COESÃO

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Fotografia de Robert Frank



Quero conquistar o mundo
Mas não alcanço conquistar a mim mesmo.
Falha-me o gesto de amar-me?
Falha o reflexo refletido no espalho inverso
Somos rios embriagados de sua própria transbordação
E sulgados pela margem do que formos antepassadamentes.
Traduzo pequenas alegorias dos seres que conversam,
Reivento os cabelos da senhotira de nariz empinado,
Reescrevo as linhas da conversa entre os amantes no escuro da esquina,
Observo os passos da criança
perseguindo a bolha de sabão vulneravelmente livre!
Somos os próprios passos dentro do refluxo do destino
Sou a combinação de fotografias desajustadas
Sou os lençóis onde mãe e filha, se esquentam, no frio da madrugada,
Sou o amigo que quer salvar o amigo do invisível, mas... Lentamente corro,
Longas caminhadas meu deus, entre penhascos e percepções.

Não sou mais eu nem ninguém
Quando chega a dor.
Não sou mais eu nem ninguém
Na hora de colocar a cabeça espremidamente oculta ao mundo.
Não sou mais eu nem ninguém
No ponto exato
quando as palavras rasgam a boca com a violência dos atos naturais,
Dos acordos secretos que só dizem respeito à atemporalidade,
Que sublima a tez da loucura interior que preconiza os elementos inválidos
Que levamos em consideração quase sempre.

Acusam-me de desresponder aos quatro cantos
minhas verdadeiras intenções para com o mundo?
Acusam-me de inventar desejos que obsessivamente senti para mostrar
Na contra regra do ato puro que não passo de uma pre-fabricação violada?
Tomo esse poema como navalha e enfio no coração do que me devora
Enfio no coração da criança que gesticula para a mãe,
Enfio nos ouvidos do trompetista e na goela do declamador,
Enfio nos pés do andarilho e na asa do anjo,
Enfio nos dedos do noivo entre a aliança,
Enfio na vagina da noiva sob a fronte do feto futurístico,
Enfio no abraço, enfio na sombra que permanece deslocada,
Enfio nessa solidão que bagunça meu espírito
Como cartas embaralhadas nos intervalos dos instantes.

Quero conquistar o mundo
Mas não alcanço conquistar a mim mesmo.
Falha-me o gesto de amar-me?




João Leno Lima
19-07-09

Entulho Cósmico

Toda a palavra é um verso e todo o verso é um infinito

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