Redor

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Pintura de Rene Magritte



Acredito nos oceanos ao meu redor
Acredito nas nuvens repletas de versos
Acredito ate no abismo que flutua por cima do meu
Rosto como um horizonte constante
Mas não me acredito.
Acredito nas formas sublimes de sonhos irremediáveis
Acredito no corredor que alcança seu objetivo Mágico
Acredito que as noites contem os mais profundos segredos
Acredito ate que uma troca de olhares ja contem um
Poema absoluto
Mas não me acredito.
Acredito nos desertos como desolações intimas
Acredito no mais intenso âmago da tristeza
Acredito que o tempo - espaço tem a pele de uma alma
Mas ainda assim não me acredito.
Aquele grito que transpassa o corpo atirado no seu
Próprio cárcere e que atinje-me parece acreditar em Mim,
Aquele braço que me impede de ser fugitivo e que faz
Voltar-me ao centro gravitacional dos meus
Companheiros poéticos parecem acreditar em mim,
As crianças abandonadas pelo acaso que pousam no
Na palma da minha mão
Pedindo uma ajuda silenciosa parecem
Acreditar em mim,
A musica que entorpece todos os mecanismos do
Meu movimento parece acreditar em mim,
O descompasso dos coraçoes em troca mutua de
Universos inabaláveis parecem acreditar em mim,
Mas não me acredito
Sinto que a morte lentamente esculpida no canto da
Minha lagrima também me acredita,
Sinto que todas as angustias numa conversão
De angustias inquebraveis também me acredita,
Sinto que a chuva que planeja me afogar de
Memórias crepusculares também me acredita,
Sinto que o piano tocado em notas longas de
Desespero trilhando a melodia do uivo
Desenperançoso também me acredita,
Sinto que a solidão que vem como um anjo
Destemido que me acompanha pelos quatro cantos
De todas as poesias também confessa que
Acredita-me,
Eu que pensei que a aurora voraz que machuca meu
Coração com cotidianos asfixiadores, ela acredita-me,
Eu que pensei que meu destino havia se perdido por
Caminhos tortuosos de fracassos e inalcansabilidade,
Ele acredita-me,
Eu que pensei que meu futuro fosse apenas mais uma
Gota no mar infinitésimo mar do mundo, ele acredita-me,
Eu que pensei que o amor não passasse do limite
Frágil limite do impossível, ele acredita-me.
Ate as pegadas do que deixei para traz
Sentindo e não sentindo mais, acredita-me.
Ate o verso que escrevo
Acredita que o verso que virá em seguida
Virá para completá-lo em absoluto,
Ate o poema que escrevo
Acredita que ao ser lido ira consolar o ser desconsolado
Mesmo que momentaneamente,
Ate os lábios invisíveis da mulher amada
Acredita que será tocado
Pelos lábios invisíveis do meu pensamento,
Ate o vento indomável
Acredita na minha companhia imprencidivel ao seu lado
No meu sonho impenetrável de poeta,
Ate os cometas e as estrelas tremulas
Do sussurro do universo
Acreditam que passei por elas vertiginosamente,
Ao surgir entrelaçado
Nas mais profundas leis da natureza
O existir acreditou-me,
Ao surgir nos seios de pais e estranhos do mundo
Eles acreditaram-me,
Antes dos primeiros passos
Das primeiras palavras do primeiro sentido
Do primeiro silencio e da primeira lagrima
Todos eles acreditaram-me,
Inesgotavelmente
Cada infinito
E cada eternidade
De cada coisa
Acredita-me
Inesgotavelmente.



By João Leno Lima

Entulho Cósmico

Toda a palavra é um verso e todo o verso é um infinito

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