DIALOGO IMPERTINENTE

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Me proponho a tentar descobrir tua alma.
Aceitas?
Mergulhar em teus subsolos enveredando
por teus antigos delírios,
Debaixo das saias dos teus pensamentos,
Entre as entranhas da tua memória
pelos teus desejos mais longínquos,
Como a criança que pergunta incontrolavelmente,
Como as mãos dos amantes que se entrelaçam
Como se entrelaça o crepúsculo e a noite.
Permitiras que eu vague pelas cores desbotadas dos teus anos,
Tropeçando pelas verrugas e olheiras que vão maquiando o teu tempo?
Deixaras que eu abra o baú dos teus segredos, quebre seus cadeados
E jogue pra fora no chão abismal teus punhais e fetiches?
Tuas embarcações imóveis?
Teus origames de corações rasgados?
Tua coleção de cartas jamais respondidas?
Deixaras que dialogue com tua subconsciência
e convença ela a se revelar
E se despir para mim
e permitirias que eu procrie com ela numa noite escaldante
Onde os heterônimos dos nossos corpos tornar-se-ão vulcões
Te derretendo por dentro e provocando em ti
náusea de contradições religiosas
E catarro de transgressões juvenis não vividas irreversivelmente?
Se colidindo com as paredes das cólicas das frustrações perfeitas
Em constatações em beira de estradas vazias,
Em viagens de ônibus
como se fosse um carrossel cíclico de uma manhã qualquer,
Em diálogos impenetráveis que jamais cintilam as intenções âmagas,
Deixaras que eu afunde minha cabeça nas tuas lágrimas?
E nade até as grutas
onde tu gritas insensatamente desde quando percebestes a si mesmo?
Deixaras?
Deixaras que eu chegue até lá com um mapa que me foi enviado
Por um anjo oculto que saiu do teu solitário monologo,
Confessa?
Esperavas por mim nesse instante como esperavas por alguém para olhar-te
Com um olhar de abraço e que te ouvisse como se aprecia uma música?
Deixaras que eu descubra tuas mentiras e as deixe morrerem de frio
Desabrigadas por ti mesmo?
Lançaras mão do teu labirinto intimo e permitiras que eu te encontre?
Dizes-me, esperas que te encontre para ti mesmo?
Me proponho a ser tu mesmo, aceitas?
Aceitas ser eu?
Aquele que mergulha em ti mesmo.




João Leno Lima
31 de Agosto de 2009

Entulho Cósmico

Toda a palavra é um verso e todo o verso é um infinito

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