ESCULPIR

0
14:23

Como um viajante que em cada passagem do percurso
anseia traduzir os símbolos do caminho,
meus sentidos percorrem longos braços tentando traduzir os símbolo das almas.
Não cabe a mim poeta, pergaminhar o presente e amassar as paginas do passado
e arremessá-la nos bueiros da inconsciência.
Essas longas caminhadas permanecem como longas caldas ou braços ou corrimões
onde uma hora despenco, outra subo, com mãos galgadas,
na certeza elementar do destino e pés fincados,
para tatuar com pegadas meu próprio delírio.

Se saio a noite a procura da minha própria imagem de angustia,
Pelas ruas obscuras, onde entro nas cavernas das esquinas e observo,
seres voltando para casa, Cansados, na adversária manifestação repetitiva.
Não saio de mim mesmo em nenhum segundo...
Meus sentidos se alargam em voltas e voltas como se águia fosse
Procurando uma fonte de água límpida para saciar sua voraz sobrevivência,
Eu, Poeta, procuro em cada rosto, oculto ao próprio rosto,
O segredo que possa traduzir o que sinto perante ele.

Não, não canso de procurar.
Mesmo nos meandros das matérias
que se entrelaçam em simbologia,
Como alguém que não aprecia a música por não entende-la...
Mas sente seu rosto, roçando, suas mãos,
como num gesto de cortesia, perante aquele que se ama cegamente
eu escavo as aparências mais externas,
não fico satisfeito com o superficialidade do gesto,
quero compreender as claves das palavras
e ler os mais incompreensíveis movimentos...
Sem hesitação, caminho até as vielas deles
e procuro um livro entreaberto
para arremessar-me..

Suspendo a mão até o rosto, fechos olhos
Como o ser que tateia a si mesmo num invisível
E toco nas sombras das palavras do oculto olhar debruçado na intimidade...

Tudo e nada pulsam...

Como a criança,
que acaba de nascer nesse exato presente,
em algum lugar,
muito além dos nossos sentidos.




João Leno Lima
23-02-10

Entulho Cósmico

Toda a palavra é um verso e todo o verso é um infinito

0 comentários: