DENTRO

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19:07


Como num limbo...
Paredes gélidas de escarros da solidão e restos de noites puídas...
Passagens secretam da inconsciência onde percorremos as costas de algo abismal...

Como num vomito da própria poesia....
Num palácio de misturas convulsivas de rostos...
retorcidos sentidos num ralo - segundo.

Declamações de poemas que nunca foram escritos...
união de espaços ausentes...
Metade de saudades chocando com partículas de horizontes...
gotas oceânicas de versibilidade...inundando o próprio poema...

Como num sopro...
Retratos de ventos sobre as ruas...
Átomo-redemoinho que alvoroça o invisível...
Dissolve-se cada tocar...

O poema, como vozes debatendo-se numa esquina,
trem de caminhos percorridos...
Como num choque de desmemorias,
como um cego conhecendo o interior do próprio do olhar das coisas inolhaveis...
esse novo olhar como deus vestindo uma armadura de sonhos...

Como num vulcão de angustiamentos...
O coração flui em direção ao centro do mundo...
em breve explidirá rumo ao âmago da lucidez íntima...

Como um pássaro inexprimível...





joão Leno Lima
11-08-09

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Oculto espaço em branco

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09:38




Cabe ao poeta o olhar?
Como bordas lunares dentro de pequenas intimidades entre os seres.
Que bordas? Que seres?
Cabe ao poeta as respostas?
A palavra dor é inigualavelmente limitada pelos quatro cantos do sentir,
A certeza é temporal
Mas momentaneamente parto de certos princípios para encontrar outros
Mas rendo-me aos ventos que vem como forasteiros
Trazendo futuras memórias...

O resto ou os fragmentos?
O que queres na verdade?

A união dos espaços onde cabe os sonhos forma o atemporal.
Salto para o incomunicável
Mergulho no coração do tempo
Que bate frenético rumo a nenhuma direção impossível.
Nesse percurso encontro num túnel
Que começa na rua vinte e um de abril e termina
e recomeça na Rua Julio cordeiro
E vou-me... Debate-mo,
Ouço pássaros do lado de fora
E crianças petecando seus destinos pelos arredores,
E vejo num final disperso os cabelos da tarde e os lábios do crepúsculo
E o que tenho nas mãos no final do dia?

A letra, a palavra o verso e a mim mesmo.













João Leno Lima
10-09-2009

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IMAGINE UM MUNDO SEM COPYRIGHT

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13:03



Por Joost Smiers e Marieke van Schijndel

AMSTERDAM - O copyright já foi uma maneira de garantir uma renda decente aos artistas. Além de nos perguntarmos se ele realmente funcionou nesse sentido – a maioria dos artistas nunca receberam um centavo do sistema de copyright – temos de admitir que ele serve a um propósito completamente diferente no mundo contemporâneo. O copyright agora é a ferramenta usada pelas indústrias editoriais e de cinema, imagem e música para controlar seus mercados.

Essas indústrias decidem se os materiais sobre os quais elas passaram a mão devem ou não ser usados por outros. E se elas permitirem o uso, decidem as condições e o preço. As legislações européia e americana estendem esse privilégio para nada menos que 70 anos após a o falecimento do autor original. Quais as conseqüências? A privatização de uma parcela cada vez maior das nossas expressões culturais, por que é precisamente isso que o copyright faz. Nosso direito democrático à liberdade de trocas culturais e artísticas está sendo levado embora aos poucos, mas veementemente.

É também inaceitável que nós tenhamos que consumir as criações culturais exatamente da maneira que eles nos apresentam, e que nós não possamos mudar nenhum detalhe. Nós temos portanto todo o direito de pensar em uma alternativa viável ao copyright.



Ao mesmo tempo, um desenvolvimento fascinante está acontecendo diante dos nossos olhos. Milhares de pessoas trocando músicas e filmes pela Internet se recusam a aceitar que mega empresas possam possuir, por exemplo, milhões de melodias. A digitalização está corroendo os fundamentos do sistema de copyright.

Qual seria uma alternativa de copyright? Para chegar nela, primeiramente teríamos que reconhecer que artistas são empresários. Eles tomam iniciativas como fazer manualmente um determinado trabalho e oferecê-lo ao mercado. Os produtores tomam a iniciativa de empregar artistas. Essas iniciativas têm algo em comum: correm riscos enquanto negócios.

O que o copyright faz é exatamente limitar esses riscos. O empreendedor cultural recebe o direito de erguer uma barreira de proteção em torno do seu trabalho, que é explorado por um período indefinido de tempo. Essa proteção também cobre qualquer coisa que se pareça com o trabalho de um jeito ou de outro. Isso é bizarro.

Nós precisamos nos lembrar de que todo trabalho artístico – seja uma novela, uma música ou um filme estrelando Arnold Schwarzenegger – compõe a maior parte de seu conteúdo do trabalho de outros e do domínio público. Originalidade é um conceito relativo. Em nenhuma outra cultura no mundo, a não ser na ocidental contemporânea, uma pessoa pode se intitular como proprietária de uma melodia, imagem ou palavra. É portanto um exagero permitir o que copyright tem a oferecer: proteções de longo alcance, títulos de propriedade e exclusão de risco. Devemos nos perguntar se essa proteção é realmente necessária para o processo de expansão da criação artística. Nossa proposta, que envolve três passos, irá demonstrar que não.



O que pode substituir o copyright? Em primeiro lugar, um trabalho terá que correr riscos no mercado por sua conta, sem a proteção exagerada oferecida pelos copyrights. Afinal, o primeiro a chegar no mercado tem a vantagem do tempo e da atenção.

O que é interessante nessa proposta é que ela dá um golpe fatal em alguns monopolistas culturais que auxiliados pelo copyright, usam suas estrelas, blockbusters e best-sellers para controlar o mercado e desviar a atenção do trabalho de outros artistas. Isso é problemático para a nossa sociedade, onde temos uma grande necessidade de pluralidade de expressões artísticas.

Como esse golpe fatal funcionaria? Se a proteção que o copyright oferece não existisse mais, nós poderíamos explorar livremente todas as expressões artísticas existentes e adaptá-las de acordo com nosso próprio discernimento. Isso criaria uma situação desagradável para os monopolistas culturais, pois não os incentivaria a prosseguir com seus investimentos ultrajantes em livros, filmes, camisetas e qualquer merchandising associado a um produto cultural. Por que eles continuariam investindo se não pudessem mais controlar os produtos a longo prazo?

A dominação do mercado cultural seria então tirada das mãos dos monopólios culturais, e a competição econômica e cultural entre os diversos artistas poderia mais uma vez seguir seu curso.

Isso ofereceria novas perspectivas para muitos artistas. Eles não seriam mais escondidos do olhar do público e muitos deles poderiam, pela primeira vez, viver do seu trabalho. Afinal, eles não iriam mais ter que desafiar o domínio mercadológico dos gigantes culturais. O mercado seria normalizado.

Porém, algumas expressões artísticas demandam investimentos iniciais consideráveis. Esta é a segunda situação para a qual devemos encontrar uma solução. Pense em filmes ou romances. Nós propomos que quem corre o risco – o artista, o produtor ou o patrocinador – receba por esses tipos de trabalho um usufruto de um ano, ou o direito de se beneficiar dele.

Isso permitiria ao empreendedor recuperar seus investimentos. Ainda seria uma decisão individual investir ou não na produção de um filme, por exemplo, mas ninguém teria os direitos para explorar aquele trabalho artístico por mais de um ano. Quando esse período vencesse, qualquer pessoa poderia lidar com aquele produto como desejasse.

A terceira situação para a qual precisamos achar uma solução é quando uma determinada criação artística tem poucas chances de se desenvolver em um mercado competitivo, nem mesmo com o usufruto de um ano. Em alguns casos, seria uma questão de tempo até o público aprender a apreciar aquele trabalho, mas nós ainda achamos que sob a perspectiva da Diversidade Cultural, esses trabalhos devem existir. Para situações assim, seria necessário criar um espectro generoso de subsídios e outras medidas de incentivo, por que enquanto comunidade, nós devemos ser responsáveis por oferecer uma chance justa a todos os tipos de expressões artísticas.

Os monopolistas culturais querem desesperadamente que nós acreditemos que sem o copyright, nós não teríamos criações artísticas e entretenimento. Isso não faz sentido. Nós teríamos mais, e bem diversificadas.

Um mundo sem copyright é fácil de imaginar. Um mercado em que a produção cultural fosse acessível a todos seria novamente restabelecido. Um mundo sem copyright ofereceria a garantia de boas rendas para muitos artistas, e protegeria o domínio público do conhecimento e da criatividade. E o público teria aquilo a que tem direito: um menu variado e rico de alternativas artísticas.



06/04/2006


Tradução de André Fonseca

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