DESCOSMO

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Ah Fernando pessoa não passa de um vinho,
Tomado pelo meu desespero.
A morte, essa inesgotável companheira ausente,
De mãos dadas com o invisível.
Traduz certos desvarios nebulosos.
Anti-materia que mordo os calcanhares.
Meu lábio revirando as caixas de segredos da inconsciência mutua,
Traduz teus mecanismos.
Sou a nuvem que paira no teu rosto de vinho.
O cansaço toma-me pelo pescoço.
A febre mutila meu desejo de sobrevoar-me.
Tira-me de mim a inércia carcomida,
Tira esses blocos de concretos sobre meus passos leopardianos,
Fere-me com utopias maçantes e magníficas.
Ah mundo inteiros cabem num só verso
Mas constelações precisam de novos poemas
Para não implodirem de si mesmas.
Escrevo correndo pelos longos túneis do meu trabalho.
Esses olhares em volta pregados nas paredes das razões,
Como quadros abandoados pela ausência fétida da luz do sonho.
Olhando as paisagens ao redor esqueço
Dos imensos terremotos que saboreiam meu fôlego nas noites insones,
Das embarcações-tempestades viajando rumo ao lugar nenhum de mim.
Rumo ao catedrais analgésicas que se recriam na fabula do nada,
Rumo a extensa lista de oníricos inacabados.
Longas línguas ensopando as barbas das angustias,
Espinhos de aço perfurando o gelo do nao-delirio da manhã.
Se espero a letal união futuristica vinda na sonolência imediata,
Espero ter tocado nas sombras de Deus pelo menos na metade quebrável de um segundo.
Canto a canção desrefletida pelos anjos,
Canto o jardim sinfônico regado pelo verso-poeta de tez lúdica
Canto a desafinação momentânea da minha alma.
Em partículas particulares de vozes declamando nuvens-monstros pisoteadores de ausências.
Tua visão extra-corpórea é a nudez que me alucina.
Os lábios cotidianos estão borrados de vermelho sangue
De asas que nunca viram a luz da manhã,
Alguém proclamou a inconsciência dos atos,
Alguém apagou os poemas nunca escritos, mas sentidos com exatidão.
Mesmo assim não é impossível traduzir o poeta,
Já faz poesia quem existe inesgotavelmente existindo.








João Leno Lima
20-05-09

Entulho Cósmico

Toda a palavra é um verso e todo o verso é um infinito

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