Descortinar um novo percurso até então oculto ao mundo, ao universo, ao tempo. Na máxima construção de uma nova estrada esculpida com nossos pés-mãos no chão do nosso próprio espaço interior exteriorizado. Escrever um novo verso, um novo capítulo da história jamais contada. A recriação descomunal e desproporcional de uma realidade que nem o escritor sabe ao certo medir, ver, sentir. Um furação perfurando o poço de infinidades de palavras reinterpretadas. Um plágio reflexo retorcido pela gramática e comprenssado entre os tones e as tintas não-poéticas das impressoras.
O ato-poematizar nos reintroduz no vasto campo do desequilíbrio frente ao automatismo crônico da nossa época. Celulares e Tablets agradecem nossa imersão pelo desconhecido, paralelos ao zumbinismo unilateral da modernidade. Nossa pulsação, antes congelada pelas contas do mês e pela hora do almoço longínquo, agora é uma bailarina enfurecida nos campos minados da metafísica. O lápis, ou o digitar obliquo procurador de letras envelhecidas nas artérias no novo, reciclado. O esconderijo do prazer da carne-vírgula que comemos com ânsia pelo olhar do futuro na fome do leitor pálido canibalesco. A poesia é um gemido em nossa manifestação ousada, na leitura vespertina das cigarras, no canto verdejante de um animal acuado na esquina.
Voltamos suados e mais anorexos depois de cada período composto. Voltamos a nos reutilizar depois de olhar fixamente para os semáforos torcendo pelo momento exato da partida. Voltamos a nos inscrever na instituição página. Voltamos não-sei-de-onde jamais saímos de fato. As longas carícias dos dedos-vagalumes daquilo que queremos dizer, pensar, ou não, só queremos desabafar nossas cabeças pensantes, ou não, numa poça líquida que se presumem, renovadora. Olhamos para trás e um longo rastro de objetos-sílabas e outras formas de protestos transparentes, nos garante que a viagem foi rápida mas não menos infinita. Deixamos a história correr pelos solavancos dos outros, risos e desprezo certamente serão bem vindos. Viramos para o lado do equilíbrio numa tomada com uma câmera apenas e um sem-diálogo necessário. Nossos corpos derramados de palavras pretendem não só engravidar o tempo como faze-ló gerar pequenas crianças-asas que serão ainda poetizadas inevitavelmente,como tudo e a todos.
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Júlio Siqueira
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