Não, não temos controle sobre tudo e sobre os acontecimentos. Podemos planejar e ter a esperança palpável que nosso plano mirabolante ou relativamente simples, tão simples que parece ser imune à falhas, jamais se revestirá em algo que nem imaginávamos. A vida é colorida para uns tantos e cruel para muitos outros. E esse é o ‘Lado Bom da vida’. Saber que a cada passagem do ponteiro temos uma chance de recomeçar. Claro, nada poderá ser mais como antes mas nunca somos mais como éramos segundos atrás. Novas sistemas foram criados em nosso cérebro, novas certezas cimentadas em cada palavras, novas dúvidas adentrando os retrovisores e as caminhadas indo ou voltando do trabalho ou de algum lugar que agora também faz parte de um passado que jamais poderá ser reconstruído. Como um trem vagando por trilhas pré-estabelecidas assim muitos se sentem ou como este mesmo trem, agora desgovernado, rumo ao abismo das lamentações, morte, suicido, saudades, fim, chão, lágrimas e incertezas profundas. Ser ser humano não é fácil, pensar, agir, escolher…
Ah escolher… Para Sartre escolhemos inegavelmente. Escolhemos o tempo todo. Estou escolhendo escrever neste exato segundo. Você escolheu terminar este textos, talvez, ambos escolhemos assistir a esta película de David O. Russell ou ler o romance de Matthew Quick e daqui algum tempo, continuaremos a fazer indefinidamente, escolhas.
Mas algo não é fácil: Escolher recomeçar. A perda é um dos sentimentos mais devastadores de nós, humanos. Perder alguém que se amava e que por inúmeros razões possíveis se foi pode nos colocar um peso muito maior do que podemos carregar. Alguns sobretudo, desfalecem. Se descontroem em labirintos jamais retornáveis, porões escuros de lamentações e desespero. Outros entram em colapso, destroem a si mesmo como punição, julgam-se culpados por toda a desgraça existencial e física que passam e se escondem num mundo cinza, escuro, frio em sua solitária respiração. Outros simplesmente, como que vítimas de um trauma, esquecem de tudo, agem como se o tempo tivesse saltado daquele momento até o agora.
Entretanto, “O Lado bom da vida” está em também escolher mudar. Se erguer, voltar ao ponto de partida de si mesmo e se permitir entrar em um novo ciclo. Para a filosofia Taoísta, ciclos fazem parte da natureza, mas apesar de serem ciclos, eles jamais se repetem. A primavera tem todos os anos mas as folhas não são as mesmas e nem nós somos. A tarefa é desafiadora e já sabemos que tudo pode ruir novamente mesmo que façamos tudo conforme algum paradigma que por ventura temos aliados a nós. Não cabe a nós ter o controle completo da vida em toda a sua circunstância mas cabe a nós estamos dispostos a arriscar novamente. Uns se fecham em tamanha redoma anti-sofrimento, como um pessimista que detém para si um lema, uma verdade, que tudo dará errado e acreditar é uma bobagem. Porém, mergulhar novamente em um novo percurso não é necessariamente um otimismo e sim uma condição.
Mais uma vez não temos ingerência sobre isto. Fizemos a escolha de retornar ao caminho, ao nevoeiro do destino que vai se materializando. Ou até mesmo querendo repetir erros, novas falhas, insistir mesmo na evidência da falência do que ainda acreditamos contra todos os fatos e depois ficarmos parados olhando nosso própria envelhecimento, mesmo assim, estaremos ainda escolhendo. Não basta querer, querer todos querem. É preciso mais que querer, é preciso amar. Amar. Não alguém. Não algo. Amar novamente, viver.
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Silver Linings Playbook (O Lado bom da vida) é um filme americano de 2012, dirigido por David O. Russell. É também uma adaptação cinematográfica do romance de Matthew Quick do mesmo nome.
Escrito por | Júlio Siqueira
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