalho e da Guerra arruinou definitivamente nossa espaçonave e seu futuro natural: os móveis (selvas, bosques, lagos, mares) estão em farrapos; nossos amiguinhos (baleias, tartarugas, tigres, águias) foram exterminados ou ameaçados; o ar (fumaça, chuva ácida, resíduos industriais) é fedorento e perdeu todo o sentido de equilíbrio; as reservas (combustíveis fósseis, carvão, metais) vão se esgotando; e está em preparo (holocausto nuclear) a completa autodestruição. Não somos capazes nem de alimentar todos os passageiros desta nave avariada. Ficamos tão nervosos e irritáveis que estamos prontos para os piores tipos de guerra: nacionalistas, raciais ou religiosas. Para muitos de nós, o holocausto nuclear não é mais uma ameaça, mas a bem-vinda libertação do medo, do tédio, da opressão e da escravidão.
Três mil anos de civilização e duzentos de acelerado progresso industrial deixaram a gente com uma enorme ressaca. A tal da economia se tornou um objetivo em si mesma, e está quase nos engolindo. Este hotel aterroriza seus hóspedes. Mesmo a gente sendo hóspede e hoteleiro ao mesmo tempo.
Fragmento do livro "Bolo'bolo" do autor p.m.

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MESMICE

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13:13


O dinheiro do século XXI é um caos -- enquanto a ideologia do século XX era meramente uma entropia⁴. . Tanto o pensamento burguês quanto o anti-burguês propuseram um único mundo – unificado, em sua consciência, pela ciência -- mas somente o dinheiro, por si só, efetivará realmente este mundo.

O dinheiro não é migratório, pois o nômade se move de lugar em lugar, enquanto o dinheiro se move de tempo em tempo, obliterando o espaço. O dinheiro não é um rizoma e sim um caos, uma inter-dimensionalidade, inorgânico mas reprodutivo [infinita bifurcação regressiva] - a sexualidade dos mortos

O "Capital", então, deve ser considerado um "atrator estranho". Talvez a própria matemática desse dinheiro ("fora de controle") já possa ser rastreada através de redes esotéricas tais como a SWIFT⁵, a internet privada para bancos e casas de investimento, na qual um trilhão de dólares ao dia se diverte no ciberespaço (dos quais menos de 5% se referem mesmo que oblíquamente à produção de algo).

O mundo uno pode lidar com o "caos", mas ele reduz toda verdadeira complexidade a mesmice & segregação. Mesmo a consciência "adentra a representação"; a experiência vivida que exige presença precisa ser negada na medida em que ameaça constituir outro mundo para além do confinamento. Em um paraíso de imagens perdura apenas o pós-vida da tela, o portal estelar gnóstico, a cápsula da transubstanciação. Infinitamente o mesmo dentro de uma infinidade de confinamentos; infinitamente conectado e ainda assim infinitamente só. Imensurável identidade do desejo, imensurável distância da realização.



By Hakim Bey

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JIHAD

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13:03

• Quando dois se preparam para jantar ou duelar juntos, um terceiro aparece - tertium guid, parasita, testemunha, profeta, escapista. M.Serres, Hermes.

Cinco anos atrás ainda era possível ocupar uma terceira posição no mundo, uma que não fosse a recusa ou a astúcia, um reino fora da dialética - ou mesmo um espaço de retirada -, o desaparecimento como vontade de poder.

Há cinco anos ainda era possível ocupar uma terceira posição no mundo, uma que não fosse a de recusa nem a de astúcia, um reino fora da dialética - até mesmo um espaço de retirada -; o desaparecimento como vontade de poder.

Mas agora há somente um único mundo - o triunfante "fim da história", fim da insuportável dor da imaginação - na verdade uma apoteose de Darwinismo Social cibernético. O dinheiro coroa a si mesmo como lei da Natureza e demanda absoluta liberdade. Completamente espiritualizado, livre de seu corpo desgastado (mera produção), circulando rumo à infinitude & instantaneidade em uma numisfera² gnóstica muito acima da Terra, somente o dinheiro, por si só, definirá a consciência. O século 20 terminou há cinco anos atrás; este é o milênio. Onde não há um segundo, onde não há oposição, não pode haver um terceiro, não pode haver o “nenhum dos dois”. Então a escolha permanece: -- ou aceitamos a nós mesmos como os "últimos humanos", ou então aceitamos nós mesmos como a oposição (escolha entre automonotonia e autonomia.) Todas as posições de retirada precisam ser reconsideradas de um ponto de vista baseado em novas demandas estratégicas. Em um certo sentido, estamos encurralados. Como os ideólogos dos velhos tempos diriam, nossa situação é "objetivamente pré-revolucionária" de novo. Para além da zona autônoma temporária³, para além da insurreição, existe a revolução necessária - a "jihad".


By Hakim Bey

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Vespertine

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11:42
Na arte, a tematização do amor é universal e atemporal, é delicado e exercício fadado ao fracasso, sintetizar um dos principais sentimentos do ser humano e quando se consegue poetizar e transformar em arte o tema deve certamente ser aplaudido. A Islandesa Bjork, nascida em um pais gélido onde há poucos horas de luz do sol e de onde já surgiram grandes bandas nos trazendo sons glaciais e sublimes como os Sigur Rós, é dona de uma das vozes mais excêntricas e espaciais da musica moderna e discos repletos de experimentações eletrônicas e lúdicas que caracterizam a década passada. Com Debut (1993) ela faria sua estréia solo depois de comandar uma banda de Pop - art. na década de 80, seu primeiro disco no século XXI é sua grande obra de arte e um disco que marca novas camadas na sua musica (arte). Vespertine (2001) que já figura entre os grandes discos dessa década e para muitos o melhor trabalho de Bjork. Foi Produzido ainda em torno de sua gravidez e depois de bem sucedidas investida no cinema, trilha sonora de filmes e um grande e um ultimo disco de estúdio, o Homogenic (1997),o álbum Emerge com subsutilezas eletrônicas aonde a voz de Bjork vai se espalhando pelos espaços vazios, logo outras vozes entram se misturando a uma pequena orquestra enquanto somos convidados a ir para um lugar escondido em Hidden Place, Bjork expõe seus desejos que vão se derretendo pelo embiente inorgânico onde sua voz busca o consolo no lugar mais denso e profundo de si mesmo. Cocon chega em pequenos fragmentos esparsos de ruídos percusivamente eletrônicos e Bjork Sussurrando dentro de um casulo intimo onde aqui já dentro do lugar escondido, desliza na espontaneidade de seus sentimentos e desliza pelos espaços flutuantes em doces camadas de felicidade, abrigando-se na certeza atemporalmente tenua da consolação do amor. A etérea It's Not Up To You, traz o móbile dialogando com uma Bjork que beira a melancolia e com um vocal impecável gesticula-se para encontrar a perfeição, sua infinitude pode rachar-se e tudo pode ruir mas longe do desespero Bjork propõe que nós nos debrucemos sobre o que mais nos atormenta e encontremos mesmo na extremidade caótica dos sentimentos um sentido de beleza e luz interior. Vocais engelicais penetram no espaço gravitacional dos nossos sentidos de onde surgem baterias eletrônicas que tremem de leves profundidades e Bjork e uma dos seus melhores registros vocais destila sua narrativa sensitiva pelos nossos ouvidos entregues, por que o amor às vezes é uma luta contra nós mesmos? Por que nos desgastamos demais apenas para satisfazer o orgulhoso jogo da indiferença e da solidão? Undo, implodi em grandiosas reverbaçoes vocais e Bjork nos entrega Pagan Poetry, pianos espaciais e baixos vindos dos subterrâneos dos desejos nos soterra em rendição mutua, Bjork pedala pelos oceanos dos nossos sonhos mais sinceros, enrosca-se pelo humano desejo de seguir e encontrar-se, desvendando nossos "códigos secretos" e nos gira para elém de nós mesmos mais ainda dentro de nós como ela mesma diz "lírios pretos girando totalmente maduros" suas vozes (as varias vozes de Bjork e de nós agora) se entranha nas profundezas e fere nossas barreiras e muros abstratos nos deixando nus e sem auto defesas, talvez assim, derradeiramente possamos nos entregar a poesia cantada por ela que é o amor. Frosti é um belo instrumental cheios de sinos e que vão surgindo e sumindo dentro da madrugada e então ouvimos passos lentos por caminhos tenuos que é a Aurora surgindo para nos levar "rumo ao sublime" Bjork Atira-se para longe de qualquer prisão ou qualquer tragédia intima e almeja nos levar para o infinito, sua voz é engolida para ecos cheios do destino e pelas faíscas de esperança que reluz em cada um de nós. An Echo A Stain surge num tempestuoso eco distante vozes quase sintéticas que gira dentro em si mesma, etéreas camadas preenchem o ambiente na mais eletrônica do álbum e também a mais sombria, aqui Bjork quase irreconhecível diz estar caindo livremente por completo e um sintético monologo surge em Sun In My Mouth, Bjork depois de um momento dispersa e entorpecida por sua própria infinitude almeja pegar o sol pela boca e "soltar-se viva no ar de olhos fechados" a esperança estala-se e agora assim como os poetas, Bjork espalha-se pela musica entre cordas e harpas desvanecidas, corpos e almas musicas e poesias mistérios do corpo e da alma sendo desbravados e engolidos em seu completo e Absoluto sonho sobre-humanos nessa obra de arte inspirada na poesia de E. E CUMMINGS. Uma bateria eletrônica misturada a sintetizadores e ventos futuristas permeia Heirloom, "eu tenho um sonho constante" a transcendência fragmenta Bjork pelos espaços e pelos corações humanos, sua voz alcança um alto grau profético e arrebatador em meio a luzes sendo engolidas e o calor dos sonhos sendo alcançados e sentidos, sua musica com uma forte personalidade eletrônica passeia pela orgânica melodia apaixonante e Harm of Will vem surgindo lenta e delicada, Bjork fala que os desejos às vezes ferem, mas ferem de uma forma que marcam para sempre nossa existência, e moldam como somos e quem somos a partir dali, muitos dessas feridas vem através do amor, mas não podemos nos desequilibrar por completo, seguimos, nos tornamos trovadores dos sentimentos essenciais que todos devem sentir. Em capela Bjork atravessa-nos, metaforizando sobre mãos que se amam e nos convida, não mais para ir para um lugar escondido como no inicio do disco, mas agora para nós unirmos na eternidade de alguma noite perfeita; Unison vai deslizando sem amarras no inorganicamente mundo sonoro de bjork que contrasta com as vulcânicas camadas existências de seus versos e Vespertine assim como as obras de arte vai nos consumindo e consumando e alvorecemos pelos vastos campos nos unindo a nós mesmo a ela a poesia a musica a arte as almas ao amor a tudo que nos completa alimentando nosso ser único com a perfeição do sentir a absoluta existência.




Por: João Leno Lima

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