De repente descobri que não havia uma pedra no caminho. Ele estava vazio, solitário em sua frieza de viela esquecida. Não haviam rostos pendurados nas janelas das casas, não haviam crianças flutuando em balões mágicos anti-gravitacionais. Havia sim, sombras por trás das grades das portas do fundos. Havia celulares debatendo-se com medo das armas de fogo e outras manifestações atuais. Havia senhoras e senhores escavando a volta para suas casas por debaixo do asfáltico pó da cidade. Havia também a certeza genitora de fantasmagorias impressas em páginas A4 de lamentações. Não só não havia uma pedra como ela jamais existiu, o impossível, o incontornável, ah saudades de Roberto Piva e Withimam, saudades de nossas conversas pelos jardins dos corredores do ônibus. Éramos tão ou mais jovens no interior de nossas mães, éramos mais poetas antes de escrever, éramos mil veze mais aquela palavra jamais inventada. Computadores e outras intervenções da modernidade não passam de ideias ultrapassadas por todos os poemas já escritos.
A loucura não é uma palavra e sim a palavra que é louca.
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By Cronie | ‘Alguém ainda lê poesia’ - Zine
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