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Em 2007 completou dez anos o que considero uma das maiores obras de arte do século XX. E um dos melhores discos conceitual do rock em todos os tempos e vou dizer por que.
O disco Ok Computer (1997) dos ingleses do Radiohead.
Formado por cinco amigos, (Thom Yorke letra, vocal e Piano, Jonny Greenwood, Guitarra e sintetizadores e cordas, Colin Greenwood, Baixo, Ed O’ Brain, Guitarra e Shill Selwey baterista). Na cidade de Orfoxd (interior da Inglaterra), o grupo subverteu o britpop, (movimento de rock pop inglês versão anos noventa onde letras bobas, poses e holofotes eram mais importantes que a essência da musica na arte),
Com o engenheiro de som Nigel Godrich e o artista plástico Stanley Donwood em um estúdio no meio do nada no interior de Londres, a banda rompe com a estética clássica do britpop, e assina uma obra atemporal que entraria para a história do rock como um dos últimos grandes momentos dele no século. Com influência que vão de Dj Shadow e Krzstof Penderecki (compositor erudito polonês). Passando por inspirações do “Krautrock” (movimento musical anarco-progressivo alemão),
Como Faust e Can ao Jazz de Charles Minguas e Jon Coltrane,
O pós-punk soturno de Joy Division e referências literárias que vão de George Orwell e seu livro febril e político (1984), Thomas Pynchon e seu manifesto da “contracultura” (O Arco-íris da gravidade) e influências do futurismo urbano nos escritos de Philip K. Dick. A banda de Thom Yorke faz um raio X da sua geração anos 90 e o século XX como pano de fundo, a virada tecnológico, as perspectivas para o Homem contemporâneo e suas contradições nos aspectos existenciais como base.
Ok computer metaforiza sobre a idéia do computador; capaz de executar tarefas tão ou mais complexas do que homem, armazenar milhares de informações e trabalhá-la em vários níveis de problemas ao mesmo tempo e com uma precisão racional e matematicamente perfeita, mas incapaz de sentir, incapaz de amar, incapaz de chorar ou sorrir e nesse sentido o quanto temos de máquina ou quanto de humanos? Essa ambigüidade é trabalhada tendo como fio condutor a voz quase sintética, mas ao mesmo tempo teatral e lúdica de Thom Yorke. Temas como a possibilidade da morte trazendo para a vida uma nova chance e inspiração (a faixa Airbag), aonde Yorke conduzido pela “maquina” carro metaforizado que conduz Yorke sem rumo, sofre um acidente, mas ele sobrevive graças a um “Airbag”. Então ele passa a acredita que assim sua missão é salvar o universo. Yorke ironiza o homem sobrevivente e sufocado por seu materialismo psíquico que persiste em anular a si mesmo para assim dá lugar a um homem pragmático que não pode sentir a própria existência; onde sua essência está submersa em teias capitalistas e massificações do senso comum, mas esse homem para Yorke, chora internamente uma dor de sua própria inexistência, em (Paranoid Android) ele é um “andróide paranóico”.
Em (Subterranean Homesick Alien) “nostálgico alien subterrâneo”, alienígenas observam a terra e as relações humanas, Yorke reprimido, almeja ser levado pelos alies para o espaço e encontrar assim um mundo melhor. Para ele os homens estão prestes a tornar-se um alienígena dentro do seu próprio mundo, reprimido para sonhar e voltar a sua essência, o Homem só pode ser ele mesmo nos subterreneos mundos da sua subconsciência. Sufocado pelo comodismo e pela falta de perspectiva que assola sua geração pré-milenio, deixando o fim do século inseguro e tenebroso, um século marcado por duas guerras e pequenas outras; Guerra fria, nazismo, fascismo, ditaduras e contradições religiosas e éticas formaram a teias do século mais assustador da historia, o século da bomba atômica e da perpetuação filosófica do capitalismo.
Sufocado Yorke canta em (Exit Music) “música de saída”, planejando uma fuga para algum lugar nenhum enquanto ouve a máquina sussurrar no seu ouvido que isso não passa de um delírio sufocado.
Em (Let Down) desapontado consigo mesmo e com o mundo Yorke vaga pelas ruas, pelos transportes que o levam por caminhos solitários, como andar em círculos dentro de si mesmo numa das músicas mais melancólicas do álbum, Yorke sonha em ter asas, mas histérico e inútil ele se deixa vencer.
Em Karma Police, (referencia a “policia do pensamento” do livro 1984), metáfora da condição alienadora da sociedade moderna. O “Karma Police” (ideologia capitalista como modelo de pensamento). Escraviza “excluindo” da sociedade, qualquer um que queira andar fora da ordem, qualquer um que queira contrariar o “normal”. onde a palavra revolução virou moeda, onde a arte virou apenas um mero produto na prateleira, onde a utopia é apenas uma palavra que soa risonha e hipócrita, onde qualquer pensamento fora do “normal” é um mero pensamento fora do normal e se ele persistir será devorado pelos tentáculos do senso comum e da ordem absoluta, no final Yorke grita: “ufa! Por minuto eu me perdi” e perde-se em si mesmo, mas as sirenes do Karma Police o engole completamente.


Essa ordem é confessada pela voz totalmente robótica de (fitter happier) “Mais ajustado e mais feliz”.
Nela Yorke ouve as “dicas” da máquina para uma vida melhor e mais feliz, o que você precisa fazer para se adequar ao mundo moderno, agora sem revolução e desarmado você é manipulado mais facilmente e mais sutilmente. Levando-nos a caminhos distantes; a voz de Thom espragueja sobre questões políticas em (Eletioneering) “fazendo propagando política”. Onde para Yorke há um abismo entre política e ser humano conflitantemente real, O ser com sua idéia revolucionarias de estado e sociedade é minoria, governado pela maquina capitalismo só resta ao individuo lutar pela liberdade do seu próprio pensamento e o manter coerente enquanto procura encontra sentido para o mundo.
Mas um medo de se perder de vista toma conta em (Climbing Up The Walls) “subindo pelas paredes” Yorke sobe pelas paredes do seu próprio medo e desespero e se sentindo observado e perseguido, Yorke procura coerência em suas atitudes e sente um medo quase infantil de estar sozinho em meio a seus próprios fantasmas. a máquina veio para confundi-lo e fraquejá-lo.
Em (No Surprises) “sem alarmes e sem supresas”. Um piano quase de ninar faz a base para um Yorke disperso, distante de si mesmo, cansado das atitudes humanas, desgastado dessa luta interna, enquanto a sociedade apenas caminha sem alarmes, para seu próprio fim, para o esgotamento absoluto dos recursos naturais, para a degradação completa da natureza isso, sem alarmes e sem supresas.
Mas em (Lucky) “afortunado” Thom diz esta com sorte, sente que pode amar e ter um dia glorioso, seus pensamentos estão mais claros, observa a humanidade de cima, flutuando em seus sonhos, acredita que seu rumo pode mudar na musica mais cheia de esperança de um álbum escuro e áspero, com a virada tecnológica, a revolução da informática na ultima década a humanidade vem perdendo aos poucos seu espaço de trabalho e o que foi um marco na revolução industrial agora na sociedade “pós-moderna” é feitiço virando contra o próprio feiticeiro (o homem) agora é refém de seu próprio ideal materialista, aumento do desemprego, empregos alternativos, desequilíbrio social, desigualdade, é o preço capitalista, que já não vê ninguém em sua frente para detê-lo então Yorke despenca, afirma que o “chefe do estado o chama pelo nome” clama para tirá-lo do acidente aéreo, afirma que já esta na extremidade de si, síntese de uma sociedade que se viu no século XX a beira de sua extinção, a beira de um colapso político, mas que recuperando suas formas viu na década de 90 uma grande ressaca de idéias e esperança, uma década marcada por um otimismo automático, pelo movimento elétrico dos passos, pelos blocos econômicos causando em paises em desenvolvimento uma ilusão de modernidade e uma pobreza disfarçada para o bem da globalização, pela arte-objeto, efetivação da mulher no mercado de trabalho e consequentemente uma fusão com o homem no papel de maquina de fabricar dinheiro, o homem turista do seu próprio mundo sobrevive asfixiado e asfixiando,
Em (The Turist) a derradeira faixa de Ok Computer, Yorke clama que o homem vá devagar, que ele pare e pense o que significou o século XX, o que significa a própria existência dele, o que ele esta fazendo para si mesmo e o mundo, terminando Ok Computer de forma melancólica e confessional num clamor poético inalcançável, numa musica cheia de espaço vazio, quase um blues sintético, que vai morrendo aos poucos enquanto Yorke canta: “Homem devagar aí, devagar aí...”.
Ok Computer torna-se uma dos últimos sopros de arte do rock no século XX, Por ter a relevância de transformar elementos tão universais e íntimos e sintetizá-los e textualizá-los em seu discurso. Por ser uma copia fiel do seu tempo. Por captar os elementos que tornaram esse fim de século tão instigante tão escuro para as ações e o ser. Pela fusão pós-moderna de rock espacial com ambientes progressivos e música eletrônica experimental renovando assim o movimento (o rock) com originalidade e relevância, por ser tão espelho da própria humanidade na voz nos ambientes urbanos sufocantes e arrebatadores comandados por Yorke & cia. Levando o homem a questionar-se:
qual o futuro da humanidade?
E qual minha própria relevância em tudo isso?
A arte prova mais uma vez que sua relevância não se limita ao seu próprio eixo e sim que ela se expande em todos os níveis e em todos nós; que ela pode transcrever a realidade e ser um documento histórico do seu tempo e ter papel decisivo nas reflexões sobre os principais problemas e questões humanas, por mais estranho e inacessível que possa parecer, a arte, ainda prevalecerá como um das características mais significantes da essência humana.

Entulho Cósmico

Toda a palavra é um verso e todo o verso é um infinito

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