Downloads e o Controle social

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Um dia essa história acaba. Assim espero.

O caso do Radiohead é estranho. A banda lançou em 2007 o ótimo “In Rainbows” via Internet, naquele esquemão pague-quanto-puder-ou-quiser. A Lily Allen logo estrilou, dizendo que a banda só podia fazer isso porque era o Radiohead, mas que o ato era um tiro no pé da indústria e dos artistas.

Passados três anos, o assunto volta à tona, dessa vez “oficialmente”. A RIAA (Record Industry Association of America), aquela associação cheio de velhos, engravatados e donos de gravadoras, que vêem o montante mensal diminuir a cada dia que passa, mandou avisar um monte de blogues que era para eles tirarem os links e conteúdo do “In Rainbows” do ar.

Eu acho tarde demais. Quem quisesse ter o “In Raibowns” já o tem, certo? Mas a questão não é esse ou aquele disco, claro. O problema é maior: a associação quer acabar acabar com os downloads ilegais, de qualquer maneira. Porém, basta um cidadão colocar as músicas no ar e pronto, já era, amigo, perdeu. Como controlar todo mundo?

No caso do Radiohead, é pior, afinal a própria banda deu de graça seu disco. Outras bandas fazem o mesmo (“vazam” o disco de propósito, sem dizer que foram elas). É propaganda gratuita, é melhor e mais barato e menos humilhante do que jabá pra rádio.

Outro dia, Lobão deu a seguinte entrevista à Billboard brasileira, dizendo que estamos todos errados (inclusive ele, quando lançava discos em banca de jornal, com a Revista Outracoisa). Um dos trechos:

Pergunta: E como você situa a figura do músico na atualidade, em um cenário marcado pela divulgação online e uma suposta queda da indústria fonográfica?

Resposta: Não é nada disso, esse que é o grande problema. Não existe queda nenhuma da indústria fonográfica, isso é um absurdo, é uma falácia. Eles nunca ganharam tanto dinheiro. O (produtor) Marcos Maynard, que é uma raposa velha, já está com um tal de Restart… E tem uma outra coisa: quem detém o monopólio das rádios continua vendendo disco. Essa coisa de achar que você bota no seu MySpace e está feito com 20 mil amigos, isso é um grande erro. A internet não vai salvar ninguém! O caminho que a gente abriu no final dos anos 70 e começo dos 80 era de fazer música pop para tocar no rádio, “vamos invadir o Chacrinha”. A mesma coisa tem que ser feita novamente. As pessoas não podem achar que não podem fazer (Domingão do) Faustão. Que merda é essa? Tá no Brasil ou tá aonde? Você acha que lá fora o cara não vai ao programa da (apresentadora americana de TV) Oprah? É o circuito, tem que fazer. Tem que fazer, sim! Agora, para poder alterar esse circuito, você tem que entrar nele. De fora, você não vai conseguir nada.

Leia o trecho gratuito da entrevista aqui. Lobão é porra-louca, mas tá perto de ser gênio – ou apenas um tresloucado.

Alex Kapranos, vocalista do Franz Ferdinand, em entrevista recente à BBC 6Music, da Inglaterra, conta uma história de como reagiu ao vazamento de um disco seu.

“Fizemos um show com o Arcade Fire, e filmamos”, explica. “Distribuímos cópias do CD para os caras que trabalharam no show com a gente. Foi um cameraman que vazou o álbum. Nós conseguimos rastreá-lo com facilidade porque havia uma marca naqueles discos”.

O vocalista disse que então foi tirar uma satisfação com o cidadão: “nós demos pra você o disco, confiamos em você, você estava trabalhando com a gente, pensávamos que estávamos fazendo algo de bom aqui. Aí o cara se virou e disse ‘eu não acredito no capitalismo’. Você não acredita no capitalismo? Bem, eu não vou te pagara as 20 mil libras por filmar o show pra gente, seu merda. As pessoas que fazem isso não dão a mínima. Querem ser o ‘cara que que vazou o disco do Arctic Monkeys’”.

A animosidade de Kapranos mostra que os próprios artistas andam divididos nessa questão. Muita gente, principalmente os novos, por não conseguir acesso às grandes gravadoras, como Lobão prega, apelam para a Internet. O acesso às músicas é livre, mas não é garantido: como fazer para as pessoas saberem que sua banda tem aquelas músicas e que elas são legais? É só mais uma forma de divulgação, que não garante nada.

Grande bandas, por outro lado, sofrem com isso. Vazar o disco com antecedência, antes do lançamento oficial, frustra qualquer estratégia de divulgação – mas vai esperar o que dos fãs, que eles fiquem parados, passivos, esperando o novo material? Eles são fãs e, por isso, são ansiosos.

A preocupação deveria ser apenas os grandes “vazadores”, os piratas mesmo, esses que vendem os discos nas barracas de rua, a preços ridículos, que não pagam um centavo aos artistas, para pessoas que não têm dinheiro para ir aos shows.

Mas, como a história de Kapranos mostra, basta um cidadão colocar o disco na Internet e já era. Não precisa esse cara ser pirata profissional. Aí, as gravadoras e artistas vão fazer o quê? Vão fechar e proibir a Internet?

É irreversível, portanto, meus amigos. Grande ou pequena, a banda tem que se acostumar com isso e buscar outras formas de ganhar dinheiro com sua música. É um triste desafio pros artistas, eu sei. Não é fácil ver seu trabalho ser afanado por todo canto. Ninguém gostaria disso.

Infelizmente, lutar contra isso é gastar energia na batalha errada. Qual seria a saída honrosa e novamente lucrativa nesse cenário?

 

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