Há muito já se sabia que Alice Coltrane havia achado uma forma de explorar as galáxias, muito além da física elementar, muito além de qualquer teoria plausível, suas descobertas propulsoras estavam em harpas-pássaros que sobrevoavam as claves até então ocultas e desafiavam o som ao baile perante os Cinturões da Via láctea. Já nas primeiras faixas, Universal Consciousness vai escavando o misterioso vácuo, nossos ouvidos pressionados pelos ecos indomáveis do percurso, gritam como elefantes mágicos fugindo do circo mântrico da inconsciência e saltando pelos descampados limites onde a Voyager é fotografada e já ultrapassada progressivamente.
‘Battle At Armageddon’ segue explorando as dimensões, sobrepondo-se em uma bateria descontínua enquanto metais vão abrindo as vísceras e reconstruindo a beleza não obvia e reluzente de nossos chácaras. Aqui o jazz é o suco mítico que escorre do átomo lúdico debaixo das saias orientais de Alice Coltrane. A certeza de quem somos até aqui, dependerá de nossa retorcida natureza passageira, espontâneo em seu confuso alicerce, capaz de proezas bélicas de palavras e de ruidosos textos nas costas do espaço intrínseco.
‘Oh Allah’ nos apresenta os primeiros raios do sol de alguma nebulosa que vai sendo desvendada em pequenos olhares pelos solavancos dos ombros ou pelas silhuetas sábias da musa. Uma oração crepúsculos que se afasta de nós como um passageiro futurístico que se perdeu de vista antes da chegada inconfessável ao extremo pulsar das estrelas. ‘Hare Krishina’ é a chagada aos úteros das singularidades, desbravando os anéis muito mais distante daqueles vistos tão de perto em saturno, pelas cores que jamais poderíamos conhecer e que vão sendo escolhidas a dedo por Coltrane. Ela, na particularidade profunda de uma declamação mosaica que refaz antigas máximas humanas, que redesenha as notas musicais para além da geometria, para além do som combinado entre duas ou mais formas inventadas pelos campos harmônicos do destino.
Recriando a beleza libertadora da canção sem qualquer resquício terreno, Alice olha para os lados e entrega-se aos seus próprios limites de beleza até então desgastado pelo antigo senhor-tempo, esse já apenas uma nomenclatura em algum lugar do passado. ‘Sita Ram’ é aquela razão que emerge do líquido olhar pingando nas bordas dos exoplanetas e causando sensações de arco-íris por quem por ventura puder perceber naquele instante nas longínquas civilizações invisíveis. Mas, temos que voltar, ou não, e ‘The Ankh Of Amen-Ra’ faz nossa reentrada pelos litorais dos berços estelares. Cometas são agora pequenos golfinhos que se arremessam nas órbitas de algum satélite a fim de conhecer seu lado secreto e fabuloso. Voltamos a avistar a terra, Alice mergulha, não no mar, mas sim em harpas vestidas de oceanos que amortecem nossa consciência.
Explorar o universo sob as bênçãos de Alice Coltrane e seu Universal Consciousness é uma experiência metafísica que só a arte é capaz de abrir tal porta.
Track |
1. Universal Consciousness
2. Battle At Armageddon
3. Oh Allah
4. Hare Krishna
5. Sita Ram
6. The Ankh Of Amen-Ra
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