Flaming Lips The Soft Bulletin

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por Cassiano Fagundes


Robert O’Connor, do semanário New York Press, sugere que todos nós precisamos às vezes de amigos imaginários, e que no caso ele poderia ser o Flaming Lips. Porque a imprensa americana trata Wayne Coyne e sua banda como o primo mais novo que ficou louco de ácido e nunca mais voltou, suas armações são sempre vistas sob a lente da compaixão (condescência). "Soft Bulletin" deve reafirmar a imagem de um trio de lunáticos, mas também pode dar a idéia de que sua piada esquisita é necessária para o bem-estar da música no momento pasteurizado pelo qual passamos. Piada para quem não gosta de ficção científica. Numa canção logo no começo do CD, um órgão meio John Paul Jones abre alas para Coyne (Race For the Prize): "Two Scientists are racing for the good of all mankind/both of them side by side, so determined/ Locked In heated battle for the cure that is the prize/It’s so dangerous, but they’re determined..." (Dois cientistas estão disputando pelo bem de toda a humanidade/os dois lado-a-lado, tão determinados/ Envolvidos em batalha brava pela cura que é o prêmio/ é tão perigoso, mas eles estão determinados"; ou para quem não acha genuína a tentativa de explicar o começo dos tempos no encarte (lê-se que "What Is The Light" é sobre a hipótese não testada de que a mesma reação química em nossos cérebros que nos faz sentir amor causou o Big Bang que deu origem ao universo em expansão).
A co-produção impecável de Dave Fridmann (ex-Mercury Rev, a banda irmã dos Lips) e uma mixagem que distanciou os instrumentos ao máximo uns dos outros a fim de realçar a forma (e efeitos) de cada som deram ao disco uma delicadeza sombria que por vezes causa estranheza quando se tenta combinar as imagens sugeridas pelas palavras à música. A tensão causada pode perturbar ou ser até difícil de engolir para não-iniciados, porém quando se descobre que "Soft Bulletin" é do tipo que funciona como um álbum e deve ser escutado do começo ao fim para se ter prazer, há uma grande possibilidade de você achar que está diante de um dos melhores sons dos últimos 12 anos. Já se você não entende inglês e está acostumado a se contentar com a melodia dos vocais, deve desconsiderar todos as convenções de como um bom vocalista deve ser. Do contrário, há o risco de implicar com a voz de Coyne.
Sinto no ar de Soft Bulletin pretensão não levada à sério. E uma pegada claramente Led Zeppelin em alguns momentos que contrabalançam a melancolia festiva e por vezes épica dos 14 números. Não há nada de novo e revolucionário aqui. Só a certeza de que nunca houve nada tão novo e revolucionário.
20 anos atrás, se alguém houvesse tentado prever como seria o disco do ano de 1999, o resultado não teria sido muito diferente deste que está tocando no meu som nesse exato segundo.

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