O vento que entra
deslocando a janela de sua passividade
afaga meu rosto como se fonte fosse,
de tristeza, mas também de flutuação gêmea.
Penetrando na pele aguda das paredes,
que em comunhão consigo mesma,
se abraça lamentando ser o espelho
que reflete as almas atrofiadas da manhã.
Uma inquietação pássara rasga o céu das lamentações,
paira sobre os pingos aleatórios da torneira do destino,
nos pelos deixados pelos felinos nos mantos da noite,
no telhado celestial que jorra a chuva do verbo elementar primeiro da não-palavra.
Num coral de poças refletindo a lua abocanhada,
na esquina onde homens roubam pedaços de objetos invisíveis
para sua contínua insatisfação jamais adormecida.
Na rua dimensional onde abordo meu interior com simplismo e pressa,
entre um anjo que brinca de nuvens sentado na calçada,
e moças de cabelos deformados que se arremessam além do visível;
vou-me, como um piano emudecido deixando um rastro no chão da cidade.
Preciso tocar na sombra de Deus pelo menos uma vez no dia.
Será ele esse vento que vem e colide com a janela?
Adormeço.
Minha voz é um ato de desequilíbrio.
A natureza das coisas me exclui dos seus planos.
Mas se estendo a mão para a poesia
o tempo vira uma correnteza calma
Onde poderei quem sabe chegar ao meu destino.
Cronie
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