Esculpindo o limiar inexplorado

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10:53

 

Num profundo ato sobrehumano despenco da razão
e abraço a realidade múltipla.

Com dois pés de aço e gesso deixando pequenos escritos
que logo se apagarão nas fantasiosas relações da manhã,
me apego ao redemoinho na rua Claudio Barbosa
e elevo meu olhos ao gigante de braços abertos da inércia,
planejo ser espiritual até os ossos nas próximas horas,
quero desvendar os mecanismos do mundo,
nao aceito a insatisfação material
mas aceito pequenos goles de bondade.

Nas margens casais brigam nas bordas do tempo,
minha chefa faz cálculos que só terminarão em um milhão de anos,
os mesmo olhos que observam o poema
observam o fluxo cotidiano,
a leitura é a mesma,
só muda o posicionamento das palavras,
e em certo momento nem as palavras...

Ah poetas e loucos,
Escrever mais um poema é possuir a alma do tempo em plenitude.
O dialogo com o mundo é uma catástofre de inclusões,
uma bomba que precisa ser desarmada nas horas que não voltarão,
um nó que asfixiou as outras vidas possíveis do amanhã,
um ato profundo precisa ser vivido nas próximas páginas do poema que escreves a cada dia...

Um ato dentre intermináveis atos possíveis...

 

 

 

 

cYbernic
28-12-11

Ao som do disco “The Bends” (Radiohead – 1995)

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Belo Monte em 2011: a instalação do caos

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10:03

ESCRITO POR RODOLFO SALM

 

A propaganda enganosa a favor de Belo Monte foi abundante em 2011. Tanto na forma de artigos em jornais supostamente sérios como a Folha de São Paulo (ver Impactos indiretos de Belo Monte serão muito maiores que os diretos) quanto de sites governamentais com aplicativos como o do Robô Ed, que nos tratam como bobos, com uma série de mentiras e distorções relativas a esta obra desastrosa (Belo Monte: Entrevista com o Robô Ed). Entretanto, neste fim de ano, pudemos comemorar que, finalmente, o debate sobre os problemas da construção da hidrelétrica de Belo Monte ganhou a visibilidade que merece, principalmente graças ao vídeo “É a Gota D'Agua + 10”, com a participação de vários atores e atrizes da Rede Globo (Belo Monte: a batalha dos vídeos).

É curioso que a entrada dos artistas no debate sobre Belo Monte tenha despertado reações tão iradas: “O Correio me surpreende com a publicação desse artigo em defesa dos atores da Globo. Trata-se de uma oposição politicamente ingênua e perigosa, e a direita tem tudo a ganhar com isso. Apenas indivíduos politicamente cegos e aqueles bem pagos pela oposição estrangeira e nacional não enxergam isso. Cuidado com posições pseudo-esquerdistas como a do autor deste artigo”. Escreveu um leitor do Correio, na sessão de comentários de “A batalha dos vídeos”, que ainda classificou minha posição como “eco-fascista”.

No começo deste ano, Arnold Schwarzenegger e James Cameron estiveram em Altamira, sobrevoaram o Rio Xingu e conversaram com índios preocupados com a construção de Belo Monte (Artistas contra Belo Monte). Então, a reação foi xenofóbica, na linha do “eles deveriam cuidar dos problemas do seu próprio país”. Pois agora que os artistas nacionais ganham destaque no debate, são desqualificados como “eco-chatos” ou manipulados. Cientistas já se posicionaram e posicionam-se contrários à obra e, para estes, a tática é simplesmente ignorá-los. Opositores em geral são taxados de contrários ao desenvolvimento do país.

De toda forma, esta visibilidade conseguida com o trabalho dos artistas já é algo a se comemorar, pois não foi fácil conquistá-la. Há exatamente um ano, na edição retrospectiva do Correio da Cidadania de 2010 (Belo Monte e as eleições presidenciais), eu lamentava que a discussão sobre a construção da hidrelétrica de Belo Monte não tivesse se desenvolvido como eu esperava ao longo daquele ano, a ponto de afetar as eleições presidenciais. A então candidata Dilma escondeu o seu grande e polêmico projeto, o candidato José Serra não fez questão de atacá-lo de frente, as discussões programáticas dos dois candidatos se perderam em uma série de pequenos debates, que hoje, em retrospectiva, eram evidentemente menores que a grande questão do futuro da Amazônia. Com a vitória do PT, financiado pelas empreiteiras interessadas na construção da barragem, a única previsão certa para o Xingu em 2011 era que este seria um ano difícil por aqui, “um dos mais duros dos últimos tempos”. Ah, sim, aquele mesmo leitor do Correio, citado mais acima também escreveu: “Àqueles que se opõem à construção da Usina de Belo Monte, sugiro que se mudem pra lá e vivam a tal existência sustentável que defendem para os outros enquanto usufruem de todos os confortos da vida moderna nas cidades eletrificadas”. Pois é, eu moro em Altamira.

Infelizmente, a previsão de um ano difícil para os moradores dessa região não poderia ter sido mais acertada. Com a concessão da licença de instalação da barragem, no primeiro semestre deste ano, e o início da construção do canteiro de obras, o caos instalou-se em Altamira. Caos na saúde, onde os serviços já eram precários e agora estão inviáveis, pois ainda não foi construído um único novo leito hospitalar sequer, e as ocorrências médicas estão se multiplicando com o repentino aumento da população. As filas dos bancos se tornaram quilométricas, pois, apesar de todo o movimento, ainda temos apenas uma agência do Banco do Brasil, uma agência dos Correios etc. Os preços dos aluguéis dispararam (300% de aumento). O preço do tomate na feira disparou. A inflação acumulada do ano na cidade certamente foi muito além daquela de 5% do país. Ninguém se deu ao trabalho de calcular quanto foi, mas certamente foi típica de um país em crise hiper-inflacionária. O número de pedintes na rua aumentou, por causa das pessoas que vieram para a cidade atrás de um emprego na construção da barragem e não conseguiram nada.

Caos no trânsito, outrora tranqüilo, e agora engarrafado por centenas de ônibus e caminhões da obra. No começo do ano mal se viam ônibus na cidade. Agora se formam filas intermináveis de ônibus e vans nas ruas, como só se vê em grandes centros como o Rio de Janeiro. Mas nos letreiros dos ônibus, ao invés dos bairros de destino (Botafogo, Copacabana, Leblon), aqui se lê “Sítio Belo Monte”, “Sítio Pimental”, “Canais” – as diferentes frentes de trabalho, ou, devo dizer, de ataque ao rio, das obras de Belo Monte. E, ironicamente, continuamos sem ônibus para circular pela cidade. Em todas as ruas de Altamira, de madrugada, antes que os transeuntes regulares saiam de casa, vê-se um imenso exército de pessoas com um uniforme robótico luminescente e o símbolo do CCBM (Consórcio Construtor Belo Monte). Esses mesmos que foram recentemente surpreendidos com a notícia de que não poderiam passar as festas em casa, pois não haverá recesso de Natal e Ano Novo. E que, quando fazem greve, são demitidos e escoltados pela polícia até a rodoviária, de onde são despachados para seus respectivos estados.

Foram muitos os desmatamentos em 2011. O Governo Federal comemora que tenha “estabilizado” os desmatamentos na Amazônia em níveis semelhantes àqueles observados na década de 1980. Porém, esquece-se que aqueles já eram níveis astronômicos, pois na época estavam sendo abertas imensas áreas de fazendas no norte do Mato Grosso, Sul do Pará, em Rondônia. Enfim, estava se formando o chamado “arco-do-desmatamento” da Amazônia.  Hoje, estes desmatamentos migraram em grande medida para áreas centrais e remotas da floresta, atacando-a em seu coração, através de obras como esta da hidrelétrica de Belo Monte. Em Altamira, os desmatamentos são visíveis em toda parte, em todas as escalas, dos remanescentes florestais ainda preservados na beira do rio (As primeiras vítimas de Belo Monte), às ruas da cidade, pois os jardins das casas são os primeiros devastados nas reformas feitas para receber os engenheiros da barragem.

Uma das coisas que mais me preocuparam em Altamira este ano foi a severidade e a extensão de sua estação seca, que começou em junho e se estende praticamente sem chuvas até agora nas proximidades do Natal (quando o Brasil quase todo já sente os efeitos das tempestades). Aqui foram sete meses de seca este ano. O que, ecologicamente, é uma novidade nessa região, pois temos uma floresta perenifólia, em que a grande maioria das árvores não perde as folhas durante a estação seca. Estas florestas são típicas de áreas com no máximo três a quatro meses de estiagem, exatamente como acontecia por aqui na década de 1970 quando da abertura da Transamazônica. Um colono antigo, assustado com a seca atual, me contou que, há cerca de 30 anos, quem não tivesse queimado a sua roça até novembro, não queimava mais porque as chuvas não permitiam. Agora, já no finzinho do ano, ainda está tudo seco, estalando, pronto para queimar. É bom para os fazendeiros que querem fazer avançar os desmatamentos, e para os barrageiros que também podem avançar com suas máquinas além do cronograma previsto neste projeto de morte. Mas como reagirá o que sobrar da floresta, mesmo nas áreas mais protegidas, a esta nova situação climática? É possível que tudo se degrade rapidamente virando sertão, pasto degradado e deserto. Com a construção da barragem e a proliferação dos desmatamentos na região, as mudanças climáticas locais tendem a crescer.

Apesar da visibilidade recente que conquistamos, segundo um artigo na Folha de São Paulo, assinado pelo jornalista (e “barrageiro”) Agnaldo Brito, “a discussão sobre o empreendimento neste momento pode influenciar pouco o arranjo do projeto negociado com o Ibama e o governo”. Pois “a usina, leiloada em abril de 2010, terá de começar a gerar energia em fevereiro de 2015”. Bobagem. Desde sempre, mesmo no período das audiências públicas forjadas, aquele jornal tratou a obra como inevitável. Assim como sempre fizeram todos os barrageiros, disfarçados ou assumidos. Esta usina não estará pronta em 2015, esse cronograma é um blefe, e sempre poderemos lutar pela paralisação das obras ou mesmo a destruição da barragem, se um dia ela ficar pronta. Várias barragens norte-americanas estão sendo desmontadas, como a represa Milltown. Ícone do progresso industrial americano que se tornou símbolo da destruição no Rio Clark Fork, o maior em volume de água do estado de Montana, que drena boa parte das montanhas Rochosas. Com a remoção da barragem, esperam-se a descontaminação do ambiente, a recuperação dos peixes e ganhos com o turismo.

Se há um ano eu lamentava que a discussão sobre a hidrelétrica de Belo Monte não tinha o destaque que merecia, hoje faço o mesmo com relação aos escândalos de corrupção da obra. O ano de 2011 foi marcado politicamente pela queda de vários ministros envolvidos em “malfeitos”. Mas quase não se falou da corrupção associada ao setor elétrico, onde se armam os maiores golpes da atualidade (Belo Monte e as cobras). Para 2012, espero que eles apareçam cada vez mais, e que a oposição perceba o potencial de se atacar esse governo através dos escândalos de Belo Monte, que não são poucos. Até agora foi feita apenas a instalação do canteiro de obras, e consequentemente do caos em Altamira. O ataque ao rio propriamente dito mal começou. Ainda é possível parar esta obra.

Rodolfo Salm, PhD em Ciências Ambientais pela Universidade de East Anglia, é professor da UFPA (Universidade Federal do Pará) em Altamira, e faz parte do Painel de Especialistas para a Avaliação Independente dos Estudos de Impacto Ambiental de Belo Monte.

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A pessoa humana é um limiar: algo do cinema de Andrei Tarkovsky

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09:29

ESCRITO POR CASSIANO TERRA RODRIGUES 

    
Um aspecto muito impressionante a quem vê os filmes de Andrei Tarkovsky é sua lentidão. Seu estilo de planos longos assemelha-se muito a uma contemplação, e não por acaso seu livro de reflexões sobre cinema chama-se Esculpir o Tempo.

Explica-se isso pelas influências teóricas talvez mais decisivas sobre ele: o personalismo cristão, mesclado com sua formação de cristão ortodoxo russo.
A principal idéia do personalismo – como todas as outras tendências filosóficas, variegado, mas com um núcleo central – é a da preeminência da pessoa sobre as necessidades materiais e as instituições coletivas que sustentam seu desenvolvimento. Assim é para Emmanuel Mounier, o principal filósofo francês do personalismo.

A ênfase na pessoa humana vinha a contrariar sua dominação, seu apagamento mesmo pelos totalitarismos em voga na Europa do entre guerras: afirmar o valor da pessoa é contrariar a reificação, a burocratização, a objetificação e redução da vida humana à mera matéria sem vida e desespiritualizada – é contrariar o processo que Max Weber chamou de desencantamento do mundo, valorizando principalmente a integralidade da pessoa humana que, dentro de si, é uma universalidade própria e não apenas uma parte de um todo maior (seja ele a sociedade ou a natureza).


Tarkovsky mescla essa tese central com o cristianismo ortodoxo russo influenciado por Nikolai Berdiaev: a independência da pessoa relativamente às restrições materiais é como a semelhança com Deus na Ortodoxia, nenhuma circunstância empírica pode restringir o divino de nascer da própria materialidade das coisas terrenas. E, para Berdiaev, a pessoa individual é uma ruptura com o todo: o maior mistério de todos não é uma categoria social, histórica ou natural, mas uma categoria ética. É o aspecto ético de todas as pessoas individuais, é uma tarefa, uma “missão”, pois indica uma dimensão incontornável da vida humana que a eleva acima do imediato e do material. Para Berdiaev, ser uma pessoa, tornar-se uma pessoa, é entrar em contato com o transcendente.

Esse processo não pode ser levado a bom termo exclusivamente por um indivíduo para sua própria egolatria. Nem revolucionário, nem individualista burguês, Berdiaev proclama a necessidade individual de cada um tornar-se pessoa para os outros – trata-se de erradicar o mal de dentro para poder irradiar o bem para fora. A transcendência exige o sair de si, nenhuma pessoa é pronta, toda pessoa precisa ser feita. Assim é que entendemos como em Stalker o que parece uma obsessão psicótica particular é, na verdade, uma busca metafísica pelo outro, pela transcendência, pela criação de toda uma comunidade, um mundo, outra dimensão da vida.


Isso leva naturalmente a indagações de ordem místico-religiosa. A mescla da Ortodoxia com a filosofia personalista pode ser explicada a partir dessa junção, do transcendente com o empírico, resultando, assim, em alguma forma de panteísmo ou imanentismo: Deus está em todas as coisas.


É para representar essa visão panteísta do mundo que Tarkovsky filma como filma. Na religião ortodoxa, a contemplação da beleza da natureza aproxima as pessoas de ter uma compreensão do divino. De fato, há uma preeminência do visual na cultura russa, conforme indica o lugar central do ícone religioso como forma de expressão dessa relação entre humano e divino – este nasce visualmente das coisas terrenas. Um ícone russo não é mera imagem, mas também uma porta, uma “janela” para o mundo divino por meio da beleza. Nas igrejas Ortodoxas, essa possibilidade de transcendência é representada por uma parede de ícones, a iconóstase. Geralmente situada entre a Nave e o Altar, o qual revela ou esconde, a iconóstase separa, na igreja, o espaço sagrado e o não-sagrado, ou profano, a parede de ícones tem claro significado simbólico de limiar entre dois mundos, entre o aqui e agora da vida terrena e a possibilidade de transcender esse imediato. Esse limiar mantém o santuário invisível ao crente e é como uma grande tela, proporcionando um contato visual indireto, mediado pela imaginação do observador, com a dimensão do divino. A contemplação, pelo indivíduo, da beleza divina é, assim, incitada pelos ícones.


Eis, então, a importância do tempo para quem vê: para conseguir enxergar a beleza do sagrado, é preciso tempo para ver através dos ícones. A beleza deles é mero auxílio para transportar a visão a outra dimensão, para transcender ao mundo do divino. Tarkovsky tenta recuperar essa sugestão com seu ritmo lento, seus longos planos e demoradas sequências por sobre objetos, coisas naturais, horizontes amplos, belas paisagens – como na sequência de Solaris (União Soviética, 1972), com a câmera posta em um automóvel que percorre uma cidade do futuro (essa sequência foi filmada em Akasaka, Tokyo, e pode ser vista aqui:http://www.youtube.com/watch?v=rswYl7RLRNE).

Cada detalhe visual e sonoro pode revelar a presença de vida, como se fossem índices de uma deidade que, de outra maneira, permaneceria oculta em meio à banalidade, à dureza dos fatos brutos próprios do entorno físico e social. A sensação da duração alongada ou a amplidão das paisagens como a negar o enquadramento da tela, negar a especialização e a aceleração do nosso mundo, transcender a limitação do espaço-tempo, superar as determinações do aqui-e-agora. Até mesmo sua filmografia parece contradizer o ritmo de produção industrial: nove filmes principais (sem contar documentários e produções para TV) em mais de 20 anos de carreira.


Assim como para Berdiaev, para Tarkovsky também as pessoas estão nesse limiar entre dois mundos. Uma concepção que retoma a cisão fundamental no ser humano afirmada pelas teorias da natureza humana do século XVII: cindido entre dois mundos, o sensível e o inteligível, o natural e o moral, o âmbito da determinação mecânica absoluta e o da liberdade possível, o ser humano é, ao mesmo tempo, indivíduo e membro de um todo que o transcende, um duplo empírico-transcendental, para falar com Michel Foucault. De fato, o maior filósofo do século XVIII, Immanuel Kant, punha o problema ético fundamental para o ser humano nesses termos: como realizar a moralidade no mundo empírico? Como ser livre em um mundo determinado por causas mecânicas? Como escapar à prisão a nós imposta pelos objetos à nossa volta? Sua resposta confiava na capacidade humana de autodeterminação racional: o ser humano é capaz de representar para si um curso de ação que, embora irrealizado no imediato, é realizável, é possível, porque pensável, concebível, independentemente das circunstâncias limitadoras do presente imediato.


Se Tarkovsky aceita esse dualismo, ele não deixa de problematizá-lo. É claro que há uma nostalgia do absoluto na filosofia personalista. Desde pelo menos Agostinho, a tradição cristã afirma a necessidade de o ser humano reunir-se com o fundamento de tudo (desde o Gênesis, após a expulsão do Éden...). Mas Berdiaev assinala um tom de desilusão: a reunião com o absoluto divino só é possível pela morte, na aniquilação da vida pessoal. A nostalgia da reunião com Deus provoca, assim, uma sensação de esvaimento e náusea assombrosa (as aproximações que faço com o existencialismo não são inocentes), de dor e de sensação de impotência diante da inevitável passagem à outra dimensão, misteriosa, assombrosa e cultuada. Uma relação ambígua com o divino, que também aparece nos filmes de Tarkovsky.


Em seus filmes, Tarkovsky lida com esse dualismo como se fosse um conflito entre nossa moderna civilização materialista e a espiritualidade da pessoa humana que justamente nega o materialismo e o imediatismo. O problema está na possibilidade de transcender a condição individual e espiritualizar a comunidade, já que, nesta, as relações intersubjetivas devem predominar, embora de fato predomine o individualismo. Este é um conflito fundamental em seus filmes. Em Nostalgia (produção ítalo-franco-soviética, 1983), um escritor russo, Andrei Gorchakov (OlegYankovsky), em viagem à Itália, luta para encontrar-se entre dois mundos, dos quais sente saudade com a mesma intensidade. Sua busca ganha um sentido quando encontra Domenico (Erland Josephson), um lunático que encontrou sua própria pessoa no isolamento e na solidão. Um ato de sacrifício que condensa o sentido da vida pela sua negação: viver isolado é como não viver, é morrer. E em seu último filme, O Sacrifício (produção sueco-franco-britânica, 1986), parece mesmo que ele busca compreender o sentido da morte e do sacrifício pessoal.


O cinema de Tarkovsky representa, de maneira poderosa e muito pessoal, uma luta que todo ser humano, na nossa sociedade de consumo (não é o consumo uma forma de estreitamento à imediatidade e ao efêmero?), da informação, das redes, tecnocrática, globalizada, pós-moderna, contemporânea – enfim, tenha o nome que tiver –, pode sentir e ver como sua: uma luta contra a redução da existência humana à materialidade e à exterioridade absolutas, uma luta contra a negação de sua pessoalidade espiritual e transcendente. Uma luta pela possibilidade de ser mais que mero existir.

 

 

Texto original em >>> Correiocidadania

 

 

 

FELIZ 2012 A TODOS

E CADA UM POSSA

ENCONTRAR A RAZÃO

ALÉM DAS RAZÕES

IMPOSTAS E SIM

AS RAZÕES DA ALMA

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INTERMÉDIO

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11:42

 

Sem intermédios, o mundo caminha em múltipla desistência,
cansado, irremediável como crianças brincando no tempo-espaço.

Vermes televisivos e cifrões da inconsciência.

Se no passado estávamos em descaminho,
agora encontramos o precipício espiritual da carne:
shoppings Center e cartões oniscientes,
músicas feitas de blocos de gelo,
assoalhos que escondem metáforas...
Na cidade periférica, as avenidas levam ao sono,
num descampado com milhões de olhares famintos,
sou metade gente metade pássaro metade porções de açaí sintético
com fragmentos irreconhecíveis e líquidos,
mas na metrópole de gesso onde moro,
poetas trocam palavras por um gole de vinho qualquer.

 

 

 

 

 

 

cYBERNIC
27-12-11

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Pará tem a capital e a cidade com a maior proporção de moradores em favelas

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14:05

Em Marituba, 77,2% das pessoas vivem em favelas; Belém tem mais da metade da população vivendo em aglomerações

Localizada a pouco mais de 11 quilômetros da capital Belém, a pequena Marituba tem a maior proporção de moradores em favelas de todo o País. De 108 mil habitantes, 77,2%, ou em torno de 83,3 mil, moram em invasões. Coincidentemente, Marituba é considerada “cidade dormitório” da capital mais “favelada” do País, Belém onde pouco mais da metade de seus habitantes residem em invasões, segundo o estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado nesta quarta-feira.

Bairro do Coroado: Conheça a maior favela do Norte e Nordeste

A população residente em invasões em Marituba significa, por exemplo, 20% a mais que os habitantes da Rocinha, a maior favela do país. Marituba é uma das mais jovens do Pará. Nasceu em 1994, emancipado do vizinho Ananindeua, ambos na região metropolitana de Belém.

Leia mais sobre favelas no Brasil:

Apesar de ser um dos menores municípios do Pará, com 111,09 km² de área, tem a terceira maior taxa de densidade demográfica do Estado com 443,24 habitantes por km².

Pelo crescimento da capital do Estado, Marituba tornou-se uma espécie de “cidade dormitório”. Sem indústrias, a economia de Marituba depende basicamente do setor de serviços e seus moradores tem seus empregos em Belém. Uma situação parecida com a de Olinda, em Pernambuco. Município que também depende economicamente da capital, Recife.

Marituba, com o tempo, tornou-se uma opção barata de moradia principalmente para a classe média baixa. Exemplo: um aluguel de um apartamento de classe média no Centro de Belém, com dois quartos, saí por volta de R$ 700. Em Marituba, um imóvel semelhante saí por metade deste valor.

Maior favela do Brasil: Rocinha vive ônus e bônus de cidade grande

A cidade com a segunda maior proporção de moradores em favelas é Vitória do Jari, no Amapá, distante 180 quilômetros da capital, Macapá. Lá, 73,7% da população mora em invasões. No entanto, Vitória do Jari tem apenas 12,2 mil moradores. Destes, 9 mil em favelas. A quarta cidade mais favelada é a mãe de Marituba, Ananindeua. Em Ananindeua, 61,2% da população mora em favelas: um universo de 288 mil pessoas.

Belém

Belém é a quarta cidade e a capital mais com maior proporção de pessoas morando em favelas do país: 54,5% dos moradores da capital paraense, ou 758 mil habitantes, residem em invasões. A capital com a segunda maior proporção é Salvador com 3,1% de sua população. Um detalhe curioso sobre Belém, Marituba e Ananindeua: a concentração de favelas é tão grande nestas cidades que é absolutamente comum encontrar condomínios de luxo rodeados por invasões.

Foto: Divulgação

Concentração de favelas em Belém

Belém e cidades da região metropolitana como Ananindeua e Marituba, segundo gerente de recursos naturais do IBGE no Pará, Pedro Edson Bezerra, tem características de formação de favelas muito parecidas. Ele acredita que com o avanço urbano de Belém, formou-se no centro da capital paraense um cinturão de serviços públicos que afastou as pessoas para as baixadas e áreas fora desse cinturão de serviços.

Pela configuração geográfica de Belém, é como se a cidade crescesse rumo à região leste, onde estão situadas Ananindeua, Marituba, entre outras. “Com o tempo, a população procurou regiões que fogem da chamada terra firme e assim se formaram esses aglomerados subnormais (favelas) em Belém”, explicou Bezerra. “Fatores com alto preço do metro quadrado de terreno em Belém, acredito que um dos mais caros do país e o alto déficit habitacional também influenciam na formação destes aglomerados em Belém”, pontuou Bezerra.

As dez cidades com a maior proporção de moradores em favelas:
Marituba (PA) 83.368 - 77,2%
Vitória do Jari (AP) 9.044 - 73,7%
Ananindeua (PA) 288.611 - 61,2%
Belém (PA) 758.524 - 54,5%
Cabo de Santo Agostinho (PE) 87.990 - 47,7%
São José do Ribamar (MA) 72.987 - 44,8%
Laranjal do Jari (AP) 16.210 - 40,7%
Cubatão (SP) 49.134 - 41,5%
Iranduba (AM) 14.840 - 36,4%
Angra dos Reis (RJ) 60.009 - 35,5%

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