Sentindo a Pulsação

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De João Leno Lima

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Entrevista exclusiva com Julian Assange: envie suas perguntas

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O fundador do WikiLeaks responderá com exclusividade às questões enviadas pelos leitores de CartaCapital. Acesse o blog de Natalia Viana e participe! Foto: AFP

 

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Notas sobre o [EUA] império: A guerra à WikiLeaks

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18:35

por John Pilger

 

 

 

 

Os ataques à WikiLeaks e ao seu fundador, Julian Assange, constituem uma resposta à revolução na informação que ameaça as velhas ordem de poder, na política e no jornalismo. A incitação ao assassínio trombeteada por figuras públicas nos Estados Unidos, juntamente com tentativa da administração Obama de corromper o direito e remeter Assange para um buraco prisão infernal durante o resto da sua vida são as reacções de um sistema opressor revelado como nunca o fora antes.


Nas últimas semanas, o Departamento da Justiça dos EUA estabeleceu um grande júri secreto do outro lado do rio de Washington, no distrito Leste do estado de Virgínia. O objectivo é acusar Julian Assange sob uma desacreditada lei de espionagem utilizada para prender activistas da paz durante a Primeira Guerra Mundial, ou uma lei da "guerra ao terror" que degradou a justiça estado-unidense. Peritos judiciais descrevem o júri como uma "preparação deliberada", destacando que este canto da Virgínia é onde residem empregados e famílias do Pentágono, CIA, Departamento de Segurança Interna e outros pilares do poder americano.


"Isto não é boa notícia", contou-me Assange quando falámos na semana passada, sua voz era sombria e preocupada. Ele diz que pode ter "dias maus – mas recupero". Quando nos encontrámos em Londres no ano passado, eu disse, "Você está a fazer alguns inimigos muito sérios, nada menos que o governo mais poderoso empenhado em duas guerras. Como é que trata essa sensação de perigo?" A sua resposta foi caracteristicamente analítica. "Não é que não haja medo. Mas a coragem é realmente o domínio intelectual sobre o medo – por um entendimento do que são os riscos e de como navegar através deles".


Sem pensar nas ameaças à sua liberdade e segurança, ele diz que os EUA não são o principal "inimigo tecnológico" do WikiLeaks. "A China é o pior ofensor. A China tem tecnologia agressiva e refinada de intercepção que posiciona entre cada leitor dentro da China e toda informação de fonte exterior à China. Temos estado a combater numa batalha para assegurar que possamos obter informação dali e há agora toda espécie de meios pelos quais os leitores chineses podem acessar o nosso sítio".


Foi neste espírito de "obter informação" que o WikiLeaks foi fundado em 2006, com uma dimensão moral. "O objectivo é justiça", escreveu Assange na homepage, "o método é a transparência". Ao contrário de uma lenga-lenga corrente nos media, o material da WikiLeaks não é "rejeitado". Menos de um por cento dos 251 mil telegramas de embaixadas dos EUA foram divulgados. Como destaca Assange, a tarefa de interpretar e editar material que possa prejudicar indivíduos inocentes exige "padrões [condizentes] com altos níveis de informação e fontes primárias". Para o poder dissimulado, este jornalismo é o mais perigoso.
Em 18 de Março de 2008, foi prevista uma guerra à WikiLeaks num documento secreto do Pentágono preparado pelo "Cyber Counterintelligence Assessments Branch".

A inteligência dos EUA, dizia, pretendia destruir o sentimento de "confiança" o qual é o "centro de gravidade" do WikiLeaks. Ela planeou fazê-lo com ameaças de "revelação [e] processo criminal". Silenciar e criminalizar esta fonte rara de jornalismo independente era o objectivo, enlamear o método. O inferno não contem uma fúria tão grande quanto a de um mafiosi imperial desdenhado.
Outros, também desdenhados, acabaram por desempenhar um papel de apoiantes, intencionalmente ou não, na caçada a Assange, alguns por razões de pequenos ciúmes. Sordidez e decadência descrevem o seu comportamento, o qual serve apenas para destacar a injustiça contra um homem que corajosamente tem revelado o que temos o direito de conhecer.


Quando o Departamento da Justiça dos EUA, na sua caça a Assange, intima o Twitter e contas de email, registos bancários e de cartões de crédito de pessoa por todo o mundo – como se todos nós fôssemos súbditos dos Estados Estados – grande parte dos media "livre" em ambos os lados do Atlântico dirigem a sua indignação contra o perseguido.


"Então, Julian, porque não volta à Suécia agora?" perguntava o título que encimava a coluna de Catherine Bennett, no Observer de 19 de Dezembro, a qual questionava a resposta de Assange a alegações de má conduta sexual com duas mulheres em Estocolmo em Agosto último. "Continuar a adiar o momento da verdade, para este campeão das revelações sem medo e da abertura total", escreveu Bennett, "pode começar a parecer quase desonesto, assim como inconsistente". Nem uma palavra na peçonha de Bennett considerava as ameaças que se aproximam contra os direitos humanos básicos de Assange e à sua segurança física, como foram descritas por Geoffrey Robertson QC na audiência de extradição em Londres a 11 de Janeiro.


Em resposta a Bennett, o editor on line da Nordic News Network, da Suécia, Al Burke, escreveu ao Observer explicando que "respostas plausíveis à questão tendenciosa de Catherine Bennett" eram criticamente importantes e [as respostas] estavam livremente disponíveis. Assange permaneceu na Suécia durante mais de cinco semanas depois de ter sido feita a acusação de violação – ignorada a seguir pela promotora chefe em Estocolmo – e de terem falhado repetidas tentativas dele e do seu advogado sueco para encontrar a segunda promotora que reabriu o caso após a intervenção de um político do governo. E ainda assim, como destacou Burke, esta promotora concedeu-lhe permissão para voar a Londres onde "também se ofereceu para ser entrevistado – uma prática normal em tais casos". Assim, parece pelo menos muito estranho que a promotora haja então emitido um Mandado de Prisão Europeu (European Arrest Warrant). O Observer não publicou a carta de Burke.


Este registo claro é crucial porque descreve o comportamento pérfido das autoridades suecas – uma sequência bizarra que me foi confirmada por outros jornalistas em Estocolmo e pelo advogado sueco de Assange, Bjorn Hurtig. Não é só isso. Burke destacou o perigo que Assange enfrenta caso seja extraditado para a Suécia. "Documentos divulgados pelo Wikileaks desde que Assange foi para a Inglaterra", escreveu ele, "indicam claramente que a Suécia submeteu-se sistematicamente à pressão dos Estados Unidos em matérias relativas a direitos civis. Há amplos motivos para a preocupação de que se se verificar Assange ser posto sob a custódia das autoridades suecas possa ser entregue aos Estados Unidos sem a devida consideração dos seus direitos legais.


Estes documentos foram virtualmente ignorados na Grã-Bretanha. Eles mostram que a classe política sueca afastou-se muito da visível neutralidade de uma geração atrás e que o aparelho militar e de inteligência do país está quase absorvido dentro da matriz de Washington em torno da NATO. Num telegrama de 2007, a embaixada dos EUA em Estocolmo louva o governo sueco dominado pelo conservador Partido Moderado do primeiro-ministro Fredrik Reinfeldt como vindo "de uma nova geração política e não preso às tradições [anti-EUA] [e] na prática um parceiro pragmático e forte com a NATO, tendo tropas sob comando NATO no Kosovo e no Afeganistão.


O telegrama revela como a política externa é amplamente controlada por Carl Bildt, o actual ministro dos Estrangeiros, cuja carreira foi baseada na lealdade aos Estados Unidos. Ela remonta à guerra do Vietname, quando ele atacava a televisão pública sueca por difundir a evidência de que os EUA estavam a bombardear alvos civis. Bildt desempenhou um papel importante no Comité para a Libertação do Iraque, um grupo de lobby com laços estreitos com a Casa Branca de George W. Bush, a CIA e a extrema-direita do Partido Republicano.


"A significância de tudo isto para o caso Assange", observa Burke num estudo recente, "é que será Carl Bildt e talvez outros membros do governo Reinfeldt quem decidirá – abertamente ou, mais provavelmente, de modo furtivo por trás de uma fachada de legalidade formal – sobre aprovar ou não o esperado pedido dos EUA para a extradição. Tudo no seu passado indica claramente que um tal pedido será atendido".


Exemplo: em Dezembro de 2001, com a "guerra ao terror" em andamento, o governo sueco abruptamente revogou o estatuto de refugiado político de dois egípcios, Ahmed Agiza e Mohammed al-Zari. Eles foram entregues a um esquadrão de sequestros da CIA no aeroporto de Estocolmo e "rendered" para o Egipto, onde foram torturados. Quando o ombudsman sueco para a Justiça investigou e descobriu que os seus direitos humanos haviam sido "gravemente violados", já era demasiado tarde.


As implicações para o caso Assange são claras. Ambos os homens foram removidos sem o devido processo legal e antes que os seus advogados pudessem apelar ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos e em resposta a uma ameaça dos EUA de impor um embargo comercial à Suécia. No ano passado, Assange requereu residência na Suécia, esperando basear ali a Wikileaks. Acredita-se geralmente que Washington tenha advertido a Suécia através de contactos mútuos de inteligência das consequências potenciais. Em Dezembro, a promotora Marianne Ny, a qual reactivou o caso Assange, discutiu no seu sítio web a possibilidade da extradição de Assange para os EUA.


Quase seis meses após as alegações sexuais terem sido tornadas públicas, Julian Assange foi acusado sem crime, mas o seu direito à presunção de inocência foi negado deliberadamente. O desdobrar dos acontecimentos na Suécia tem sido no mínimo grotesco. O advogado australiano James Catlin, que actuou a favor de Assange em Outubro, descreve o sistema de justiça sueca como "uma gargalhada... Não há precedente para isto. Os suecos estão a inventar à medida que avançam". Além de notar contradições no caso, ele afirma que Assange não criticou publicamente as mulheres que fizeram as alegações contra ele. Foi a polícia que deu informação ao equivalente sueco do Sun, o Expressen, com material difamatório, iniciando um julgamento pelos media por todo o mundo.


Na Grã-Bretanha, este julgamento foi saudado ainda mais por acusadores ávidos, com a BBC à dianteira. Não houve presunção de inocência no tribunal Newsnight de Kirsty Wark, em Dezembro. "Porque não pediu desculpas às mulheres?", perguntou ela a Assange, seguido por: "Você nos dá a sua palavra de honra de que não se evadirá?" No programa Today da Radio 4, John Humphrys, o parceiro de Catherine Bennett, disse a Assange que ele era obrigado a voltar à Suécia "porque a lei diz que deve".

O vociferante Humphrys, contudo, tem interesses mais prementes. "Será você um predador sexual?", perguntou. Assange respondeu que a sugestão era ridícula, pelo que Humphrys perguntou com quantas mulheres ele havia dormido.
"Será que mesmo a Fox New desceu a esse nível", espantou-se o historiador americano William Blum. "Oxalá Assange tivesse sido educado nas ruas de Brookly, como eu fui. Ele então teria sabido como responder precisamente a tal pergunta: "Você quer dizer incluindo a sua mãe?"


O que é mais impressionante acerca destas "entrevistas" não é tanto a sua arrogância e falta de humildade intelectual e moral; é a sua indiferença para com questões fundamentais de justiça e liberdade e a sua imposição de termos de referência estreitos e lascivos. Fixar estas fronteiras permite ao entrevistador diminuir a credibilidade jornalística de Assange e do WikiLeaks, cujos feitos notáveis se erguem em contraste vivo com os seus próprios. É como observar os velhos e rançosos guardiões do status quo a lutarem para impedir a emergência do novo.


Neste julgamento dos media há obviamente uma dimensão trágica para Assange, mas também para o melhor do jornalismo de referência. Ao publicar uma grande quantidade de edições profissionalmente brilhantes com as revelações do WikiLeaks, festejadas por todo o mundo, a 17 de Dezembro o Guardian recuperou a sua cidadania no establishment ao virar-se contra a sua fonte em apuros. Um artigo de Nick Davies, correspondente sénior do jornal, afirmava que lhe havia sido dado o ficheiro "completo" da polícia sueca com "novos" e "reveladores" excertos lascivos.
O advogado sueco de Assange, Bjorn Hurtig, diz que faltam provas cruciais no ficheiro dado a Davies, incluindo "o facto de que as mulheres foram reentrevistadas e lhes foi dada oportunidade de alteraram a suas estórias", assim como o tweets e mensagens SMS entre elas, as quais são "críticas para trazer justiça a este caso". Também é omitida evidência escusatória vital, tal como a declaração da promotora original, Eva Finne, de que "Julian Assange não é suspeito de violação".


Depois de examinar o artigo de Davies, James Catlin, o antigo advogado de Assange, escreveu-me: "A ausência completa do processo devido é a estória e Davies ignora-a. Por que o processo devido importa? Porque os poderes maciços dos dois braços do governo estão a ser mobilizados para serem usados contra o indivíduo cuja liberdade e reputação está em causa". Eu acrescentaria: e também a sua vida.


O Guardian aproveitou-se enormemente das revelações do WikiLeaks, sob muitos aspectos. Por outro lado, o WikiLeaks, que sobrevive principalmente com pequenas doações e já não pode mais receber fundos através de numerosos bancos e companhias de crédito devido à intimidação de Washington, nada recebeu do jornal. Em Fevereiro, a Random House publicará um livro do Guardian que certamente será um best-seller lucrativo, que a Amazon está a anunciar como O fim do segredo: a ascensão e queda do WikiLeaks (The End of Secrecy: the Rise and Fall of WikiLeaks). Quando perguntei a David Leigh, o executivo do Guardian responsável pelo livro, o que significava "queda", ele respondeu que a Amazon estava errada e que o título fora A ascensão (e queda?) do WikiLeaks. "Note o parênteses e a interrogação", escreveu ele. "Não destinado a publicação, de qualquer forma". (O livro agora é intitulado no sítio web do Guardian como WikiLeaks: Inside Julian Assange's War on Secrecy). Ainda assim, considerando tudo isso, a sensação é de que jornalistas "reais" estão outra vez a dominar. Falta de sorte para o rapaz, que nunca realmente fez parte [desse jornalismo].


Em 11 de Janeiro, a primeira audiência para a extradição de Assange foi efectuada no Belmarsh Magistrates Court, um endereço infame porque aqui, antes do advento das ordens de controle, eram despachadas pessoas para a própria Guantanamo britânica, a prisão de Belmarsh. A mudança do habitual tribunal de magistrados de Westminster foi devida a uma falta de instalações para a imprensa, segundo as autoridades. Sem dúvida não foi coincidência que eles tenham anunciado isto no dia em que o vice-presidente dos EUA Joe Biden declarou Assange um "terrorista high tech".


Da sua parte, Julian Assange está preocupado acerca do que acontecerá a Bradley Manning, o alegado informante, que preso em condições tão horrorosas que a US National Commission on Prisons classifica como "tortuosas". O soldado Manning é o mais eminente prisioneiro de consciência do mundo, tendo permanecido fiel ao Princípio de Nuremberg de que todo soldado tem o direito a "uma opção moral". O seu sofrimento ridiculariza a noção da "terra da liberdade".


"Informantes [acerca] do governo", dizia Barack Obama em 2008, na campanha para a presidência, "são parte de uma democracia saudável e devem ser protegidos de represálias". Obama tem desde então perseguido e processado mais informantes do que qualquer outro presidente na história americana.


"Quebrar Bradley Manning é o primeiro passo", disse-me Assange. "O objectivo é claramente rompe-lo e forçá-lo à confissão de que de alguma forma conspirou comigo para prejudicar a segurança nacional dos Estados Unidos. De facto, nunca ouvi o seu nome antes de ter sido publicado na imprensa. A tecnologia WikiLeaks foi concebida desde o princípio para assegurar que nunca saibamos as identidades ou nomes das pessoas que submetem material. Somos tão indetectáveis como incensuráveis. Este é o único meio de assegurar que as fontes são protegidas".


Ele acrescenta: "Penso que o que está a emergir nos media de referência é a consciência de que se posso ser acusado outros jornalistas também o podem. Mesmo o New York Times está preocupado. Isto não costumava ser assim. Se um informante fosse processado, editores e repórteres eram protegidos pela Primeira Emenda que os jornalistas consideravam como garantida. Isso está a ser perdido. A divulgação dos registos da guerra do Iraque e do Afeganistão, com as suas provas da matança de civis, não provocou isto – é a revelação e o embaraço da classe política: a verdade do que governos dizem em segredo, de como mentem em público; de como são principiadas guerras. Eles não querem que o público saiba destas coisas e têm de encontrar bodes expiatórios".


O que há acerca da "queda" do WikiLeaks? "Não há queda", disse ele. "Nunca publicámos tanto como agora. A WikiLeaks agora é reproduzida (mirrored) em mais de 2000 sítios web. Não posso manter o registo de todos os sítios que o imitam: aqueles que estão a fazer os seus próprios WikiLeaks... Se algo acontecer a mim ou ao WikiLeaks, ficheiros de "segurança" serão divulgados. Eles falam mais da mesma verdade ao poder, incluindo os media. Há 504 telegramas de embaixadas numa organização de difusão e há telegramas sobre Murdoch e Newscorp".


A propaganda mais recente acerca do "dano" provocado pelo WikiLeaks é uma advertência do Departamento de Estado dos EUA de "possíveis ameaças à segurança de centenas de activistas de direitos humanos, responsáveis de governos estrangeiros e homens de negócio identificados em telegramas diplomáticos". Foi assim que o New York Times submissamente o anunciou a 8 de Janeiro, mas é falso. Numa carta ao Congresso, o secretário da Defesa Robert Gates admitiu que nenhumas fontes sensíveis de inteligência haviam sido comprometidas. Em 28 de Novembro, McClatchy Newspapers informou que "responsáveis dos EUA reconheceram que não tinham evidência até à data de que a divulgação [anterior] de documentos levasse à morte de alguém". A NATO em Cabul disse à CNN que não podia descobrir uma única pessoa que precisasse de proteger.


O grande dramaturgo americano Arthur Miller escreveu: "A ideia de que o estado... está a punir tantas pessoas inocentes é intolerável. E por isso a evidência tem de ser negada internamente". O que o WikiLeaks nos tem dado é a verdade, incluindo raras e preciosas visões de como e porque tantas pessoas inocentes sofreram em domínios de terror disfarçados como guerras e executadas em nosso nome; e de como os Estados Unidos secretamente e desenfreadamente intervieram em governos democráticos desde a América Latina ao seu mais leal aliado, a Grã-Bretanha.
Javier Moreno, o editor de El Pais, que publicou os registos WikiLeaks na Espanha, escreveu: "Acredito que o interesse global activado pelos documentos WikiLeaks é devido principalmente ao simples facto de que revelam conclusivamente a extensão em que políticos do ocidente têm estado a mentir aos seus cidadãos".
Esmagar figuras individuais como Julian Assange e Bradley Manning não é difícil para uma grande potência, ainda que de forma covarde. O que está em causa é que não deveríamos permitir que isto aconteça, o que significa que aqueles de nós que pretendem esclarecer a situação não deveriam colaborar por qualquer meio. Transparência e informação, para parafrasear Thomas Jefferson, são a "moeda" da liberdade democrática. "Toda organização noticiosa", disse-me um importante constitucionalista americano, "deveria reconhecer que Julian Assange é um deles e que processá-lo terá um enorme e gélido efeito sobre o jornalismo".
O meu documento secreto favorito – divulgado pelo WikiLeaks, naturalmente – é do Ministério da Defesa em Londres. Ele descreve jornalistas que servem o público sem temor ou favor como "subversivos" e "ameaças". Isto é uma medalha de honra.

13/Janeiro/2011


O original encontra-se em www.johnpilger.com/...

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

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As chuvas e o proletariado

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– a responsabilidade de Lula, Cabral e Paes na tragédia do Rio de Janeiro



por Adolpho Ferreira
No início da noite de segunda-feira, 5 de abril, várias cidades do Estado do Rio de Janeiro sofreram com as intensas chuvas. Rio de Janeiro, Niterói, São Gonçalo e outras cidades pararam por conta dos estragos produzidos por tanta água. Os mortos confirmados já são quase duzentos, até o momento. Outras centenas ou milhares – este número é ainda mais impreciso – estão desabrigados.
Neste momento, é necessário apontar os responsáveis por tamanha tragédia.
A imensa maioria dos que mais sofreram com o temporal é a parte dos mais pobres trabalhadores que moram nas favelas, mais especificamente nos locais que apresentam riscos de desabamento. O que sabemos é: moram nestes locais porque são a parte mais proletarizada da população, porque compõem o setor da classe trabalhadora mais afetado pelo desemprego e pela super-exploração do trabalho, porque seus salários não permitem mais que estabelecer a moradia em local tão arriscado! Jamais porque são “loucos, irresponsáveis e suicidas”, como afirma o governador do Estado do RJ, Sergio Cabral/PMDB, de forma absolutamente desumana e descompromissada com as condições de vida da classe trabalhadora.

O prefeito Eduardo Paes/PMDB preferiu culpar a natureza e sua tremenda força, eximindo-se de toda a responsabilidade – assim como é responsabilidade de Cabral e Lula – com a realização de políticas públicas que atendam aos interesses de moradia mais imediatos desses trabalhadores, como contenção de encostas, urbanização de favelas, sistema de drenagem etc.
Fica nítido o descaso dos governantes ao revelar a contenção de investimentos públicos, que acarreta a precarização de áreas como a Defesa Civil. As autoridades solicitam à população para não telefonar para a Defesa Civil em caso de situação que não tenha "tanta emergência".

O presidente Lula/PT seguiu a linha já traçada por seus grandes aliados no Rio de Janeiro. Concordando com Cabral, disse que se analisarmos “todas as enchentes brasileiras, elas atingem sempre as pessoas pobres, que moram em locais inadequados". Confirma, portanto, a tese de culpabilização das vítimas. Diz que “o mais importante nessa história é que precisamos conscientizar a população para que deixe as áreas de risco”, ou seja, que abandonem suas casas e tudo aquilo que conseguiram conquistar com seu duro trabalho, sem qualquer garantia de que estará tudo lá quando retornarem.

Lula diz ainda que as chuvas não preocupam seus interesses nos eventos de 2014 e 2016, pois “não chove todo dia, quando acontece uma desgraça, acontece; normalmente, os meses de junho e julho são mais tranqüilos”. Portanto, contanto que em junho e julho de 2014 e 2016, a cidade esteja preparada para receber a Copa e a Olimpíada, não importa o sofrimento da população nos outros dias. Até mesmo o falso argumento do “legado dos grandes eventos esportivos” utilizado pelos governantes e pelo grande capital para justificar a importância desses eventos na vida do proletariado – que não usufruirá de seu verniz – cai por terra de vez. Tudo estará funcionando em junho e julho de 2014/2016, com todos os milhares de milhões que serão transferidos pelo Estado (governos federal, estadual e municipal) à burguesia nacional e internacional, nessa relação íntima entre governos e capital que inclui, por exemplo, o financiamento das campanhas eleitorais de PT e PSDB, os partidos brasileiros que mantêm a força da ordem burguesa no país atualmente.

Lula, Cabral e Paes são os verdadeiros culpados pela amplitude dos desastres, assim como os governos anteriores que serviram aos interesses burgueses e corruptos. Nada fizeram para melhorar estruturalmente as condições de vida e moradia do proletariado que vive em áreas que ameaçam sua própria sobrevivência e ainda culpam os mortos pela tragédia ocorrida.
É muito importante perceber os projetos sociais que estão em luta: de um lado, o projeto dos capitalistas e dos governos burgueses, que desejam expulsar os favelados de seu local de moradia, motivados por diversos interesses, como a expansão imobiliária nessas regiões (a que se relaciona a imagem da favela criminalizada e de fato alvo da violência policial, do tráfico e de milícias); de outro lado, o projeto do proletariado, que de imediato exige a melhoria de suas condições de vida e moradia, mas tem como objetivo final aquilo que possibilitará o fim das condições sociais que generalizam todas estas tragédias: o fim das condições sociais que causam sua miséria.

Fundamentalmente, são estas condições sociais (que fazem com que o proletariado recorra à moradia nos locais de risco) que precisam ser combatidas. Este é o horizonte necessário que não pode sair de vista de todos aqueles que sentem profundamente as perdas humanas e sociais e lamentam diante das terríveis reações dos governantes burgueses.
O objetivo final de nossa luta, para além da necessária melhoria imediata das condições de vida dos trabalhadores que habitam as regiões mais precárias, precisa ser o fim da sociedade de classes!
O original (Abril/2010) encontra-se em http://coletivomarxista.blogspot.com/2010/04/as-chuvas-o-proletariado-e.html ; a transcrição (Janeiro/2011) em pcb.org.br/...



Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

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