A ingratidão é uma das maiores armas do ser humano. Com ela, o ser corta, não a pele, muito menos quebra os ossos, mas sim, perfura a alma, mas ela insiste em permanecer viva, na lentidão melancólica de amar o ser ingrato.
Dezenas de alegorias poderiam ser empregadas na construção deste sentimento, tão destruidor. Alguns até poderiam sim, defender a tese de que nada foi feito pensando em trocas de favores ou seja lá o que for, que tudo foi realizado por amor e foi certamente, mas no mais íntimo desejo do labirinto humano, você sim, espera um reconhecimento.
Entre pais e filhos e isso torna-se mais latente, pais geralmente mergulham suas vidas em uma dedicação quase religiosa ao filho. Abrem mão de um tempo que jamais voltará, até da companhia um do outro em prol daquele ser que foi gerado e trazido ao mundo com orgulho e prazer. Não é raro vermos lindas histórias de luta e superação de mães vencedores, que jamais desistem da guerra pela sobrevivência, não dela mesma, mas do próprio filho. Quem nunca ouvir a expressão que perder um filho é a pior dor do mundo… Entretanto, curiosamente, filhos não tem o mesmo sentimento (não todos assim como não todos os pais, é verdade) mas nas leis ocultas da natureza, isto é uma grande verdade e um até rotineiro acontecimento. Filhos, às vezes, simplesmente vivem suas vidas desprezando pais, magoando-os por razões infantis, lutando contra argumentos e posturas sem a habilidade e sabedoria de se fazer compreender, apenas usado a violência da palavra e as costas viradas.
Quisera por algum momento, o ser ingrato pudesse sentir a mais pontiaguda lâmina do desprezo e da fúria desprezadora de si mesmo, quisera entender, que nas relações humanas, há muito mais do que a alquimia surreal de trazer o ser ao universo, e educar, vestir, lhe dar de comer etc., foi empregado neste processo, um hermético e desconhecido sentimento que valeu por toda a sua vida. Como se a partir dali, você passasse a viver para um outro ser humano, na mais pura condição de ser, do ser.
A certeza é que apenas àqueles que sabem o quão precioso é ter seus pais do lado, sabendo que jamais eles estarão ali para sempre, podem ser realmente esboçar algum tipo de paz e/ou felicidade com suas novas famílias ou simplesmente em seus destinos escolhidos por si mesmos na vasta solidão do amadurecimento.
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Cronie Imagem | Kyle Thompson