Vespertine

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Na arte, a tematização do amor é universal e atemporal, é delicado e exercício fadado ao fracasso, sintetizar um dos principais sentimentos do ser humano e quando se consegue poetizar e transformar em arte o tema deve certamente ser aplaudido. A Islandesa Bjork, nascida em um pais gélido onde há poucos horas de luz do sol e de onde já surgiram grandes bandas nos trazendo sons glaciais e sublimes como os Sigur Rós, é dona de uma das vozes mais excêntricas e espaciais da musica moderna e discos repletos de experimentações eletrônicas e lúdicas que caracterizam a década passada. Com Debut (1993) ela faria sua estréia solo depois de comandar uma banda de Pop - art. na década de 80, seu primeiro disco no século XXI é sua grande obra de arte e um disco que marca novas camadas na sua musica (arte). Vespertine (2001) que já figura entre os grandes discos dessa década e para muitos o melhor trabalho de Bjork. Foi Produzido ainda em torno de sua gravidez e depois de bem sucedidas investida no cinema, trilha sonora de filmes e um grande e um ultimo disco de estúdio, o Homogenic (1997),o álbum Emerge com subsutilezas eletrônicas aonde a voz de Bjork vai se espalhando pelos espaços vazios, logo outras vozes entram se misturando a uma pequena orquestra enquanto somos convidados a ir para um lugar escondido em Hidden Place, Bjork expõe seus desejos que vão se derretendo pelo embiente inorgânico onde sua voz busca o consolo no lugar mais denso e profundo de si mesmo. Cocon chega em pequenos fragmentos esparsos de ruídos percusivamente eletrônicos e Bjork Sussurrando dentro de um casulo intimo onde aqui já dentro do lugar escondido, desliza na espontaneidade de seus sentimentos e desliza pelos espaços flutuantes em doces camadas de felicidade, abrigando-se na certeza atemporalmente tenua da consolação do amor. A etérea It's Not Up To You, traz o móbile dialogando com uma Bjork que beira a melancolia e com um vocal impecável gesticula-se para encontrar a perfeição, sua infinitude pode rachar-se e tudo pode ruir mas longe do desespero Bjork propõe que nós nos debrucemos sobre o que mais nos atormenta e encontremos mesmo na extremidade caótica dos sentimentos um sentido de beleza e luz interior. Vocais engelicais penetram no espaço gravitacional dos nossos sentidos de onde surgem baterias eletrônicas que tremem de leves profundidades e Bjork e uma dos seus melhores registros vocais destila sua narrativa sensitiva pelos nossos ouvidos entregues, por que o amor às vezes é uma luta contra nós mesmos? Por que nos desgastamos demais apenas para satisfazer o orgulhoso jogo da indiferença e da solidão? Undo, implodi em grandiosas reverbaçoes vocais e Bjork nos entrega Pagan Poetry, pianos espaciais e baixos vindos dos subterrâneos dos desejos nos soterra em rendição mutua, Bjork pedala pelos oceanos dos nossos sonhos mais sinceros, enrosca-se pelo humano desejo de seguir e encontrar-se, desvendando nossos "códigos secretos" e nos gira para elém de nós mesmos mais ainda dentro de nós como ela mesma diz "lírios pretos girando totalmente maduros" suas vozes (as varias vozes de Bjork e de nós agora) se entranha nas profundezas e fere nossas barreiras e muros abstratos nos deixando nus e sem auto defesas, talvez assim, derradeiramente possamos nos entregar a poesia cantada por ela que é o amor. Frosti é um belo instrumental cheios de sinos e que vão surgindo e sumindo dentro da madrugada e então ouvimos passos lentos por caminhos tenuos que é a Aurora surgindo para nos levar "rumo ao sublime" Bjork Atira-se para longe de qualquer prisão ou qualquer tragédia intima e almeja nos levar para o infinito, sua voz é engolida para ecos cheios do destino e pelas faíscas de esperança que reluz em cada um de nós. An Echo A Stain surge num tempestuoso eco distante vozes quase sintéticas que gira dentro em si mesma, etéreas camadas preenchem o ambiente na mais eletrônica do álbum e também a mais sombria, aqui Bjork quase irreconhecível diz estar caindo livremente por completo e um sintético monologo surge em Sun In My Mouth, Bjork depois de um momento dispersa e entorpecida por sua própria infinitude almeja pegar o sol pela boca e "soltar-se viva no ar de olhos fechados" a esperança estala-se e agora assim como os poetas, Bjork espalha-se pela musica entre cordas e harpas desvanecidas, corpos e almas musicas e poesias mistérios do corpo e da alma sendo desbravados e engolidos em seu completo e Absoluto sonho sobre-humanos nessa obra de arte inspirada na poesia de E. E CUMMINGS. Uma bateria eletrônica misturada a sintetizadores e ventos futuristas permeia Heirloom, "eu tenho um sonho constante" a transcendência fragmenta Bjork pelos espaços e pelos corações humanos, sua voz alcança um alto grau profético e arrebatador em meio a luzes sendo engolidas e o calor dos sonhos sendo alcançados e sentidos, sua musica com uma forte personalidade eletrônica passeia pela orgânica melodia apaixonante e Harm of Will vem surgindo lenta e delicada, Bjork fala que os desejos às vezes ferem, mas ferem de uma forma que marcam para sempre nossa existência, e moldam como somos e quem somos a partir dali, muitos dessas feridas vem através do amor, mas não podemos nos desequilibrar por completo, seguimos, nos tornamos trovadores dos sentimentos essenciais que todos devem sentir. Em capela Bjork atravessa-nos, metaforizando sobre mãos que se amam e nos convida, não mais para ir para um lugar escondido como no inicio do disco, mas agora para nós unirmos na eternidade de alguma noite perfeita; Unison vai deslizando sem amarras no inorganicamente mundo sonoro de bjork que contrasta com as vulcânicas camadas existências de seus versos e Vespertine assim como as obras de arte vai nos consumindo e consumando e alvorecemos pelos vastos campos nos unindo a nós mesmo a ela a poesia a musica a arte as almas ao amor a tudo que nos completa alimentando nosso ser único com a perfeição do sentir a absoluta existência.




Por: João Leno Lima

Entulho Cósmico

Toda a palavra é um verso e todo o verso é um infinito

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