SUBSOLO

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CENA DO FILME "sTALKER" DE ANDREI TARKOVSKY

De onde vêm os cometas?
Minha sombria entrelaça os ventos em suas caldas
E arrasta-me para a beira do pilar dos sentidos.
Mas de onde vêm os cometas?
Súbito deslize pelos solavancos das esquinas
E pelo invisível momento onde a mãe carrega o filho num colo antiaéreo.
Petrifico meus olhares, me relaciono com o barulho dos ônibus.
Mas me entorpeço com as novas cores do desconhecido.
A contra mão de mim que as vezes parece a direção do outro.
De onde vêm os cometas?
As luzes se apagam numa sala de delírios
E ouço os trens desgovernados dos passos lá fora.
Caminho sobre a noite com pés descalços,
Sua epiderme é lisa, mas há inclinações que afundam e pequenas poças escuras.
E escadas onde a madrugada corre como se tivesse num longo palácio vazio
E cantasse musicas eruditas jamais ouvidas.
As estrelas parecem um poema de withimam.
Os planetas longos versos de Fernando pessoa
Os cometas algum rabisco que rimbund arremessou longe
Mas que até hoje retorna,
As galáxias, formação de poesia feitas de todos os poemas.
E o universo uma ópera que se auto constrói sob os cuidados do infinito
De vem os cometas?
Setembro, dias calmos, mas revoltosos por dentro.
Dezembro parece um túnel que iremos alcançar em breve,
Os dias, comunhão de movimentos sincronizados por um caos pragmaticamente anárquico.
O tempo, frutas que brotam nas abobadas das esquinas,
Entre a Rua Cláudio Barbosa e a Fernando guilhon,
Onde vultos choram depois um passeio monótono pela praça.
Um aglomerado de segundos passa feito um comboio
Que as vezes não percebemos.
Há uma colisão de solidões dentro de mim.
De onde vêm os cometas?
O homem sem expressão sorri ao ajudar a senhora embaraçada.
Uma mulher vestida de aço chega para seu trabalho matinal
Sob as ordens do seu patrão Sol
E ambos antes do meio dia
Dialogarão incessantes filosofias sobre as contas do mês e o leite materno dos anjos.
Mas de onde vêm os cometas?
A febre se embalsa com as cordas vocais
E dores me abraçam num período de chuva interna.
Penso menos no cosmo e mais nas cubistas degradações no congresso.
Deformo meu movimento antes dos ponteiros
E declamo poemas no caminho para o supermercado.
O próximo passo dos versos é uma nova expansão dos espaços não-físicos
E adianto que sou impenetravelmente distante.
Como as longas caminhadas da mãe indesejável a si mesma.
Como o peito rasgado do garoto que perde a alma daquele que lhe deu a alma.
Como a célula da distancia que se metamorfoseia em tristezas disfarçadas.
Como o casal desabrigado que planeja encontros nos anéis de saturno.
Como o moribundo de coração saudável.
Como o poema clandestino a sua própria clandestinidade.
Como o jovem deslocado na multidão desértica.
Mergulho nas páginas como a luz que envolve a lâmpada desarticulada
Mas que a contem indivisivelmente...
Pelos todo...
No útero do cometa intimo que leva ao âmago,
Na cratera feita pelo sonho...
No rastro feito pelo ser de dentro...
Mais que um espectro... Mais que um espírito...
O eu.

Entulho Cósmico

Toda a palavra é um verso e todo o verso é um infinito

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