ANARQUISMO JÁ!

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Ethel de Paula

 

(ARQUIVO RIZOMA)


O animal político também é criativo, anárquico, festivo. No Rio de Janeiro,um grupo de artistas plásticos elegeu o imprevisível como bandeira, fundando um comitê no apartamento de um deles e consolidando o que chamaram de ''phoder paralelo''. Nas ruas, palco democrático por

excelência, a ordem foi fazer performances, mexer com a ideologia
estabelecida, alterar a percepção da realidade. ''Criamos uma campanha fictícia e nos apresentamos como candidatos políticos, percorrendo vários pontos da cidade, distribuindo panfletos, camisetas, bananas e salsichão. As pessoas chegavam a assinar um documento se filiando ao nosso pseudo partido e prometendo votos. Também recebemos muitos pedidos dos nossos eleitores'', riu-se o pernambucano Edson Barrus, um dos envolvidos no teatro vivo.


''Trabalhamos com a ressignificação da idéia de poder. Por isso escreve-se phoder com ph. Assim, soa como efe e remete à gozo, à prazer. As performances apontam então para a surpresa, promovemos uma grande quermesse artística, tentando dissolver categorias repressoras, desestabilizar o que está posto, valorizando a inserção social e o indivíduo criativo'', defende Edson. Para tanto, impera a anarquia. O ''phoder paralelo'' é responsável pela pichação de pênis em outdoors de candidatos políticos nessa última eleição. ''Mais imoral que o desenho é a cara cínica dos políticos'', metralhou. O Aterro do Flamengo também foi alvo de protesto simbólico. ''Estendemos várias faixas onde se lia 'Xêre Brizola'.
Aqui, Brizola é uma gíria, significa cocaína. Então, por também ser o nome de um político, vem a calhar com o momento das eleições. Mas é importante que se diga: até então não havíamos assumido a
responsabilidade por nenhuma dessas ações. Isso para resguardar nossa integridade física'', segreda.


O grupo aprontou mais. Fernando de la Roque é o 'pai' da Barata Dourada que virou uma espécie de mascote do ''phoder paralelo'' em época de campanha eleitoral. ''Ele capturava uma barata viva e com spray fazia ela ficar dourada. Depois punha em um vidrinho transparente e vendia nas ruas por um real. Essa ação está ligada ao nojo que é a política, à reversão de valor através da maquiagem'', reflete Edson. Da sacada do apartamentocomitê, ainda voaram panfletos com instruções detalhadas sobre como inutilizar uma urna eletrônica. Já com o grupo Urucum, de Macapá, o ''phoder paralelo'' planejou uma intervenção conjunta. ''A gente mandava cartazes de candidatos daqui do Rio para eles espalharem por lá e eles faziam o mesmo conosco. Tudo para confundir os eleitores'', assume o
artista.


O poste e o ateu


Niterói é a cidade-sede da Galeria do Poste. No caso, um simples poste do bairro Gragoatá ganhou status de museu de arte desde que a comunidade artística assim resolveu, passando a usá-lo como legítimo suporte para periódicas exposições. Convidado a expor no poste, o carioca Felipe Barbosa aproveitou as eleições municipais do ano 2000 para devolver a ele sua função original de canal anônimo de informação. ''Nessa época, o poste adotado pelos artistas era o único poupado de cartazes e santinhos de
candidatos. Então resolvi criar meu próprio material de campanha, idêntico ao dos demais políticos, e pregar nele. Além do meu cartaz, onde se lia Felipe 2000, local e data da vernissage, preguei também os dos candidatos de fato, o que fez com que ele ficasse exatamente igual aos postes comuns'', detalha.


Na vernissage, porta título de eleitor, camiseta, adesivo de carro. Crítica indireta ao processo eleitoral, direta à sacralização dos espaços de arte. Mais incisiva do ponto de vista político, a intervenção do paulista Marcelo Cidade, na grande São Paulo, aconteceu de madrugada, às escondidas. ''Contratei pichadores para escrever sobre cartazes de candidatos políticos a palavra 'ateu', sugerindo assim a minha descrença em relação à política.
Sempre estive ligado ao grafite, a essa comunidade tida como underground. O curioso é que, em época de eleição, os candidatos fazem o mesmo que fiz, contratam para verem seus nomes pichados pela cidade, mas nesse caso a população aceita, a poluição visual é permitida, porque institucional'',
provoca.


(05/10/2002)
Fonte: Jornal O Povo (www.noolhar.com/opovo/).

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