O Incomunicável

1
23:16


Essa melancolia transpassa meu peito como a abstração de uma musica.
já é tarde na burocrática paisagem do meu trabalho.
não adormeço mas o frio dos olhares deixa a alma dormente.
há algo de inexplicável nesses diálogos sintéticos.
meu rosto atravessa a tela mágica da angustia e torno-se invisível.
Billie Holiday sussurra se esculpindo na monotonia
debaixo das pálpebras esconde-se um vomito de eus.
-vejo-me longe
-não estou longe
na arquitetura dos motivos algo racha e lateja,
pequenos dramas pessoais são engolidos por algo chamado cotidiano,
vermes desejos atravessando os aparelhos telefônicos
fracassa a trasncedencia
sucumbi o melodrama vazio.
-sobrevive poeta..
-quem é poeta?
tenazes palavras transitam no corrimão dos movimentos paralelos
e todas caem no baú como um grito alojando-se no silencio.
fora de mim uma chuva como uma orquestra infernal sentenciando-me.
as razoes foram sufocadas com meros
sacos plásticos de uma urbanidade qualquer.
o destino é uma cadeira giratória na sala indiferente a ela.
a razão dessa poesia é a mesma razão do respirar.
"o que pretendes?"
"o que é tua frieza habitual?"
para além da porta de vidro
seres riem indiretamente das razoes
conversam sobre futebol e suas amantes
um tom cinza cobre a sala com os ventos da tarde se desarrumando,
uma, duas, três verdades vem de bandeja
ignoro-as.
quero da voltas e voltas.
Vênus, saturno, lua.
correndo entre oceanos intransponíveis.
sobrevoando as crateras lunares dos monólogos,
escavando a beleza das mudanças faciais das nuvens das seis da tarde,
a volta para casa dos pássaros e dos homens empoeirados do tempo.
suas locomotivas modernas se confundem com a naturalidade do inicio da noite.
bicicletas passeado pelos longos braços da praça.
há um rouco vinil inacessível em cada passo.
posso ouvi-los daqui...longe
porque por alguma razão me penduro nos cadarços coloridos das crianças
a fim de sentir o carinho da infância dado pela lucidez do sonho?
porque essa insatisfação não foge nos colos das tempestades?
minha abstrata presença no mundo deixa-me sem palavras.
mergulho no incomunicável
nado nas saudades decorrentes
"porque não te afogas?"
porque não me afogo...
de repente já estou no litoral da liberdade.
observando retratos íntimos incompreensíveis.
retratos Cubistas que não ouso comentar.
fragmentos dos próprios fragmentos
reinvento-me nos delicados olhares,
ah o universo tem incontáveis corações absolutos!
Sou cada um deles em um.






Joao Leno Lima
04 de Fevereiro de 2009

1 comentários: