No pé do arco-iris, uma banda de ouro

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É fácil, quase clichê, dizer que o Radiohead é uma banda histórica, o nome mais importante da música nos anos 2000. Está tudo ali: da fase "patinho feio do britpop", no começo de carreira, passando pelas guinadas de OK Computer-Kid A-Amnesiac e chegando ao tapa na indústria de In Rainbows, oferecido em MP3 ao público a preço livre.

Mas essa impressão só ganha peso ao se ver o quinteto interagindo no palco, cada um com sua personalidade, funcionando como uma orquestra bem afinada. Ao centro, Thom Yorke parece suar para resumir em si as características dos colegas: a estranheza do guitarrista Johnny Greenwood e o porte do grandão Ed O'Brien, mais a técnica do baterista Phil Selway e até o jeito pimpão do baixista Colin Greenwood.

Yorke não é estranho à toa. E leva a sério o seu papel de anti-herói do pop. No primeiro gemido de "15 step", que abre In Rainbows e deu o pé na porta do show, o vocalista já tinha agarrado o público pela espinha. Nem precisou do "boa noche" a seguir, uma das suas raras frases.

Afinada e esperta, a sessão de descarrego dos ingleses também passa pelo palco e sua iluminação, com dezenas de grandes pilares refletores: as luzes seguem as cores do arco íris, esquentando e esfriando o espaço, e chegam a "chover" durante "Paranoid Android". A descrição soa cafona, mas é eficiente. Ao fundo, o telão com jeito de videoclipe é dividido com as câmeras individuais dos músicos, focalizando cada um de um ângulo diferente.

In Rainbows pautou as duas horas de show: a banda tocou o ótimo álbum na íntegra, levantando a noite com a forte "Reckoner", a linda "House of Cards" e "All I Need". Mas é nos seus outros hits que o Radiohead conquistou os fãs, que esperavam este show há mais de uma década.

Como a passagem por aqui era inédita, a banda fez questão de incluir faixas que não fazem mais parte do circuito de shows do lado de lá do Equador. Foi um resumão de tudo o que a gente perdeu nesse tempo todo.

Hail to the Thief apareceu pouco, mas deu o duelo de tambores abrindo "There There". Assim como Amnesiac que, além de "Pyramid song" (com Johnny Greenwood tocando sua guitarra com um arco de violino), gerou um dos pontos altos da noite, já no segundo bis: Yorke ao piano, tocando "You and Whose Army?" e encarando a platéia diretamente nos olhos (tortos) com uma câmera em close. E, claro, "Fake Plastic Trees", representando The Bends, o segundo álbum.

Os clássicos Kid A e OK Computer foram os mais lembrados. "Idioteque" levantou o coro, "Optmistic" foi o momento hipnose e "Climbing up the Walls" teve Yorke cantando de um jeito mais selvagem que nunca. Aqui e ali, o grupo se esforçava para surpreender e mudar os arranjos das faixas. Johnny, por exemplo, se divertia em usar um velho rádio para samplear emissoras locais durante algumas faixas, como "The National Anthem".


Depois do segundo bis (que acabou com "Everything in its Right Place"), a banda volta ao palco e Yorke oferece "Creep", o sucesso da sua outra encarnação, para acabar com a noite. Ele explode ao microfone, o público explode no coro e o palco explode em luz e interferência, como ainda não tinha acontecido
É como se tivessem guardado algumas surpresinhas para a platéia ainda virgem. E mostra que, mesmo demorando, a banda aportou por aqui no momento certo - se essa passagem única acontecesse há cinco anos ou daqui a cinco anos, não teria metade da relevância que teve agora.

Resenha por: Eduardo Viveiros

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