Bem vindo Radiohead!

6
13:22
Os responsáveis segundo a Enciclopédia Britânica pela “música mais magistral – e mais saturada de angústia – da era pós-moderna” estarão aqui no Brasil em 20 e 22 de Março de 2009.
O que é para mim uma das grandes bandas de todos os tempos. mas, que é o Radiohead?. Formado por cinco amigos em Oxford na famosa universidade. Em 1993 lançariam seu Debut. Pablo Honey é um belo mas modesto conjunto de canções que respiravam guitarras estridentes, ecos de Pixies e U2 e REM e letras que já continham o DNA de um dos compositores mais atormentados da música pop da nossa geração. Creep alcançou um sucesso assustador nos EUA e logo seria um hino para muitos na Inglaterra por sua postura juvenil e existencial em relação a relacionamentos tão próximos de nós. Um belo disco de estréia para os Radiohead.

Mas foi com The Bends (1995) que o Radiohead colocaria seu nome na história da década de 90.
Um irretócavel conjunto de doze canções delimitaria o espaço de uma banda a ser seguida. Thom Yorke. É nele que ouvimos The Bends pulsar em tonalidades poéticas de amargas profundidades agonizantes que saem de nossos próprios fantasmas escancarados tão comovidamente. Em The Bends mergulhamos e quando voltamos estamos atordoados mas queremos mais queremos ir mais fundo ainda dentro de nós mesmos.


Porém es que chega o que é uma das grandes obras de arte do rock moderno. Ok Computer (1997) mudaria a história da banda e cravaria com dois pés o seu nome na história da música. Falar de Ok Computer é falar de arte, é falar do mundo contemporâneo e sua irrevesível evolução tecnologica, falar das relações humanas e do distanciamento de um vida de harmonia espiritual para relações estruturadas nos prazeres do consumismo e uma vida afundada no vazio existencial. Ok Computer é a metáfora do ser humano como máquina a serviço de uma vida conforme as regras da pós-modernidade. O Homem fraco e incapaz de viver sua essência como ser humano sonhador dono de si mesmo é obrigado a anular-se para sobreviver e entre a passiva morbidez andrógina e o individualismo nas relações humanas Yorke vai de explosões cósmicas à calmarias transcedentes fundindo texturas de guitarras em tons futuristas com fragmentos eletrônicos em rupturas estruturais nascendo monumentos musicados com camadas entrelaçadas com cada textura sonora de cada palavra dramatizada por Yorke. Ok Computer é o atestado definitivo da genialidade dos Radiohead.

Depois de compor sua obra prima Thom Yorke, Jonny Greenwood e companhia estão sufocados justamente por tudo que refletiam como contradição no álbum anterior. Mergulhado no medo da contraditação e do paradoxo filosófico proposto no último disco a solução para os Radiohead foi compor um disco radicalmente diferente de Ok Computer, mas, profundamente mergulhado na continuação existencial de seu visionarismo e ao mesmo tempo uma obra prima moderna. Surge então Kid A (2000). O primeiro disco a "cair" na rede todo antes do lançamento oficial é um nó em que esperava um novo Ok Computer e uma prova que a banda era mesma uma banda de gênios. Kid A desconstroi o disco anterior e reiventa o Radiohead para além das fronteiras Pops. Aqui a banda acrescenta camadas de orquestrações psicodelicas com sintetizadores fantasmagóricos e pianos gélidos petrificando a melodia em profunda beleza angustiante. É nesse ambiente friamente melancolico que pulsa a voz quase despersonalizada de Thom Yorke, dramaticamente distante, vagando pelas profundas sutilezas da abstração sonoro como se apenas mais um instrumento fosse, Yorke rende-se a desolação existencial. Em Kid A o ser humano aos poucos deixa a sensibilidade desaparecer para então assumir o papel de um "Sub Humano", alguém que não pensa mais por si mesmo, alguém cuja a única razão de ser seria sua curta e sensata sobrevivência voltada para um vida de servidão passiva e auto anulação numa grade invisível onde ele se sentiria livre para escolher como melhor des-existir. Aqui o Radiohead produz quase uma literatura sonora que mergulhamos para nossas almas além, muito além...

Produzido nas mesmas sessões de Kid A surge então o esquizofrênico Amnesiac (2001). Para mim o disco mais pertubador dos Radiohead e um das obras mais inquietantas da música desse início de século. Nele a banda de Thom Yorke joga-se num abismo de rupturas eletrônicas, referências krautrokanas com fusões Jazzy, texturas de pianos descompassados com vozes sobrepostas e caustrofobica andróginia conceitual e letras inigmáticas sobre fugas, mergulhos oceânicos, paranóias e delírios existências moldam um Radiohead mergulhado no oceano de sua própria e absoluta genialidade. Amnesiac propõe uma volta as nossas raízes existências que abandonamos ou perdemos pelo caminhos durante a vida, mas, quais seriam essas raízes?.
Yorke não responde mas um voltar-se para si mesmo é um começo, a volta aos feições despretenciosas da infância agrada em sua poesia, a fuga das contradições do mundo contemporâneo não é tarefa fácil e talvez se começarmos a ser nós mesmos perante o mundo, talvez, assim, encontraremos as razões de uma vida liberta de ideologias que querem nos escravizar e não nos fazer sentir a essência da vida que é primordial. Em Amnesiac os Radiohead mergulharam nas artérias da existencia humana para vasculhar sua propria razão de ser.

Atordoados pelo 11 de Setembro. Thom Yorke & Cia voltam a discutir as relações humanas e as contradições do mundo capitalista no politicamente desasticulante Hail To The Thief (2003).
Para alguns um amontadoados de canções que mesclam momentos dos albuns anteriores. Para mim um conjunto impecável de canções que respiram referências literárias. Como o livro "1984" de George Orwell e "Capitalismo e Esquizofrênia" de Gilles Deleuze e Felix Guattar e fusões eletrônicas com camadas de guitarras em ambientes sufocantes com tons psicodelicos e cores variadas criando o ambiente asfixiante onde Yorke passeia agonizando na existencialidade de cada acorde sentido. Hail To The Theif ironiza Georg W. Bush e reflete sobre o mundo contemporâneo e a postura de seres humanos como meros braçais a serviço da ordem das coisas sob a ótica autoritária do capitalismo. Tendo Bush como metáfora do grande irmão e Thom Yorke como ser que não pensa apenas age, apenas cumpre ordens, apenas está no mundo para executar tarefas e não para sonhar, não que seguir ordens não seja algo comum sob a pespectiva do trabalho e uma vida baseada nos princípios da anarquina ou socialismo seja pregada mas, Yorke reflete sobre a postura de "manto" idelogico que se tornou o capitalismo, não mais uma mega corporação, não mais um país ditando regras mas um aglomerado de pensamentos, tendências, propagandas, mídia, sistemas completos que te regem desdo nascimento e cercam como um aceano em volta de uma ilha não deixando o ser respirar suas próprias motivações existências como um monstro que agora pode ler nossos mais sinceros pensamentos.

Em 10 de Outubro de 2007 a indústria fonográfica sentiu um abalo iniqualável, não sucumbiu, mas está com marcas e sequelas que ainda serão devidamente sentidas como uma nova maneira de pensar.
In Rainbows nascia.
O 7ª disco dos Radiohead desentruturou a todos e mostrou mais ainda a relevância de Yorke e companhia. O que representa a arte nos dias atuais? qual o valor da arte? qual sua relevância no mundo? essas e outras perguntas estavam no pacote quando a banda perguntou:
'Quanto você vai pagar?'.
In Rainbows pode em algum aspecto representar o album mais acesssível dos Radiohead o que não garante exatamente um sinônimo de simplicidade. Suas canções funde-se em operetas experimentais que formam um quebra-cabeça sonoro que de tão bem estruturado soa simples para quem apenas está ouvindo desavisadamente. Mas é uma obra que tem a personalidade e ambiência propriamente radiohedianos. o que em si revela a construção minimalista em detalhes desse genial disco. In Rainbows busca a redenção em meio ao caos, tropeços abismais, vozes de crianças são ouvindo entrelaçados com o medo de sucumbir e do fracasso, mergulhos em profundezas íntimas e expirais sonoros que encantam em pequenas orquestrações, violinos e guitarras dialogam no mundo fugitivo de Thom Yorke, um mundo que parece pertubadoramente encantado onde fastasmas e sonhos convivem no mesmo ambiente, onde viver cada instante com a alma está acima de tudo.


Em 22 de Março estarei perto dos Deuses
como quem estará vivendo a realidade de um sonho.



SEJAM BEM VINDOS RADIOHEAD!

















Por João Leno Lima

Entulho Cósmico

Toda a palavra é um verso e todo o verso é um infinito

6 comentários:

  1. hey! se tem alguém que sabe falar de Radiohead ese alguém é você, querido.
    Não digo nem "saber falar" e sim captar e transmitir a genialidade desses cabeças de rádio.

    ResponderExcluir
  2. Muito lindo Leno! Mais do que registro demonstrou sua paixão de fã!
    Muito bom!!!
    bjão

    ResponderExcluir
  3. Parabéns, Leno!
    Que eles sejam bem-vindos realmente e nos façam vivenciar em 25 músicas toda essa história que eles eternizaram na música!

    ResponderExcluir
  4. quando se fala de RADIOHEAD, quando se fala dos DEUSES, é preciso sentir, flutuar nessa presença delirante e viajar no infinito que cada musica, cada acorde nos proporsionam... quando vejo vc falar deles, vc simplismente consegue chegar e desmaterializar ou materializar o que todos nós sentimos... muito bom cara, muito bom... estaremos lá no dia 22 bem perto do... porque ñ dizer NO céu, ja que estaremos cara-acara com a melhor banda.

    ResponderExcluir
  5. Ótimo post.
    Agora então que poucas horas faltam pro show de nossas vidas, lê-lo fez a ansiedade aumentar ainda mais.

    ResponderExcluir