Traduzo-me
Perco-me
Como um vento indesejado
descabelando o nascente das coisas.
Traduzo-me
Perco-me
Verme malabaristisco que se embrenha pelas encostas das costas do mundo.
Vulto de pele ressecada que intraduz o traduzível.
-sim... como o tempo...
Não há mais pressa somos gêmeos da loucura,
idealista de natureza desapegada, básicos sonhadores rompendo laços com o visível,
no sangue das minhas veias escorre o liquido poética
que saciará as imensidões dos poetas.
Traduzo-me
Perco-me...
Não por maldade lamentável e gratuita, lamento na verdade não ser os colos de todos os deuses ao mesmo tempo, eles me contariam suas dores tão mortais quanto a dor da criança ao chorar por sua mãe desencontrada,
tão ou mais hiperbólica que a solidão naufragaria do amante abandonado na porta do seu próprio coração-cratera.
Aquele sorriso, aquelas manifestações poéticas na esquina,
os amigos mais que amigos que se espreitam a si mesmo para não machucar o rastro de harmonia dos desabrigados momentâneos da praça,
reconheceria tua insatisfação mesmo se estivesse do outro lado do mundo,
empalpo teu resto e emlagrimo tua expressão
e a guardo no bolso-gruta em movimentos raros...
Adivinha o que descobri?
há seres maiores que os poetas do outro lado da poesia...acreditas? mas advinha...eles são poetas em si mesmo...meu deus...só há poetas nesse mundo?...infelizmente nao, só há sonhos.
Traduzo-me
Perco-me...
Toco na invadida transilusao da monotonia,
solto-me como a pena ignorada entre os arranhas céus,
enfrento a chuva de meteoros cotidiano,
calo-me só quando o grito já fala por si só ,
silencio ao olhar os pássaros em vôos tão profundos que nem ouso imaginar o que passam por suas imaginações que deve ter gigantes braços dobrando todas as ruas possíveis.
-Sim...traduzo-me- perco-me.
Continuo procurando dentro dos formigueiros de incertezas,
continuo vasculhando os baús das angustias,
continuo - até as mãos envelhecerem - desatar os nós dos nós de nós mesmos,
continuo -com a lanterna do além-olhar - tentando trazer ao alcance aquele sussurro que só as enmadrugadas avessas poderiam explicar,
continuo aqui, como um trovao-ser atravessando a céu- página.
Nos leopardos-nuvens do meu eu está entre seus dentes,
na velocidade irradiante de seus passos continentais
a certeza que somos elementares
como as leis mais intraduzíveis da natureza.
João Leno Lima
24-09-2009
“Stalker” do título é uma referência ao filme do Andrei Tarkovsky
e significa “Espreitador”
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