Por: João Leno Lima
Toda a obra de arte têm por tras dela um artista e todo esse artista recebe ao ser chamado sua obra de uma “obra de arte”um voto de confiança. Uma espécie de acordo de sentidos onde você passa a acompanhar direta ou indiretamente esse artista ou simplesmente apenas aprecia sua obra (única ou diversa).
Então a arte também é acreditar.
Se não no artista mas pelo menos no trabalho em si. Mas será que se eu não acreditar ou não “ver” como verdadeira a postura de algum artista ou simplesmente não concordar que tal pessoa seja um “artista” será que vou, mesmo assim olhar para seu trabalho e dizer “é uma obra de arte” ?.
Numa cidade onde a abudância de pessoas ligadas à arte é visível e até empolgante. Onde músicos, grafiteiros, poetas e artistas de rua diversos saltam aos olhos em todas as direções, um grande dilema ainda precisa ser superado, isso não apenas relacionado ao aspecto artististo mas sim cultural também…
A valorização do artista local.
E não falo no âmbito clássico como de um artista ir para fora do estado, lá ser “reconhecido” pela grande mídia e voltar para casa celebrado como um ídolo. Falo em relação a valorização das próprias pessoas envolvidas com arte/cultura que não valorizam ou na pior das hipoteses nao ACREDITAM No seu companheiro como artista.
Se a desconfiança mútua parece permear as relações dos movimentos em Marituba, ela passa a ser fundamental para a desorganização e o soterramento de idéias que por ventura podem vim a surgir. Se o olhar desconfiado e a falta de apoio permanece atralado ao sorriso amarelo do eufemista elogio, ela descamba para uma relação onde o artista precisa, ou fazer uma arte populista e que dialogue sem qualquer exposição de pensamentos libertários e apoiada no reciclamento de idéias e na aceitação essencial para sua permanencia como “artista” ou ele faz “arte” para si mesmo e mesmo a mal gosto apenas para buscar ACEITAÇÃO DO OUTRO ARTISTA.
Com a desvalorização e consequentemente o desgaste da exposiçao entre as próprias tribos (isso passa pela ignorância, intolerância, desprezo, inércia, ego, orgulho, inveja, e a imaturidade para lidar com as diferenças naturalmente existentes) o artista da cidade arrasta-se pelas vielas de ações fechadas, festanças informais ao ar livre, não há espaço para a canção libertária, para o poema embreagado, para o grafitte enlouquecido, para o aplauso não do artista mas do fato de pensar e sentir o mundo. Em outras palavras, se os artistas da cidade paracem apenas se tolerando entre si, esquizofrenicamente tão pouco parecem interessados no público.
Será o mundo?
O mundo, sua forma doente dos tempos atuais afeta o tupiniquim movimento pela espaço onde o que será exposto é o que vem de fora como a “melhor” forma de fazer as coisas? Será o artista refén dos clichês da arte como forma de buscar a valorização? Ou ainda, No final das contas, será que apenas o que é feito lá longe, por um ser desconhecido de outro planeta é melhor que qualquer poema feito nas pernas de algum poeta que resolveu expor sua eternidade em algum canto da cidade suja.
A arte em Maritruba, mesmo vasta, ainda precisa daquelas que acreditem nela e em quem a faz. Até então, a ridicularização, a postura diminuista, as falas fora de hora na leitura de um poema, a investigação em busca da “verdade” absoluta, como se expor uma obra de arte fosse como colocar o pescoço na guilhotina e a condenação fosse tentar ser artista. Como se esse fosse uma entidade absoluta que só pode ser vista nos filmes ou na televisão.
O Acreditar passa por vários estágios. O acreditar cego remete a ingenuidade ilusoria mas o acreditar como parte essencial da sensibilidade é fundamental se se pretende sair do lugar algum dia e ser parte de um precesso de integração com o público e braço fundamental no resgarte do artista e o mundo dentro de sua realidade. No final das contas, busca-se mais “aceitação” do que libertação. E nesse sentido, essa “recipocra” aceitação ainda parece um longa caminhada para os artistas da cidade.
E o público aguarda (inconscientemente) ansioso pelo diálogo, dispostos (ele sim) a ACREDITAR.
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Um Exército de hackers voluntários está agindo em defesa do site WikiLeaks e entrou na disputa cibernética protagonizada por ataques e contra-ataques envolvendo a polêmica homepage, que divulga importantes documentos secretos pelo mundo, dando início assim à primeira ”Guerra da Informação”.
A “Operation Avenge Assange” (Operação Vingar Assange), organizada por hackers após o cerco internacional contra o WikiLeaks e seu criador, Julian Assange, conseguiu nesta quarta-feira derrubar parte dos sistemas informáticos da rede de cartões de crédito MasterCard, prova do poder da mobilização espontânea através da internet.
O protocolo IRC (Internet Relay Chat) é o ponto de partida do ataque contra a rede MasterCard, ao qual a Agência Efe teve acesso. Nele, o moderador estabeleceu como título “Operação Payback. Alvo: ”www.mastercard.com”. Existem coisas que o WikiLeaks não pode fazer. Para todas as outras existe a Operação Payback”.
No final da manhã desta quarta-feira, os operadores do IRC informavam que mais de 1.800 bots estavam inundando com Ataques de Negação de Serviços (DDoS) contra o endereço “www.mastercard.com”. A empresa reconheceu dificuldades em alguns de seus serviços.
Enquanto isso, outros usuários do protocolo informavam sobre o progresso do ataque com mensagens sobre o estado das operações da Mastercard em países tão distantes como Suécia, Sri Lanka e México, ou sobre a evolução das ações da companhia de cartões de crédito na Bolsa de Nova York.
“A primeira guerra da informação começou. Envie por Twitter e poste isso em qualquer site”, proclamava um dos hackers.
Outros solicitavam que o grupo dirigisse seus ataques contra os serviços de PayPal, Visa e inclusive contra a conservadora emissora de televisão “Fox News”. No entanto, o grupo de hackers denominado “Anonymous” mantém o ataque contra a Mastercard.
“Por favor, deixem de sugerir novos sites. Os líderes de ”Anon” decidiram que ”mastercard.com” deve permanecer apagado. Dessa forma, afetaremos o preço de suas ações. Obrigado”, explicava outro usuário.
Segundo o blog da empresa de segurança virtual Panda, o grupo havia atacado o sistema de pagamentos online PayPal pouco depois de o serviço anunciar o bloqueio financeiro ao WikiLeaks, embora o ataque tenha se limitado a um blog da empresa.
O Panda assinalou que o ataque DDoS contra o “ThePayPalblog.com” durante oito horas fez com que o blog sofresse 75 interrupções de serviço.
O “Anonymous” também conseguiu afetar gravemente o funcionamento do PostFinance, banco suíço que também bloqueou sua conta ao WikiLeaks, e ao escritório de advocacia sueco que representa as duas mulheres que acusaram Assange de estupro e abuso sexual.
Pelas acusações, a Justiça sueca e as autoridades policiais internacionais expediram um mandado de prisão contra o ativista australiano, que não viu alternativa senão se entregar às autoridades do Reino Unido, onde estava vivendo e onde está detido, aguardando a definição sobre se será extraditado à Suécia.
O grupo que organizou o ataque é um coletivo de hackers denominado “Anonymous” e que se reúne habitualmente pelo site “4chan.org”, uma simples homepage que é utilizada para divulgar mensagens, fotografias ou simplesmente discutir sobre política.
Este não é o primeiro ataque lançado pelo “Anonymous”. Considera-se que o grupo facilitou a identificação e detenção de vários pedófilos, mas talvez uma de suas ações mais conhecidas foi o chamado “Projeto Chanology”, iniciado em 2008, para protestar contra a Igreja da Cientologia.
Por causa desse protesto, que incluiu ataques DDoS como os que atingem agora a Mastercard, o grupo adotou a estética da história em quadrinhos “V de Vingança”, no qual milhares de pessoas usam uma máscara idêntica ao do enredo para evitar sua identificação pelas autoridades.
No ano passado, o “Anonymous” também se uniu aos protestos contra as eleições iranianas, vencidas pelo líder Mahmoud Ahmadinejad e consideradas fraudulentas pela oposição.
Em seus protestos, o “Anonymous” qualificou seus ataques como “Operation Payback” (Operação Vingança), mas, desde que o WikiLeaks começou a publicar as correspondências secretas da diplomacia americana e o site começou a sofrer assédio de empresas e Governos, o “Anonymous” decidiu lançar a “Operação Vingar Assange”.
“O WikiLeaks está apagado por Ataques de Negação de Serviços (DDoS). Há razões para crer que os Estados Unidos estão por trás, devido à natureza do vazamento (de documentos) do domingo 28 de novembro”, assinalou o grupo em seu site.
“Embora não estejamos filiados ao WikiLeaks, lutamos pelas mesmas razões. Queremos transparência e combatemos censura”, acrescentou o grupo. “Não podemos permitir que isso aconteça”.
“Por isso, vamos utilizar nossos recursos para aumentar a conscientização, atacar aqueles contrários e apoiar aqueles que estão ajudando a levar nosso mundo à liberdade e democracia”, finalizou a mensagem.
Campanha de solidariedade
Enquanto as comunidades hackers manifestam solidariedade ao WikiLeaks com a "guerra da informação", ativistas de diversos movimentos sociais iniciam uma grande campanha de apoio ao site e a seu fundador através de uma petição que circula pela internet. Veja, abaixo, a mensagem que está sendo disparada para mailings de várias partes do mundo pedindo adesão à campanha de apoio ao WikiLeaks:
Caros amigos,
A campanha de intimidação massiva contra o WikiLeaks está assustando defensores da mídia livre do mundo todo.
Advogados peritos estão dizendo que o WikiLeaks provavelmente não violou nenhuma lei. Mas mesmo assim políticos dos EUA de alto escalão estão chamando o site de grupo terrorista e comentaristas estão pedindo o assassinato de sua equipe. O site vem sofrendo ataques fortes de países e empresas, porém o WikiLeaks só publica informações passadas por delatores. Eles trabalham com os principais jornais (NY Times, Guardian, Spiegel) para cuidadosamente selecionar as informações que eles publicam.
A intimidação extra judicial é um ataque à democracia. Nós precisamos de uma manifestação publica pela liberdade de expressão e de imprensa. Assine a petição pelo fim dos ataques e depois encaminhe este email para todo mundo – vamos conseguir 1 milhão de vozes e publicar anúncios de página inteira em jornais dos EUA esta semana!
http://www.avaaz.org/po/wikileaks_petition/?vl
O WikiLeaks não age sozinho – eles trabalham em parceria com os principais jornais do mundo (NY Times, Guardian, Der Spiegel, etc) para cuidadosamente revisar 250.000 telegramas (cabos) diplomáticos dos EUA, removendo qualquer informação que seja irresponsável publicar. Somente 800 cabos foram publicados até agora. No passado, a WikiLeaks expôs tortura, assassinato de civis inocentes no Iraque e Afeganistão pelo governo, e corrupção corporativa.
O governo dos EUA está usando todas as vias legais para impedir novas publicações de documentos, porém leis democráticas protegem a liberdade de imprensa. Os EUA e outros governos podem não gostar das leis que protegem a nossa liberdade de expressão, mas é justamente por isso que elas são importantes e porque somente um processo democrático pode alterá-las.
Algumas pessoas podem discordar se o WikiLeaks e seus grandes jornais parceiros estão publicando mais informações que o público deveria ver, se ele compromete a confidencialidade diplomática, ou se o seu fundador Julian Assange é um herói ou vilão. Porém nada disso justifica uma campanha agressiva de governos e empresas para silenciar um canal midiático legal. Clique abaixo para se juntar ao chamado contra a perseguição:
http://www.avaaz.org/po/wikileaks_petition/?vl
Você já se perguntou porque a mídia raramente publica as histórias completas do que acontece nos bastidores? Por que quando o fazem, governos reagem de forma agressiva, Nestas horas, depende do público defender os direitos democráticos de liberdade de imprensa e de expressão. Nunca houve um momento tão necessário de agirmos como agora.
Hackers bloqueiam site de banco suíço que fechou conta do WikiLeaks
Hackers simpatizantes do fundador do portal Wikileaks, Julian Assange, bloquearam a página de internet do banco suíço PostFinance, depois de a entidade ter fechado a conta do australiano.
O porta-voz do banco afirmou à agência de notícias suíça ATS que a página estava bloqueada desde as 19h30 (horário de Brasília) de segunda-feira, em um "ataque" que relaciona ao fechamento da conta de Assange.
O PostFinance, braço financeiro dos Correios da Suíça, decidiu ontem fechar a conta do fundador do WikiLeaks aberta para receber doações dos seguidores de seu site após o anúncio de que o PayPal, através do qual o portal recebia doações, tinha optado também por fechar sua conta.
A entidade financeira suíça informou que tenta recuperar o mais breve possível o funcionamento normal de seu site, já que o bloqueio gerou inúmeras queixas de seus clientes.
O Partido Pirata da Suíça, que cedeu ao WikiLeaks um endereço IP do país, e cujo presidente, Daniel Simonet, anunciou em seu blog seu apoio a Assange, negou envolvimento no ataque cibernético.
30/11/2010
Por dentro do Wikileaks: a democracia passa pela transparência radical
Fui convidada por Julian Assange e sua equipe para trazer ao público brasileiro os documentos que interessam ao nosso país. Para esse fim, o Wikileaks decidiu elaborar conteúdo próprio também em português. Todos os dias haverá no site matérias fresquinhas sobre os documentos da embaixada e consulados norte-americanos no Brasil.
Por trás dessa nova experiência está a vontade de democratizar ainda mais o acesso à informação. O Wikileaks quer ter um canal direto de comunicação com os internautas brasileiros, um dos maiores grupos do mundo, e com os ativistas no Brasil que lutam pela liberdade de imprensa e de informação. Nada mais apropriado para um ano em que a liberdade de informação dominou boa parte da pauta da campanha eleitoral.
Buscando jornalistas independentes, Assange busca furar o cerco de imprensa internacional e da maneira como ela acabada dominando a interpretação que o público vai dar aos documentos. Por isso, além dos cinco grandes jornais estrangeiros, somou-se ao projeto um grupo de jornalistas independentes. Numa próxima etapa, o Wikileaks vai começar a distribuir os documentos para veículos de imprensa e mídia nas mais diversas partes do mundo.
Assange e seu grupo perceberam que a maneira concentrada como as notícias são geradas – no nosso caso, a maior parte das vezes, apenas traduzindo o que as grandes agências escrevem – leva um determinado ângulo a ser reproduzido ao infinito. Não é assim que esses documentos merecem ser tratados: “São a coisa mais importante que eu já vi”, disse ele.
Não foi fácil. O Wikileaks já é conhecido por misturar técnicas de hackers para manter o anonimato das fontes, preservar a segurança das informações e se defender dos inevitáveis ataques virtuais de agências de segurança do mundo todo.
Assange e sua equipe precisam usar mensagens criptografadas e fazer ligações redirecionados para diferentes países que evitam o rastreamento. Os documentos são tão preciosos que qualquer um que tem acesso a eles tem de passar por um rígido controle de segurança. Além disso, Assange está sendo investigado por dois governos e tem um mandado de segurança internacional contra si por crimes sexuais na Suécia. Isso significou que Assange e sua equipe precisam ficar isolados enquanto lidam com o material. Uma verdadeira operação secreta.
Documentos sobre Brasil
No caso brasileiro, os documentos são riquíssimos. São 2.855 no total, sendo 1.947 da embaixada em Brasília, 12 do Consulado em Recife, 119 no Rio de Janeiro e 777 em São Paulo.
Nas próximas semanas, eles vão mostrar ao público brasileiro histórias pouco conhecidas de negociações do governo por debaixo do pano, informantes que costumam visitar a embaixada norte-americana, propostas de acordo contra vizinhos, o trabalho de lobby na venda dos caças para a Força Aérea Brasileira e de empresas de segurança e petróleo.
O Wikileaks vai publicar muitas dessas histórias a partir do seu próprio julgamento editorial. Também vai se aliar a veículos nacionais para conseguir seu objetivo – espalhar ao máximo essa informação. Assim, o público brasileiro vai ter uma oportunidade única: vai poder ver ao mesmo tempo como a mesma história exclusiva é relatada por um grande jornal e pelo Wikileaks. Além disso, todos os dias os documentos serão liberados no site do Wikileaks. Isso significa que todos os outros veículos e os próprios internautas, bloggers, jornalistas independentes vão poder fazer suas próprias reportagens. Democracia radical – também no jornalismo.
Impressões
A reação desesperada da Casa Branca ao vazamento mostra que os Estados Unidos erraram na sua política mundial – e sabem disso. Hillary Clinton ligou pessoalmente para diversos governos, inclusive o chinês, para pedir desculpas antecipadamente pelo que viria. Para muitos, não explicou direto do que se tratava, para outros narrou as histórias mais cabeludas que podiam constar nos 251 mil telegramas de embaixadas.
Ainda assim, não conseguiu frear o impacto do vazamento. O conteúdo dos telegramas é tão importante que nem o gerenciamento de crise de Washington nem a condenação do lançamento por regimes em todo o mundo – da Austrália ao Irã – vai conseguir reduzir o choque.
Como disse um internauta, Wikileaks é o que acontece quando a superpotência mundial é obrigada a passar por uma revista completa dessas de aeroporto. O que mais surpreende é que se trata de material de rotina, corriqueiro, do leva-e-traz da diplomacia dos EUA. Como diz Assange, eles mostram “como o mundo funciona”.
O Wikileaks tem causado tanto furor porque defende uma ideia simples: toda informação relevante deve ser distribuída. Talvez por isso os governos e poderes atuais não saibam direito como lidar com ele. Assange já foi taxado de espião, terrorista, criminoso. Outro dia, foi chamado até de pedófilo.
Wikileaks e o grupo e colaboradores que se reuniu para essa empreitada acreditam que injustiça em qualquer lugar é injustiça em todo lugar. E que, com a ajuda da internet, é possível levar a democracia a um patamar nunca imaginado, em que todo e qualquer poder tem de estar preparado para prestar contas sobre seus atos.
O que Assange traz de novo é a defesa radical da transparência. O raciocínio do grupo de jornalistas investigativos que se reúne em torno do projeto é que, se algum governo ou poder fez algo de que deveria se envergonhar, então o público deve saber. Não cabe aos governos, às assessorias de imprensa ou aos jornalistas esconder essa ou aquela informação por considerar que ela “pode gerar insegurança” ou “atrapalhar o andamento das coisas”. A imprensa simplesmente não tem esse direito.
É por isso que, enquanto o Wikileaks é chamado de “irresponsável”, “ativista”, “antiamericano” e Assange é perseguido, os cinco principais jornais do mundo que se associaram ao lançamento do Cablegate continuam sendo vistos como exemplos de bom jornalismo – objetivo, equilibrado, responsável e imparcial.
Uma ironia e tanto.
*Natália Viana é jornalista e colaboradora do Opera Mundi
MATERIA ORIGINAL EM> viamundo
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O site Wikileaks vem sofrendo todos os tipos de ataques e censuras. Desde ataques eletrônicos como o DDoS, um tipo de ataque onde vários robôs acessam o site ao mesmo tempo tornando impossível que outras pessoas consigam acessá-lo. O ataque DDoS sofrido pelo Wikileaks tomou cerca de 10Gigabits de banda de internet, deixando o site inacessível para todo o mundo.
Uma forma de contornar o problema foi mudar o site de servidor, para isso o Wikileaks começou a usar serviços de hospedagem da empresa Amazon, que devido à pressão política do governo dos EUA acabou desligando os servidores. Agora a Amazon é alvo de críticas de todo o mundo, inclussive Daniel Ellsbergh, que vazou o famoso ‘Papéis do Pentágono’, está chamando um boicote à empresa. Principalmente porque outra provedora, desta vez a francesa OVH, recusou fazer o mesmo. Recebendo pressão de políticos da França, a OVH respondeu que não são políticos ou a OVH que podem decidir desligar ou não um servidor, tem que ser um juiz. Ou seja, o servidor, ou melhor, quem é responsável por ele tem o direito de se defender perante a justiça e somente um juiz pode dizer se ele deve ou não ser desligado.
Depois foi a vez do servico de DNS (onde você configura um domínio para apontar para um endereço de IP) everydns.com que também removeu o domínio Wikileaks.org de seus servicos, alegando que os ataques DDoS estavam prejudicando outros usuários.
Mais uma vez Wikileaks teve que ‘burlar’ o sistema e lançou o domínio Wikileaks.ch. Mas como internautas de todo o mundo vem alertando as autoridades e empresas que querem censurar o site, TODOS SOMOS WIKILEAKS. Wikileaks é uma idéia, não é uma pessoa ou um computador.
E foi assim que a comunidade mundial, em ação direta e espontânea, mostrou que não será possível calar o Wikileaks tão fácil. Em algumas horas, diversas pessoas de todo o mundo começaram a hospedar uma ‘cópia’ do site em seus próprios servidores. Espalhando diversos ‘wikileaks’ pelo mundo. As pessoas vem usando seus próprios domínios para manter as informações disponíveis para o público. Você vai encontrar por aí
http://wikileaks.indymedia.org/, http://wikileaks.indymedia.org.uk/, http://wikileaks.lalistadesinde.net/, http://wikileaks.insertco.in/, http://wl.ownage4u.nl/, http://wikileaks.teoriza.org/ e por aí vai! Para ter uma noção da dimensão desta ação, faça uma busca no site Twitter pela tag ‘#savewikileaks‘ e você verá a enorme quantidade de espelhos/cópias que estão surgindo.
Wikileaks se multiplicou pela internet como uma praga que nenhuma autoridade ou empresa consiguirá controlar! Se você tem um servidor e um domínio baixe o site wikileaks e crie também uma cópia/espelho!
No momento a melhor forma de baixar é:
wget -m http://wikileaks.nl
ContinuePor: João Leno Lima
Quem sabe um “jornal invisível” ?
Mídia tática mais que uma alternativa para uma gama de informações cada vez mais falseadora e manipuladora é uma alternativa dentro da própria sufocação da verdade que é síntese do estado de coisas do nosso mundo.
Os ultimos acontecimentos com o WikiLeaks e os jogos politicos e acusação de manipulação de vários institutos de pesquisa na última eleição no país mostram que se tem alguem em quem confiar, a mídia não é esse “alguém”.
Dominada por interesses corporativos, publicidade selvagem em nome do consumismo como base da felicidade de uma sociedade doente nos soterra e com pouco ar e pouca luz somos submetidos a verdade “oficial” ditada por governos cada vez mais dispostos a falsear a democracia, uma democracia conveniente ao bolso-buraco negro do capital.
Obvio? elemantar?
Negativismo e factoides espetaculares (como a verdadeira sociedade do espetáculo) pulam de dentro das páginas dos jornais. O mundo múltiplo se encarna cada vez mais nocivo, mais letal, o estado cada vem atuando com mãos fortes as pessoas cada vez mais refens do invisível, da esquizofrenia do amor e do sexo, da pertubadora obrigação de ter que “vencer” o “sucesso” é fundamental para a leitura de um bom cidadão, so quem fica para tras é aquele incapaz de acompanhar os processos. Não há questionamentos, não há tempo para dúvida, anarquismo psiquico ou comida na mesa? filosofia ou curriculo em todas as empresas?. Mão de obra barata ou falta de computador para falar com os amigos indefesos do outro universo? ordem? bopes estabalecendo a “segurança nacional”? terrorismo de um estado de ditadura inosciente. E o homem, ser selvagem por natueza e capaz de romper e se recriar por natureza é uma criança enjaulada no circo do poder.
Mas, como disse no começo, quem sabe um “jornal invisível” ?
Mídia terrorista-subliminar, noticiais que interessem ao mundo mágico dos loucos, vulgo, TODOS, matérias quem iludam, não com mentiras mas com verdades indemostráveis (a ciência e os materialistas brandam! útopico!) mas o Jornal invisível nao se calará, mostrará, não seu próprio interesse, mas a ironia do que é o “interesse maior” ruas abandonas e obras inacabadas? e o que é mais ironico…Nada é importante.
Anaco-notícias em forma de poesia e sangrando e expulsando a sede, sim, a sede pelo nagativismo ( basta abrir os cadernos policiais e verá a banalização da vida e das relaçoes humanas) Ilusão de ótica? falacias cotidianas?. Mas se nada é importante porque iriamos nos importar em sermos fieis a “realidade”. Assumimos que há múltiplas realidades e dentro delas respeitamos que o ser humano deve ler-ser-viver-agir conforme sua selvageria espiritual não-entubada pela publicidade, a imposiçao em nossas crianças pela ultra tecnologia vazia, pela febre dos descontos daquilo que realmente não precisamos. Mas, o que precisamos? o ser humano, o ser mais inquieto da via lactea precisa aprender a ser livre. Nas escolas, nos parques, nos onibus ou no banheiro de casa, o exercicio de pensar por si mesmo deve ser retrabalhado para as próximas gerações. Outras sistemas, outras alternativas de mídia, a anarquia não como fobia implantada para chama-la de desordem. Mas como uma lei da dualidade humana em sua plenitude.
O Jornal invisível mostrará o que aqueles que contam o seu lado da história, digo, o lado “oficil” não querem mostrar. O sonho, o utopico, o ludico, o iracional, o anarquico, o livre, até a mais sincera liberdade de apenas gritar para ninguem ouvir ou como diz o poeta:
PARA QUE TODOS OUÇAM MEU SILÊNCIO.
09-12-2010
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Muro onde acontece a ação.
Por: João Leno Lima
Marituba ao longo dos anos produziu e mostrou em seus seios que tem vocação para artes e para a vanguarda na chamada “região metropolitana”. Suas bandas, seus grafiteiros, poetas, tem na capital e até fora dela um respaldo histórico que merece respeito. Justamente desse aglomerado que insiste em ser disperso mas que detém uma riqueza de pensamentos e postura nasce o Movimento Alternativo de Marituba. Mas o que é o Movimento Alternativo de Marituba? E, sobretudo, quais suas ações de fato pela cidade, quais seus projetos e são alternativos a que?
Não poderia responder tais questionamentos, mas poderia dizer que a cidade merece e precisa de movimentos assim, mas não como apenas uma nomenclatura e sim com fatos que se não mudam a vida das pessoas, pelo menos interfiram na sua rotina cotidiana.
Nos últimos anos, o MURO, da caixa d água na praça da matriz se tornou um símbolo desse alternativismo centralizado na figura do artista. O que significa o artista? Será ele mais importante que sua obra no âmbito da arte? Minha resposta é NÃO.
Para se poder trazer noção a luz da arte contemporânea, evidenciamos dezenas de movimentos, coletivos, grupos, performms, grupos ativistas, grupos espalhados pela grande rede e pelos arredores das cidades resistindo a tentação de ser artista e sim ser antes de tudo pessoas que dialogam com sua própria realidade. Diversas linhas dispostas ao desequilíbrio. A Arte de rua ganhou seu papel de destaque, sobretudo em países de terceiro mundo mão não só eles, vide o Culture Jammers no Canadá e os grupos de boicote como Yamango em paris e Hcktvismo como o Microfobia em Curitiba.
A reflexão toma o seu direcionamento essencial: Qual o papel que o Movimento Alternativo de Marituba desempenha para as pessoas da cidade que não seja o de promover uma “festa” anual na praça central para mostrar que os artistas existem? Existem onde? Para si mesmos?.
Clichês centrais devem ser expostos: Ego é um deles. Ou se coloca o orgulho e os narcisismos intelectuais bem de lado e se trabalha com cooperação e colobaração entre todos os artistas (ok não necessariamente todos mas aqueles que querem andar pra frente) e se traça planos de ações, organizações para oficinas, exposições, interferências que realmente tenham e mereçam alguma atenção daquelas pessoas que pouco estão interessadas na “arte” ou se espera o amadurecimento de uma nova geração disposta a romper com os paradigmas e que queria se organizar para desorganizar a máquina da alienação em todas as suas esferas.
Há de se esperar mais quanto tempo?
Enquanto a Movimento Alternativo de Marituba, continuar, se levando a sério demais e não fazer uma reflexão sobre quais as verdadeiras razões do movimento, o que veremos é mais um ano se passando, a cidade tomada por drogas diversas e cultura de pão & circo na praça e artistas saindo por seus poros (porque a arte gosta desse sujeira e desse caos) mas ficando ali, restritos, como movimento. Se por acaso se branda aos quatro cantos que somos alternativos e fazemos resistência ao estado de coisas que querem nos engolir, ao ficarmos na inércia da não-ação e apoiados em nossos próprios umbigos “artísticos’’ seremos tão ou mais alienadores e alienados que aquelas pelo qual queremos ser a alternativa.
A Arte que encontre o seu lugar.
03/12/2010
ContinuePor: João Leno Lima
O fato é que dentro de um contexto globalizante a arte se diluiu como um elemento contemplativo frente as faces do capital e sua razão transpassa a lógica mas poucos sabem qual seu papel e sua posição perante o estado de coisas do mundo pós-século XX. A sombra do mercado e o soterramento de informação criaram uma espécie de vasto campo que mais parece um longo deserto-cratera no coração da sociedade atual. Fixar um ponto na arte como se fossemos fixar uma bandeira de individualização realista ou pós-realista funde-se numa suprema ilusão, talvez até maior que as inspirações da arte conceitual.
O artista caiu num abismo e se espatifou e grudou seus artefatos em teias mercadológicas e linearidade que se choca com uma porta elementar: Liberdade. Se a arte atual virou-se contra seu próprio ponto de referencia e se fixou num caldeirão mexido pelas mãos das prateleiras, com pitadas de tecnologia e vanguardismos diversos, o artista virou refém não de suas próprias ambições e sim da maquete “materializada” do trabalho onde o dinheiro pode levar.
Esse impasse transformou a arte fins do século XX e XXI num apanhado de fragmentações gritantes entre si, mas quem são esses artistas? Há realmente espaço para a livre criação ou tudo se resume ao espaço dada como PROVA meterial de sucesso e “bem sucedida” arte? O ponto chave da discussão sobre os passos da arte ou “pós-arte” é a sua fundamentação avessa a qualquer ponto revolucionário. Tanto cinema como livros e música ganharam um caráter de efemeridade que transformou em muitos casos (vide o cinema) em marca e expressão de uma desilusão desestruturante que o leva a patamares lastimantes como produto.
Com a velocidade que as informações tomam conta dos noticiários em uma mídia cada vez mais negativista, imediatista, banalista e falseadora, a internet assume um posto de trincheira em diversos campos e com ela podemos sobrevoar muito do que acontece hoje pelo mundo das artes. Mas, o mundo respira mais arte ou apenas CONSOME mais arte?. O rótulo de “genial” e “artista” nunca foi tão impregnado com tanta convicção, ao mesmo tempo em que, com tão pouco critério, a verdade é que se fabrica um gênio a cada semana e um artista em cada momento. O que a filosofia da arte tem a dizer sobre isso? Nada.
A impressão (apenas impressão) é que há mais artistas hoje em dia do que em outras épocas, mas em contrapartida, há tão poucos dispostos ao confronto com a deformidade lúcida que a sociedade do capital se tornou. As delimitações parecem ser invisíveis, mas se sabe que sem as regras ditadas pelo lucro e o trabalho “forçado” força a arte em esferas globais a ser mais apenas um elemento de “bem estar” ou “entreterimento” e em muitos casos, apenas para o próprio artista. O artista se conformou em trocar suas ferramentas do pensamento pelas ferramentas do lucro e da sobrevivência pós inspiração e aceitou isso como parte essencial da sua humanidade ou na hipotese mais desesperadora, da sua própria sobrevivência.
Ou a arte assume um caráter, uma posição de posicionamento – como uma alternativa vivencialista e autônoma – que seja parte da sociedade em que existe sem apenas ser um subproduto intelectual (sobretudo em paises do terceiro mundo) ou continuará refém de ter seu destino nos baús das gavetas do mercado após vim a ser celebrada (em algum momento ou segundo) como um sorriso de artista para artista e um longínquo esquecimento onde se agurdará a próxima “arte” que ira alimentar o imediatista mundo em que vivemos.
ContinueBob Black
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Groucho-marxismo, a teoria da revolução cômica, é muito mais que um projeto para a luta de classes: como uma luz vermelha numa janela, ele ilumina o destino inevitável da humanidade, a sociedade desclassificada (1). G-Marxismo é a teoria da folia permanente. (Aí, garoto! Até que enfim, eis um ótimo dogma).
2
O exemplo dos próprios Irmãos Marx mostra a unidade da teoria e prática marxista (por exemplo, quando Groucho insulta alguém enquanto Harpo depena sua carteira ). Além disso, o marxismo é dialético (Chico não é o clássico comediante dialético?). Comediantes que fracassam em sintetizar teoria e prática (para não mencionar aqueles que fracassam totalmente em pecar) são não-marxistas. Comediantes posteriores, fracassando em entender que a separação é “o discreto charme da burguesia”, decaíram para meras gafes, por um lado, e mera tagarelice, por outro.
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Como o G-Marxismo é prático, seus feitos não podem nunca ser reduzidos ao mero humor, entretenimento ou “arte”. (Os estetas, afinal de contas, estão menos interessados na interpretação da arte do que na arte que interpreta.) Depois que um genuíno marxista assiste a um filme dos Irmãos Marx, ele diz para si mesmo: “Se você achou isso engraçado, preste atenção à sua vida!”.
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G-marxistas contemporâneos devem decididamente denunciar o “Marxismo” vulgar, de imitação, dos Três Patetas, Monty Python, e Pernalonga. Em vez do marxismo vulgar, devemos retornar à autêntica vulgaridade marxista. Retoficação (2) serve igualmente para aqueles camaradas desiludidos que pensam que “a linha correta” é o que o tira faz quando manda eles pararem no acostamento.
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Marxistas com consciência de classe (isto é, marxistas conscientes de que não possuem nenhuma classe) devem rejeitar a “comédia” anêmica, da moda, narcisista, de revisionistas cômicos como Woody Allen e Jules Feiffer. A revolução cômica já ultrapassou a mera neurose – ela é risonha mas não risível, discriminante mas não discriminatória, militante mas não militar, e aventurosa mas não aventureira. Os marxistas percebem que hoje você deve olhar no espelho de uma casa assombrada de parque de diversões para se ver da forma que você realmente é.
6
Embora não totalmente desprovido de vislumbres de insight marxista, o (sur)realismo socialista deve ser distinguido do G-Marxismo. É verdade que Salvador Dali deu uma vez a Harpo uma harpa feita com arame farpado; no entanto, não há nenhuma evidência de que Harpo alguma vez a tenha tocado.
7
Acima de tudo, é essencial renunciar e execrar todo sectarismo cômico como o dos trotskos eqüinos. Como é bem sabido, Groucho repetidamente propunha o sexo mas se opunha às seitas. Para Groucho, havia uma diferença entre ser um trotsko e estar louco para “trotar” (3). Além disso, o slogan trotsko “Salários para o Trabalho Eqüino” cheira a reforma, não a folia. Os esforços trotskos para reivindicar Um dia nas Corridas e Os Gênios da Pelota como de sua tendência devem ser indignadamente rejeitados; na verdade, A Mocidade é Assim Mesmo está mais na velocidade deles (4).
8
O assunto mais urgente que os G-Marxistas confrontam hoje é a questão do partido (5), que - ao invés do que pensam “marxistas” ingênuos, reducionistas – é mais que apenas “Por que não fui convidado?” Isso nunca foi impedimento para Groucho! Os marxistas precisam de seu próprio partido disciplinado de vanguarda, pois eles são raramente bem-vindos aos de qualquer outro.
9
Guiadas pelos dogmas fundamentais do desbehaviorismo e do materialismo histérico, as massas inevitavelmente abraçarão, não apenas o G-Marxismo, mas também mutuamente uns aos outros.
10
O Groucho Marxismo, então, é o tour de farce da comédia. Como seguramente se diz que Harpo falou:
“Em outras palavras, a comédia será revoltosa ou não será!” Tanto por fazer, tantos para fazê-lo! Sobre seus Marx, está dada a largada! (6)
Notas:
1. No original, déclassé. (N. do Tradutor)
2. “Rectumfication”, neologismo bricalhão que Black inventou a partir de “retificação” e “reto” (rectum, canal do ânus). (N. do T.)
3. Trocadilho aqui intraduzível entre “Trots” (trotskistas) e “hot to trot” (excitado para trepar), sem esquecer a brincadeira com os eqüinos pois “to trot” significa trotar. (N. do T.)
4. Um dia nas Corridas (A Day in the Races) e Os Gênios da Pelota (Horse Feathers) são filmes dos Irmãos Marx, enquanto A Mocidade é Assim Mesmo (National Velvet) é um velho drama onde Liz Taylor atuou ainda garota. (N. do T.)
5. Mais um trocadilho neste texto pleno deles: “party” é tanto partido quanto festa em inglês. Para entender a piada melhor, leia o parágrafo com os dois significados, substituindo onde houver “partido” por “festa”. (N. do T.)
6. Outro trocadilho praticamente intraduzível, desta vez com a exclamação que dá início a competições de corrida : “On your marks, get set –go!” aqui trocada por “On your Marx, get set – go!”. (N. do T.)
Tradução de Ricardo Rosas
Fonte: Página de Bob Black na Spunk (http://web.archive.org/web/20071028113526/http://www.spunk.org/library/writers/black/).
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por Julian Assange [*]
WIKILEAKS merece protecção, não ameaças e ataques.
Em 1958 o jovem Rupert Murdoch, então proprietário e editor do jornal The News, de Adelaide, escreveu: "Na corrida entre o segredo e a verdade, parece inevitável que a venda sempre vença".
A sua observação talvez reflicta o desmascaramento feito pelo seu pai, Keith Murdoch, de que tropas australianas estavam a ser sacrificadas inutilmente nas praias de Galipoli por comandantes britânicos incompetentes. Os britânicos tentaram calá-lo mas Keith Murdoch não foi silenciado e os seus esforços levaram ao término da desastrosa campanha de Galipoli.
Aproximadamente um século depois, WikiLeaks está também a publicar destemidamente factos que precisam ser tornados públicos.
Criei-me numa cidade rural em Queensland onde as pessoas falavam dos seus pensamentos directamente. Elas desconfiavam do governo como de algo que podia ser corrompido se não fosse vigiado cuidadosamente. Os dias negros de corrupção no governo de Queensland antes do inquérito Fitzgerald testemunham do que acontece quando políticos amordaçam os media que informam a verdade.
Estas coisas ficaram em mim. WikiLeaks foi criado em torno destes valores centrais. A ideia, concebida na Austrália, era utilizar tecnologias da Internet de novas maneiras a fim de relatar a verdade.
WikiLeaks cunhou um novo tipo de jornalismo: jornalismo científico. Trabalhamos com outros media para levar notícias às pessoas, assim como para provar que são verdadeiras. O jornalismo científico permite-lhe ler um artigo e então clicar online para ver o documento original em que se baseia. Esse é o modo como pode julgar por si próprio: Será verdadeiro este artigo? Será que o jornalista informou com rigor?
Sociedades democráticas precisam de meios de comunicação fortes e WikiLeaks faz parte desses media. Os media ajudam a manter o governo honesto. WikiLeaks revelou algumas verdades duras acerca das guerras do Iraque e Afeganistão, e desvendou notícias acerca da corrupção corporativa.
Há quem diga que sou anti-guerra: para que conste, não sou. Por vezes os países precisam ir à guerra e há guerras justas. Mas não há nada mais errado do que um governo mentir ao seu povo acerca daquelas guerras, pedindo então a estes mesmos cidadãos para porem as suas vidas e os seus impostos ao serviço daquelas mentiras. Se uma guerra é justificada, então digam a verdade e o povo decidirá se a apoia.
Se já leu algum dos registos da guerra do Afeganistão ou do Iraque, algum dos telegramas da embaixada dos EUA ou algumas das histórias acerca das coisas que WikiLeaks informou, considere quão importante é para todos os media ter capacidade para relatar estas coisas livremente.
WikLeaks não é o único divulgador dos telegramas de embaixadas dos EUA. Outros media, incluindo The Guardian britânico, The New York Times, El Pais na Espanha e Der Spiegel na Alemanha publicaram os mesmos telegramas.
Mas é o WikiLeaks, como coordenador destes outros grupos, que tem enfrentado os ataques e acusações mais brutais do governo dos EUA e dos seus acólitos. Fui acusado de traição, embora eu seja australiano e não cidadão dos EUA. Houve dúzias de apelos graves nos EUA para eu ser "removido" pelas forças especiais estado-unidenses. Sarah Palin diz que eu deveria ser "perseguido e capturado como Osama bin Laden", um projecto de republicano no Senado dos EUA procura declarar-me uma "ameaça transnacional" e desfazer-se de mim em conformidade. Um conselheiro do gabinete do primeiro-ministro do Canadá apelou na televisão nacional ao meu assassinato. Um bloguista americano apelou a que o meu filho de 20 anos, aqui na Austrália, fosse sequestrado e espancado por nenhuma outra razão senão a de atingir-me.
E os australianos deveriam observar com nenhum orgulho o deplorável estímulo a estes sentimentos por parte de Julia Gillard e seu governo. Os poderes do governo australiano parecem estar à plena disposição dos EUA quer para cancelar meu passaporte australiano ou espionar ou perseguir apoiantes do WikiLeaks. O procurador-geral australiano está a fazer tudo o que pode para ajudar uma investigação estado-unidense destinada claramente a enquadrar cidadãos australianos e despachá-los para os EUA.
O primeiro-ministro Gillard e a secretária de Estado Hillary Clinton não tiveram uma palavra de crítica para com as outras organizações de media. Isto acontece porque The Guardian, The New York Times e Der Spiegel são antigos e grandes, ao passo que WikiLeaks ainda é jovem e pequeno.
Nós somos os perdedores. O governo Gillard está a tentar matar o mensageiro porque não quer que a verdade seja revelada, incluindo informação acerca do seu próprio comportamento diplomático e político.
Terá havido alguma resposta do governo australiano às numerosas ameaças públicas de violência contra mim e outros colaboradores do WîkLeaks? Alguém poderia pensar que um primeiro-ministro australiano defendesse os seus cidadãos contra tais coisas, mas houve apenas afirmações de ilegalidade completamente não fundamentadas. O primeiro-ministro e especialmente o procurador-geral pretendem cumprir seus deveres com dignidade e acima da perturbação. Fique tranquilo, aqueles dois pretendem salvar as suas próprias peles. Eles não conseguirão.
Todas as vezes que WikiLeaks publica a verdade acerca de abusos cometidos por agências dos EUA, políticos australianos cantam um coro comprovadamente falso com o Departamento de Estado: "Você arriscará vidas! Segurança nacional! Você põe tropas em perigo!" Mas a seguir dizem que não há nada de importante no que WikiLeaks publica. Não pode ser ambas as coisas, uma ou outra. Qual é?
Nenhuma delas. WikiLeaks tem um historial de publicação quatro anos. Durante esse tempo mudámos governos, mas nem uma única pessoa, que se saiba, foi prejudicada. Mas os EUA, com a conivência do governo australiano, mataram milhares de pessoas só nestes últimos meses.
O secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates, admitiu numa carta ao congresso estado-unidense que nenhumas fontes de inteligência ou métodos sensíveis haviam sido comprometidos pela revelação dos registos de guerra afegãos. O Pentágono declarou que não havia evidência de que as informações do WikiLeaks tivessem levado qualquer pessoa a ser prejudicada no Afeganistão. A NATO em Cabul disse à CNN que não podia encontrar uma única pessoa que precisasse de proteger. O Departamento da Defesa australiano disse o mesmo. Nenhuma tropa ou fonte australiana foi prejudicada por qualquer coisa que tivéssemos publicado.
Mas as nossas publicações estavam longe de serem não importantes. Os telegramas diplomáticos dos EUA revelam alguns factos estarrecedores:
- Os EUA pediram aos seus diplomatas para roubar material humano pessoal e informação de responsáveis da ONU e de grupos de direitos humanos, incluindo DNA, impressões digitais, escanerização de íris, números de cartão de crédito, passwords de Internet e fotos de identificação, violando tratados internacionais. Presumivelmente, diplomatas australianos na ONU também podem ser atacados.
- O rei Abdula da Arábia Saudita pediu que os EUA atacassem o Irão.
- Responsáveis na Jordânia e no Bahrain querem que o programa nuclear do Irão seja travado por quaisquer meios disponíveis.
- O inquérito do Iraque na Grã-Bretanha foi viciado para proteger "US interests".
- A Suécia é um membro encoberto da NATO e a partilha da inteligência dos EUA é resguardada do parlamento.
- Os EUA estão a agir de forma agressiva para conseguir que outros países recebam detidos libertados da Baia de Guantanamo. Barack Obama só concordou em encontrar-se com o presidente esloveno se a Eslovénia recebesse um prisioneiro. Ao nosso vizinho do Pacífico, Kiribati, foram oferecidos milhões de dólares para aceitar detidos.
Na sua memorável decisão no caso dos Pentagon Papers, o Supremo Tribunal dos EUA declarou: "só uma imprensa livre e sem restrições pode efectivamente revelar fraude no governo". Hoje, a tempestade vertiginosa em torno do WikiLeaks reforça a necessidade de defender o direito de todos os media revelarem a verdade.
08/Dezembro/2010
[*] Editor-chefe do WikiLeaks.
O original encontra-se em www.theaustralian.com.au/...
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
Um grupo de hackers anônimos vem atacando sites que se recusam a colaborar com a organização. Entre os principais alvos estão o PayPal e um banco suíço
Nos últimos dias o WikiLeaks vem enfrentando diversos problemas, desde ter o seu site desligado até contas congeladas. Enquanto alguns grupos se animam com ações de extermínio da organização, outros veem os ataques como um atentado à liberdade de expressão e estão se solidarizando com o site. Ambas atitudes são normais, uma vez que expor documentos confidenciais evoca uma resposta de todos, seja negativa ou positiva.
Enquanto agências dos governos não querem ter suas informações sigilosas expostas e grupos de ativistas acreditam que o WikiLeaks é uma ameaça à diplomacia internacional e à segurança nacional, outro grupo de hacktivistas - uma mistura de hackers e ativistas – está disposto a defender a organização.
O grupo de hackers ativistas chamado "Anonymous" ("Anônimos") vem atacando sites de empresas que se recusam a colaborar com o WikiLeaks. Os ataques ganharam o nome de "Operação Payback" ("Operação Vingança") e têm como objetivo paralisar os serviços destas empresas, como um banco da Suíça que congelou os ativos de Julian Assange – fundador do WikiLeaks – e o PayPal, que cancelou a conta onde a organização recebia doações para financiar o site.
A comunidade de anônimos já atua há algum tempo, mas ganhou ainda mais força após a prisão de Assange esta manhã, em Londres. O grupo explicou que embora não tenha nenhuma afiliação com o WikiLeaks, eles lutam pelas mesmas razões. "Nós queremos transparência e nos opomos à censura. As tentativas de silenciar o WikiLeaks são grandes passos em direção a um mundo em que nós não podemos dizer o que pensamos e não somos capazes de expressar nossas opiniões e ideias".
A ideia do grupo é usar uma botnet, porém ao invés de simplesmente aproveitar o poder de várias máquinas infectadas trabalhando juntas, sem o consentimento do proprietário do computador, a "Operação Payback" está buscando voluntários que queiram participar ativamente.
Um dos membros da comunidade, conhecido como "Coldblood" ("Sangue Frio"), disse à BBC Londrina que várias coisas estão sendo feitas ao mesmo tempo. "Todos os sites que cederam à pressão dos governos estão se tornando nossos alvos". O hacktivista também revelou que "o WikiLeaks se tornou mais do que um site que publica documentos vazados, ele se tornou um ambiente de guerra: pessoas vs. governos".
MATERIA ORIGINAL EM> olhar digital
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O portal WikiLeaks, responsável por divulgar milhares de documentos secretos do governo norte-americano, começou ontem uma campanha de arrecadação de fundos para defender seu fundador.
Julian Assange atualmente é vítima de perseguição política e estaria refugiado na Inglaterra. As acusações contra ele, no entanto, partem do governo sueco, pelo suposto estupro de duas mulheres.
No final de agosto, o pedido de prisão de Assange foi suspenso pela corte sueca, mas por pressões do imperialismo norte-americano, que busca a qualquer preço um pretexto para prendê-lo, a Suécia reencaminhou ontem um novo pedido de prisão contra o fundador do WikiLeaks. O australiano nega todas as acusações, afirmando que é parte de uma campanha para moralizá-lo.
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Escrito por Cyro García
27-Nov-2010
O estado do Rio de Janeiro vive uma verdadeira guerra civil, um estado de sítio, que desmascara a demagogia e a incompetência do governador reeleito Sergio Cabral (PMDB) e seus subordinados. Para ganhar a eleição divulgaram amplamente que a cidade e o estado estavam pacificados, que tinham através das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) acabado com o tráfico e, consequentemente, com a violência.
Neste exato momento helicópteros da Polícia Civil e da Polícia Militar sobrevoam a cidade e as comunidades do Complexo do Alemão e a de Manguinhos, tentando encontrar os culpados por esta situação. As escolas estão suspendendo as aulas e os trabalhadores estão voltando mais cedo para as suas casas. No centro da cidade, as pessoas interrompem mais cedo as suas atividades. Neste momento, ônibus estão sendo incendiados, e rodovias bloqueadas por traficantes, que saqueiam os veículos e logo em seguida ateiam fogo. Nos últimos dias, mais de 40 veículos, entre ônibus e carros de passeio, foram incendiados, dezenas de bloqueios de estrada, para em seguida ser praticado o saque aos motoristas.
Em vários pontos do estado, o governador aliado de Lula tenta, através de blitz, inibir a ação dos traficantes, todos os policiais que exerciam funções internas, médicos, mecânicos, funcionários burocráticos, todos foram convocados para atuarem nas ruas das cidades como se o problema da violência fosse resolvido numa ação de guerra. Todas as medidas até agora adotadas pelo setor de segurança do estado falharam, e o que predomina é o pânico, a insegurança e a falta de uma política que de fato enfrente a violência e a insegurança.
Neste momento, a imprensa, em particular a Rede Globo, aproveita a situação para aumentar sua audiência, alardeando o caos em que se encontra a cidade e o estado, mas não fala que tudo isso se explica, por um lado, em função da miséria que vive uma parte da população, que é condenada a viver nos morros da cidade em barracos, sem empregos e com salários insignificantes, reprimida pela polícia fascista e corrupta de Sergio Cabral, pelo tráfico ou pela milícia. Por outro lado, a conivência do Estado com os grandes empresários, que têm ligação com o tráfico internacional de drogas e de armas. Estes senhores, quando são pegos, alegam que são colecionadores de armas.
Neste momento, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, disse que quem passar na frente do Estado vai ser atropelado. Os policiais traduzem as ordens do Estado e dizem que vai morrer muita gente. Treze pessoas já morreram, demonstrando qual é a política destes senhores fascistas. Vão exterminar os pobres, negros e jovens e vão dizer que são traficantes. Um bom exemplo a partir do qual não devemos confiar nestes governantes foi a instalação das UPPs na área da Tijuca - o morro do Borel, Formiga, Casa Branca, Macacos, Morro da Liberdade, Turano, Salgueiro, todos com grande presença do tráfico, com centenas de traficantes fortemente armados, foram ocupados após acordo do governo com os traficantes, que garantiu a saída de todos, com seu armamento de guerra, antes da ocupação.
Uma vergonha. Esta manobra do governador e de todos os seus aliados foi comemorada por Sérgio Cabral, Lula e Dilma, e seu secretário de Segurança, que divulgaram amplamente que tinham acabado com o tráfico e pacificado a cidade e o estado sem dar um tiro. Disseram que os traficantes fugiram assustados. Com este discurso, ganharam as eleições de outubro. Quem não lembra da candidata Dilma dizendo na televisão que iria exportar estes exemplos do Rio para o resto do país? Na verdade, o que ocorreu foi um grande acordo do Estado com os traficantes, que se deslocaram para outras regiões da cidade e do estado, preparando a região da Tijuca e da Zona Sul para receber os turistas e os investimentos da Copa do Mundo e para as Olimpíadas.
O governador e seus aliados andam de carro blindado, com escolta de seguranças, de helicóptero, enquanto nós trabalhadores ficamos vulneráveis nos ônibus, que estão frequentemente sendo incendiados. O governo aproveita esta situação para criminalizar a pobreza, estão preparando um verdadeiro extermínio nas regiões mais pobres. Está sendo preparada a invasão do Complexo do Alemão e de Manguinhos. Sabemos que quem vai pagar são os trabalhadores e a juventude, com o pretexto de atacar os traficantes, sabemos onde vai dar essa política. Se for negro e pobre, atira e depois verifica quem é.
Um programa socialista para enfrentar a violência
Não achamos que as UPPs sejam a solução. Não é possível viver sob uma ocupação. Todas as medidas de maquiagem do Estado, os cursos com os caminhões do SENAC nas comunidades (para pouquíssimas pessoas) para ensinar corte e costura e formar cabeleireiro e noções de informática, não garantem o que é o fundamental. As pessoas precisam na comunidade e no país de um bom emprego, com um salário decente. Por isso propomos que o salário mínimo dobre imediatamente. Propomos a construção de boas escolas com muitas vagas e com profissionais da educação tendo um salário decente, e não o vergonhoso salário de 700 reais que paga o estado ao professor. Defendemos a construção de bons hospitais para que os trabalhadores não morram por falta de leito nas emergências. Exigimos que o governador pare imediatamente com a demolição do IASERJ, com o fechamento do Pedro II, hospitais que são fundamentais. Queremos lazer decente, acesso à cultura, e não maquiagem para turista ver. Queremos moradias decentes e com infra-estrutura. Existe um responsável pelas ações que estão ocorrendo no estado e na cidade: é o governador, os prefeitos e o governo federal, que fizeram muito estardalhaço nas eleições e que agora nos deixam nesta situação.
Não acabaremos com a violência e com o tráfico sem descriminalização das drogas, sem colocar na cadeia os grandes empresários que traficam as armas e as drogas, sem o confisco de seus bens. Não acabaremos com violência se não tivermos empregos decentes para as nossas famílias. Precisamos dissolver essa polícia e construir uma polícia ligada à população e, principalmente, controlada por ela, com eleições para o comando e para os delegados e com mandato revogável. Exigimos o fim do extermínio dos pobres e negros. Não à invasão e ao extermínio dos moradores das comunidades.
Cyro García é presidente do PSTU - Rio de Janeiro.
Página na Web: http://www.pstu.org.br/
MATERIA ORIGINAL EM> Correio da Cidadania
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Escrito por Wladmir Coelho
05-Nov-2010
Neste texto explico os dois modelos de privatização experimentados no Brasil a partir dos anos de 1990, incluindo o modelo privatista do governo Lula
A primeira década do século XXI caracteriza-se, na América do Sul, por transformações significativas na organização econômica, notadamente no setor de petróleo e gás. A partir deste momento, o modelo regulatório, implantado a partir dos anos de 1990, perde força diante da presença do Estado-empresário, conforme observado na Venezuela, Bolívia e Equador, em oposição ao neoliberalismo de regulação cuja principal característica foi a transferência de serviços e atividades típicas do Estado para empresas privadas (CLARK, 2006).
Esta redução da presença do Estado no setor econômico, todavia, não significou a extinção das empresas estatais ou mistas para as quais ficou reservada uma atuação reduzida quando comparada ao momento anterior aos anos de 1990 (CLARK, 2006).
Esta atuação, acrescentaria, estaria em muitos momentos relacionada ao financiamento do setor privado ou transformando as estatais em espécie de órgãos regulatórios. Para o primeiro caso ilustraria apontando a organização do Gasoduto Brasil Bolívia:
O controle do Gasoduto Bolívia-Brasil encontra-se dividido da seguinte forma: em território boliviano é administrado pela Gás Transboliviano S/A, empresa cujo controle acionário pertence a Shell; no Brasil, a Petrobrás, por intermédio de sua subsidiária, a Gaspetro, controla 51% da transportadora Brasileira do Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG). Dessa empresa participam ainda a BBPP Holding (El Paso, Total, British Gás) com 29% das ações, Transredes (Shell) com 12%, Shell com 4%.
Verifica-se dessa forma que o controle do gasoduto Bolívia-Brasil, quanto à exportação, pertence na verdade a Shell, empresa responsável ainda pela administração da Transredes, cuja função é distribuir o gás no mercado interno daquele país (COELHO, 2006).
Quanto à transformação das empresas estatais em espécie de órgão regulatório continuarei utilizando como exemplo o caso boliviano, quando a Lei 1689 de 30 de abril de 1996, em seu artigo 4, reservou à estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) a "obrigação de supervisionar a aplicação, por parte das empresas privadas, dos métodos mais adequados à exploração dos recursos minerais" (COELHO, 2006).
Continuava a YPFB – de acordo com a citada lei - responsável por exercer a exploração petrolífera, mas obrigada a repassar esta função às empresas privadas através de um contrato de risco compartilhado.
Os casos boliviano e brasileiro, relativos à exploração do petróleo e gás, revelam que as técnicas de intervenção não apresentam como resultado óbvio o fechamento da economia para os setores privados através de políticas protecionistas.
Ampliando esta informação, poderíamos incluir que durante o período militar "o Estado interferiu na economia com o intuito de favorecer o crescimento de grandes empresas privadas estrangeiras ou nacionais. Pelo aspecto econômico, o resultado nefasto de tal política foi o crescimento da dependência estrutural da economia brasileira" (PIMENTA e MIRANDA, 2009).
A proposta governamental para o marco regulatório do Pré-Sal
A política econômica do petróleo no Brasil proposta pelo presidente Lula da Silva segue o processo observado desde 1934, procurando conciliar intervenção do Estado e abertura às empresas privadas nacionais e estrangeiras. Podemos fundamentar esta afirmativa a partir de uma analise do projeto de lei número 5938/2009 – de autoria do Poder Executivo – instituindo o modelo de exploração no Pré-Sal (1).
Nesta proposta é mantido como órgão regulador a Agência Nacional do Petróleo (ANP), mas fica determinada a criação de uma empresa estatal cuja função também possui caráter de órgão regulador. Esta nova estatal será responsável por gerir os contratos, indicar os presidentes e metade dos componentes dos Comitês Operacionais existentes nos blocos do Pré-Sal, além – e neste ponto, sim, assemelha-se às funções de uma empresa – de comercializar o petróleo resultante na exploração nos blocos pertencentes à União.
Os ministros Edson Lobão, Guido Mantega, Miguel Jorge, Paulo Bernardo e Dilma Rousseff assinam a exposição de motivos do citado projeto e justificam as alterações argumentando que o marco regulatório em vigor "foi fundamentado nas premissas que levaram à promulgação da Emenda Constitucional nº. 9, de 1995(...) [assim] o referido marco legal foi concebido de modo a contemplar as condições vigentes àquela época" (BRASIL, 2009). Todavia, o governo, ao encaminhar o projeto 5938/2009, não apresentou nenhuma proposta de alteração constitucional possibilitando entender que as criticadas "premissas" continuam valendo para o novo marco regulatório.
Desta forma, não seria incoerente analisar a proposta governamental considerando as características demonstradas neste trabalho do modelo neoliberal dos anos de 1990, quando a intervenção econômica passa a ser utilizada como forma de financiamento das empresas privadas.
Assim, para exploração do Pré-Sal, o projeto 5938/2009 transforma a Petrobrás em operadora de todos os blocos. Entendo esta função como "responsável pela condução e execução, direta ou indireta, de todas as atividades de exploração, avaliação, desenvolvimento, produção e desativação das instalações de exploração e produção" (BRASIL, 2009). Entretanto, o controle do bloco não cabe a Petrobrás (detentora de participação mínima de 30%), apesar de esta empresa desempenhar as funções mais onerosas, atuando, na prática, como elemento financiador.
Esta condição de operador "único" não pode ser confundida com "onipresença", podendo desaparecer considerando-se a possibilidade de individualização da produção, fato previsto quando uma jazida estende-se além do bloco concedido, obrigando a realização de um acordo mediado através da Agência Nacional do Petróleo; e deste, conforme o artigo 35 do citado projeto, a indicação de um operador, criando a possibilidade de inúmeros sub-blocos operados de modo independente àquele adotado nas áreas adjacentes de acordo com o parágrafo 2º do artigo 36 do projeto em questão.
Outro aspecto a ser observado encontra-se na realização dos leilões para participação dos 70% restantes nos blocos. Será vencedor neste procedimento a empresa ou consórcio oferecedor da maior quantidade de petróleo ao Estado diante de valor mínimo estabelecido em edital. Esta quantidade não se encontra definida no projeto 5938/2009, criando as condições de sua livre adaptação às necessidades das empresas interessadas. E tratando-se de um setor oligopolizado, a proposta governamental também se torna frágil considerando-se a possibilidade de um acordo, quando da apresentação das propostas, entre as empresas interessadas de divisão das áreas de atuação.
Este ponto repercute diretamente no projeto 5940/2009, tratando da criação do Fundo Social a ser formado, dentre outras fontes, por recursos originados na comercialização estatal do petróleo. O citado Fundo é constantemente apontado como a fórmula de garantir a aplicação do poder econômico originado no petróleo em melhorias sociais, impedindo a repetição dos exemplos observados em outros países produtores, quando a exploração do mineral não resultou em avanços sociais para a população.
Considerando a fórmula encontrada através do projeto 5938/2009, o volume de recursos destinado ao futuro Fundo Social será estabelecido em função das políticas econômicas das empresas, tornando esta uma forma compensatória infinitamente aquém do verdadeiro poder resultante da futura exploração do Pré-Sal.
Conclusões
As grandes empresas controladoras do mercado internacional de petróleo organizaram-se a partir de legislações que possibilitaram a proteção destas por parte do Estado ou por meio da ação estatal direta através da criação de empresas.
Esta característica deve-se à condição peculiar do petróleo encontrado na base da produção na condição de matéria-prima e combustível, e por isso consubstanciado em fator de segurança nacional, entendendo como parte integrante desta a manutenção da circulação dos bens e serviços (CAMARGO, 2007).
As diferentes políticas econômicas do petróleo em nosso país ainda não conseguiram associar este princípio à necessidade de auto-suficiência, que desapareceu dos debates, substituída pelo dogma mercantilista da balança comercial favorável, associado à crença liberal do acúmulo de capital e conseqüente salto – no devido tempo – para a "civilização", decorrente da exportação de matéria-prima.
Desta fórmula "mercantil- liberal" surge a necessidade de ampliação a todo custo das exportações de commodities – agora com a inclusão do petróleo do Pré-Sal –, criando-se para este fim todo tipo de atrativo para as empresas internacionais iniciarem o mais breve possível o ciclo do petróleo.
Este novo ciclo teria uma duração aproximada de 35 anos – coincidindo com o tempo de duração para os novos contratos de partilha da produção do Pré-Sal e previsão para o esgotamento dos recursos ali existentes –, período direcionado para a ampliação das pesquisas nacionais no setor petrolífero, aspecto consumidor de parcela considerável dos recursos eventualmente gerados.
Nos Estados Unidos, o presidente Obama pretende ainda em 2010 extinguir o subsídio instituído no início do século passado para a indústria petrolífera, direcionando os recursos para a pesquisa em energia alternativa aos combustíveis fósseis, na espera de em trinta anos livrar-se deles.
Ao mesmo tempo, no Brasil, a empresa criada para garantir a auto-suficiência nacional é transformada em elemento financiador dos oligopólios internacionais através de uma política cujo principal objetivo é iniciar – o mais breve possível – a exportação do petróleo do Pré-Sal.
Referências:
CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. Direito Econômico, direitos humanos e segurança coletiva. Porto Alegre, Núria Fabris, 2007.
CLARK, Giovani. Política econômica e Estado. Boletim Científico da Escola Superior do Ministério Público da União. Brasília, 2006.
COELHO, Wladmir Tadeu Silveira. A exploração petrolífera na América do Sul: Uma breve análise do caso boliviano. Boletim Científico da Escola Superior do Ministério Público da União. Brasília, 2006.
PIMENTA, Eduardo Goulart; MIRANDA, Iúlian; BARACHO JÚNIOR, José Alfredo Oliveira (Org.). Princípios e valores fundamentais da ordem econômica na Constituição de 1988 in Constituição e Democracia aplicações. Belo Horizonte, Fórum, 2009.
Nota:
(1)Existem no Congresso Nacional quatro projetos de autoria do Executivo tratando do modelo de exploração do Pré-Sal. Optamos por analisar o projeto nº. 5938/2009 por considerá-lo de maior relevância para este trabalho.
Wladmir Coelho é mestre em Direito, historiador e também conselheiro e pesquisador da Fundação Brasileira de Direito Econômico.
Contato: wladmir-coelho@ig.com.br Este endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email
TEXTO ORIGINAL EM>correio cidadania
Continuepor PCB [*]
Estimulada por uma mídia burguesa, aliada ao governo do Estado do Rio de Janeiro e à sua política de Segurança Pública, a população brasileira tem a falsa impressão de que a região metropolitana do Rio de Janeiro está prestes a viver novos dias, com uma melhora qualitativa da sensação de segurança.
Foi a busca por tal sensação de segurança que levou a grande maioria dos trabalhadores, além da totalidade dos setores médios e da elite, a parar frente à TV nos últimos dias para assistir a um espetáculo midiático, comparável à invasão do Iraque pelo imperialismo norte-americano. Era como um filme de mocinhos e bandidos, em que a grande maioria torcia avidamente para que as polícias militar e civil e ainda as Forças Armadas, simplesmente eliminassem a vida de varejistas do tráfico de drogas – mesmo que, a custo disso, morressem inocentes, e bairros populares fossem transformados em verdadeiras praças de guerra.
Os últimos acontecimentos vêm confirmar o caráter de ocupação de uma zona de guerra, onde os civis, de solo ocupado, pouco ou nenhum direito têm. Multiplicam-se denúncias ora formais, ora pelos sussurros escondidos pelo medo de moradores que tiveram dinheiros roubados pela polícia, ameaças de agressão, desaparecimentos sem explicação nenhuma dos órgãos oficiais. Cenas que parecem reflexos de um Haiti ocupado pela ONU e pelo Brasil, onde uma forte criminalização dos movimentos sociais, e da própria população ocupada, que tem até o direito de ir e vir questionado pelas "autoridades".
As denúncias ganham espaços de rodapé nos noticiários, que continuam colocando como manchete as glórias de uma policia que ganhou status de "nada consta" em sua corrida folha de crimes e corrupções, de conivência e até favorecimentos a facções criminosas e grupos de milícias.
Num quadro onde o secretário de Segurança do Estado, Beltrame, cercado por um forte aparato policial e militar, e todas as pompas da mídia visita a área, como legitimo representante de uma força de ocupação, como se se tratasse de um território inimigo. Apresentando mais uma vez para a população local, a única face do estado para os trabalhadores, a face da repressão.
Ao PCB preocupa esse fato: estimula-se, entre a população, uma visão fascistóide de mundo, como se "limpezas finais" fossem soluções para qualquer conflito. A História já demonstrou, através de vários exemplos, que tal pensamento deve ser firmemente combatido. Após as últimas ações, ocorridas nesse final de semana no complexo do Alemão, impõem-se algumas afirmações e questionamentos. Crer que os acontecimentos da última semana garantirão a segurança desejada pela população é equivocado; transmitir isso para população – como vêm fazendo os meios de comunicação – é propaganda mentirosa.
Há décadas o tecido social no Rio de Janeiro vem se deteriorando por culpa de interesses capitalistas tanto na organização do território quanto na oferta de serviços e equipamentos públicos para a maioria da população.
OLIMPÍADAS E CUSTO DE VIDA
Tal fato tende a se agravar: o custo de vida na região metropolitana do Rio cresce exponencialmente desde que a cidade foi escolhida sede das Olimpíadas de 2016, e o exemplo mais nítido disso está no mercado imobiliário. Ter um teto sob o qual morar, no Rio de Janeiro, está cada vez mais caro. Para piorar a situação, a população desta região metropolitana vive com os maiores custos de alimentação e transporte público do país.
Ao mesmo tempo, as políticas de emprego, geração e transferência de renda, educação, saúde, além da oferta de equipamentos esportivos e sócio-culturais são cada vez mais vilipendiadas pela lógica capitalista de ausência e desresponsabilização do Estado.
Não à toa as Oscips no setor de atendimento médico e o desempenho pífio dos estudantes do estado nos exames do Ministério da Educação, além de fatores de menor repercussão midiática, como a concentração de cinemas e teatros nas áreas mais abastadas da cidade, bem como a ausência de locais para o lazer. Concentram-se nessas áreas do Rio de Janeiro os piores indicadores sociais, os maiores índices de gravidez adolescente, a maior incidência de subemprego, as maiores deficiências de saneamento básico, etc.
Tais fatos foram jogados para debaixo do tapete nas últimas eleições, numa aliança explícita entre os grandes grupos de mídia e o atual grupo político que comanda o Rio de Janeiro. Ao contrário de sua postura quase sempre denuncista e falsamente moralizante, a imprensa burguesa chegou ao ponto de escamotear a existência de trabalho escravo e os claros indícios de enriquecimento ilícito, materializado entre outras coisas em mansões em Angra dos Reis (RJ); fatores que atingiriam politicamente personagens fundamentais desse agrupamento político.
COPA, OLÍMPIADAS & ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA
No meio de tudo isso está a atual política de Segurança Pública do Rio de Janeiro. É ela a fiadora de manchetes mentirosas e da ação hegemônica em criminalizar a pobreza entre a população. É a atual política de segurança pública, materializada fundamentalmente nas UPPs, que poderá viabilizar projetos políticos maiores para alguns e o lucro crescente para setores fundamentais da burguesia brasileira e carioca: com a copa do Mundo de 2014 e as olimpíadas de 2016, é preciso garantir uma sensação de segurança mínima para expandir a especulação imobiliária, os serviços de telecomunicações/mídia e os grandes investimentos em infra-estrutura e transporte urbanos, num ciclo propício à corrupção há muito conhecido.
Cabe assim o registro que se segue, publicado pela revista Piauí: as UPPs são um dos maiores "cases" de marketing dos últimos anos. De acordo com a publicação, os "serviços de comunicação e divulgação" da Secretaria de Segurança do Rio saltaram de R$ 66,9 milhões para R$ 91,7 milhões. Além disso, o secretário José Beltrame já promoveu 138 almoços com "formadores de opinião" desde a posse, e deu 223 entrevistas, sendo que 39 para a imprensa estrangeira, sempre com as UPPs como jóias da pauta.
Assim, é preciso dizer claramente: a atual política de Segurança Pública do Rio de Janeiro é uma farsa, que se presta à expansão dos investimentos privados e a garantia de lucros futuros para grandes grupos do capitalismo internacional e brasileiro.
O controle do território pelo estado – principal ponto da atual política de Segurança Pública e lógica que justifica as UPPS – só vale para algumas localidades, próximas às áreas mais nobres da capital, que servirão como base territorial para a expansão dos investimentos privados e públicos.
1020 FAVELAS
Para corroborar nosso ponto de vista, e desmascarar a falácia do atual governador de que todas as comunidades serão "libertadas", está a mais pura e simples matemática: existem cerca de 1.020 favelas na região metropolitana do Rio de Janeiro. Hoje as UPPs estão em 14 delas, com um contingente de quase quatro mil policiais (10% do efetivo da PM). Não há orçamento neoliberal que garanta pessoal suficiente para ocupar as mais de 1.000 favelas sem UPPs.
Por outro lado, e estranhamente, todas as UPPs foram instaladas em locais comandados por uma única facção criminosa. Para a Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde vivem mais de 50% da população da cidade e local no qual mandam as milícias (criminosos de farda), não há projeto de UPP.
Foram tais fatores que apenas deslocaram o crime organizado para pontos mais distantes da região metropolitana e, em alguns casos, fizeram mudar de mãos o controle de alguns pontos do varejo das drogas, inclusive em comunidades ditas "pacificadas" pelas UPPs. Estas mudanças por vezes se deram através de acordos, por vezes através da disputa de território – com os tiroteios típicos que vitimizam trabalhadores e inocentes. Não é por outro motivo que, em todas as operações policiais para instalar as atuais 14 UPPs, não houve sequer uma dezena de prisões, um quilo de entorpecente ou uma mísera arma de grosso calibre apreendidos. Isso também explica de onde surgiram tantos armamentos e varejistas do tráfico nas imagens veiculadas pela TV desde a última quinta-feira. Armas que, aliás, não foram fabricadas no interior daquela localidade. Chegaram até ali através de uma cadeia que a muitos interessa manter, pois a muitos enriquece: no atacado pela corrupção; no varejo através dos "arreglos" pagos a bandidos de farda.
Esta cadeia do tráfico permanece intocada, como bem sabem os moradores de localidades subjugadas pelas milícias. Os grandes traficantes de drogas e contrabandistas de armas, durante estes dias da "guerra do Complexo do Alemão", estavam incólumes em suas ricas residências nos bairros nobres, assistindo tudo pela televisão para acompanhar os rumos de seus negócios. Provavelmente estes atacadistas já têm seus interlocutores e sócios entre aqueles que "ocuparão" a Vila Cruzeiro e o Complexo do Alemão.
Ademais, é preciso esclarecer os motivos que justificaram as ações policiais promovidas desde a última quinta-feira: quem de fato promoveu os incêndios de automóveis? Por que tais ações se diferenciaram em muito das promovidas anteriormente pelo tráfico de drogas, inclusive permitindo que os cidadãos se retirassem dos meios de transporte? Por que tais ações se reduziram em muito desde que a ocupação da Vila Cruzeiro virou fato consumado, já que poucos foram os presos até o momento?
Para o PCB, é imperativo o esclarecimento de tais fatos. Que as investigações da polícia e da justiça sejam transparentes e abertas à participação de entidades da sociedade civil.
Por fim o PCB afirma: a culpa pelo atual estado de coisas é do capitalismo, de sua lógica e de seus interesses. Ele é o inimigo a ser combatido e derrotado pelos trabalhadores.
30 de novembro de 2010
Partido Comunista Brasileiro
Secretariado Nacional
Comitê Regional do Rio de Janeiro
Ver também:
Este nota política encontra-se em http://resistir.info/ . Continue
Ricardo Rosas
A recente onda dos coletivos artísticos e ativistas (ou "artivistas") no Brasil tem chamado a atenção da mídia mainstream para um fenômeno de proporções bem maiores e razões mais profundas que a vã filosofia dos cadernos culturais poderia imaginar. Pouco compreendida, a dinâmica destas articulações chega assim maquiada com um verniz espetaculoso e superficial que, ao que parece, tenta esconder o pano de fundo crítico e instrumental desses grupos. Muitas vezes passageiros como um casual flashmob, outras vezes organizados e duradouros como uma associação, tais ajuntamentos são na verdade indícios de uma mutação maior que está se dando tanto na esfera tecnológica quanto na social.
Coletivos, em si, nada têm de novo. Já são uma tradição na arte, na literatura, que percorreu todo o século vinte, aqui como lá fora. Segundo o historiador de coletivos artísticos Alan Moore (1) , seu ponto de partida foi logo após a Revolução Francesa, com os estudantes de Jacques-Louis David, os barbados, ou "Barbu", que formaram uma comunidade criativa que viria a ser chamada de Boêmia, espécie de nação imaginária espiritual de artistas -cujo nome provinha de uma nação de verdade e geraria a idealização do estilo de vida "boêmio"-, compondo um contraponto à academia oficial. Desde então, o fenômeno tem ocasionalmente se repetido ao longo da história da arte, como o Arts and Crafts na Inglaterra vitoriana, dadaístas, situacionistas, Fluxus, numa lista quase infinita de grupos dos mais diversos tipos. No Brasil, eles remontam ao século dezenove, com o grupo dos românticos em São Paulo, os grupelhos de poetas simbolistas, os modernistas da década de 1920, o grupo antropofágico, os concretistas nos anos 1950, o coletivo Rex de artistas na década seguinte, 3Nós3 e Manga Rosa na década de 1970, Tupi Não Dá, ou os mais recentes Neo-Tao e Mico, entre inúmeros outros.
O que diferencia a atual voga de movimentações coletivas no Brasil são o caráter político de boa parte delas, assim como o uso que muitas fazem da internet, seja via listas de discussão, websites, fotologs e blogs ou simplesmente comunicação e ações planejadas por e-mail.
Na Europa e nos EUA, a fusão de arte e política já estava presente nos dadaístas e surrealistas, e representou o ponto fundamental dos situacionistas no pós-guerra, e desde então essa mescla tem se dado em vários grupos que atuam na fronteira ativismo/arte, como o Arte & Linguagem, Art Workers Coalition, Black Mask, neoístas, Gran Fury, Group Material, PAD/D, Guerrilla Girls, ou os mais recentes Luther Blissett Project, RTmark, Etoy, Critical Art Ensemble, boa parte destes últimos atuando diretamente com alta tecnologia, no que se tem atualmente denominado de mídia tática.
Se essa junção sempre esteve presente lá fora, o atual beco sem saída do neoliberalismo parece haver despertado a consciência de vários grupos no Brasil, que passaram a criar fora das instituições estabelecidas com performances, intervenções urbanas, festas, tortadas, filmagens in loco de protestos e manifestações, ocupações, trabalhos com movimentos sociais, culture jamming e ativismo de mídia. À diferença dos coletivos high tech europeus e americanos, os coletivos brasileiros atuam nos interstícios das práticas tradicionais da cultura instituída, em ações até agora de um víes mais low tech.
Mesmo assim, a maioria deles surgem ou agem graças à internet. Alguns, como o Expressão Sarcástica, Vitoriamario, Poro, TEMP, BaseV, ou Cocadaboa, possuem seus próprios sites. Outros, como o CORO, um grupo que pretende mapear todos os coletivos em ação no Brasil, ou a Universidade do Fora, entre outros, funcionam com lista de discussão. Blogs também hospedam grupos com identidade virtual à Luther Blissett, como o Ari Almeida ou Timóteo Pinto, enquanto os fotologs tem servido como meio de divulgação de coletivos como o Radioatividade, ou grupos do stencil e do sticker (adesivo) como Faca, Coletivo Rua, SHN, entre dezenas de outros.
Se a tecnologia não é fundamento básico destes grupos para ações tipo hacktivismo, net arte ou similares, é por meio dela, contudo, que se dá a dinâmica de ação e propagação das atividades destes grupos na vida real. Pois uma palavra-chave de todos estes coletivos é a colaboração. Espécie de buzzword atualmente, a colaboração, bem como termos irmãos como livre cooperação, comunidade, interação e rede são senhas para uma transformação que está se dando em escala global.
Foi a colaboração que permitiu o surgimento de movimentos massivos como os protestos "anti-globalização", bem como a organização de festas-protesto como as do Reclaim the Streets, ou ainda a publicação aberta da rede Indymedia. A divisão de tarefas, o compartilhamento de valores e a liderança coletiva caracterizam em grande parte essas organizações cuja tradução mais exata é a filosofia do open source.
Inicialmente restrita ao círculo de programadores e geeks, a idéia da criação coletiva e distribuída que caracteriza as comunidades Linux e software livre tem virado fonte de inspiração para grupos os mais diversos que estão se voltando para este modo de trabalho como um modelo viável e menos restritivo, não-hierárquico.
Tive recentemente a oportunidade de participar de uma conferência sobre o tema na universidade de Buffalo, NY. Chamada "Redes, arte e colaboração" ("Networks, art and collaboration"), e organizada pelo artista e professor de novas mídias Trebor Scholz e por Geert Lovink, net crítico e teórico de mídia tática, a conferência teve o mérito de reunir diversos ativistas, teóricos e artistas que trabalham colaborativamente, e pautou por abordar diversas facetas da questão, como o conflito com os interesses financeiros das grandes instituições do capitalismo, os conflitos internos dentro da dinâmica coletiva, ou as diversas iniciativas em áreas que vão das artes à educação, da criação em rede à distribuição livre de conhecimento.
O tema é quente o bastante para gerar semanas de debates acalorados, mas aqui se limitou a um final de semana onde se sucederam mesas abertas, performances e apresentações de projetos. Teóricos e historiadores de arte ativista em coletivos como Gregory Sholette, Alan Moore e Brian Holmes, grupos como Critical Art Ensemble e Guerrilla Girls, net críticos como McKenzie Wark, ou o teórico maior da colaboração online, o alemão Cristoph Spehr, estiveram presentes. Spehr, autor do cultuado livro Die Aliens sind unter uns! ("Os alienígenas estão entre nós!"), tem servido como o melhor tradutor da mecânica funcional do código aberto (open source) para o campo da política, da organização social, e da economia.
Entre alguns pontos fundamentais, Spehr defende a noção de que as relações devem se basear na liberdade e igualdade de uns para com os outros e com a cooperação; que regras devem ser estabelecidas, negociadas (e cumpridas) para que a cooperação funcione; que conflitos que surjam ao longo dessas negociações podem construir o respeito mútuo, a independência na cooperação e nos tornar mais fortes; e que organização, lealdade para com as pessoas, não com as instituições, e auto-confiança, são elementos essenciais.
Em seu livro, num estilo que remixa ensaio e ficção científica, grupos colaborativos independentes e autônomos seriam os grandes monstros que ameaçam o atual estágio do neo-liberalismo corporativo. Espécie de alienígenas no meio da lógica capitalista da competitividade e das redes de "cooperação forçada", os coletivos colaborativos autônomos atuam numa esfera que transcende a mercantilização e podem efetuar uma troca auto-sustentável que, se aplicada em larga escala - o que para muitos é pura utopia - , correria o risco de transformar totalmente a paisagem social, econômica e política do planeta. Comunismo open source? Talvez, pelo menos é o que Spehr acredita, com um otimismo desafiante, o mesmo que o faz organizar a conferência anual “Out of This World” em Bremen, onde junta programadores, ativistas, escritores de ficção científica, filósofos e teóricos para debater a aplicação do código aberto à transformação social visando o futuro.
Por outro lado, o capitalismo há muito já aprendeu a trabalhar em rede. O fenômeno dos coletivos de livre cooperação na esfera artístico-ativista encontra seu paralelo nos grupos criativos de trabalho descentralizado e flexível produzindo para o mercado. Como diz o teórico Brian Holmes num ensaio sobre a questão (2), esse tipo de organização característica da produção imaterial no atual estágio capitalista do pós-fordismo, seria o da "personalidade flexível", adaptativa e versátil em sua atuação profissional, a qual, obviamente não excluiria sob hipótese alguma a competição ou o controle pela vigilância, ainda que à distância. Para combatê-la, só um ativismo "flexível" que, mesmo por sua característica cooperativa e autônoma, se adaptasse à configuração de um mundo cada vez mais baseado em redes, distribuído em setores terceirizados, "aparentemente" independentes.
Em se tratando da internet, o crescente uso das redes de compartilhamento peer-to-peer, weblogs, software livre, listas de discussão, publicações abertas tipo slashdot, wiki ou Indymedia, as bibliotecas online de livre acesso, foruns e todas as outras formas operacionais das comunidades na rede estariam abrindo o caminho para essa transformação pelo trabalho colaborativo que os ativistas e coletivos de hoje usam como tática de resistência e cuja disseminação compartilhada podem ter consequências ainda imprevisíveis.
Como diz Geert Lovink em seu último livro, My First Recession, a cultura da internet "é um meio global no qual redes sociais são moldadas por uma mistura de regras implícitas, redes informais, conhecimento, convenções e rituais coletivos" (3). Procurar entender o atual fenômeno dos coletivos ignorando essa dinâmica de código e cultura, ou seja, modus operandi, instrumentos, ativismos e lutas democráticas face a uma crescente repressão na guerra global do capital, equivaleria a esquecer por completo a senha na hora de logar. Esqueceu sua senha?
1. Moore, Alan. “General Introduction to Collectivity in Modern Art”, em http://web.archive.org/web/20071028114223/http://www.journalofaestheticsandprotest.org/3/moore.htm
2. Holmes, Brian “The Flexible Personality”, em http://web.archive.org/web/20071028114223/http://www.noemalab.com/sections/ideas/ideas_articles/holmes_personality.html
3. Lovink, Geert. My First recession, Nai Publishers, pp. 23-24.
Links:
Networks, Art and Collaboration – http://web.archive.org/web/20071028114223/http://www.freecooperation.org/
Conferência Out of This World - http://web.archive.org/web/20071028114223/http://www.outofthisworld.de/
Expressão Sarcástica - http://web.archive.org/web/20071028114223/http://www.sarcastico.com.br/
Vitoriamario - http://web.archive.org/web/20071028114223/http://www.scheloribates.cjb.net/
Poro - http://web.archive.org/web/20071028114223/http://poro.redezero.org/
Temp - http://web.archive.org/web/20071028114223/http://enemy.widerstand.org/temp9/
BaseV - http://web.archive.org/web/20071028114223/http://www.basev.has.it/
Cocadaboa - http://web.archive.org/web/20071028114223/http://www.cocadaboa.com/
Grupo CORO - http://web.archive.org/web/20071028114223/http://br.groups.yahoo.com/group/coro-coro/
Universidade do Fora - http://web.archive.org/web/20071028114223/http://br.groups.yahoo.com/group/universidadeperiferica/
Ari Almeida - http://web.archive.org/web/20071028114223/http://www.delinquente.blogger.com.br/
Timóteo Pinto - http://web.archive.org/web/20071028114223/http://www.timoteop.weblogger.com.br/
FACA - http://web.archive.org/web/20071028114223/http://www.fotolog.net/faca
Coletivo Rua - http://web.archive.org/web/20071028114223/http://www.coletivorua.blogger.com.br/
SHN - http://web.archive.org/web/20071028114223/http://www.fotolog.net/shn
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