À Sokurov
Por vezes asola-me a certeza que vou perder alguém.
Caminhos uma vez cruzados,
por uma continua margem de passeio
verticalidade de um trem interno
passando pelas paisagem mais escondidas de nós.
A certeza que perderemos o contato
com os seres que amamos em certa altura da existência
desmorona-me em chamas.
Corro como uma alucinação de mim mesmo,
A morte, com sua flecha certeira
levará para bem longe o toque das mãos,
não sairemos desse delírio de ser
sem a dor da perda em estado do bruto,
corações e mentes parecem afiados punhais ponte agudos
dilacerando essa possibilidade real,
longos tratados e sublimes mapas tentam desvendar os passos
mais a frente agregamos em nós
certezas mais solidas que as rochas,
razoes e propósitos mais profundos que os oceanos,
solidão de escolher a melhor cratera de verdades,
precisamos progressivamente esquecer
que perderemos um dia o contato com o mundo.
Perderemos o toque carinhoso no rosto da mãe e do pai
perderemos o abraço amigo e confissoes de amor,
perderemos até aquilo que nos parece insignificante
como o olhar para os pássaros e uma chuva passageira,
estamos preparados para sermos
esquecidos pelos vendavais do tempo?
aceitaremos com prazer e cordialidade
os rituais do nosso esquecimento?
e ainda pior...
esqueceremos com louvor e paz a perda irreparável do outro?
a perda...
é quando voltamos a ser criança
e olhamos para nós mesmos
pedindo abrigo...
João Leno Lima
25-12-2010
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