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Bradley Manning, a fonte do WikiLeaks, preso político torturado nas masmorras de Obama

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13:45

 

O jovem ex-soldado do exército dos Estados Unidos, Bradley Manning, está preso na Base dos Fuzileiros Navais em Quântico, Virgínia, desde julho de 2010, sob a acusação pelo governo ianque de “conluio com o inimigo”. O Departamento de Estado americano o acusa de “vazar” documentos secretos do Exército para o WikiLeaks e divulgar na internet vídeo no qual militares estadunidenses metralharam e assassinaram a sangue frio dezenas de civis iraquianos desarmados. As condições carcerárias às quais está submetido Manning são as piores possíveis, além de serem totalmente ilegais. Não tem direito a habeas corpus, está em confinamento solitário num cubículo, é obrigado a ficar nu nos “interrogatórios”, impedido de dormir exposto a luzes intensas e vigiado 24 horas por câmeras de TV. Enquanto isso, Julian Assange... lança livros, prepara um filme produzido pelo hollywoodiano Steven Spielberg, abocanha quantias milionárias junto a ONGs e a grande mídia burguesa.

A prisão imediata de Bradley Manning é uma ilegalidade até mesmo do ponto de vista da Constituição americana em sua 6ª Emenda (todo acusado em qualquer processo criminal tem direito a julgamento rápido e público). Mas a situação é a tal ponto esdrúxula que a prisão foi justificada pelo porta-voz militar de Quântico, Coronel Thomas V. Johnson, em declaração ao Washington Post (15/3), da seguinte forma: “Manning foi colocado em custódia máxima porque sua fuga pode representar um risco para a vida, a propriedade ou à segurança nacional”. Para o Pentágono, este jovem franzino acometido por depressão e sem qualquer antecedente criminal, é um elemento de “alta periculosidade” que desafia o regime político ianque. Assim, o único “julgamento” a que Manning vai ser submetido é aquele que já o condenou a priori e, muito provavelmente, baterá o martelo pela prisão perpétua, não descartando-se a possibilidade da pena de morte devido à acusação de “alta traição”.

Julian Assange, o fundador do WikiLeaks, é apresentado pela grande imprensa e por setores da “esquerda” como o responsável por colocar em xeque o establishment mundial a partir das revelações dos dados vazados por Manning. Seria ele um perigoso revolucionário como difunde a mídia venal mundo afora ou um militante das causas sociais como assevera a esquerda revisionista? Não. Muito longe disso!

O jovem soldado Bradley Manning foi o verdadeiro responsável por dar visibilidade mundial ao WikiLeaks. Captou os dados da “Net Centric Diplomacy”, um imenso arquivo que contém toda a corrupção e patifarias ianques provenientes da “diplomacia secreta” de todas as nações do planeta enquanto prestava serviço militar no Iraque. Na prática, é um centro ativo de espionagem intimamente vinculado a CIA. Manning forneceu a Julian Assange 250 mil telegramas secretos retirados destes arquivos, além do vídeo “Colateral” em que mostra o massacre de civis metralhados por um helicóptero americano em Bagdá em 2007. Em um dos diálogos dos soldados no vídeo aparece a ordem que muito bem expressa os “valores” do imperialismo ianque: “Light'em all up. Shoot” (“Acendam eles todos. Atirem” [nos civis]). Em consequência desta macabra descoberta, todos os “louros” da divulgação ficaram com Assange. A Manning restou o sofrimento da prisão e as feridas da tortura.

Assange, outrora um ilustre desconhecido, atuava no meio hacker sob a alcunha de “Mandrax” (o mentiroso). Define-se a si mesmo como um jornalista disposto a “democratizar as informações” e de modo algum enfrentar-se abertamente contra a democracia burguesa porque é parte integrante dela, na condição de liberal. Eis o supra-sumo de seu pensamento: “Ela [a web] não é uma tecnologia que favoreça a liberdade de expressão. Não é uma tecnologia que favoreça os direitos humanos. Não é uma tecnologia que favoreça a vida civil. É mais uma tecnologia que pode ser usada para estabelecer um regime totalitário de espionagem, de contornos nunca vistos. Ou, por outro lado, se tomada por nós, se tomada por ativistas e por todos aqueles que querem uma trajetória diferente para o mundo tecnológico, pode ser algo que todos esperamos”. A seu “dispor”, Assange tem um incomensurável banco de dados acumulados em nível mundial resultante da tecnologia da internet.

Hoje, com a fama adquirida, apesar das perseguições políticas, trata de colocar números em sua calculadora para planejar como será seu faturamento das parcerias com o The Guardian, El Pais, New York Times, Le Monde, Der Spiegel, ONGs e direitos sobre livros e filmes a respeito do WikiLeaks. Neste sentido, ninguém menos que Steven Spielberg já comprou os direitos do livro “WikiLeaks: Inside Julian Assange’s War on Secrecy” (Wikileaks: Por dentro da guerra de Julian Assange contra o serviço secreto), dos jornalistas David Leigh e Luke Harding, do jornal britânico “The Guardian”, para produzir um filme sobre a vida de Assange.

A tarefa da derrubada da diplomacia secreta e do modo de produção capitalista, portanto, só pode ser levada a cabo pela ação revolucionária do proletariado no enfrentamento direto com a ditadura dos bancos e megaempresas monopolistas transnacionais, as quais mantêm no limbo diplomático os chamados segredos comercias e militares. Julian Assange, nada tem a ver com os interesses do proletariado mundial, haja vista que defende a manutenção do status quo do sistema capitalista, de seu regime da propriedade privada e do monopólio dos meios de comunicação. Precisamente por isso, Assange entrega os documentos secretos à grande imprensa pró-imperialista, aos mais raivosos defensores dos grandes monopólios econômicos e dos interesses imperialistas dos EUA e Europa. Assange não é um ativista anti-imperialista como entusiasticamente proclamam setores da esquerda, os mesmos que relegam ao esquecimento o próprio Bradley Manning! Exigimos a liberdade imediata para Bradley Manning e não reconhecemos nenhuma autoridade moral no imperialismo e de nenhum Estado capitalista para encarcerar e perseguir o ex-soldado. Ao mesmo tempo nos opomos a toda sanha neomacarthista voltada a calar o WikiLeaks, sem nutrir a menor confiança política neste Portal de informações e muito menos no seu pérfido fundador, que abandonou Manning a própria sorte!

[07/04/2011; 18h20min]

 

MATÉRIA ORIGINAL EM > lbiqi

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Bradley Manning e os "valores estadunidenses"

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13:29

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Há poucos dias o mundo assistiu a um discurso do Presidente Barack Obama onde este evocava a defesa dos "valores estadunidenses" para justificar a intervenção imperialista na Líbia. [1]
Tais valores seriam os direitos humanos, as liberdades individuais e a democracia; itens os quais os Estados Unidos, nas palavras dos seus sucessivos dirigentes, seriam os campeões da defesa e da prática.


O que Obama supostamente defende e cobra no plano externo - já que é preciso lembrar que os Estados Unidos são amigos de muitos regimes que não praticam tais valores - não se verifica muito no plano interno. Pelo menos é o que atesta explicitamente o caso do jovem soldado de 23 anos, Bradley Manning.
Manning está preso desde julho de 2010 sob a acusação de "conluio com o inimigo". [2]


Qual conluio? Ele é suspeito de vazar documentos para o Wikileaks onde constam crimes de guerra e embaraços comprometedores da diplomacia internacional. Ele teria sido também o responsável por divulgar um vídeo onde soldados estadunidenses assassinaram civis iraquianos desarmados - crianças inclusive!
Mas se estas são as acusações que pesam sob os ombros de Manning quem seria o inimigo com o qual ele estaria em conluio? Tal inimigo seria o direito de acesso a informação? Seria a verdade dos fatos que o regime, "modelo a ser seguido", quer esconder?
Fosse Bradley Manning soldado de um regime inimigo dos Estados Unidos certamente assistiríamos a discursos inflamados de Obama e Hillary Clinton em defesa deste que seria um "herói dos direitos humanos" que teria tido a "coragem de denunciar os excessos de um regime bárbaro que havia praticado crimes contra a humanidade" e estariam em campanha internacional por um "Nobel da Paz" ao jovem.
Mas como não

é o caso, assistimos a P.J. Crowley, porta-voz de Hillary Clinton, ser forçado a pedir demissão após criticar a tortura a qual havia sido submetido o jovem soldado na prisão. Crowley não criticou a prisão, pois a defende, mas os excessos. Ele se deu conta, minimamente, da contradição constrangedora do discurso do império com a sua prática:


"Meus comentários tiveram a intenção de chamar atenção para o impacto maior e estratégico de ações das agências de segurança nacional em nossa liderança global"
(...)
"O exercício do poder no ambiente atual de desafios e de uma mídia persistente deve ser prudente e coerente com nossas leis e valores."
[3]


Obama, que durante a campanha eleitoral chegou a dar declarações de repúdio aos tratamentos dados a prisioneiros sob responsabilidade dos Estados Unidos e prometeu providências, considerou "apropriado" o tratamento dado a Manning na prisão.
"Eu perguntei ao Pentágono se os procedimentos de confinamento (de Manning) são apropriados ou não e se estão de acordo com as novas normas básicas. Eles me asseguraram que estão". [4]
A organização estadunidense Aclu, que defende os direitos civis, revelou quais são as condições "apropriadas" do prisioneiro, em carta enviada ao Secretário da Defesa, Robert Gates:
"Escrevemos ao senhor para expressar nossa grande preocupação com as condições desumanas em que está detido o soldado Bradley Manning na prisão militar de Quantico"
(...)
"A Suprema Corte estabeleceu que o governo viola a VIII emenda da Constituição proibindo castigos cruéis e não habituais quando ''inflige um sofrimento arbitrário e sem motivo''
(...)
"Nenhuma razão legítima justifica deixar Bradley Manning (...) em isolamento sem qualquer atividade, privado de sono, com as inspeções multiplicadas durante a noite, sem a possibilidade de se exercitar, mesmo em sua cela, e sem seus óculos para que não possa ler"
(...)
O Pentágono "não tem mais motivo legítimo para exigir que o soldado Manning que fique totalmente nu, de pernas afastadas, com as genitais expostas diante dos guardas e agentes presentes" (...) "O real objetivo de um tratamento como esse é humilhar e traumatizar"
. [5]


Manning encontra-se em tal situação sem que tenha sido sequer condenado. Se for, pode pegar prisão perpétua. Mas houve até quem, na "terra da liberdade", chegou a defender a aplicação da pena capital - a qual de fato ele corria o risco de ser sentenciado.
O jovem soldado não é o único a ter os supostos "valores estadunidenses" violados. Recentemente 35 pessoas foram presas na Virgínia por fazer um ato em solidariedade a ele, evento que reuniu 400 pessoas. Entre os presos estavam Daniel Ellsberg, que vazou os "Papeis do Pentágono" durante a guerra do Vietnã, e Ann Wright, Coronel que se opôs a invasão do Iraque. [6]


O país que mantém um preso político, encarcerado sem condenação e torturado, reprime a liberdade de opinião e expressão; busca convencer o mundo de que está invadindo países para exportar seus "nobres" valores. Acredita quem quer e apóia quem se beneficia!

 

 

MATÉRIA ORIGINAL EM > Monblog

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Os super-ricos do mundo

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08:18

Os multimilionários prosperam e as desigualdades aprofundam-se quando as economias "recuperam"

por James Petras

As operações de salvamento de bancos, especuladores e industriais cumpriram o seu verdadeiro objectivo: os milionários passaram a multimilionários e estes ficaram ainda mais ricos. Segundo o relatório anual da revista de negócios Forbes, há 1210 indivíduos – e em muitos casos clãs familiares – com um valor líquido de mil milhões de dólares (ou mais). O seu valor líquido total é de 4,5 milhões de milhões de dólares, maior do que o valor total de 4 mil milhões de pessoas em todo o mundo. A actual concentração de riqueza ultrapassa qualquer período anterior da história; desde o Rei Midas, os Marajás, e os Barões Ladrões [1] até aos magnates de Silicon Valley [2] e Wall Street na actual década.


Uma análise da origem da riqueza dos super-ricos, a sua distribuição na economia mundial e os métodos de acumulação esclarece diversas diferenças importantes com profundas consequências políticas. Vamos identificar essas características especiais dos super-ricos, a começar pelos Estados Unidos e faremos depois uma análise ao resto do mundo.


Os super-ricos nos Estados Unidos: os maiores parasitas vivos
Os EUA têm a maior parte dos multimilionários do mundo (413), mais de um terço do total, a maior proporção entre os grandes países do mundo. Um olhar mais de perto também revela que, entre os 200 multimilionários do topo (os que têm 5,2 mil milhões de dólares ou mais), 57 são dos EUA (29%). Mais de um terço fez fortuna através da actividade especulativa, da predação da economia produtiva e da exploração do mercado imobiliário e de acções. Esta é a percentagem mais alta de qualquer dos principais países na Europa ou na Ásia (com a excepção da Inglaterra). A enorme concentração de riqueza nas mãos desta pequena classe dirigente parasita é uma das razões por que os EUA têm as piores desigualdades de qualquer economia avançada e se situa entre as piores em todo o mundo.

Os especuladores não empregam trabalhadores, servem-se de expedientes fiscais e de operações de salvamento e depois pressionam cortes no orçamento social, dado que não precisam de uma força de trabalho saudável e instruída (excepto no que se refere a uma pequena elite). Em 1976, 1% da população mundial detinha 20% da riqueza; em 2007 dominava 35% da riqueza total. Oitenta por cento dos americanos possuem apenas 15% da riqueza. As recentes crises económicas, que inicialmente reduziram a riqueza total do país, fizeram-no de modo desigual – atingindo de modo mais grave a maioria dos operários e empregados. A operação de salvamento Bush-Obama levou à recuperação económica, não da "economia em geral", mas restringiu-se a reforçar ainda mais a riqueza dos multimilionários – o que explica porque é que a taxa de desemprego e subemprego ficou praticamente na mesma, porque é que a dívida fiscal e o défice comercial aumentam e o estado baixa os impostos às grandes empresas e reduz os orçamentos municipais, estatais e federais. O sector "dinâmico" formado por capitalistas parasitas emprega menos trabalhadores, não exporta produtos, paga impostos mais baixos e impõem maiores cortes nas despesas sociais para os trabalhadores produtivos.

No caso dos multimilionários dos EUA, a sua riqueza é fortemente acrescida através da pilhagem do erário público e da economia produtiva e através da especulação no sector das tecnologias de informação que alberga um quinto dos multimilionários do topo.
BRIC: Os novos multimilionários: A explorar o trabalho da natureza


Os principais países capitalistas emergentes, Brasil, Rússia, Índia e China (BRIC), elogiados pelos meios de comunicação pelo seu rápido crescimento na última década, estão a produzir multimilionários a um ritmo mais rápido do que qualquer bloco de países do mundo. Segundo os últimos dados no Forbes (Março de 2011), o número de multimilionários no BRIC aumentou mais de 56% de 193 em 2010 para 301 em 2011, ultrapassando os da Europa.


O forte crescimento do BRIC levou à concentração e centralização de capital, em todos os casos promovidos pelas políticas de estado que proporcionam empréstimos a juros baixos, subsídios, incentivos fiscais, exploração ilimitada de recursos naturais e mão-de-obra, expropriação dos pequenos proprietários e privatização de empresas públicas.


O crescimento dinâmico de multimilionários no BRIC levou às desigualdades mais flagrantes em todo o mundo. Nos países do BRIC, a China lidera o caminho com o maior número de multimilionários (115) e as piores desigualdades em toda a Ásia, em profundo contraste com o seu passado comunista quando era o país mais igualitário do mundo. Um exame da origem da riqueza dos super ricos na China revela que provém da exploração da força de trabalho no sector da manufactura, da especulação no imobiliário e da construção e comércio. EM 2011, A China ultrapassou os EUA enquanto maior fabricante do mundo, em consequência da super-exploração da mão-de-obra na China e do crescimento de capital financeiro parasitário nos EUA.


Em contraste com os EUA, a classe trabalhadora da China está a fazer incursões significativas nas receitas da sua elite de manufacturas e de imobiliário. Em consequência da luta da classe trabalhadora, os salários têm vindo a aumentar entre 10% a 20% nos últimos 5 anos; os protestos dos agricultores e das famílias urbanas contra as expropriações feitas pelos especuladores imobiliários e sancionadas pelo estado ultrapassaram os 100 mil por ano.


A riqueza dos multimilionários russos, por outro lado, resultou do violento roubo dos recursos públicos (petróleo, gás, alumínio, ferro, aço, etc.), explorados pelo anterior regime. A grande maioria dos multimilionários russos depende da exportação de bens, da pilhagem e da devastação do ambiente natural sob um regime corrupto e sem regulamentação. O contraste entre as condições de vida e de trabalho entre os multimilionários virados para o ocidente e a classe trabalhadora russa é sobretudo o resultado do escoamento da riqueza para contas ultramarinas, investimentos offshore e luxos pessoais extraordinários, incluindo propriedades de muitos milhões de dólares. Em contraste com a elite industrial da China, os multimilionários da Rússia parecem-se com os 'senhorios' parasitas que se encontram entre os especuladores de Wall Street e os xeiques do Golfo Pérsico.


Os multimilionários da Índia são uma mistura de ricos antigos e novos ricos que amontoam a sua riqueza através da exploração dos trabalhadores industriais de salários baixos, das populações de bairros pobres expropriados e dos povos tribais, assim como da posse diversificada de imobiliário, tecnologia informática e software. Os multimilionários da Índia acumularam a sua riqueza através das suas ligações familiares com os escalões mais altos, muito corruptos, da classe política, assegurando monopólios através de contratos com o estado. O forte crescimento da Índia na última década (7% em média) e a explosão de multimilionários de 55 para 2011, estão ambos ligados às políticas neo-liberais de desregulamentação, privatização e globalização, que concentraram a riqueza no topo, corroeram os produtores em pequena escala e espoliaram dezenas de milhões.


A classe multimilionária do Brasil aumentou rapidamente, em particular sob a direcção do Partido dos Trabalhadores, para 29, acima do número de um só dígito uma década antes. Hoje, mais de dois terços dos multimilionários da América Latina são brasileiros. A peça central da riqueza dos super ricos do Brasil é o sector finanças-banca que beneficiou fortemente das políticas monetária, fiscal e neo-liberal do regime de Lula da Silva. Os banqueiros multimilionários têm sido os principais beneficiários da economia de exportação agro-mineral que floresceu na última década, à custa do sector de manufacturas. Apesar das afirmações dos líderes do Partido dos Trabalhadores, as desigualdades de classe entre a massa dos trabalhadores de salário mínimo (380 dólares por mês em Março de 2011) e os super-ricos continuam a ser as piores da América Latina. Uma análise da origem da riqueza entre os multimilionários brasileiros revela que 60% aumentaram a sua riqueza no sector finanças, imobiliário e seguros (FIRE) e só um deles (3%) no sector de capital ou manufactura intermédia.

A explosão do Brasil em crescimento económico e em multimilionários encaixa no perfil de uma 'economia colonial': com grande peso no consumo excessivo, na exportação de bens e presidido por um sector financeiro dominante que promove políticas neoliberais. No decurso da última década, apesar do teatro político populista e dos programas de pobreza paternalistas patrocinados pelo Partido dos Trabalhadores "centro-esquerda", o principal resultado sócio-económico foi o crescimento duma classe de multimilionários "super-ricos" concentrados na banca com poderosas ligações aos sectores do agro-mineral. A classe financeira-agro-mineral, de forte crescimento via mercado livre, degradou o sector de manufactura, principalmente os têxteis e os sapatos, assim como os produtores de bens de capital e intermédios.


Os países BRIC estão a produzir mais, e a crescer mais depressa do que as potências imperialistas estabelecidas na Europa e nos EUA, mas também estão a produzir desigualdades e concentrações monstruosas de riqueza. As consequências sócio-económicas já se manifestaram no aumento do conflito de classes, principalmente na China e na Índia, onde a exploração intensiva e a expropriação provocaram a acção das massas. A elite política chinesa parece estar mais consciente da ameaça política colocada pela concentração crescente da riqueza e encontra-se em vias de promover aumentos substanciais de salários e um maior consumo local que parece estar a reduzir as margens de lucro nalguns sectores da elite de manufacturas. Talvez que a 'memória histórica' da 'revolução cultural' e a herança maoista desempenhe o seu papel no alerta da elite política para os perigos políticos resultantes dos "excessos capitalistas" associados aos altos níveis de exploração e ao rápido crescimento duma classe de clãs politicamente relacionados, baseados em multimilionários.


Médio Oriente


Na última década, o país mais dinâmico no Médio Oriente foi a Turquia. Dirigido por um regime democrático liberal de inspiração islâmica, a Turquia tem liderado a região no crescimento do PIB e na produção de multimilionários. O desempenho económico turco tem sido apresentado pelo Banco Mundial e pelo FMI como um modelo para os regimes pós ditatoriais no mundo árabe – de 'alto crescimento', uma economia diversificada baseada na crescente concentração de riqueza.

A Turquia tem mais 35% de multimilionários (37) do que os estados do Golfo e do Norte de África em conjunto (24). O 'segredo' do crescimento turco é as altas taxas de investimento em diversas indústrias e a exploração intensiva da força de trabalho. Muitos multimilionários turcos (14) obtêm a sua riqueza através de 'conglomerados', investimentos em diversos sectores de manufactura, finança e construção. Para além dos multimilionários de 'conglomerados', há 'multimilionários especialistas' que acumularam a sua riqueza a partir da banca, da construção e do processamento de alimentos. Uma das razões de a Turquia ter censurado e desafiado o poder de Israel no Médio Oriente é porque os seus capitalistas estão ansiosos por projectar investimentos e penetrar nos mercados do mundo árabe. Com excepção do sistema político americano, fortemente sionizado, as elites governantes e o público na Europa e na Ásia encararam favoravelmente a oposição da Turquia aos massacres israelenses em Gaza e à violação da lei internacional em águas marítimas. Se um moderno regime islâmico liberal pode crescer rapidamente através da rápida expansão duma classe diversificada de super-ricos, o mesmo acontece com Israel, um moderno estado judaico-neoliberal baseado no rápido crescimento duma classe de multimilionários altamente diferenciada.


Israel, com 16 multimilionários é um país em que as desigualdades de classe crescem mais rapidamente na região – com o mais alto número de multimilionários per capita do mundo… Os "sectores de crescimento" de Israel, software, indústrias militares, finança, seguros e diamantes e investimentos ultramarinos em metais e minas, são liderados por multimilionários e multi-multimilionários que beneficiaram das dádivas financeiras induzidas pelos sionistas, provenientes da pilhagem de recursos feita pelos EUA nos países da ex-URSS e da transferência de fundos pelas oligarquias russas-israelenses e também de empreendimentos conjuntos com multimilionários judaico-americanos em empresas de software, principalmente no sector de "segurança".


A alta percentagem de multimilionários em Israel, numa época de profundos cortes nas despesas sociais, desmente a sua afirmação de ser uma 'social-democracia' no meio dos 'xeicados'. A propósito, Israel tem o dobro de multimilionários (16) da Arábia Saudita (8) e mais super-ricos do que todos os países do Golfo juntos (13). O facto de Israel ter mais multimilionários per capita do que qualquer outro país não impediu os seus apoiantes sionistas nos EUA de pressionarem por uma ajuda adicional de 20 mil milhões de dólares na década passada. Contrariamente ao passado, a actual concentração de riqueza de Israel tem menos a ver com o facto de ser o maior recebedor de ajuda estrangeira… as doações a Israel são uma questão política: o poder sionista sobre a bolsa do Congresso. Dada a riqueza total dos multimilionários de Israel, um imposto de cinco por cento seria mais que compensador de qualquer corte da ajuda externa dos EUA. Mas isso não vai acontecer apenas porque o poder sionista na América impõe que os contribuintes americanos subsidiem os plutocratas de Israel, pagando-lhes o seu armamento ofensivo.


Conclusão


As "crises económicas" de 2008-2009 infligiram apenas perdas temporárias a alguns multimilionários (EUA-UE) e a outros não (asiáticos). Graças às operações de salvamento de milhões de milhões de dólares/euros/ienes, a classe multimilionária recuperou e alargou-se, apesar de os salários nos EUA e na Europa terem estagnado e os 'padrões de vida' terem sido atingidos por cortes maciços na saúde, na educação, no emprego e nos serviços públicos.
O que é chocante quanto à recuperação, crescimento e expansão dos multimilionários mundiais é como a sua acumulação de riqueza depende e está baseada na pilhagem de recursos do estado; como a maior parte das suas fortunas se basearam nas políticas neoliberais que levaram à apropriação a preços de saldos de empresas públicas privatizadas; como a desregulamentação estatal permite a pilhagem do ambiente para a extracção de recursos com a mais alta taxa de retorno; como o estado promoveu a expansão da actividade especulativa no imobiliário, na finança e nos fundos de pensões, enquanto encorajava o crescimento de monopólios, oligopólios e conglomerados que captaram "super lucros" – taxas acima do "nível histórico". Os multimilionários no BRIC e nos antigos centros imperialistas (Europa, EUA e Japão) foram os principais beneficiários das reduções fiscais e da eliminação de programas sociais e de direitos laborais.


O que é perfeitamente claro é que é o estado, e não o mercado, quem desempenha um papel essencial em facilitar a maior concentração e centralização de riqueza na história mundial, quer facilitando a pilhagem do erário publico e do ambiente, quer aumentando a exploração da força de trabalho, directa e indirectamente.


As variantes nos caminhos para o estatuto de 'multimilionário' são chocantes: nos EUA e no Reino Unido, predomina o sector parasita-especulativo sobre o produtivo; entre o BRIC – com excepção da Rússia – predominam diversos sectores que incorporam multimilionários da manufactura, do software, da finança e do sector agro-mineral. Na China, o abissal fosso económico entre os multimilionários e a classe trabalhadora, entre os especuladores imobiliários e as famílias expropriadas levou ao aumento do conflito de classes e a desafios, forçando a aumentos significativos de salários (mais de 20% nos últimos três anos) e à exigência de maiores gastos públicos na educação, saúde e habitação. Nada de comparável está a acontecer nos EUA, na UE ou noutros países do BRIC.


As origens da riqueza dos multimilionários são, quando muito, devidas apenas em parte a 'inovações empresariais'. A sua riqueza pode ter começado, numa fase inicial, a partir da produção de bens ou serviços úteis; mas, à medida que as economias capitalistas 'amadurecem' e se viram para a finança, para os mercados ultramarinos e para a procura de lucros mais altos, impondo políticas neoliberais, o perfil económico da classe multimilionários muda para o modelo parasita dos centros imperialistas instituídos.


Os multimilionários nos BRIC, a Turquia e Israel contrastam fortemente com os multimilionários do petróleo do Médio Oriente que são rentistas que vivem das 'rendas' da exploração do petróleo, do gás e dos investimentos ultramarinos, em especial do sector FIRE. Entre os países BRIC, só a oligarquia multimilionária russa se parece com os rentistas do Golfo. O resto, em especial os multimilionários chineses, indianos, brasileiros e turcos, tiraram partido das políticas industriais promovidas pelo estado para concentrar a riqueza sob a retórica de 'paladinos nacionais', que promovem os seus próprios 'interesses' em nome duma 'economia emergente de sucesso'. Mas mantêm-se as questões básicas de classe: "crescimento para quem? e a quem é que beneficia?" Até agora, o registo histórico mostra que o crescimento de multimilionários tem-se baseado numa economia altamente polarizada em que o estado serve a nova classe de multimilionários, sejam especuladores parasitas como nos EUA, rentistas saqueadores do estado e do ambiente, como na Rússia e nos estados do Golfo, ou exploradores da força de trabalho como nos países BRIC.

 
Post Scriptum


A revolta árabe pode ser vista em parte como uma tentativa de derrubar os 'clãs capitalistas de rentistas. A intervenção ocidental nas revoltas e o apoio das elites militares e políticas da "oposição" é um esforço para substituir uma classe governante capitalista 'neoliberal'. Essa "nova classe" será baseada na exploração da mão-de-obra e na expropriação dos actuais possuidores dos recursos clã-família-amigos. As principais empresas serão transferidas para multinacionais e capitalistas locais. Muito mais promissoras são as lutas internas dos trabalhadores na China e, em menor grau, no Brasil e no campesinato rural maoista e movimentos tribais na Índia, que se opõem à exploração e à expropriação de rentistas e capitalistas.

NT
[1] Barão ladrão – termo pejorativo usado para um poderoso homem de negócios e banqueiro americano do século XIX.
[2] Sillicon Valley – situa-se a Sul da área da baía de S. Francisco, na Califórnia. Esta região alberga muitas das maiores companhias de tecnologia electrónica do mundo.


O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=23907 .


Tradução de Margarida Ferreira.

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