SERENO

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17:20



Caio no silencio...


não grito

apenas caio no silencio...

nada de gemidos

subitamente caio no silencio

num véu incomunicável

na esfera muralhiana das incertezas.

Caio no silencio

como aquele derremoto no chile

ou o furacão vestido de jazz

sim...caio no silencio

como o amigo indefeso que precisa de braços

como essas paredes que não se lembram

meu deus...caio no silêncio

as vozes todas nas ruas exteriores

a procisao de música que desprezo

os diálogos por baixo das superfícies da chuva

na glória de mais um dia

na carta de desdida do sol para mais esse dia

soliciando considerações para a noite

a lua que não vejo a séculos de horas

no espanto de possuir a palavra

tudo se faz e refaz

e em algum lugar alguém silencia

o onipresentamente alguém grita

e a vida segue independente das constatações

o interior dos poetas é o interior das crianças

e ao abir o olhos para mais um dia

e ao fechar os olhos nas madrugadas

traduzo minha elementar presença ausente em tudo.






João Leno Lima

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Nostalgia

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11:20



"Pus minha mão num sonho


como quem se lança ao mar invisivel

deus sopra de longe

eu remo com versos

o destino?

os confins dos arco-iris

de todas as poesias"













João Leno Lima
16-04-2010

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A PAIXÃO SEGUNDOS APÓS A QUEDA

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15:36

 (Ao som da “Paixão segundo São Mateus” de Bach)

rafael-sanzio-el-triunfo-de-galatea-1511-fresco1

Quadro: El Triunfo de Galatea

 

I

Subi os altos degraus da consciência

e observei de longe as longas caldas do divino

Debruçadas sobre as árvores da inconsciência dos seres

Onde, poetas como eu e outros, se nutrem de imensidões

quase azuis e estrelas inventadas a lápis.

Ao tocar os corrimões, sinto as asas do destino

se penduraram sobre meu braços

a me ajudar a remar sobre as catedrais da minha angustia.

Eu, fraco viajante que viaja em si mesmo

Estarei perto das fronteiras

e decidirei com quem entregar o próximo verso.

Nessas horas, meus poemas, em bailes diversos

num salão onde homens e mulheres chamam de ruas

se abraçam em profunda comunhão de distâncias;

correm pelas encostas da melodia

que era ouvida e lentamente se esvai...

 

II

Continuo a subir.

Uma febre me alcança enquanto descanso num degrau de montanha,

vejo os incertos barcos rumando ao contrario

sinto um pequeno avesso sentimental

caio em prantos lagrimando cordas bambas

coloco a mão no rosto para evitar olhar

para os passaros-espelhos nas esquinas,

quem num ato de coragem poética ousa rasgar sua poesia

que por alguns segundos lhe trouxe paz?

e essas páginas?

quem ousaria reescrevê-las apenas para recriar o tempo passado?

o sentimento não está corrompido

pela sutiliza do ir e vim das coisas?

Nesse momento,

as escadarias por onde passo são degraus feitos, por crianças

Elas me esperam no alto me mim mesmo

e mesmo assim ainda me vejo abaixo do todo.

 

III

No fundo um abraço parece ser a mais elementar

da satisfação eterna.

Se elevo meus olhos para as nuvens e ouço as palavras divinas

precisava ser mar para entender a voz que me ergue,

Aperto suas elementariedade íntima a mim,

como o tenor no momento máximo da ópera.

E mesmo deslizando – minhas mãos- entre seus dedos

sinto-me vivo por como o pássaro

que mesmo sofrendo de frio ou sede, fome...

sabe que sua morada está além dos ventos

 

IV

Continuo subindo...

a certeza afeta-me a certeza da incerteza

e traduzo para deus

quem sou...

 

 

 

 

 

 

 

João Leno Lima

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