A obra do brasileiro Marcel Caram converge para signos que saltam da impessoalidade dos meios para um fim onde um mundo tênue passa a existir, entre o imaginário e as fronteiras da sublimação, tão cara e única a nós, validando, aquilo que chamamos de, arte.
Por | João Roc
A Arte assim como o ser humano é mutável. Suas linguagens se agregam a novas experiências, contemporâneas tecnologias e esta tornam-se, para o artista, ferramentas que possibilitam agregar a sua obra à outros elementos e lhe permite continuar criando o até então, inimaginável.
Nascida do avanço tecnológico da metade do século XX, com a evolução dos hardwares e softwares, a Arte Digital trouxe ao mundo das artes novas abordagens que se disseminaram em intensos experimentos. No Brasil, um dos grandes pioneiros dessa vanguarda foi o artista plástico Waldemar Cordeiro, que desenvolveu estudos, sobre arte realizada no computador, ao lado do físico Giorgio Moscati. Cordeiro também dirigiu, em Campinas, o Centro de Processamento de Imagens do Instituto de Artes, além de produzir uma histórica exposição chamada ‘Arteônica’ realizada na cidade de São Paulo em em 1971.
Seguindo esta tradição experimental e tomado pelo universo surrealista, Marcel Caram é, sobretudo, um desconector do mundo exterior e sua veloz aglomeração, fazendo da sua arte, a arte de se reconectar à contemplação mágica, muito além do sonho, muito além da mera irrealidade ou dos artifícios programados da modelagem sintética. Sua obra conversa com cada objeto, caro ao nosso dia-a-dia, e tão próximo a nós. Acessar os sentimentos que se erguem no contato com sua película oculta é um dos grandes triunfos deste artista. Caram subverte a lógica gélida da criação na máquina. Seu pictórico digitalismo, no lirismo da poesia, é capaz de, como um filme, nos submergir em tramas filosóficas e questionamentos para com as nossa relação com o espaço ao redor.
Para isso, o mineiro parece traçar um diálogo nos confins do desconhecido com duas referências que surgem imediatamente no encontro com sua obra: Salvador Dáli e Rene Magriitte. Do primeiro, a tendência ao absurdo, ao grandioso mundo imaginário que é desbravado e que nos convida às imagens que causam, até hoje, uma profunda e deliciosa estranheza.
Mas é no universo do pintor belga que Marcel vaga em busca do antídoto inconsciente: O ordenamento dos objetos. O uso do espaço longínquo, a vastidão meticulosa, a jogo que nasce do questionamento entre artefatos reais e nossa relação com os mesmos, às vezes até, imperceptível, mesmo que íntima. A luz percorrendo até aonde o olhar se perde, a solidão de personagens que parecem absurdamente iguais a nós em sua dimensão moldurada, a ausência de uma poluição visual, em outras palavras, certo enxugamento de ideias que o aproxima de Magritte.
Percorrer os trabalhos de Marcel é fazer um estudo intrínseco. Permutar nossa visão de arte olhando acima os ombros das linguagens prefixadas (ou convencionais) e contornar o abismo que separa uma arte criada pela tradição e outra que nasceu do seu tempo, não nasceu para ser uma nova arte certamente, os elementos estão todos lá, à amostra no resultado definitivo.
Apenas a pintura (neste caso) foi reafirmada. É a mesma, naquilo que deságua no fascínio. Marcel Caram se transmuta dentro do universo surrealista. Suas imagens inspiradoras, se revelam oníricas conversas que temos conosco, mas que ficam intraduzíveis no barulho póstumo das obrigações diárias, no calor insepulto que permanece e impede o raciocínio lógico de nossas imaginações magnânimas. O artista parece que ouviu nossas confissões depois de ler Rimbaud ou Lautreamont e com um mouse, as desenhou, usando os monitores como enquadramento de uma paisagem que joga com nossa percepção de realidade.
Recentemente sua obra foi selecionada no SoJie 6, uma espécie de concurso cultural que reúne artistas de várias partes do mundo. A exposição acontece virtualmente, com renomados curadores e engloba arte digital, pintura convencional, fotografia. O festival é uma iniciativa da empresa australiana REDBUBBLE. Esta funciona como um mercado virtual, um espécie de “Spotify” no sentido de alcançar novos artistas, permitindo-os expor e vender seus trabalhos e regular seus próprios preços.
Os trabalhos de Marcel Caram podem ser visualizados na sua página no Flickr e também acessados e/ou comprados Aqui
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